45 - "Neste momento tu fazes-me mais feliz."

Ana dormia à mais de três horas seguidas. A febre não descia, atingira os 40º e pouco abaixo disso ficava. Tudo estava a ser um sonho e só Mario se apercebia disso. Estava junto de Ana desde que ela tinha adormecido. Esperanza também dormia e ele mantinha-se apenas a ver televisão observando-as sempre que sentia que uma delas se mexia. 

Ana chamou por Sergio enquanto dormia. Chamou por ele, por Miranda e por avó. Ia falando outras coisas que, para Mario, não eram perceptíveis.

Era perto das 18h quando Ana abriu os olhos desde que tinha adormecido. E acordou com aquela sensação estranha de não saber onde estava, de não saber o que se tinha passado e com dúvidas em relação ao que era real e o que era sonho. 

- Mario...? - o espanto na voz de Ana era notório. Ela tinha estado a sonhar algo que, para ela, tinha sido real. Que ela tinha vivido. Mas afinal...não.

- Já percebi que não estavas à minha espera...

- Eu...estive a dormir?

- Sim...deve ter sido do comprimido misturado com a febre. 

- Então foi tudo um sonho?

- Foi...tu deitaste-te aqui depois do banho e acabaste por adormecer. 

- Então o Sergio não apareceu aqui e eu não fui com ele...

- Não...tu não saíste daqui. 

Ana escondeu a sua cara na almofada e na cabeça de Mario surgiu a certeza de que ela estava arrependida de ter acordado. Na cabeça de Mario isso era claro: ela queria que tudo o que aconteceu no sonho fosse realidade. 

- Ainda bem - disse Ana, contudo a sua voz saiu abafada por causa da almofada e Mario não entendeu o que ela tinha dito. 

- Que? - Ana levantou a cara olhando Mario. Ela estava a sorrir fazendo com que ele acabasse por sorrir também. 

- Ainda bem.

- Ainda bem o que? 

- Que não saí daqui. 

- Mas...

- Mas nada - Ana aproximou-se de Mario, encostando a sua cabeça no peito dele. Mario abraçou-a e percebeu que ela estava menos quente - voltar para o Sergio não está nos meu planos e se o fizesse estaria a ceder depressa demais. 

- Mas tu gostas tanto dele...

- Neste momento tu fazes-me mais feliz. - Ana sentia-se aliviada por tudo ter sido um sonho. Por muito que ame Sergio, por muito que saiba que ele a faz feliz, não é com ele que se sente bem, não é junto de Sergio que voltará a ter a sua vida de volta.

Estando ao lado de Mario deu-lhe uma nova perspectiva da sua vida: irá fazer 25 anos dentro de três meses, o mais certo seria acertar com a sua vida, ganhar estabilidade e começar a construir família. Mas não é isso que Ana sente que vai acontecer.

Saiu aos 18 anos do orfanato e foi aí que a sua vida começou, foi aí que começou a sentir que tinha de começar a viver e, desde então, já conquistou diversos objectivos da sua vida: está neste momento a estagiar no "Marca" por alguma razão. Porque lutou. Porque fez com que o seu esforço nos estudos valessem a pena. Porque é a sua vida. O desporto e o jornalismo. 

Sergio era uma parte importante da vida de Ana: foi ele que lhe deu a vontade de amar e amar um homem. Foi ele que deu a Ana a vontade de criar uma família mas, ao mesmo tempo, foi ele que lhe deu a vontade de ser livre, de ser espontânea e de não pensar no futuro. 

E é esse o novo objectivo de Ana: viver o presente, com Mario, Esperanza, Miranda, Xabi e os seus filhos. Mais uma ou outra pessoa, mas seriam estes os essenciais. 

- Sinto-me muito honrado por isso...

- É a verdade, Mario - Ana olhou-o e os dois sorriam. Apesar de se sentir extremamente doente estava ridiculamente feliz. Deu-lhe um pequeno beijo nos lábios, aconchegando-se nele - obrigada por teres estado sempre aqui.

- Não tens nada a agradecer. Fiz o que qualquer amigo faria.

- Nem todos estariam aqui horas a olhar para o boneco...Mario! Tu não foste ao treino?!

- Não...expliquei a situação ao mister e ele entendeu tudo. Deu-me folga e eu fiquei aqui.

- Mario...eu não quero que prejudiques  a tua carreira por minha causa.

- Não o estou a fazer.

- Tu vê lá...

- Está tudo bem, mi loca.

- Ainda bem - Ana deixou-se ficar nos braços de Mario. Sentia o seu corpo cansado e a precisar mesmo de descansar. Mas sabia que não o poderia fazer muito cedo. Tinha de preparar a possível reportagem sobre um tema à sua escolha para entregar dentro de quatro dias. Tinha pensado em Sergio e Xabi...definitivamente que iria ser sobre Xabi.

Estavam os dois muito tranquilos, quando o telemóvel de Ana toca. Depois de ver no visor que era Miranda, atendeu a chamada. 

- Olá Miro! - contrariamente ao esperado, a voz de Ana estava animada.

- Olá meu amor, como é que te sentes? 

- Acho que a febre baixou...

- Estás com febre?

- Já cheguei aos 40 graus. 

- Oh...tadinha, o Mario continua aí?

- Sim. Nem um segundo se ausentou. 

- Fico mais descansada...mas então nem sei se é boa ideia os miúdos irem para aí...

- A Ane e o Jon?

- Sim. A mãe deles pediu se podia ir aí deixá-los hoje, só que ela não sabia que eu tinha vindo com o Real. E ia saber se não te importavas de eles irem para aí, mas estás assim...

- Eu só tenho medo que eles fiquem doentes também...mas podem vir na boa. 

- Oh não...tu estás doentinha e mais dois miúdos aí não é boa ideia. 

- Miranda, a sério, eles que venham. Eu só estou mesmo com febre. Acho que não lhes pego nada. 

- A sério que é na boa?

- Sim, além do mais eles portam-se bem e vão acabar por adormecer depressa. Amanhã é dia de escola para eles, por isso...

- É mesmo?

- Sim! Liga lá à mãe deles e, desde que ela não se importe que seja eu a ficar com eles, os meninos que venham. 

- Ai obrigada Ana! Que era de mim sem ti?

- Nada! Mas vá, não agradeças. Eles jantam?

- Sim...se não for dar muito trabalho aí aos pombinhos. 

- Tudo tranquilo. 

- Vá, assim um mega obrigada. Eu depois fico com a Esperanza um dia destes. 

- Sim, sim! Liga lá à mulherzinha e eu vou arranjar aqui umas coisas para o jantar. 

- Obrigada, amor. Besitos.

- Besos, mi amor - Ana desligou a chamada, encostando-se a Mario como se preparando para se colocar em pé. 

- Que se passa? - perguntou Mario, mexendo no cabelo de Ana. 

- Os filhos do Xabi...vêm para cá. 

- Achas que é boa ideia? Estás doente.

- Oh, mas tem de ser. Além do mais eu já estou melhor. E eles lá para as nove e meia já estão a dormir. 

- Eu também estou aqui e ajudo. 

- Tu...tu devias era descansar também. 

- Eu não estou cansado. 

- Mas pronto...devias. E afastar-te porque podes ficar doente. 

- Já passei quase o dia todo contigo, isso és tu a querer que eu vá embora?

- Não! - Ana puxou o corpo de Mario para junto de si, ficando ainda mais encostada nele. 

- Eu não vou, sua tonta.

- Isso é que eu quero ouvir. Mas agora tenho de sair deste quarto...

- Não devias...

- Mas tenho de ir receber os meninos, não podes ir lá tu do nada. Eles nem devem saber quem tu és. 

- Pois...tens razão. 

- Como sempre! 

- É...deves achar-te boa tu.

- Vais dizer que não sou? - Ana olhou-o e Mario mordeu o seu lábio, dando-lhe um beijo de seguida. 

- Mesmo toda doentinha és sim.

- Fazes-me bem, Mario. 

- Por isso é que ficaste doente. 

- Que parvo - os dois riram-se para de seguida trocarem mais um beijo - vamos sair deste quarto, sim?

- Vamos lá - os dois levantaram-se e Ana vestiu o robe por cima do casaco que tinha vestido. Estava com frio e estar agasalhada seria o melhor. 

Mario levava Esperanza nos seus braços e os dois foram até à sala. A menina ficou deitada em cima do sofá rodeada por almofadas e sobre o olhar atento de Mario, enquanto Ana foi ver o que seria para o jantar.

A verdade é que não estava com grandes disposições para fazer comer, nem para jantar. Poderia optar por diversas coisas, mas decidiu pedir ajuda a Mario. Foi até à sala, ficando junto do pilar da sala encostando lá a cabeça. 

- Que é que preferes: massa com atum ou bifes com arroz e salada? Ou outra coisa? 

- Qualquer coisa Ana...se quiseres até podia ir buscar já qualquer coisa feita.

- Não, não é preciso.

- Faz aquilo que os meninos gostarem mais...deve ser bom. 

- Massa com salsichas...é a comida preferida deles. 

- Então por mim está feito. 

- A sério? Massa com salsichas?

- Sim.

- Então ainda é cedo para fazer - Ana andou até ao sofá (sentindo que se estava a arrastar) e sentou-se ao lado de Mario, colocando a sua cabeça no ombro dele - tenho a sensação que a Ane não vai gostar muito de te ver por aqui. 

- Ui...deverei ter medo? 

- Creio que não...é só que ela é muito apegada lá ao outro. 

- Ao Sergio.

- Isso. Vamos tentar não falar nele sim? Mario - Ana olhou para ele, passando para as pernas dele. Estavam muito próximos mas aquela proximidade faz bem a Ana - daqui para a frente só tu e eu é que interessa, vale? 

- Só nós os dois?

- E a Esperanza, e a Miranda, e o Xabi...e os meninos.

- Parece-me muito, muito bem! - os dois beijaram-se e aqueles beijos faziam Ana ter a certeza que Mario mexia, e muito, com o interior dela. Sentia-se vulnerável a cada toque dele, mas segura de si e com capacidades para assumir que sim, poderá apaixonar-se por outro homem que não Sergio. Poderá seguir uma vida diferente, mesmo que os estilos de vida de um e outro sejam parecidos.

Cerca das 19h30, tocaram à campainha. Era a ex-mulher do Xabi com os meninos. Ana abriu-lhes a porta e os dois correram até às suas pernas. 

- Ana! - disseram os dois, apertando-a. 

- Isso são tudo saudades? 

- Sim! - eles olharam para Ana que se queria baixar e dar-lhe muitos beijinhos. Mas isso talvez não fosse o melhor. 

- A Ana está doente...por isso não vos dá muitos beijinhos, está bem?

- Tás com que? - perguntou a Ane. 

- Febre - Ana olhou para a mãe deles que parecia um pouco preocupada - não te preocupes...eu tenho uma pessoa comigo que toma me ajuda a mante-los bem. E amanhã a Miranda e o Xabi já cá estão. 

- Tudo bem. Muito obrigada, Ana. 

- De nada. 

Os meninos despediram-se da mãe e fecharam a porta. 

- Estás cá com quem? - perguntou o Jon. 

- Um amigo...

- O tio Sergio? - inquiriu a pequena Ane. 

- Não pequena...sabes que a Ana e o Sergio já não são namorados...

- Sim...e tu já tens outro namorado?

- Quase isso...

- Não quero ele aqui! - ela fez beicinho ficando um pouco "chateada".

- Vais gostar dele. E o Jon também. Ele é super querido e vai gostar muito de vocês. E joga à bola como o vosso papá. 

- Posso jogar com ele até à hora de jantar? - o Jon parecia o mais animado. 

- Se ele quiser. Vamos lá?

- Sim! - o Jon seguiu um pouco mais à frente e a Ane de mão dada com a Ana foram até à sala, onde estava Mario já esperando os três de pé. 

Jon sentiu-se logo à vontade com Mario. Perguntou-lhe imensas coisas (como onde é que ele jogava, se era amigo do pai dele e outras coisas). Já Ane...tinha ficado no mesmo sitio, agarrada à mão de Ana olhando para Mario. E a única coisa que disse foi: 

- Eu gosto mais do tio Sergio. 

Olá meninas!

Não estavam à espera disto pois não? Nem eu!

A verdade é que me deixei levar pelas vontades de querer o Sergio e a Ana juntos de novo e acabei por esquecer o Mario. À uns dias que ando a pensar no Mario e em como voltar a tê-lo na história...e aqui está o resultado.

Como já o disse várias vezes: eu sou bastante confusa e mudo muitas vezes de ideias de repente.

Espero, mesmo assim, que tenham gostado e que deixem as vossas opiniões que são muito importantes.

Besos. Ana Patrícia Moreira.

PS: Obrigada à Ana Rita Pereira, à Sofia Martins e à Mahina Kareem que me ajudaram a aclarar as ideias. Vos amo mis amores!