domingo, 24 de novembro de 2013

41 - "Estás em casa Ana...é como se fosse tua também, está à vontade."

Estava sentada no sofá, ao lado do Sergio que terminava de dar o biberão à Esperanza. Ela tinha demorado mais tempo a comer do que o normal.
Durante todo o tempo olhava para o Sergio tentando brincar com o anel dele. O anel...aquele que ele tem, que eu tenho igual e que ela também brinca quando está comigo. Quando ela estava mesmo quase a terminar agarrou-se ao dedo do Sergio, olhou-o  muito atenta e pestanejou os seus olhinhos.
- Já estás com sono outra vez? - perguntou-lhe o Sergio.
- Ela por volta desta hora adormece sempre. 
- Adormeço-a? 
- Sim...é o melhor. Depois fica rabugenta e quando chegar a casa não quer dormir. 
- Mas...estava a pensar que iam ficar.
- Não sei se será o melhor...
- Porque?
- Não sei, é muito cedo Sergio...a minha cabeça não sabe bem ainda o que é que nós temos. 
- A minha também não, mas quer vocês por perto. Tenho tantas saudades tuas, Ana... - a Esperanza já tinha soltado o dedo do Sergio e ele colocou essa mão sobre a minha que estava na minha perna. 
- Adormece a Esperanza...ela gosta que lhe mexam no nariz. Deixa-a na alcofa e vamos jantar, vale?
- Vale - ele esboçou um sorriso concentrando-se na Esperanza. Ele tinha jeito para estar com ela. Quando lá ia a casa do Xabi para ver dela, eu bem via o sorriso que se formava nos lábios dele, o brilho que os olhos dele ganhavam e a maneira como falava para ela também era especial.
Ele levantou-se começando a embalar a menina. Queria por-me à vontade...queria fazer como se estivesse em casa, como se estivessemos num daqueles momentos em que nos preparamos para o jantar, mas não o fiz. 
- Sergio... - chamei-o baixinho, fazendo com que ele se virasse para mim.
- Diz.
- Queres que vá pondo a mesa para jantar?
- Estás em casa Ana...é como se fosse tua também, está à vontade.
- Gracias... - sorri-lhe, levantando-me para ir na direcção da cozinha. O Sergio tinha colocado uma pizza no forno. O melhor a fazer era preparar tudo para jantar na sala. Assim víamos a segunda parte do jogo. O Real está empatado 1-1 e o Sergio vai estar a comer e a querer saber do jogo...saber o que a casa gasta é bom nestas alturas. 
Peguei em dois pratos, dois copos e talheres levando para a sala. Antes que dessem ela minha entrada, apanhei o Sergio a falar com a menina:
- Sim porque se vocês as duas cá ficassem para sempre os meus dias eram bem melhores. Nem sabes o que eu tenho medo de estragar tudo com a Ana. Ela é a mulher que mais amo, a pessoa que me fez mudar. Não foram quatro...foi só uma e só depois de saber que ela tinha estado com o Mario...não lhe contes, por favor. 
O Sergio...não tinha estado com quatro raparigas depois de mim? Ai...mas...
Decidi bater com os talheres um no outro para ele perceber que eu estava a chegar. Ele fez-me sinal que fizesse pouco barulho e eu assim o fiz. Coloquei tudo em cima da mesa, voltando à cozinha. Desliguei o formo, retirando de lá a pizza para a colocar numa travessa redonda. Voltei à sala e a Esperanza já não estava lá e o Sergio estava a descer as escadas com o intercomunicador na mão. 
- Deixei-a lá em cima. Fica mais quentinha e podemos falar à vontade, sem ter medo de a acordar. 
- Fizeste bem.
- Mudei o quarto...fiz como se fosse só da Esperanza.
- Isso é bom, assim ela tem o quartinho dela - sentámo-nos os dois no chão junto da mesa de centro e o Sergio começou a cortar as fatias da pizza - Sergio...
- Hã?
- Amanhã tens treino?
- Não. É folga, mas de tarde tenho de ir fazer o tratamento por causa da coxa.
- Podemos aproveitar a manhã então para...matar...saudades?
- Basta quereres cá ficar por casa.
- Acho que...podemos ficar - ele sorriu-me, colocando uma fatia de pizza no meu prato e outra no prato dele - Sergio?
- Diz.
- Achas-me confusa?
- Confusa?
- Sim...em relação ao que quero.
- Ultimamente sim...mas depois do que se passou é normal. Mas sempre foste determinada naquilo que queres. Já estás de novo a trabalhar na tua área e esse sorriso que vi em ti nos últimos dias é fantástico. Acho que não és confusa...estás só baralhada com tudo o que aconteceu. 
- Fazia-me falta as nossas conversas...por muito que fale com a Miranda não é o mesmo. Ela entende-me, dá-me a opinião dela, dá-me mimo, mas tu...és diferente.
- Como assim? - ele pegou na fatia de pizza dele começando a comer.
- Tu percebes-me mas conheces-me à menos tempo que ela. Estás na minha vida à muito menos tempo que ela e tomaste proporções que eu não sei explicar. 
- Então somos dois...
- Eu também tinha saudades tuas...
Ele colocou a fatia de pizza no prato, limpou as mãos e a boca aproximando-se de mim. Rodeou-me com as pernas dele, puxando o meu corpo na direcção do seu. 
- Queria tanto que a partir de hoje ficasses aqui para sempre...
- Para sempre não posso...tenho de trabalhar, ir às compras, ir aos teus jogos, a outros jogos...acho dificil ficar aqui para sempre. 
- Tu és tão linda.
- Tu também és muito lindo, Sergio.
- Posso ter esperanças que durmas comigo na nossa cama?
- Queres mesmo...dormir? 
- É como tu quiseres...és a rainha da casa, a princesa está a dormir e eu sou todo teu. 
- Quero prometer-te uma coisa.
- O que?
- Que não vou pensar em demasia. Que serei a mesma que tu conheceste: vou ser a Ana sem medo e a reagir de impulso. Precisamos disso e eu prometo que é isso que te vou dar. 
- E eu prometo que serei o mais paciente contigo. Não te quero pressionar a nada e se quiseres mesmo só dormir estamos à vontade. 
- Não...eu não quero dormir. Não esta noite. Amanhã é segunda, tenho de ir trabalhar às 11h mas quero passar a noite toda a olhar para ti. 
- Isso é um pouco obsessão não?
- Não...é querer matar as saudades. São imensas e não as consigo matar se não for prolongadamente. 
- Então e...se começássemos já?
- É uma proposta tentadora menino Sergio, mas eu ainda não comi nada desde o almoço e estou com uma constipação em cima...acho que seria melhor comer um bocadinho, tomar o comprimido, vemos o resto do jogo e depois...vamos para o teu quarto. 
- Parece-me bem, mas é o nosso quarto. 
- É mais teu que meu. 
- Mas é nosso.

Tinham seguido o plano. Jantaram, Ana tomou o comprimido para a constipação e ficaram os dois no sofá...a fazer tudo menos ver o jogo do Real Madrid. Estavam os dois deitados lado a lado no sofá, frente-a-frente e ora se beijavam, ora faziam caricias pelo corpo um do outro ou simplesmente se olhavam. 
- Queres ir para cima? - perguntou-lhe Sergio. 
Ana limitou-se a acenar-lhe que sim com a cabeça. Sentia-se nervosa. Queria estar com ele, mas já não estavam em contacto à tanto tempo que ele poderia não gostar de estar com ela. 
Os dois levantaram-se, Sergio desligou a televisão e encaminharam-se até ao andar de cima. Ana sabia todos os cantos daquela casa, sabia onde ficava o quarto de Sergio e era para lá que ia direita. Sergio ia mais atrás dela, mas ao ver que ela abrira a porta do quarto, precipitou-se na sua direcção beijando-lhe o pescoço.
Ana sentiu um formigueiro na zona da barriga. Sergio sempre soube o quanto ela gostava de ser provocada, o quanto gostava que ele a seduzisse. Sempre tiveram disso, Sergio sempre soube o que fazer a Ana, como lhe mexer, como a beijar, como a morder. Ana gostava que ele a mordesse, deixava-a louca e fazia com que o desejo aumentasse. 
Sergio tinha saudades do que Ana lhe fazia. Tinha saudades de ter as mãos dela sobre o seu tronco, no seu pescoço, nas suas pernas, gostava de quando Ana tomava posse do seu corpo como se fosse dela. Tinha saudades dos arranhões que ela lhe deixava nas costas, dos chupões que, por vezes, preenchiam algumas zonas dos seu corpo, das mordidelas, dos beijos, das caricias, dos aconchegos e das palavras. Ele sentia falta daquela mulher. Só ela sabe como o deixar satisfeito, só ela sabe o que o cativa e só ela sabe fazer tudo por completo. 
A noite do regresso não poderia ser de outra forma do que: perfeita. Entregaram-se um ao outro como nunca antes o tinham feito, como nunca antes o tinham pensado fazer. Foram ousados, foram inovadores, mantiveram os seus truques mas abusaram das investidas um no outro. Tanto Ana como Sergio ficaram surpreendidos. Parecia que nunca iriam acabar porque os corpos pediam por mais. Eles queriam mais. Mas tiveram de colocar um fim. Estavam cansados, os corpos estavam demasiado sacrificados e tinham tempo para voltar a ter uma noite como esta. Eram quase cinco da manhã. Nenhum tinha sono, não havia vontade de dormir. Queriam olhar um para o outro, queria falar um com o outro.
As costas de Sergio ficaram pouco apresentáveis. Ana tinha-as arranhado todas, via-se perfeitamente a marca das suas unhas e Sergio, também tinha abusado. Ana tinha chupões no pescoço, na barriga, nas pernas mas cada um tinha-lhe dado a sensação de que Sergio estava a querer deixar a sua marca nela. Ele já o tinha feito, não o precisava de fazer assim, mas Ana gostou, delirou e estremeceu com cada chupão, trincadela, beijo, toque, lambidela. 
Ana tinha a sua cabeça sobre o peito de Sergio, olhava-o e ele mexia nas costas dela.
- Que é que vai nessa cabeça neste momento? - perguntou ele. 
- Bem...vai uma sensação de que me dás o melhor...sempre. E que te amo cada vez mais. Não foi só sexo Sergio...é a certeza de que te amo. 
- E eu amo-te a ti minha princesa - Sergio puxou-a para junto dele, beijando-a.
Até adormecerem ficaram nunca troca de beijos e carinhos. O sono chegou e acabaram por adormecer nos braços um do outro. 

Na manhã seguinte:
Ana tinha de ir trabalhar. Tinha de sair dali antes que chegasse tarde. Tinha Sergio colado nas suas costas e tirou uma fotografia que iria gerar polémica...por todos os acontecimentos das últimas semanas. Mas Ana quis torná-la pública.

Não lhe digam nada, mas eu amo-o. Buenos dias! 
Levantou-se com o máximo de cuidado e foi até ao quarto de hóspedes para tomar duche lá. Assim não acordava Sergio. Sorte a sua que ainda haviam roupas no closet que ela podia vestir, assim seguia directamente para o jornal.


Ana estava a sentir-se melhor da sua constipação, mas não a 100%.
Antes de sair de casa foi até ao quarto onde Esperanza tinha dormido. A menina continuava serena a dormir e Ana nem se lembrou de que aquele era suposto ser o quarto do seu filho.
Saiu de casa e tinha meia hora para chegar à redacção do jornal. Era rápido e chegou a horas. Foi ter com a sua orientadora de estágio que a esperava com um sorriso enorme.
- Buenos dias - disse Ana sentando-se à frente dela. 
- Buenos dias cariño. Como estás?
- Estou bem...
- Olha eu preciso mesmo de dizer isto: sou super fã de Ana e Sergio. Vocês fazem um casal lindo e estarem de novo juntos é tão bom.
Ana estava surpreendida com aquilo que acabara de ouvir...a sua orientadora de estágio estava a falar da sua relação com Sergio...
- A minha relação com ele, em nada vai afectar o meu trabalho por aqui. 
- Eu sei disso, mas sempre gostei de ti quando começaste a sair nas notícias. Sou grande fã do Sergio e sempre achei que ele deveria assentar e tu és a pessoa ideal para ele. 
- Obrigada...nem sei o que dizer. 
- Não me tens de dizer nada. Vamos organizar a tua semana de estágio sim?
- Sim.
Ana iria passar a semana pela redacção, iria começar a escrever textos que daria uma ideia da sua forma de trabalhar. No final da semana teria de apresentar uma reportagem sobre um tema à sua escolha. Teria de pensar bem no que fazer. Tinha duas ideias mas precisava da opinião de Miranda, Xabi e...Sergio. Uma dela seria uma reportagem sobre Xabi e a outra uma reportagem sobre Sergio. Ana queria escrever sobre um deles do ponto de vista profissional e não pessoal. Queria testar a sua capacidade de distanciamento no que toca aquelas duas pessoas. 
Estava na sua pausa de almoço quando recebe uma chamada de Miranda:
- Buenas tardes! - disse ela do outro lado. 
- Hola guapa! Como estás?
- Estou bem e tu?
- Também.
- Estou preocupada..chegámos a casa e...onde é que vocês estão?
- Então eu estou a trabalhar. 
- E a menina?
- Ela está com o Sergio. Nós ficámos em casa dele esta noite e a Esperanza ficou lá com ele. 
- Aaaaaah! - Miranda gritava do outro lado da linha - oh meu Deus! Acabei de ver a foto do twitter! Vocês estão juntos outra vez?
- Pois...parece que sim. Em fase de teste, mas sim.
- Ai que lindos! 
- Sim Miranda, também te amo. 
- Sua tonta. Jantar a sete?
- Sete?
- Vocês os três e nós os quatro. Os filhos do Xabi chegam hoje. 
- Claro! Avisa o Sergio que eu não posso ligar. Vou acabar de almoçar e tenho de me concentrar no trabalho. 
- Fica descansada. 
- Gracias. 
As duas despediram-se e Ana terminou o seu almoço. Quando estava a ir para o seu posto de trabalho volta a receber uma chamada de Miranda.
- Miro, que passa?
- Ana...é a Esperanza. 
- O que é que se passou?
Eu e o Xabi estamos a ir ter contigo. Pede dispensa do resto do dia. 
- Miranda, o que é que se passa?
- Nós já falamos. 
Miranda desligou-lhe a chamada e Ana começou a entrar em pânico. O que é que tudo aquilo quereria dizer? O que é que tinha acontecido a Esperanza?

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

40 - "Só não sei se será uma boa ideia...é isso."

No intervalo do jogo, o Sergio foi preparar algo para comermos. Estava quase na hora da Esperanza comer, também, mas ainda não lhe tinha dado a fome. Levantei-me e comecei a "passear" pela sala. Era bom sentir-me em casa...ou então não. Não sei o que é que isto pode dar, não sei se algum dia seremos a mesma coisa, se algum dia seremos o mesmo casal. 
Haviam imensas fotografias novas. Fotografias que eu ainda não tinha visto ali. Eram fotografias da Esperanza, do dia em que ela nasceu, havia uma minha...com barriga. Peguei nela e foi impossível não pensar: o Santiago nascia daqui a uma semana. Seria daqui a uma semana que o Santiago estava previsto nascer...mas já não existe. Será que o Sergio se lembra disso? Gostava de saber, mas não tenho coragem de lhe perguntar.
- Estavas bonita nesse dia - ouvi a voz dele demasiado perto de mim, o que me assustou. De imediato coloquei a  fotografia na prateleira, virando-me para ele. Pensei que estivesse mais perto, mas ainda bem que não está.
- Só naquele dia? - perguntei, numa de brincar com ele. 
- Sabes bem que não.
- Por acaso não sei.
- Todos os dias estás linda. Estavas linda no dia da gala, no dia do treino depois da gala, no dia em que chegaste a Madrid para o nosso fim de semana, no dia em que te levei a jantar, no dia em que te levei ao Barnabéu vazio, nos dias em que estavas bem disposta, nos dias em que nem por isso. A mudança que houve em ti foi perfeita. Fizeste-me ter ganas de ti, fizeste com que o meu interior ansiasse por ti a cada segundo. Foste uma grávida linda, já sabemos como é que ficas grávida e mesmo assim és maravilhosa. Daqui a uma semana nascia o nosso filho...poderíamos assinalar a data. 
- Sergio...
- Se não o quiseres fazer estás à vontade. Eu compreendo.
Não sabia o que pensar...o que ele tinha acabado de propor era...estranho. E a maneira como tinha abordado o assunto parecia que não tinha pensado muito tempo, que era impulsivo. Assinalar a data do nascimento do nosso filho, sem que ele esteja presente? Não sei se o consigo fazer. Não sei se me sinto capaz de o fazer. Não falava do Santiago desde o dia em que sai de casa. Pensava nele, mas não exteriorizava o que sentia. 
- Só não sei se será uma boa ideia...é isso.
- Porque?
- Porque desde que tivemos a nossa conversa que nunca mais falei com ninguém sobre este assunto. 
- E queres falar?
- Não...não há nada a dizer. Eu tudo o que queria dizer, disse-te a ti. Que eras quem mais importava. Não há mais nada que possa dizer. Eu agora estou bem, recuperei a minha forma, recuperei o meu consciente e isso faz-me feliz...agora.
- Então preferes não marcar essa data?
- Depois vemos isso, pode ser?
- Claro - ele passou com a sua mão pela minha cara...e aquele gesto fez-me estremecer...eu não percebo, não entendo mesmo, a minha cabeça. Sou tão confusa, tão baralhada das ideias e quem acaba por sofrer com isto é o Mario...e o Sergio. 
Quando a mão do Sergio voltou para junto do corpo dele, senti uma vontade enorme de o sentir..."meu". Tinha vontade de voltar a beijá-lo, mesmo que isso significasse, na minha cabeça, que era o fim. Podia, simplesmente, beijá-lo e não sentir nada, mas queria sabe-lo. 
Não sei como ele ainda não o tinha feito...era ele sempre que tinha a primeira iniciativa, mas estava a respeitar o espaço que eu tinha criado entre nós. Por isso, fui eu quem tomou a iniciativa e beijei-o.


Não era apenas um beijo. Era a confirmação. A confirmação de que ainda me sinto na mesma em relação a ele. A confirmação de que ele me faz estremecer ao mínimo toque, que faz com que o meu coração dispare e comece a bater mais depressa. Precisei deste beijo na primeira semana em que estivemos separados, precisei dele para adormecer, para me sentir reconfortada...mas não afastei-o e hoje preciso de o recuperar. Preciso de criar, ou continuar a criar a nossa história. 
Ele acabou por interromper o beijo, agarrando-se à minha cintura. 
- Tinha saudades disto - confessou. 
- Também eu tinha Sergio...e devo-te um pedido de desculpas.
- Porque?
- Porque te afastei quando mais precisei de ti. Eu quis fazer-me de forte, mas na primeira semana em que estive em casa do Xabi com a Miranda eu não conseguia adormecer sem antes chorar ao olhar para as tuas fotografias. Eu não quis levar nenhuma aqui de casa, mas acabava sempre por agarrar no pc e procurar pela net...e isso deixava-me mal...mas era o que me fazia adormecer. Adormecia depois de ver imensas fotografias tuas...nossas.
- Eu só tenho uma pergunta para te fazer...quer dizer, é mais que uma.
- Diz. 
- Porque é me te afastas-te?
- Eu não conseguia lidar com as coisas, tinha medo que acabasses por me culpar da morte do Santiago. Eu sei que não o farias, mas esse medo assombrava-me. 
- Eu nunca iria fazer isso...
- Eu sei, Sergio...mas eram os meus medos. 
- Acho que entendo...e...o Mario?
- O Mario...foi parte do meu passado. Eu conheci-o quando vim à apresentação do Falcão no Atlético. Conheci-o numa discoteca e acabamos por nos envolver...foi uma coisa de uma noite mas adorei estar com ele. Agora voltei a encontrá-lo...numa discoteca e ele não sabia ao certo o que se passava entre nós. Eu expliquei-lhe e acabámos por ter dois dias maravilhosos. Senti-me, de novo, mulher com ele. Eu não quero estar a fazer sentir-te mal, mas quero contar-te tudo.
- E eu agradeço isso. Sempre foste sincera e eu quero mesmo saber. 
- Então é isso...o Mario foi o único que tive neste espaço de tempo que estivemos separados e não iria conseguir estar com mais ninguém. 
- E agora como é que estão?
- Nós estamos amigos...eu gosto de estar com ele, faz-me sentir diferente. Protegida como se fosse meu irmão, mas amada como se fosse meu marido ou namorado. 
- Se nós voltarmos a estar juntos...ficam assim na mesma?
- Claro. Não vou perder um amigo se voltar a estar contigo Sergio.
- Sim, sim...não vou dizer que estou surpreendido, porque não é verdade. Sempre soube que seria difícil para ti voltares a estar com outra pessoa...mas pensei que fossem mais. 
- Foi só o Mario. 
- Queria dizer-te que também só tinha sido uma, mas sabes que foram mais. 
- Quatro. 
- Isto faz-me sentir tão mal - ele afastou-se de mim, virando-me as costas colocando-se junto do sofá. 
- Sergio, não tens de te sentir mal. O que tu fazes deve ser exercitado o mais possível - ai! Porque é que eu acabei de dizer isto? Ai Ana, Ana...começas a dizer coisas da boca para fora vais ter resposta mais depressa.
O Sergio virou-se, de novo, para mim um pouco baralhado, pelo que percebia. 
- Isso que acabaste de dizer, é mesmo aquilo que eu acabei de ouvir?
- É. 
- Mas, então, deixa-me que te diga - caminhou na minha direcção, agarrando-me pela cintura - preciso de exercitar com alguém que tenha pedalada para mais que uma vez. 
- Elas não têm?
- Não...nos últimos tempos só uma tem.
- Tens de a voltar a encontrar. Assim exercitas melhor. 
- Continuas a aguentar?
- Nunca mais te experimentei... - que conversa é esta!? AI, está calor ou é a minha febre a voltar? Sorte do momento: a Esperanza começou a chorar - está na hora de ela comer - sai de perto do Sergio, indo até ao saco buscar o biberão - posso ir até à cozinha fazer o biberão?
- Estás à vontade.
Fui até à cozinha e aqueci a água para depois adicionar o leite em pó. Voltei à sala e o Sergio tentava acalmá-la, embalando-a. 
- Não é para a adormeceres Sergio! 
- Mas ela não se cala.
- Já devia ter comigo à meia hora, é normal, está com fome. 
- Também eu e não me queixo. 
- Mas tu não deves precisar de comida, ao contrário dela. 
- Pois não...eu preciso é de ti.
- Estou doente. Queres dar-lhe o biberão?
- Pode ser...
Entreguei o biberão ao Sergio, que se sentou no sofá e começou a dar o leite à menina. Era óptimo, demasiado bom, estar assim com ele. Algo entre nós mudou, mas isso pouco se nota. Estamos à vontade um com o outro, digo aquilo que me vai na cabeça sem pensar se ele vai gostar ou não...sinto que o conheço à imenso tempo, mas que estamos a construir algo novo. Algo só nosso que só o tempo dirá se é um reviver do passado ou se é o nosso...futuro.