domingo, 10 de janeiro de 2016

65: “Obrigado por fazeres de mim o homem mais feliz do mundo”

- É muito parecido contigo, querida – disse Palmira, visivelmente emocionada naquele momento.
Ana tinha a sua avó e o seu irmão a visitá-la, em sua casa, e haviam imensas coisas a acontecer na sua cabeça. Se, por um lado, se sentia feliz por os ter ali a conhecer um pedaço da sua vida, por outro não sabia o que aquilo significava. Não estava habituada a ter a sua família de sangue tão próxima, não estava acostumada a tê-los no seu dia-a-dia e sempre considerou não precisar deles.
Na verdade, Ana sabia que isso não era verdade. Cada vez mais tem sentido a necessidade de os ter por perto, de os conhecer melhor e criar, de vez, laços com a sua família biológica.
- A avó não diga isso muitas vezes...o Sergio começa a ficar com ciúmes – todos se riram e Palmira olhou a neta.
- Vocês vão ser muito felizes, querida. É de louvar tudo o que tens conquistado à tua maneira...depois de tudo.
- Escolhi viver assim, avó. Estou a caminho dos 25 anos e acho que não trocaria nada do que tenho. Sou feliz assim...
- Isso nota-se – Gonçalo, que se mantinha mais calado, manifestou-se fazendo com que Ana o olhasse – nota-se mesmo, Ana. Tu foste habituada a estar com os pais, tu sentiste o que era o amor deles e, mesmo perdendo-os e tudo o que se sucedeu depois – Gonçalo fez uma pequena pausa acabando por fazer com que, tanto Ana como Palmira se emocionassem – tu escolheste o caminho mais difícil para o sucesso. Podias ter-te tornado uma marginal mas não o fizeste...e isso é algo que me deixa orgulhoso de ti, enquanto teu irmão mais velho. Podemos não ter essa relação perfeita de irmãos...mas eu garanto-te que tenho muito orgulho em ti.
Ana não esperava aquelas palavras de Gonçalo. Esperava que elas um dia surgissem, que um dia fossem capazes de dizer tais coisas um ao outro. Nunca pensou que chegassem tão depressa. Sentiu-se incapaz de dizer qualquer coisa ao irmão. Agradeceu-lhe...mas não conseguiu retribuir nada.


- Dani ajudas a tia?
- Claro, claro! – Daniela levantou-se do sofá, indo com Ana em direção do quarto de Vicente.
Como combinado, a sobrinha de ambos tinha ido passar uns dias a casa de Ana e Sergio. Queriam dar a possibilidade a Daniela para se puder aproximar do primo, para se sentir próxima deles lá em casa ao ajudar. Não poderia ter sido melhor ideia. Para além de Ana não estar tanto tempo sozinha com Vicente quando Sergio estava nos treinos e nos jogos, Daniela trouxe uma boa disposição constante aquela casa.
- Porque é que lhe dás banho de manhã? Eu só tomava à noite...pelo menos foi o que disse a minha mãe.
- O Vicente, se lhe der banho à noite, fica muito agitado e não consegue adormecer tão depressa. Deve pensar que o estamos a preparar para o dia. A pediatra aconselhou a mudarmos os banhos para de manhã e tem resultado.
- A sério? Então é por isso que ele dorme a noite toda?
- Podemos dizer que sim.
- Ana, ele não precisou de ir mais ao médico por coisas graves, pois não?
- Não querida. Só vai mesmo para a pediatra ver se ele está a crescer bem.
- Eu fiquei muito assustada sabes? – Ana sabia que, quando conversava com Daniela, havia sempre perguntas. E os seus pensamentos profundos – ele era tão pequenino e teve de ficar tantos dias no médico. Eu fiquei assustada por causa do que aconteceu com os teus outros bebés.
- Eu também tive medo, pequenita – Ana olhou-a, reparando que Daniela olhava super atenta para Vicente enquanto ela lhe dava banho – mas o Vicente é um bebé forte. Podes passar-me o gel de banho, por favor?
- Sim – Daniela olhou para a cesta dos produtos de Vicente, retirando de lá o gel de banho – queres que ponha onde?
- Um bocadinho na tua mão – Daniela, muito espantada, olhou para Ana – queres ser tu a passar o gel pelo corpinho dele?
- Posso?
- Claro.
- Ai, obrigada – antes de fazer o que Ana lhe pediu, Daniela ainda a abraçou – eu estou a adorar estar aqui com vocês.
- E nós a adorar termos-te cá, princesa – Ana deu-lhe um pequeno beijo na cabeça e Daniela ajudou-a com a tarefa de dar banho a Vicente – vamos precisar de uma toalha e a tia não tem aqui nenhuma – constatou Ana.
- E onde é que está?
- Se calhar no quarto da tia...podes lá ir ver, por favor?
- Sim, eu vou – saindo disparada do quarto de Vicente, Ana acabou por pôr Vicente em cima do trocador de fraldas.
- Como é que isto vai? – sobressaltou-se com a voz de Sergio, acabando por sorrir – desculpa, não te queria assustar – Sergio foi ter com Ana, rodeando a cintura da noiva com os seus braços – que sorriso lindo é esse?
- Não tenho motivos para não sorrir, Sergio. Está tudo a correr tão bem, eu sou tão feliz!
- Somos dois, rainha minha – aproveitou para depositar um beijo no pescoço de Ana, agarrando a mão de Vicente – então...estás assim tão apaixonada por ele que petrificaste?
- Não – Ana riu-se, agarrando a mão de Sergio – a Dani foi buscar uma toalha ao nosso quarto. Não tinha aqui nenhuma.
- Ela está a gostar de estar cá, não está?
- Está a adorar! Ela própria acabou de me dizer.
- Fico feliz por dar essa felicidade à minha sobrinha.
- Oh tio! Assim a Ana não consegue despachar o Vicente! – os dois foram surpreendidos pela entrada de Daniela no quarto que, depressa entregou a toalha a Ana – vá, larga-a.
- Olha, olha. Estás muito mandona, minha menina! – enquanto Ana limpava Vicente e o preparava para se vestir, Sergio aproveitou para pegar em Daniela ao colo e andar com ela como se de um saco de batatas se tratasse, pelo quarto e até pelo corredor.
Aqueles momentos, todos aqueles segundos e todos os minutos que passavam juntos eram especiais.


- Como é que tu não estás nervosa? – perguntava Miranda.
- Não sei – respondeu Ana, sorrindo – acho que estou anestesiada.
- Nota-se! Estás toda sorridente, tranquila...nada normal de quem vai casar amanhã! Até eu estou mais nervosa.
- Mas tu és a madrinha...as madrinhas estão sempre mais nervosas – Ana riu-se, olhando para o cenário que tinha na sua frente – está bonito, não está?
- Está lindo, Ana – tinham acabado de organizar todas as mesas para a recepção dos convidados.
Ana e Sergio tinham escolhido casar em Sevilha. Não só por ser a terra natal de Sergio mas por se terem apaixonado pelo sitio que escolheram para o casamento. E, no mês de Julho, o tempo só contribuía ainda mais para que aquele fosse o sitio para o acontecimento. 



- Só estou preocupada com uma coisa...
- O quê? – as duas começaram a dirigir-se para o quarto que tinham naquela quinta maravilhosa.
- Saber se as cadeiras chegam todas a tempo!
- Mas aquelas que estão lá fora não chegam?
- Eu não sei, Miranda...eu não as contei todas, mas eles dizem que faltam.
- Relaxa que todos os convidados vão ter um sítio onde sentar o rabinho!
As duas riram-se à gargalhada, abrindo a porta do quarto. Iam dormir juntas, Ana não dispensava passar aquela noite com a sua madrinha de casamento. Assim como não dispensava a presença de Vicente no seu quarto. O menino já dormia há algum tempo e os seus cinco meses tornavam-no cada vez mais irresistível.
- Vê lá se queres um babete!
- Sim, sim, sou completamente apaixonada pelo meu filho!
- Deixa lá que eu também ando assim pela minha Maya.
- Como é que a deixaste ir dormir com o pai?
- O Xabi precisa de companhia...ele vai sentir a minha falta – as duas riram-se, acabando por se deitarem – eu estou muito feliz por ti, Ana.
- Obrigada, meu amor – Ana não resistiu e abraçou-se a Miranda, deixando a sua cabeça sobre o peito da amiga – tinha saudades de dormir contigo.
- Oh minha bonequinha – Miranda apertou-a, dando-lhe um beijo na testa – vamos dormir que já só temos seis horas de sono pela frente.
- Antes de nos acordarem e começar a loucura dos cabelos, maquilhagem e vestidos.
As duas riram-se, acabando por adormecer muito depressa. O cansaço dos últimos dias começava a ser sentido.

- Então, está tudo como querias? – a voz de Gonçalo sobressaltou Ana que supervisionava o local onde iria decorrer a cerimónia.
- Está. Ainda mais bonito para dizer a verdade... – olhou para o irmão reparando que ele já estava pronto – e tu também estás muito bonito.
- Não é todos os dias que a irmã mais nova casa... – Ana abraçou-o, sentido as mãos de Gonçalo apertarem-na contra si – parabéns, miúda.
- Obrigada, Gonçalo – olhou-o – sabes que eu só comecei a ser boa com palavras e sentimentos depois de conhecer o Sergio. Em tempos, acho que o convite que te fiz em levares-me ao altar seria o suficiente para eu te dizer que gosto muito de ti – Ana levou uma das suas mãos à cara do irmão sorrindo – mas hoje...hoje eu sei que preciso mesmo de te dizer que gosto imenso de ti. E agradecer-te por todos os esforços que fizemos ao longo destes cinco meses para hoje termos uma relação de irmãos.
- Não precisas de me agradecer. Ambos sentimos que nos faltava isso e foi de ambas as partes. Reconstruímos a nossa relação e eu acho que foi o mais importante. E quero agradecer-te novamente por me dares a honra de te levar ao altar, juntamente com a Miranda.
- Essa parte... ela não sabe.
- Como assim não sabe?
- Eu ainda não lhe consegui dizer, Gonçalo. Achas que...podes fazer com que ela não entre juntamente com as damas de honor e se junte e a ti?
- Fica descansada que vou tratar disso – Gonçalo deu um beijo na testa da irmã, voltando a olhá-la – precisas de mais alguma coisa?
- Não, não. Vou ficar por aqui mais um bocadinho para, depois, voltar ao quarto e à confusão toda da roupa.
- Boa sorte com isso, mana!
- Obrigada – os dois riram-se e Gonçalo dirigiu-se ao interior da quinta. Ana contemplou a vista que tinha à sua frente por mais algum tempo até que se dirigiu ao seu quarto para se preparar.


- Afinal não sou a única ainda em robe! – disse Ana, chegando ao seu quarto. Miranda ainda estava de robe, assim como as suas damas de honor: Paqui, Miriam e Daniela. Sim, Ana tinha escolhido a família de Sergio para suas damas de honor. Sendo que Miriam era, ainda, a madrinha de casamento de Sergio.
- Estávamos todas à tua espera – começou por dizer Paqui.
- Não queríamos que perdesses a oportunidade de nos veres nas nossas sexys lingeries – disse Miranda, fazendo com que todas se rissem à gargalhada. Aproveitou o momento para dar um abraço apertado à amiga.
Depois, sim, o jogo da maquilhagem, cabelos e vestidos começou.
- Como é que andarão as coisas pelo hotel dos rapazes? – perguntou Miram.
- De certeza que o tio está a dormir – respondeu Daniela, fazendo-as rir – não se riam, olhem que é capaz de ser bem verdade! – a menina parecia bastante confiante com o que dizia. Era ela quem olhava por Vicente, já que estava mais perto dele – também vai ser o batizado dele, não é?
- É sim, Dani – respondeu-lhe Ana.
- Por falar nisso – começou Paqui, fazendo com que Ana olhasse para ela – o padrinho do menino já chegou.
- A sério? E trouxe a sua acompanhante? – Ana referia-se à namorada de Mario.
- Trouxe.
- Ah boa! Ele conseguiu convence-la!
- Queres que o vá chamar?
- Não se importa, Paqui?
- Claro que não, querida – depois de dar um beijo na testa de Ana, Paqui dirigiu-se ao quarto onde estava a família de Ana, alguns familiares seus e Mario com a namorada – padrinho do meu neto? – Mario, de imediato, olhou para Paqui sorrindo – a mãe da criança chama-te. E à tua companheira também.
Mario entrelaçou a sua mão à da namorada, encaminhando-se a Paqui.
- Bom dia, Paqui. Quero apresentar-lhe a Sara, a minha namorada. Sara é a mãe do Sergio.
- Muito gosto – as duas cumprimentaram-se com dois beijos, Mario também cumprimentou Paqui e os três seguiram em direção do quarto de Ana.
- Vejam só se não é o meu parceiro de baptismo que chegou! – dizia, animada, Miranda – estás tão nervoso quanto eu?
- Tu és capaz de estar mais. Afinal não és só madrinha do Vicente! – Mario cumprimentou-a, assim como Sara. O rapaz aproveitou, ainda, para apresentar a namorada a todas as presentes que não a conheciam e, antes de se dirigir a Ana que estava na casa de banho, pegou em Vicente ao colo – olá noiva jeitosa!
- Mario! – Ana não conseguia, nunca, esconder a felicidade ao ter Mario por perto. Por todo o passado que têm, Ana irá sempre considerá-lo um dos seus melhores amigos – estás tão bonito! – os dois olhavam-se através do espelho, já que Ana acabava de se maquilhar.
- Já tu...isso não está estranho?
- Olha, isto ainda está em construção, sim?
- Mas vou ter direito a um beijo ou não?
- Não sei se mereces!
- Já viste como é que a tua mãe trata o padrinho? – Ana viu-o olhar para Vicente e o menino a rir-se – ah pois! Ela é má para mim!
- Sim, sim. Não te queixes muito – virou-se para Mario que, ao vê-la de robe aberto tapou de imediato os olhos com uma das suas mãos – oh Mario... – Ana riu-se, acabando por fechar o robe já que, por baixo, apenas trazia a lingerie – não é nada que nunca tenhas visto!
- Tudo bem, mas agora és uma mulher quase casada, eu vou ser padrinho do teu filho e estou muito apaixonado pela minha namorada. Já estás composta?
- Já, já – os dois riram-se e Mario olhou-a – és tão parvo – Ana aproveitou para o abraçar, dando-lhe um beijo demorado na bochecha – obrigada por tudo, Mario.
- Eu não faço nada de especial.
- Podes crer que fazes e fizeste. Foste, em tempos, um homem maravilhoso comigo e...eu peço desculpa por te ter colocado no meio de tudo. Por ter...começado uma relação contigo quando a minha com o Sergio estava tão instável.
- Ei, shiu, vá – Mario puxou-a para junto dele, dando-lhe um beijo na testa – por mais que tenham sido tempos maravilhosos a teu lado, eu sempre soube que era com o Sergio que irias acabar por ficar. Era mais que óbvio que a vossa relação iria voltar ao que era – Ana afastou-se de Mario, olhando-o – mas foi ótimo estar contigo e puder fazer parte da tua vida agora.
- E do meu pequenino.
- Que é o meu pequenino! Não te livras de o deixares vir passar, pelo menos, um fim de semana comigo quando ele for mais crescido.
- Todos os quantos vocês quiserem – Mario voltou a beijar-lhe a testa, olhando-a de seguida – a Sara?
- Está ali no quarto.
- Vamos lá para dentro, então. Ela não tem ciúmes, pois não? Acho que nunca falamos sobre isto...
- A Sara sabe de tudo o que aconteceu entre nós. No inicio tinha um bocadinho – Mario riu-se, olhando-se ao espelho – mas ela sabe que eu vejo-te, agora, como uma irmã e a ela como a futura senhora Suaréz.
- Eu fico muito feliz por vocês, Mario.
- E eu por vocês, Ana.

- Mas porque é que ele ainda não chegou? – perguntava Ana a Paqui, já que Sergio ainda não tinha chegado.
- Não sei, não sei. Estamos fartos de lhe ligar e não nos atende – esclareceu Paqui.
- Fica descansada que ele não desistiu de casar contigo – disse Miranda, rindo-se. Ana não se conseguia rir com a situação, estava nervosa. Começava a questionar tudo... o telemóvel de Paqui tocou e, por momentos, Ana assustou-se ao ver o nome de Sergio aparecer no ecrã.
Afastou-se, ficando por momentos sozinha. Olhava o seu boquet, olhava a relva e os arbustos que por ali se encontravam. Reparava que o fotografo ia captando cada um dos seus convidados e se começava a dirigir para aquela zona.
- Apanharam trânsito, mas já cá estão – avisou Paqui, fazendo com que Ana sorrisse de imediato – o noivo chegou! – gritou, visivelmente aliviada.
- Estou aqui, madre! – Ana sobressaltou-se com a voz de Sergio. Estava por detrás do arbusto onde ela estava – onde é que anda a minha noiva?
- Eu estou aqui, Sergio – acabou Ana por dizer, rindo-se – vai lá para o teu sitio...
- Queres assim tanto casar comigo?
- Claro que quero! Tu não me consegues ver pois não?
- Não, fica descansada. Não demores - Ana sorriu, virando-se para Paqui e Miranda.
- Podemos ir – afirmou – estou bem?
- Estás linda, minha querida – disse Paqui, abraçando Ana.
- Melhor não poderias estar – Miranda aproximou-se de Ana, olhando-a – vou ter de te dar o braço?
- O Gonçalo já te disse?
- Já. Porque é que não o fizeste tu?
- Oh, eu não sabia como o fazer...
- Tonta – Miranda deu-lhe um beijo na testa e, depois de algumas fotografias, começaram a dirigir-se para o local onde se iniciava a passadeira de pétalas de rosa branca para que Ana caminhasse sobre elas até ao altar. 


Ana jamais irá esquecer o dia do seu casamento. O momento em que os seus olhos viram Sergio, o momento em que as suas mãos se juntaram as dele para nunca mais se separarem naquele dia, o momento em que viu o seu filho sereno no colo do padrinho...tudo aquilo parecia um verdadeiro conto de fadas.
Emocionaram-se, riram-se até ao momento em que começaram a sentir-se nervosos. Sentiram-se nervosos no momento em que tinham de dizer sim um ao outro. Não se tratava de ser difícil de o dizer, mas sim pela responsabilidade que esse sim traz. Para ambos, assumirem esse sim é para a vida. Ambos o disseram, olhando intensamente um para o outro. Jurando que seria eterno.
Seguiu-se a cerimónia do baptizado de Vicente. Um momento todo ele muito emotivo. Ana não conseguia esquecer todos os maus momentos que tinha passado para ter conseguido aquele bebé, não conseguia deixar para trás o seu passado num dia como o de hoje e as lágrimas eram a prova disso.
- Estás bem? – perguntou-lhe Sergio, baixinho, agarrando-lhe a mão.
- Sabes... – Ana olhou-o – é difícil esquecer tudo o que já passamos, os dois bebés que eu perdi antes de termos o nosso filho...hoje é daqueles dias que nos lembramos disso tudo, não é?
- É. Mas é um dia feliz...
- Um dia muito feliz, Sergio – Ana levou a sua mão à cara do, agora, marido dando-lhe um curto beijo nos lábios.
- Nós gostaríamos de deixar algumas palavras – começou por dizer Miranda, capturando a atenção de Ana e Sergio, assim como de todos os que ali estavam – posso começar eu? – perguntou a jovem a Mario que prontamente lhe acenou que sim com a cabeça – bom, como a maioria dos presentes sabem eu conheço a Ana desde quase sempre. Posso dizer que a conheço desde que as nossas vidas recomeçaram. Passamos por muita coisa juntas, tanto boas como más. E eu sei que quero ficar com ela para muitos mais momentos desses. Tenho a honra de ser a sua madrinha de casamento e a madrinha do filho dela...não, não queiram estar no meu lugar porque ela é muito exigente para quem exerça este papel – todos se riram e Miranda olhou para a amiga – obrigada por seres uma irmã espetacular, por todas as vezes que me abriste os olhos e por todos os sorrisos que partilhamos. Tudo farei para te proteger a ti, sempre o fiz mas, agora, irei fazer de tudo para proteger o meu afilhado. Obrigada Ana.
- Então e eu? – perguntou muito rápido Sergio.
- Oh, sim. Obrigada Sergio por teres contribuído para tudo o que ela é hoje, sobretudo por a fazer feliz. Mas não fiques convencido! – Miranda riu-se, olhando para Mario que tinha Vicente nos seus braços – agora é a tua vez.
- Bom, eu vou ser breve...temos de ir comer, não é? E o Vicente está a ficar com fome – Mario olhou para Ana e Sergio – quem diria que eu viria a estar no vosso casamento e a ser padrinho do vosso filho...isto é a prova que a vida dá imensas voltas, que tudo pode mudar mas quando uma amizade é verdadeira...essa amizade mantém-se. Vocês sabem que gosto imenso de vocês, que tenho um carinho muito especial pela Ana e que a vejo como minha irmã. Espero que sejam muito felizes, junto do meu primeiro afilhado de sempre, mas que lhe façam um irmão. E que depois os deixem lá ir a casa e isso...pode ser? – tanto Ana como Sergio assentiram que sim com a cabeça – obrigado. E é isto, sejam felizes e prometo que irei cumprir com todas as minhas funções de padrinho.
Partilharam, ainda, alguns minutos naquele sitio cumprimentando cada um dos convidados e, só depois, se dirigiram ao local onde iriam decorrer as refeições e as danças. Ana e Sergio foram, ainda, tirar algumas fotografias os dois, aproveitando o momento para estarem mais sozinhos e namorarem um bocadinho naquele que era o dia deles.



- Será que posso ter a vossa atenção por uns minutos? – começou por pedir Sergio, fazendo com que todos o olhassem. Ana não sabia o que ele tinha programado para este momento...algo que a deixava ansiosa – primeiro, gostava de agradecer a vossa presença. É muito bom puder partilhar este momento não só com as nossas famílias, como com os nossos amigos – Sergio elevou o copo de champanhe que tinha na mão e todos os convidados fizeram-no também – em segundo, quero agradecer-te a ti Ana – Sergio olhou-a, deixando-a um pouco envergonhada – obrigado por fazeres de mim o homem mais feliz do mundo, por estares a meu lado mesmo depois de tudo o que já se passou entre nós – Sergio deu-lhe um beijo na testa, retirando do bolso interior do seu casaco um envelope. Ana conhecia-o...fazia parte dos envelopes que os seus pais lhe tinham deixado – por último, quero partilhar uma carta com todos vocês – Sergio abriu o envelope, começando a ler.

Não sei qual o momento do dia em que escolheste ler esta carta.
Não sei se é de manhã quando estás mais nervosa, ansiosa, aflita até. Não sei se é a meio da tarde, depois da cerimónia ou à noite. Não sei, Ana.
Mas sei o que te quero dizer. Que leias esta carta com o teu, agora, marido. Está ao teu lado? Boa, leiam os dois.
Chegaram a uma nova fase das vossas vidas. À fase onde, muitos casais, entram na rotina, entram na loucura de se deixarem influenciar pelo efeito casamento. Aquele efeito que acaba com as relações. Vocês não poderão ser assim. Escolheram casar por alguma razão. Escolheram ser um do outro. Porque se amam. Já entregaste a carta dedicada ao homem da tua vida ao teu marido, Ana? Já o deves ter feito...e hoje são marido e mulher.
Irás deixar de usar o nosso apelido no fim do nome para usares o dele, para seres completamente dele. Irás deixar de ser uma Moreira para seres dele. E eu não poderia ficar mais feliz por ti. O pai também...mesmo que seja difícil para ele expressar-se nesta fase. Anda mais esquecido, não sei o que se passa com ele...
Não te preocupes, esquece. O que importa é o teu dia. O vosso primeiro dia enquanto marido e mulher. Qual é a sensação? Já passou o friozinho na barriga dos nervos? Já o viste chorar? Ele chorou...eu sei, assim que te viu andar na direção dele, chorou. E, sabes porque? Porque te ama e ansiava por este dia desde o primeiro em que se conheceram.
Na vida, podem ter tido diversos amores, diversas relações. Mas nenhuma chegou ao ponto da vossa. Estão casados, planeiam ter um futuro a dois. Ou a três, quatro...com os vossos filhos. Queríamos estar presentes neste dia especial para ti, Ana. Acredito que tenha sido difícil organizares tudo e faltar-te dois lugares na lista de convidados. Faltarem dois lugares na mesa dos noivos. Espero que os tenhas ocupado. Com aqueles que consideras serem pessoas especiais para ti. E que não seja apenas no casamento. Que o faças para a tua vida. Se essas duas pessoas são assim tão especiais para ti...fica com elas para a vida.
Ao teu marido: está bonita a minha filha, não está? Mais bonita do que qualquer dia que a tenhas visto, aposto. E ela está assim para ti. Porque te quer surpreender com as escolhas que faz, porque quer ser a mulher mais bonita do mundo para ti. És um sortudo que nem te conto...fá-la feliz. Sejam felizes os dois. Unidos, agora, pelo casamento.
Espero que o dia culmine com um beijo apaixonado. Com o momento em que se entregam um ao outro a primeira vez como casados e que sintam que nada mudou. Que continuam a ser exactamente os mesmos, que sejam para sempre assim. E, amanhã, têm o primeiro dia do resto das vossas vidas. Lado a lado, construam o vosso amor ou continuem a construi-lo. Será ele que vos vai manter firmes.
Desejamos as maiores felicidades para vocês. Façam-se felizes um ao outro.

E viva os noivos!
Um grande beijo, dos teus pais.

Sergio olhou para Ana que, num misto de choro e sorrisos o olhava.
- Esta carta pertence, como perceberam, aos pais da Ana. Achei que seria importante tê-los, desta forma, no nosso casamento. Obrigado – todos os convidados aplaudiram e Sergio sentou-se ao lado de Ana – espero que...
- Foi muito bom, Sergio – Ana levou as suas mãos à cara do marido, beijando-o.
O dia esteve sempre envolto num misto de emoções. Houve sempre uma felicidade enorme estampada no rosto dos dois. Houve dança, muita dança. Ana sentia-se a mulher mais feliz do mundo. E Sergio, o homem mais feliz que a acompanhava num mundo só deles. Não poderiam ter terminado o dia do casamento de ambos da melhor forma sem ser com um fogo de artificio mágico, que cobria os céus preenchendo-o com cor. Foram muitos os beijos que Ana e Sergio trocaram, eram os primeiros enquanto marido e mulher.



- Vá, Ana! Não podemos andar sempre a ligar à Miranda, não é? – perguntou Sergio, olhando para a mulher que terminava a chamada com a amiga.
- Eu sei, eu sei...mas eu só precisava de saber se ele estava bem...
- É claro que está. Tem a madrinha, o Xabi e os meninos...mais mimado não poderá ser. Vamos aproveitar os nossos sete dias de lua-de-mel, por favor?
- Tens razão, tens razão. Desculpa.
- Vou buscar o nosso almoço! E tu livra-te de ligares novamente à Miranda.
- Achas que eu ligaria duas vezes seguidas? – Ana olhou-se, percebendo que Sergio se ria – ai tu achas!
- Claro que acho – antes de se dirigir ao bar da praia, Sergio beijou a mulher – lua-de-mel, sim?
- Sim! – os dois riram-se e Sergio ausentou-se.
Ana aproveitou para fotografa aquela paisagem que tinha na sua frente, fazendo um pacto consigo mesma e as redes sociais. 

Estamos desligados de tudo até sairmos deste pedaço de paraíso. 
A partir daquele momento, Ana iria dedicar-se apenas a ela e Sergio, à lua-de-mel e só se telefonar de vez em quando para Miranda. Estavam no México, tinham de aproveitar os sete maravilhosos dias a sós. Os sete dias enquanto casal, um casal que se casou. 



Olá meninas! 
Ao fim de 65 capítulos, 384 comentários e mais de 22.800 visualizações do blog eis que chegou o dia que completa três anos de fic! Pois é, a Veo completa hoje o seu terceiro aniversário. Avisei, há uns tempos, que a fic iria entrar nos seus últimos capítulos mesmo que não soubesse quando seria o fim. Isso mantém-se. A Veo irá acabar, mas eu não sei quando. 
Prometo que este não é o último e que, pelo menos, até ao 70 eu já tenho capítulos programados (só me falta escrevê-los). A partir de agora sei que a história irá entrar numa nova fase e isso ainda me irá dar alguns capítulos para escrever. 
Espero que tenham gostado deste capítulo, fico a aguardar os vossos comentários com as vossas opiniões. E obrigada a quem, ao longo destes três anos, esteve aí desse lado a acompanhar a história e a quem ainda não desistiu dela. 
PARABÉNS VEO! 
Beijinhos,
Ana Patrícia.

PS: Já repararam no novo fundo? Que acham? Novo ano, novos fundos em todos os blogs. Não só este já está alterado como os das outras fics ;) 

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

64: “Estou tão feliz que ele esteja, finalmente, aqui.”

- Eu sei que deveria falar contigo primeiro – Sergio olhou para Ana, voltando a olhar em seguida para Mario – mas eu tenho a certeza que ela não vai levantar problemas.
- Isso seria uma verdadeira honra... – os dois abraçaram-se e Mario olhou para Ana que lhe sorria.
Ana sabia que aquele convite de Sergio era sentido, era quase uma forma de lhe agradecer pelo que tinha feito. Não só naquela noite como em todo o tempo que esteve junto de Ana. Não se iria nunca opor àquela vontade de Sergio porque, no fim, acabava por ser uma vontade sua, também.


- Estás pronta? – perguntava Sergio, espreitando para a casa de banho.
- Sim, sim. Podemos ir – Ana encontrou-se com ele no quarto. Tinham regressado a casa à quinze dias. Vicente não os tinha acompanhado. Uma infecção nos pulmões fez com que o pequeno Vicente tivesse de ficar por mais tempo no hospital do que Ana.
Ana e Sergio iam todos os dias visitar o seu menino. Ana, aliás, passava grande parte do dia junto da incubadora do seu filho. Era ela que o alimentava, que lhe dava banho e ajudava no que era preciso. Sergio estava lá nas horas que tinha livres. Quando não estava em treinos ou em compromissos.
Hoje era da de o trazerem para casa. Era o dia que mais ansiavam, o dia que mais queriam. Sabiam que, a partir de agora, aquela casa nunca mais seria a mesma. Já se tinham mudado para a casa nova, já que era a única que tinha as coisas para o bebé. Sabiam que ali iam começar novas memórias, as memórias com o filho que ambos desejavam.
- Estás nervosa? – Sergio reparou que Ana não parava quieta com as mãos. Conduzia em direcção do hospital acabando por juntar uma das suas mãos com as delas.
- Acho que é mais ansiosa, Sergio. Assusta-me um bocadinho que, agora, não tenhamos ajuda das enfermeiras – Ana olhou-o, agarrando a mão dele – mas nós já tomamos conta da Esperanza...não havemos de estar destreinados, não é?
- Claro que não. E, sendo muito sincero, tu fizeste a maior parte do trabalho com a menina.
- Vai correr tudo bem, então. Hum, a Miranda chega hoje à tarde...
- Vem só ela?
- Não, traz a Maya e a Manuela com ela. Os meninos ficam com o Xabi lá em Munique, têm escola.
- Eu vou buscá-las ao aeroporto, então.
- Ai, eu não sei se ela tem alguma coisa combinada ou assim...
- Hum, duvido. Mas daqui a pouco ligamos-lhe para saber.
- Obrigada.
- Não tens nada de me agradecer. Temos de arranjar uma maneira engraçada de lhe dizer que é a madrinha do Vicente.
- E eu tenho de falar, depois, com o Xabi...ele também foi importante nas nossas vidas, devemos-lhe uma explicação.
- Ele terá mais bebés para ser padrinho, no futuro – Ana sorriu e, quando deu por si, já estava junto do hospital.
Os dois caminharam animados por todos os corredores que os levavam ao bebé deles. Caminhavam de mãos dadas, trocando sorrisos cúmplices, quase como se fosse o dia do nascimento de Vicente.
- Vejam quem chegou! – e lá estava aquela senhora tão amável que desde o primeiro dia os acompanhou. A enfermeira Carmén.
Ana partilhou imensas horas com ela. Contaram histórias uma à outra, Ana partilhou um pouco da sua história com ela, assim como Carmén o fez. Carmén tinha idade para ser mãe de Ana já que a sua filha mais nova tinha a mesma idade que Ana.
- Viemos buscar o príncipe! – Ana aproximou-se dela, cumprimentando-a como sempre o tinha feito: um abraço e dois beijos.
- Pois é, pois é. É hoje que vos deixo de ter por aqui! O Vicente foi tomar um banhinho mas já está quase despachado. Venham comigo, eu dou-vos já as coisinhas dele e os papeis todos da alta.
- Gracias, Carméndisse Sergio e os dois caminharam atrás da enfermeira.
Durante cerca de vinte minutos ainda estiveram a falar com o médico e, quando menos esperaram, Vicente entrou naquela salinha no colo de Carmén.
- Aqui está o nosso menino – tanto Ana como Sergio sorriram de imediato. Carmén entregou Vicente a Ana, colocando um das suas mãos sobre o ombro da rapariga – desejo-vos tudo de bom – olhou para Sergio, sorrindo-lhe – e que nos venham visitar só de passagem ou nas consultas que ele tenha daqui para a frente.
- Obrigada, Carmén – começou Ana, agarrando a mão daquela senhora que tinha na sua frente – muito obrigada por todo o tempo que esteve ao pé de nós.
- Foi um prazer acompanhar-vos e tratar deste menino lindo. O importante, agora, é que sejam felizes os três.
- Temos isto para si – Sergio entregou a Carmén o saco que trazia consigo – é apenas uma lembrança.
- Oh meus queridos...até me deixam sem jeito.
- Aceite, Carmén – a senhora sorriu, recebendo o saco das mãos de Sergio dando-lhe, depois, um abraço – é mesmo só uma lembrança.
- Querem que abra aqui?
- Se quiser... – Carmén abriu o saco, retirando de lá uma caixa. Abriu-a, vendo uma bonita pulseira de prata com vários pendentes. Entre eles havia a santa dos enfermeiros, uma família composta por um casal e um filho, uma outra com um casal e dois filhos, uma rosa, entre outras coisas.
- Isto é...tão bonito – Carmén olhou para eles, visivelmente emocionada.
- Estão aí duas famílias. Uma delas representa a sua, a que tem as duas meninas, e a outra representa a nossa. Para que nos tenha sempre consigo porque a teremos sempre connosco – esclareceu Ana.
- Obrigada, meus queridos. Muito, muito obrigada – Ana acabou por abraçar Carmén, mesmo com Vicente ao colo, sendo surpreendidas pelo abraço de Sergio às duas.


- Daqui a pouco vou buscar a Miranda – disse Sergio – tu ficas bem, aqui?
- Claro que fico. Com este doce tão bom, quem não fica? – Ana olhou para Sergio, passando a sua mão pela barriga de Vicente. Tinha o filho deitado sobre as suas pernas.
- Estou tão feliz que ele esteja, finalmente, aqui.
- És tu e eu, Sergio. E está tão calminho!
- Espero bem que seja assim de noite, também! – os dois riram-se e Sergio não resistiu em fotografar aquele momento do filho – importaste que partilhe a foto? Ainda não colocamos nenhuma do menino...
- Pois não...podes fazer isso nos teus perfis e nos meus? Por favor? – pediu Ana, encostando-se no sofá.
- Faço sim senhora – por uns momentos Ana ficou simplesmente a olhar para o filho enquanto Sergio tratava de anunciar a chegada de Vicente a casa.

Bienvenido a casa, hijo. Amamos-te imenso e vamos encher-te de beijos e amor todos os dias.

- Agora vou indo, sim? – Sergio levantou-se do seu sofá, indo ter com Ana e Vicente. Deu um beijo na testa do filho e outro nos lábios de Ana – volto num instante com três mulheres – voltou a beijar a testa do filho – vais conhecer a tua futura namorada, Vicente – os dois riram-se e Sergio saiu de casa.
Ana não se conseguiu sair dali. Para além do filho ter continuado a dormir, reparou que tinha algumas chamadas no seu telemóvel. Entre o seu tio Ricardo e a sua avó, ainda tinha uma de Mario. Começou a telefonar para todos, começando pela avó.
- Ana...
- Olá, avó. Está tudo bem?
- Sim querida, está tudo bem. Queria saber se o teu menino já saiu do hospital.
- Sim. Já estamos em casa... – por muito que quisesse manter uma relação bonita com a avó, Ana ainda não conseguia ter muito à vontade com ela.
- Achas que vos posso ir ver? Gostava imenso de vos ver...
- Claro. Quer vir cá amanhã ou vamos nós ter consigo...
- Não, não. Eu passo aí amanhã, então. Deixem-se ficar por casa, a sério. Mandas-me a tua nova morada?
- Sim. Avó...o Gonçalo vem consigo? – tinha saudades do seu irmão. Por muito que não o demonstrasse, Ana sentia falta de uma família sangue do seu sangue. Queria uma relação com eles, uma relação que tardava em existir.
- Eu estava a pensar que ele me fosse levar...
- Venham, venham.
- Então até amanhã, minha querida.
- Até amanhã, avó – desligou a chamada que fazia com a avó, iniciando uma para o seu tio. Assim que ele a atendeu, pode ouvir Sérgio, o primo, a rir-se à gargalhada – alguém está muito animado – começou por dizer.
- Nem me digas nada, querida. Está elétrico hoje.
- É o contrário do primo. O Vicente ainda à pouco chegou e já está a dormir.
- Que seja assim tão calminho de noite!
- Deus o ouça! Mas ele sempre foi calminho lá no hospital...
- E como é que ele está?
- Está bem. Temos de o manter muito resguardado, daqui a uma semana volta ao hospital para a consulta mas está tudo bem, tio.
- Ainda bem. A tia está a mandar-te beijinhos e que, qualquer dia, passamos aí pela vossa casa para vos fazer uma visita.
- Serão muito bem-vindos. Amanhã vem cá a avó e o Gonçalo... – acabou por dizer, um pouco receosa ou nervosa.
- A D. Palmira vai visitar-te?
- Sim. Estive a falar com ela à pouco...eu acho que vai ser bom. Pode ser que o Vicente venha dar alguma estabilidade a isto tudo.
- Isso era muito bom, querida.
- E como é que está tudo com vocês?
- Por aqui está tudo bem. O teu primo cada vez mais irrequieto mas todos muito bem.
- Tio, vou ter de desligar. Tenho mais umas chamadas pendentes e daqui a pouco a Miranda está a chegar.
- Ai ela está de regresso a Madrid?
- Veio passar uns dias aqui a casa. Quer conhecer o afilhado e ainda tem umas coisas para levar lá para Munique.
- Então aproveitem bem, querida. Beijinhos para todos.
- Beijinhos para vocês também – desligou a chamada, olhando para Vicente que começava a mexer os seus braços – estás a ficar com fome, não é? A mãe vai só ligar ao tio Mario e depois vamos comer – passou com a sua mão pelas pernas de Vicente, começando uma chamada para Mario. Não demorou muito até que ele atendesse – olá senhor Mario!
- Olá, loca! Já vi a foto linda do meu afilhado! Que coisa mais boa!
- Saiu à mãe, eu sei.
- Não sejas convencida, Ana Moreira. Isso só te fica mal. Até porque, nas partes íntimas, não é contigo que se parece!
- Ei! Estás muito animado Mario Suárez!
- Digamos que as coisas correm bem.
- Ai é?
- Que me dizes de eu passar aí para exercer o meu papel e contar as novidades?
- Vem, vem. Assim tu e a madrinha oficializam logo a ligação com o Vicente.
- A Miranda chega hoje?
- Deve estar mesmo, mesmo a chegar.
- Então, se calhar, não deveria ir...já vão ter muita gente aí em casa.
- Vem logo, Mario. O Vicente agradece mais um par de braços para saltar.
- Então, daqui a uma hora, mais ou menos, estou aí. Beijo!
- Até já – desligou a chamada, atirando o seu telemóvel para o canto do sofá. Pegou em Vicente, aproximando a testa do filho da sua testa. Depois de lhe dar um beijo, levantou-se indo com ele até à cozinha – vamos lá, então, fazer um belo de um biberão para o meu bebé. A madrinha já podia era ter chegado... – ia sempre falando com o filho enquanto lhe preparava o biberão.
- Ana?! – estava tão distraída que não se tinha apercebido que Sergio já tinha chegado.
- Estou na cozinha, vou já! – fechou o biberão, começando a dá-lo a Vicente. Saiu da cozinha, indo até à sala. Sergio estava a ir na direção da cozinha parando assim que Ana apareceu na sala. Miranda e Manuela estavam sentadas no sofá, sendo que Maya estava nos braços da mãe.
- Vejam só quem chegou! – desviou o seu olhar de Vicente, olhando para Miranda e Manuela – estão tão lindas as três!
- Olha quem fala! Agora até tens um adereço todo lindo – Miranda levantou-se e as duas aproximaram-se uma da outra – Maya, olha o primo, olha – Miranda virou a filha para que visse Vicente e, de imediato, Maya sorriu, batendo palmas. Aproximou-se de Vicente passando a sua pequena mão pela cabeça do menino – cuidado, é bebé! – ou ouvir a mãe, afastou-se escondendo a cara no pescoço de Miranda – agora ficou envergonhada.
- Ela nem se deve lembrar de mim... – Ana encostou a sua testa às costas da menina, olhando para Miranda – tinha saudades tuas.
- Agora estou aqui – como Miranda estava mais livre dos braços, acabou por ser ela a abraçar Ana – estou aqui para passar uns belos dias com as pessoas mais lindas de Madrid – voltou a olhar para Ana, dando-lhe um beijo na testa.
- Vá lá, Munique está a tornar-te mais simpática! – comentou Sergio.
- Até parece que eu sou algum bicho.
- És quase...
- Este teu marido... – as duas riram-se – quando é que casam?
- Um dia destes – acabou por dizer Ana, indo com Miranda sentar-se no sofá. Cumprimentou Manuela, continuando a dar o biberão ao filho.
- É um gato o futuro namorado da minha filha! – atirou Miranda.
- Então mas apresentaste-o como primo! Como é que queres que eles namorem? – perguntou Sergio, sentando-se ao lado de Ana.
- Mas ele agora só está bem a mandar vir comigo? – todos se riram e Ana acabou por perceber que o biberão já tinha terminado – queres trocar? – perguntou Miranda, fazendo com que Ana olhasse para ela – acho que a tua afilhada tem uma prenda para ti! – Ana riu-se, levantou-se e foi até Miranda. Entregou-lhe Vicente para o braço que tinha disponível pegando em Maya.
- As coisinhas dela? É que eu só tenho fraldas de recem-nascido...
- Estão naquela malinha branca – Manuela apontou para a mala e Ana foi buscá-la, indo até ao quarto de Vicente para trocar a fralda a Maya.
Deitou-a em cima do trocador de fraldas, começando a tarefa.
- A madrinha tinha saudades tuas, fofinha – Maya sorriu-lhe, piscando os olhos – estás tão bonita e tão parecida com o teu pai! – sim, Maya estava cada vez mais parecida com Xabi – estamos quase a terminar – assim que terminou de vestir a menina, não resistiu em tirar uma fotografia partilhando-a nas redes sociais.

A afilhada mais linda de sempre! Te echaba de menos, Maya.

Pegou na menina ao colo, indo até ao andar debaixo. Reparou que Mario já tinha chegado e era ele que tinha Vicente ao colo e o menino dormia muito tranquilo.
- Só tenho pessoas bonitas nesta casa – aproximou-se de Sergio, sentando-se nas pernas dele – está despachadinha. A próxima quem troca é o padrinho – Miranda riu-se e Sergio começou a fazer cócegas a Maya.
Passaram o resto do dia juntos. Sempre em torno dos bebés, em saber como é que a vida de Miranda ia por Munique. Na hora do lanche, Ana foi até à cozinha preparar algo para comerem, sendo surpreendida por Mario.
- Aquele puto é tão lindo – comentou Mario, encostando-se à bancada da cozinha.
- É sim senhora.
- E tu não poderias estar mais feliz.
- Nota-se assim tanto?
- Bastante! – os dois riram-se e Mario começou a ajudar Ana – Sabes...eu tenho andado a sair com uma pessoa – Ana olhou-o.
- Arranjaste namorada?
- Não a chamemos disso...ainda está muito no inicio – Ana deu-lhe um encontrão.
- Tu estás apaixonado! Eu conheço-te!
- Oh, olha...ela faz-me sentir bem. É tão boa onda, tão calma...
- Estás apaixonado...e eu fico tão feliz por ti, Mario – Ana não resistiu em abraçá-lo – quando as coisas se tornarem mais sérias tens de nos apresentar a sortuda!
- Sim senhora – Mario abraçou-a também, olhando para ela de seguida – obrigada, Ana.
- Do que é que me estás a agradecer?
- Oh, tens sido espetacular comigo desde sempre...
- E tu comigo. Por isso, obrigada eu também. Desde que o Vicente ficou internado ainda não tivemos tempo para falar como deve ser...foi muito importante teres estado presente no nascimento dele. E é ainda mais reconfortante saber que, caso nos aconteça alguma coisa, ele terá os melhores padrinhos do mundo.
- Só me posso sentir lisonjeado por isso – os dois trocaram um sorriso cúmplice, continuando a fazer o lanche.


- Acho que podia ler esta hoje... – Ana deitou-se ao lado de Sergio com uma carta dos seus pais na mão.
- Qual é essa? – Sergio sentou-se na cama, recebendo Ana nos seus braços. A rapariga tinha a sua cabeça deitada na barriga de Sergio sentido os braços dele a aconchegarem-na.
- “Quando nascer o nosso neto”
- Não sabia que havia essa.
- Tenho-a guardada num sitio diferente das outras. Esta e mais umas quantas. São aquelas que eu vejo que vou ler mais em breve, percebes?
- Acho que sim.
- Vou começar a ler, então.

Se não estás dorida, se não estás com um sono horrível, se não estás cansada...o nosso neto deve ser do mais sossegadinho que poderias ter. Ou então recuperas bem de um parto.
És mãe, minha filha. Chegou o dia, o momento em que todos te felicitam pela maior conquista que terás na vida. Um filho. É parecido contigo? Com o pai? Olha bem para ele e decora todos os seus traços, olha bem e vê com quem é parecido.
Quando tu nasceste, todos diziam que eras parecida comigo quando era da tua idade. O teu pai ficava fulo e reclamava, dizendo seres parecida com os dois. Eu achava o mesmo. Sempre tiveste o feitio dele: teimosa! Acho que nunca conheci um bebé com tanta teimosia como tu. Se te deitássemos noutra posição era o caos, se a chucha era diferente fazias uma birra do tamanho do mundo. E na hora do banho? Bastava a água estar mais quente para desatares a chorar. Já viste como eras teimosinha, minha querida?
Espero que tenhas disso com o teu filho, sabes? Um bebé calmo e que só come e dorme torna-se uma monotonia desgraçada. A agitação do bebé, os nervos de não saberes o que fazer com ele, a experiência de ser o primeiro...é algo que deve ser vivido na plenitude, com todos os seus contratempos.
Claro que te desejo tudo do melhor. Claro que quero que ele ou ela te dê noites de descanso completas, que seja saudável todos os dias da sua vida, que não faça birras a comer, que não faça birras por causa da chucha. Mas vive-o. Vive o teu filho como se nele estivessem todos os obstáculos da tua vida.
Conseguiste viver tantos anos sem pais...não imagino como terá sido difícil, ratinha. E, neste momento, chegou a hora de dares o amor que recebeste de nós ao teu bebé. Chegou a hora de lhe dares todo o amor que nós não te demos. Ama-o como se todos os centímetros dele fossem a tua continuidade. Como se fosse a continuidade do pai dele. Como se ele fosse a continuidade de vocês. Porque o é. É a prova viva do vosso amor.
Aproveita bem todos os dias com o bebé. Todas as horas, minutos, segundos que tenha o dia. O tempo irá passar depressa Ana e, quando deres por ti, estarás a celebrar o primeiro mês de vida, o primeiro ano, o segundo...e olhas para trás parecendo que foi há tão pouco tempo que o tinhas no teu ventre.
Espero que não fiques pelo primeiro. E que venha o segundo, o terceiro e o quarto. Sempre nos disseste que querias quatro filhos. Quatro nenucos como dizias. 
Caso estejas a ler esta carta e, por algum motivo, não tenhas conseguido ter um filho...pensa nos quantos existem que podem ser teus. Adota. Sê mãe de uma criança que precise do teu amor. Sê mãe com o coração, com o teu coração cheio de amor.
Eu, e o pai, acreditamos que tu irás ser mãe de qualquer forma. Nasceste para isso, está já destinado para ti. E, nesse caso, nós seremos avós e, onde quer que estejamos, iremos cuidar de ti, dos teus filhos e de todos aqueles que ao teu redor de protegem.
Parabéns minha filha. E força, irás ser a melhor mãe do mundo!

Para sempre te amaremos,
Os teus pais.

- É incrível como eles conseguiram deixar tudo planeado... – comentou Sergio.
- A mim faz-me imensa confusão – Ana sentou-se na cama, colocando a carta na sua mesinha de cabeceira – por mais que estas cartas me encham o coração, elas deixam-me com saudade, deixam-me confusão. Eles fizeram isto tudo vivendo comigo...tudo isto foi escrito, se calhar, sob o meu olhar.
- Posto dessa forma, sim...eu imagino que seja confuso.
- E amanhã vem aí a minha avó com o meu irmão – Sergio, pela sua expressão, estava mesmo surpreendido pelo que acabava de ouvir – a minha avó ligou para saber se podia vir conhecer o Vicente. E tudo isto mexe comigo.
- Anda cá – Sergio puxou-a para os seus braços, dando-lhe um beijo na testa – nós começámos o tu e eu mais queríamos na vida: uma família. Todo o teu passado é muito conturbado mas olha para ele apenas como aquilo que não queres que seja o teu futuro. Porque, agora, o nosso futuro é que conta. O futuro do Vicente. E da nossa felicidade. Pega no teu passado bom, nas coisas boas...assim ficarás melhor.
- É complicado. Já imaginei tantas vezes em puder apresentar o Vicente aos meus pais...
- Eles já o conhecem, meu amor. Onde quer que eles estejam, eles estão a olhar por ti.
Ana não lhe conseguiu dizer mais nada. Tudo aquilo mexia imenso com ela. Precisava de dormir, de não pensar mais no passado por hoje. Já que amanhã ele iria entrar pela porta de sua casa.



Em semana de aniversário, aqui vos deixo um capítulo para começar a celebração. O próximo sairá no Domingo, dia em que esta história irá completar três anos de existência. 
Fico à espera dos vossos comentários e que tenham gostado do que leram. 
Beijinhos e até Domingo,
Ana Patrícia.