quinta-feira, 27 de junho de 2013

32 - "Vocês só são da minha família à pouco tempo..."

Passou uma semana. A minha avó tinha ficado internada quatro dias, mas estava muito melhor, cheia de energia, de vontade de viver a vida. Em conversa, eu, ela e o Gonçalo, decidimos que ela iria connosco para Madrid. Ela não se estava a sentir já muito bem com a irmã, uma vez que elas nunca se deram realmente bem.
Ficaria em casa do Gonçalo. Pedi ao meu irmão que assim fosse, eles teriam oportunidade de se conhecerem melhor, teriam tempo para aproveitar enquanto que eu teria de resolver o futuro. 
Há tanta coisa para resolver...há tudo do bebé para tratar, o quarto, as roupas, os biberons, as chuchas...tudo! E depois...ainda há a filha da Pilar, que poderá vir para nossa casa e serão mais preocupações para ter em conta. E ainda, no meio de tudo isto, há nós. Eu e o Sergio. Temos de aproveitar que ele está de férias para tratar de planear o nosso futuro, o que fazer quando o bebe nascer, o que fazer em relação à bebé da Pilar e o que fazer em relação a nós. Eu tenho de começar a pensar o que quero fazer da vida. Tenho de arranjar um emprego, não irei viver às custas do Sergio. Mas também sei que até ao fim da gravidez ninguém me dá emprego. 
Era dia de regressar a Madrid. Voltar a estar com ele. Falávamos todos os dias, chegávamos a adormecer a falar um com o outro. As saudades eram muitas e sabia perfeitamente que quando chegasse a Madrid o tinha de encher de mimo.
Toda a viagem foi tranquila. A minha avó fazia imensas perguntas porque tinha medo de andar de avião. A Miranda ia sempre a tentar animar o pessoal, enquanto que eu e o meu irmão tranquilizávamos a nossa avó. Depressa aterrámos em Madrid, recolhemos as nossas malas e começámos em procura dos nossos acompanhantes. 
Ora bem...teríamos de ver um senhor com duas crianças, uma rapariga muito bonita com um carrinho de bebé e o rapaz vai com todas de Espanha. Os meus olhos procuravam por este último, teria sido um vai com todas, mas é comigo que ele está. 
Estava complicado de os encontrar. Muito complicado mesmo, estava imensa gente na zona das chegadas o que nos dificultou ainda mais a vida. Ia a pegar no telemóvel para ligar ao Sergio a saber onde ele estava, quando:
- Ratinha! - apenas três pessoas me chamavam assim: os meus pais e o Sergio. Virei-me para trás e ele vinha na minha direcção com um enorme sorriso nos lábios. Dei uns passos na direcção dele até que as mãos dele chegaram ao meu pescoço e os nossos lábios se tocaram.
- Tinha tantas saudades tuas... - disse, quebrando o beijo.
- E eu vossas! - colocou uma das mãos dele, sobre a minha barriga e, de imediato, o bebé começou a mexer-se.
- Parece que o piolho também tinha saudades.
- Se a mãe tinha, porque não haveria ele de ter?
- Tens razão... - ele deu-me mais um beijo e fomos ter com o meu irmão, que já estava com a minha cunhada e o meu sobrinho, junto da minha avó, da Miranda, do Xabi e dos filhos dele.
O Gonçalo já tinha apresentado a família dele à avó e, quando eu e o Sergio chegámos junto deles, ela olhou de imediato para nós.
- Avó? - chamei-a e ela aproximou-se de nós - queria apresentar-lhe o Sergio, o meu namorado, pai do seu bisneto; Sergio es mi abuela.
- Encantado - o Sergio pegou na mão da minha avó, beijando-a.
- Que guapo es! Mi nieta es muy afortunada por tenerte - surpreendeu-me...não pelo que disse, porque a D. Palmira, quando quer diz-lhe o que lhe apetece, mas pela forma como o disse. Falando em espanhol. Ela já cá tinha estado, quando os meus pais se conheceram, mas daí a saber falar espanhol...
Enquanto o Sergio cumprimentou o meu irmão e a Miranda, agarrei a minha avó pelo braço. 
- Sabe falar muito bem espanhol, abuela...
- O porque só saberás quando eu te quiser contar.
- Como quiser...até pode contar ao Gonçalo primeiro, já que vai passar mais tempo com ele. 
- Que é isso?
- O que?
- Estás com ciúmes do teu irmão?
- Porque haveria de estar? Vocês só são da minha família à pouco tempo... - deixei a boca fugir para a verdade...e a minha avó ficou um pouco chocada com isso - não sabe porque nunca me procurou mas eu sou desbocada e digo o que me passa pela cabeça. 
- E tens razão...entrámos na tua vida à demasiado pouco tempo...mas entrámos. 
- Eu não digo que não, mas já lhe disse, não me peça para ser, sobretudo para si, uma neta a 100%. Nunca tive uma avó para retribuir isso. 
- Espero que ainda tenhamos tempo para isso. 
- É esperar e ver o que nos irá acontecer a todos. Mas...vão ser tempos complicados, não para nós enquanto família Moreira, mas para...todos. 
- Que queres dizer com isso?
- Mais tarde saberá... - vamos começando a sair do aeroporto e distribui-mo-nos pelos carros. A minha avó foi com o Gonçalo, a mulher e o meu sobrinho, a Miranda com o Xabi e os meninos e eu com o Sergio.
- Nem acredito que já te tenho ao pé de mim... - disse o Sergio, para de seguida me beijar antes de entrarmos no carro.
- É bom estar de volta...e ficar longe deles.
- Então?
- Não me sinto feliz ao lado deles.
- Mas...
- É a verdade Sergio. Estou a adorar te-los na minha vida, mas estar assim tanto tempo com eles é dificil. Estão sempre a querer ser uma família quando não o somos.
- Oh...mas eles estão a tentar Ana.
- Eu sei que sim, mas podiam ter tentado quando eu tinha 4 anos e fui viver para um orfanato.
- O teu irmão não sabia. 
- Não é dele que falo...é a minha avó. Faz de conta que está tudo bem entre nós, mas eu não me esqueço que ela também nunca me foi procurar.
- Eu entendo-te, mas tens de lhe dar um desconto. 
- Que desconto? Ela simplesmente me deixou à deriva, assim como deixou o meu irmão também. Mas eu não quero falar mais nisto. Agora estou contigo, que és a minha verdadeira família - agarrei-lhe na mão, que estava no volante, e ele continuou a conduzir. 
- Eu e o nosso piolho. Podes ter sempre a certeza disso.
- Quando é que decidimos o nome do nosso filho?
- Por acaso já tinha pensado nisso. 
- A serio? Eu também pensei durante a semana...
- Alguma sugestão?
- Sim...e tu?
- Também. Diz a tua primeiro - pediu ele. 
- Sabes que não se pode contrariar uma grávida, por isso serás tu a dizer primeiro.
- Porque é que é sempre esse o argumento agora? 
- É a verdade...já sabes quais são as consequências.
- Sim...o meu filho pode nascer com falta de qualquer coisa, ou eu posso nunca mais ter filhos e ainda me ameaças-te com a greve de sexo até ao menino nascer.
- Sabes bem a lição - ameaças de grávida que o Sergio anda a levar muito a sério - mas vá...diz lá. Qual é a tua ideia?
- Lucas.
- É bonito.
- E a tua?
- Santiago - entretanto chegámos a casa, o Sergio retirou a mala do porta bagagens e entrámos em casa. O nosso cantinho, cheio de coisas boas, coisas nossas, coisas que só nós sabíamos que tinham acontecido.
- Santiago porque? - perguntou ele, depois de pousar a mala junto da escada e de termos entrado na cozinha...estava com fome só para variar.
- Porque mantinha o S dos meus Sergios...tu e o meu pai e Santiago porque foi no Santiago Bernabéu que tive a certeza do que sentias por mim. 
- A noite do Barnabéu...

LEMBRANÇA:
A música deixara de tocar, Sergio parou de cantar, mas os corpos do casal continuavam embalados pela melodia, continuavam a bailar, sem música, mas um com o outro.
-Fui o maior imbecil, mas quero que saibas, que nem por um segundo te deixei de amar...tu és uma pessoa maravilhosa, és uma princesa, um ser humano como eu nunca conheci. Eu não queria que sofresses...pelo que disse, mas...eu senti que estava a acontecer o que já me aconteceu uma vez...estarem as coisas bem, mas depois saber que ela só estava comigo pela fama... - Ana colocou o seu dedo nos lábios de Sergio e tomara a sua vez de falar.
-É a minha vez de falar – Sergio rodeou-a com os seus dois braços – eu também sei o que sentis-te...e, acho que, agora, consigo compreender um bocadinho...eu não sei a verdade do teu passado, sei do teu presente...e quero, pelo menos, fazer parte do futuro...não como apenas mais uma que te vai usar...mas como uma rapariga, que te vai...amar, sempre, Sergio.
-Descu...
-Shiu – Ana não queria que ele pedisse desculpa...a culpa não era dele, nem dela, não era de ninguém. Aproximou-se dele, mas...uma vez sem saltos, Sergio teve de se curvar para que, depois de imenso tempo, talvez demais até, os lábios que tão bem se beijassem, se envolvessem, também eles, num bailado calmo e sincronizado.

- Foi um dia perfeito - disse ele.
- Foi mesmo... - concordei ao lembrar-me de tudo o que tinha acontecido. A nossa reconciliação, a dança, o vestido, o jantar em casa da mãe dele, a Daniela. Tinha saudades dela, fazia-me bem estar com ela, sobretudo agora com a gravidez que ela anda sempre curiosa com tudo o que o primo faz na minha barriga.
- Fica Santiago o nosso menino?
- Então e Lucas, também é bonito. E não temos de escolher já.
- Teremos, de certeza, outras oportunidades para escolher nomes para os nossos filhos. E a tua explicação para o nome deixa-me tocado, acho que é o nome perfeito que o nosso filho pode ter.
- Tens a certeza?
- Absoluta! - ele veio na minha direcção, deu-me um beijo a agarrou-se à barriga - Santiago Moreira García?
- É esquisito não ter o Ramos...nem parece teu filho.
- Tens dúvidas de que não seja?
- Óbvio que não, parvo. 
- Eu sei bem isso, mas eu só uso o Ramos por causa da minha mãe. Sabes que ela é o meu ídolo desde que nasci, ela era a minha mulher antes de te conhecer.
- Será...que ela sente que eu te afastei dela?
- Não. Achas? A D. Paqui sabia perfeitamente que o filho iria arranjar uma mulher linda e perfeita para ser a mãe dos filhos dele e o aturar de manhã à noite.
- E eu bem que o aturo.
- Nem é difícil pois não?
- Não...com jeitinho vais lá - ficamos ali os dois na cozinha e, enquanto eu comia o Sergio ia-me pondo a par de tudo o que tinha acontecido.
Contou-me de que tinha voltado a falar com os pais da Pilar e que nos iríamos encontrar com eles dentro de três dias aqui, em Madrid, para falarmos sobre a possível vinda da bebé dela cá para casa.

3 dias depois: 
Era hoje o dia de nos encontrarmos com a mãe e o pai da Pilar. Não estava nervosa com a conversa, só eles poderiam decidir o que queriam para a bebé, eu não podia simplesmente impor-me perante eles. Sugeri-lhes que a menina ficasse connosco para terem tempo de acertar tudo.
Combinámos encontrar-nos num café no centro de Madrid. Eles vieram cá de propósito para falar connosco, uma vez que voltarão para Málaga, onde está a Pilar.
Eu e o Sergio fomos para o tal café e sentámo-nos na esplanada já que eles ainda não tinham chegado e estava um calorzinho bom para se estar à sombrinha. Pedimos uns sumos para beber uma vez que ainda iríamos ficar por ali algum tempo.
- Que é que achas que eles têm para dizer? - perguntei. 
- Não faço ideia...mas estou preparado para qualquer coisa.
- Somos dois...como é que estará a Pilar?
- Na mesma, quase de certeza. Estando a fazer a medicação leve é complicado que o comportamento dela seja outro.
- És capaz de ter razão. Quando falaste lá com a senhora, ela disse que a bebé estava bem, certo?
- Sim. A bebé está bem...têm medo é do parto.
- O que é que poderá correr mal?
- Não sei. Eu falei de novo com a médica a meio da semana, e ela disse-me que vai ser cesariana porque ela ainda não está no fim do tempo, ainda lhe faltam mais duas semanas, mas querem começar o tratamento mais cedo e como a bebé está com o tamanho e peso certo, vão fazer assim.
- Essa menina já está a sofrer...espero que quando nasça não tenha de ser assim.
- Olha, eles vêm aí - o Sergio levantou-se e eu fiz o mesmo.
Um casal, na casa dos 50 anos, aproximou-se de nós.
- Boa tarde - disseram eles. O Sergio encaminhou-se na direcção deles e cumprimentou-os.
- É a Ana, a minha namorada. Ana, são os pais da Pilar: Antonella e Paco - anunciou o Sergio, agarrando-me na mão. Caminhei até eles e cumprimentei-os.
- Muito gosto em conhece-los. 
- É todo nosso - disse o pai da Pilar.
- Sentem-se - falou o Sergio para depois voltarmos aos nossos lugares. 
- Muito obrigada por terem decidido vir falar connosco - fui eu a começar, porque tinha sido eu a pedir à Antonella que pensasse na oferta que lhes estávamos a fazer.
- Nós é que temos de agradecer pelo que têm demonstrado para connosco e a nossa neta - era curioso... a Antonella não incluía a Pilar. Muito provavelmente saberia de tudo o que se tinha passado e é mais que óbvio que não era pela Pilar que o fazíamos.
- A minha mulher explicou-me o telefonema que lhe fizeram. Por muito que eu saiba que o Sergio é boa pessoa, é um grande homem, eu não sei se o devemos aceitar. Seria um fardo para vocês, sem um prazo estabelecido.
- Paco... - desta vez era o Sergio quem falava - Digo-lhe, o que estamos aqui a discutir, foi algo que eu não pensei. É tudo fruto do coração da Ana. Ela é que tomou a iniciativa de sugerir-lhes isto e eu, claro, aceitei esta iniciativa e apoio a 100%. É óbvio que a decisão final é vossa, não sei o que lhes passa pela cabeça, mas acreditem que o fazemos com a maior vontade do mundo. 
- Vocês são duas pessoas fantásticas - começou a Antonella, um pouco emocionada - já sabia isso do Sergio, mas falar com a Ana ao telemóvel e saber que ainda mantém a mesma ideia...vocês são dois anjos.
- Antonella, acredite que só estamos a fazer isto a pensar na vida da bebé e também em vocês. Eu...eu vivi num orfanato durante 14 anos. Não fui entregue para a adopção porque os meus familiares não quiseram, acho que se o tivessem feito, talvez eu fosse diferente...mas, durante os anos em que lá estive, fui aprendendo a crescer uma pessoa melhor, sem rancor, com o pensamento virado para os outros e foi isso que me fez dar-vos a minha ideia - fiz uma pausa, já que o empregado nos tinha vindo trazer os pedidos da Antonella e do Paco. Quando este voltou a sair de ao pé da nossa mesa continuei - eu vou ser mãe daqui a 21 semanas e, se me acontecesse alguma coisa depois do parto, eu não queria que o meu filho fosse para uma instituição. Os casos são diferentes, vocês são quase a única família da Pilar e têm de estar focados nela, eu teria pessoas que cuidassem do meu filho, mas nós estamos a querer ser essas pessoas para a vossa neta. Estamos dispostos a dar-lhe um lar, durante o tempo que ela precisar, durante dias, semanas, meses, como entenderem. Tudo faremos para que ela passe os primeiros tempos da vida dela num ambiente estável, já que, mesmo na barriga da mãe, não deve ser uma criança tranquila.
- Obrigada Ana, obrigada por teres telefonado, por seres uma pessoa boa, depois de tudo o que a Pilar te fez.
- É feito com o coração. Sabem que o fazemos pela bebé e não pela Pilar, até é um pouco por ela, porque depois, quando ela ficar boa, quem não nos garante que ela não irá ser uma mãe a 100%?
- Era muito bom que isso acontecesse - disse o Paco, com esperança na voz.
- Como é que ela têm estado? - perguntou o Sergio. Não me admirou o facto de ele querer saber como ela estava. Ela marcou as nossas vidas, sempre pela negativa para mim, mas ao Sergio, ela tinha mostrado outro lado dela enquanto namoravam.
- Nestes dois dias foi um pouco a baixo, começou com contracções de treino no outro dia e tiveram de lhe baixar os medicamentos, mas está bem. Não tem falado tanto em vocês e fala mais com a bebé. 
- Sempre vão fazer a cesariana? - perguntei.
- Sim. Tanto os psiquiatras, como os obstetras acham que é o melhor. Já está marcada e tudo. 
- Quando é que será?
- No final deste mês. Dia 27 de Julho.
- E em relação à nossa proposta? - perguntou o Sergio. Tal como ele, eu também queria saber o que iria acontecer.
- Nunca nos passou pela cabeça tal possibilidade. Quando ficámos a tomar conta da Pilar, começámos logo a pensar também na bebé e como seria. 
- Mas... - a Antonella interrompeu o Paco e agarrou a minha mão - não há palavras para agradecer o que vocês estão a fazer. Nós não sabemos como agradecer-vos. Nem sabemos se o nosso sim à vossa proposta será o mais acertado, mas queremos acreditar que sim, que é.
- Está a querer dizer-me que aceita a nossa proposta?
- Sim, nós aceitamos. Por muito que saibamos que será um processo complicado para vocês, saber que existem pessoas assim é muito bom. Temos um problema...nós não sabemos quanto tempo demorará a que a Pilar tenha alta do centro psiquiátrico...e o que acontecerá depois disso.
- Não se preocupem - falou o Sergio, colocando a sua mão em cima da da Antonella - iremos estar sempre em contacto, iremos sempre estar a par do que está a acontecer tanto com a Pilar como com a bebé. Quando acharem que está na altura de a virem buscar, vêm. E...se, por acaso, acontecer que não possam mesmo ficar com a menina, arranjaremos depois solução para isso.
- Obrigada pelo que estão a fazer. Se não fossem vocês eu tinha a certeza de que nunca iria ver a minha neta. 
- Não nos agradeça, a serio - tanto a Antonella como o Paco, nos agradeciam imenso, choravam e fizeram-me a mim chorar. 
Tenho a certeza de que será o melhor para aquele ser tão indefeso que irá nascer. Também tenho a certeza que me irei apegar a ela, mas sei que não é minha, sei que vou se a ama dela, que lhe irei dar o amor de uma mãe, mas que a mãe dela estará a recuperar para a vir buscar.

2 semanas depois: 
Estar grávida, em pleno verão, tem dias que é horrível. Nestas duas semanas a minha barriga sofreu um aumento considerável. O Santiago cresceu imenso e anda cada vez mais activo o que, a misturar com este calor infernal de Madrid, tem dias que me deixa completamente mole, sem vontade nenhuma de fazer nada, rabugenta, cheia de dores de costas e com desejos ao fim de um tempo. Ainda tenho desejos...por coisas geladas ou então coisas super quentes. O Sergio...tem sido a coisa mais compreensível à face da terra. Atura todos os meus amuos, todas as minhas birras, apoia-me nas minhas dores, está presente em cada momento de futebol na minha barriga. Sim que o Santiago mexe-se de uma maneira que meu Deus! 
Era dia do nascimento da Esperanza, a filha da Pilar. Tinha sido a Pilar a escolher o nome e era bem apropriado. Pode ser que, até ela, veja a filha como uma esperança para ela.
Rumamos a Málaga, de carro. Saímos de Madrid às 9:00h, já que o Sergio não queria que eu andasse de avião e, uma vez que vamos ficar lá até trazermos a Esperanza, tínhamos de ter o carro para trazer a menina de volta. A viagem foi longa, parámos algumas vezes em bombas de gasolina para nos refrescar-mos e satisfazer algumas necessidades. 
Depois de fazermos uma paragem, o Sergio avisou que era a última, visto que já estávamos quase a chegar. 
Liguei-me ao twitter para ver o que se andava a partilhar e, também, para partilhar uma das nossas fotos.

Calor, viagem, pai e filho, que mais posso querer?
Creio que adormeci um pouco depois disso porque não me lembro dessa parte da viagem, só me lembro de estar a fazer a rotunda e a entrar no parque de estacionamento do hospital. 
Saímos do carro e fomos até à recepção do hospital, onde estavam a Antonella e o Paco à nossa espera.
- Olá meus queridos - cumprimenta-mos os dois, sendo que eu cumprimentei primeiro o Paco e só depois a Antonella - como é que está esse menino? - perguntou ela. 
- Cada vez mais mexido, mas cada vez melhor. 
- Ainda bem. Já estão a preparar a Pilar. 
- E como é que ela está?
- Muito calma...super tranquila.
- Que bom - nisto, uma rapariga bastante jovem, de bata verde, chega perto de nós.
- D. Antonella, a sua filha está pronta e ela pediu para lhe perguntar se a Ana já cá estava. 
- Ela sabe que cá estamos? - perguntei.
- Sim, contámos-lhe tudo o que estão a fazer e ela reagiu muito bem a isso. Quer agradecer-vos e tudo, por isso perguntou se já tinhas chegado. Ela quer falar contigo antes que a Esperanza nasça. 
- Mas...eu não me posso aproximar dela. Por causa do processo. 
- Já o anulámos, dentro de dias irás receber essa informação. A Pilar pediu-nos isso também. 
- Ela...quer falar comigo?
- Sim. Peço-te, por favor, Ana. Vai falar com ela. Era muito importante que o fizesses. 
Olhei para o Sergio que me olhava e deu força para que o fizesse. Concordei em fazê-lo. Fui com a enfermeira até ao quarto da Pilar e ainda fiquei cerca de dois minutos a preparar-me psicologicamente cá fora para entrar. 
Quando achei que já estava em condições, bati à porta e entrei. Assim que os nossos olhos se cruzaram, a Pilar sorriu e ao mesmo tempo começou a chorar.
- Ainda bem que vieste, Ana.
Será que tinha feito bem? Não estava nada, mas mesmo nada, à espera disto, não sabia ao certo o que é que ela poderia querer dizer. Ou ia ter um ataque de bom senso e falar coisas sinceras de tudo o que tinha acontecido, ou ia ter um ataque de loucura e ser só mais um momento negativo para adicionar aos que tenho com ela. Já estou por tudo.


Olá meninas!
Durante as próximas duas semanas não terão mais capitulos. Vou de férias, sem qualquer contacto com a internet. Assim que voltar prometo que irei publicar mais.
Espero que gostem do que vos trouxe neste capitulo.

Muito obrigada por todo o carinho que me têm dado, VOCÊS SÃO AS MELHORES.
Muitos beijinhos.
Ana Patrícia Moreira.

domingo, 9 de junho de 2013

31 - "E isso não faz de ti perfeita...?"

O Sergio foi até ao escritório e trouxe o contacto dos pais da Pilar.
- Queres que fale eu? - perguntei, depois de ele se sentar. 
- Eles não te conhecem...
- Mas conhecem-te a ti...e eu posso perfeitamente falar com eles se quiseres. 
- Eu começo e depois falas tu, pode ser?
- Claro que sim. 
- E começo como?
- Então dizes: olá senhora Rubio, daqui fala Sergio Ramos como está?
- Parece-me bem - ele estava extremamente nervoso, percebia-se na maneira como não estava a pensar. Ele pegou no telemóvel e, antes que iniciasse a chamada, toquei-lhe na mão.
- Não faças nada que não queiras...
- Temos de ajudar a pequena. 
- Estou aqui quando precisares da minha ajuda na conversa. 
- Obrigada - ele deu-me um beijo e marcou o número, levando o telemóvel ao ouvido.
- Olá senhora Rubio, daqui fala Sergio Ramos, como está? - ele tinha começado a conversa da forma como lhe tinha sugerido. Prova de que este homem está com o coração nas mãos. 

Sergio:
Sem dúvida nenhuma que a Ana é a pessoa mais surpreendente à face da terra. Sinto-me uma pessoa tão diferente desde que a conheci e que passámos a partilhar momentos únicos os dois. 
"- Estou sim? Quem fala?" - era a mãe da Pilar quem atendia do outro lado da linha. 
- Olá senhora Rubio, daqui fala Sergio Ramos, como está? - não me ocorreu mais nada para dizer à senhora...fui mesmo pelo que a Ana tinha sugerido. 
"- Sergio? Não estava à esperado teu telefonema..."
- Acredito que não. Mas aconteceu uma coisa ainda à pouco e decidi ligar-lhe por diversas razões.
"- Que se passou?"
- A Pilar telefonou cá para casa...
"- Oh meu querido...peço imensa desculpa."
- Não precisa de o fazer. Estive a falar com a médica ou auxiliar não sei bem, e ela contou-me do estado da Pilar...espero que não se importe.
"- Não, claro que não me importo."
- E foi então que soube da bebé...
"- Eu queria ter condições para educar a menina, mas no estado em que a minha filha está, precisamos de nos focar nela. Até poderíamos entregar a menina a alguém da nossa família, mas como sabes estão todos muito longe."
- Sei sim...e eu estive a falar com a minha namorada...e ela tem uma sugestão a fazer-lhe. Vou passar-lhe o telefone. 
"- Claro."
Olhei para a Ana e ela estendeu a mão para pegar no telemóvel. 

Ana:
O Sergio estava calmo a falar com a mãe da Pilar, mas no momento de fazer a proposta passou-me o telemóvel.
- Olá boa tarde senhora Rubio. 
"- Boa tarde..."
- Sei que a senhora não me conhece. Eu sou a Ana, namorada do Sergio.
"- Muito gosto querida."
- Igualmente.
"- O Sergio disse que querias dar-me uma sugestão..."
- Sim...é em relação à bebé. 
"- Nós vamos entregá-la numa instituição."
- Sei disso...mas gostava que me ouvisse.
"- Claro."
- Eu perdi os meus pais quando tinha quatro anos...e passei a minha infância e adolescência num orfanato porque não tive escolha. A minha família deixou-me lá e quando me tentaram procurar não sabiam da minha localização exacta. O meu envolvimento com o Sergio...é marcado pela presença da sua filha, negativamente, mas...eu tenho pena dela. Tenho pena porque ela o que faz é por amor porque...ela ama o Sergio. Está num sitio melhor, agora que está internada, mas vem a bebé a caminho...uma bebé que não vai ter hipotese de ter uma família a ampará-la nos primeiros momentos da sua vida. A minha sugestão é: enquanto a Pilar estiver a receber o tratamento e os senhores estiverem a lado dela, eu e o Sergio tomamos conta dela. Cuidaremos dela até que decidam o que fazer...sei que já decidiram pela adopção, mas também tenho quase a certeza de que não é essa a decisão que queriam tomar.
"- O que tu estás a dizer..."
- Sei que não me conhece, mas conhece o Sergio...saberá que daremos o melhor à menina e quando estiverem prontos para a receber nós entregamo-la.
"- Eu não posso aceitar Ana...por muito que ache um gesto de louvar é uma coisa que não posso aceitar."
- Porque não?
"- Porque não sei quando é que a poderemos ir buscar. A Pilar vai começar o tratamento assim que a bebé nascer e não sei quando estaremos prontos para a bebé."
- Eu compreendo-a. Mas...e se ficássemos com ela e, se não a quisessem  tratávamos de a entregar para a adopção, sendo que a mantínhamos cá em casa?
"- Queres mesmo...tomar conta de um bebé da mulher que quase te destruiu?"
- Quero...apesar de tudo o que a Pilar fez, eu sei o que é crescer quase sem ninguém...e essa bebé não pode ir para uma instituição. 
"- Eu não sei...parece-me tudo muito bom, mas ao mesmo tempo é um peso para vocês."
- Nós é que fomos à sua procura para tentar mudar-lhe as ideias...não tem de dizer nada por agora. Pense e depois entre em contacto connosco, pode ser?
"- Claro...é um gesto muito bonito Ana...obrigada. Do fundo do coração."
- Não precisa de me agradecer nada...pense e depois fale connosco. 
"- Com certeza."
- Então falamos um dia destes. 
"- Até lá."
- Com licença - desliguei a chamada e pousei o telemóvel em cima da mesa de centro. 
- Então?
- A senhora ficou de pensar na proposta e depois diz qualquer coisa.
- E o que é que te pareceu?
- Nem sei bem...parece que quer aceitar, mas ao mesmo tempo que não. Temos de esperar...
- Ana... - o Sergio pegou-me na mão e ficámos os dois a olhar um para o outro - se...esta bebé vier cá para casa, se esta bebé tiver um lar é tudo graças a ti. Depois de tudo o que acontecer...estás a querer ajudar uma pessoa que...foi horrível
- A Pilar não está na sua plena forma...está afectada. E a bebé...é isso mesmo, uma bebé indefesa que não pôde escolher a mãe que tem, nem o momento em que nasceu.
- Tu és tão perfeita.
- Não, não sou. Penso com o coração e não com a cabeça, actuo de acordo com os meus impulsos e o facto de estar grávida só me deixa mais sensíveis a estas coisas...
- E isso não faz de ti perfeita...? 
- Para ti.
- E é pouco?
- Não... - trocámos um beijo curto, mas carregado de sentimento.

22:30h
A gravidez tem feito de mim uma pessoa bastante dorminhoca. Já era hábito que depois do jantar ficasse ainda mais molengona e sem vontade de fazer nenhum. 
Estava deitada no sofá, com as pernas em cima das do Sergio, quando o meu telemóvel tocou. Era a Miranda. 
- Buenas noches! - disse-lhe assim que atendi o telemóvel.
"- Boa noite, guapa. Como é que estás?"
- Estou bem...mas preciso de falar contigo para te contar as últimas novidades. 
"- Vamos ter tempo para isso."
- Como assim?
"- Telefonaram-me de Portugal."
- Quem?
"- A tua tia Bela."
- Mas...está tudo bem? - agarrei-me à mão do Sergio e sentei-me no sofá.
"- É a tua avó...ela está doente e pediu para te ver."
- O que...?
"- A tua tia pediu-me se podia ir contigo a casa dela...a tua avó não quer ir para hospital nenhum e quer ver-te."
- Temos de ir para Portugal. 
"- Mas tu estás grávida..."
- E sei que o médico disse que só podia fazer aquela viagem, mas é a minha avó.
"- Como é que queres fazer?"
- Vou vestir-me, por qualquer coisa numa mala, vou telefonar ao Gonçalo a saber se ele quer vir connosco e vamos hoje, sim?
"- Eu trato dos bilhetes do avião. Mas...Ana, tens a certeza?"
- Claro que tenho Miranda. Vá, eu vou ter contigo a casa do Xabi.
"- Tem calma guapa. Até já"
- Até já Miranda - desliguei a chamada e levantei-me - Sergio, eu tenho de ir para Portugal - dirigi-me ao andar superior da casa e o Sergio apareceu atrás de mim. 
- Que é que se passa?
- É a minha avó. Está doente, não quer ir para hospital nenhum e perguntou por mim. Preciso de ir, tenho de avisar o Gonçalo, tenho de estar com a minha avó.
- Ana...tem calma. 
- Sergio é a minha avó! - gritei e libertei-me.

Sergio:
Quando a Ana começou a arrumar coisas na mala e me contou o que se estava a passar, só lhe pedi que mantivesse a calma, mas ela desfez-se em lágrimas. 
Puxei-a para mim e ela chorou no meu peito. Tinha chorado assim quando me contou da história dos pais dela...ela pode estar magoada com os familiares, mas sabe perfeitamente quem são as pessoas do seu sangue.
- A tua avó vai ficar bem. Se ela te quer ao pé dela é lá que temos de estar. Eu vou com vocês.
- Não Sergio... - ela olhou-me, com os olhos vermelhos de chorar - eu sei o porque de quereres ir, mas eu prefiro que fiques aqui. Não sei o estado da minha avó e levar o meu irmão já vai ser uma surpresa para ela. Ficas aqui...a mãe da Pilar pode telefonar e mantens a minha cunhada e o meu sobrinho debaixo de olho...por favor.
- Ana...eu quero ir com vocês...
- E eu também. Acredita que sim Sergio...mas é o melhor. 
- Se é o que queres... - não vou dizer que não fiquei magoado porque fiquei um pouco, mas...compreendo o ponto de vista da Ana. Dei-lhe um beijo na testa e ajudei-a a arrumar as coisas enquanto falava também com o irmão. 
Quando estava tudo pronto, dirigimo-nos para o carro e encaminhei-me para casa do Xabi. 

Ana:
Tinha montes de coisas a passar-me pela cabeça. Faria bem em levar o meu irmão? Que doença teria a minha avó? Eu sei que posso ter tido um passado familiar estranho e horrível  mas é minha avó...e chamou por mim. E o Sergio? Magoei-o? Eu sei que ele queria ir porque queria apoiar-me...mas, e se fosse demasiado para a minha avó? 
O carro ia demasiado silencioso...eu ora mexia no cabelo ou mexia no telemóvel. Não sabia como estar e o facto de me doerem as costas não ajudava. 
- Tens de te acalmar - disse o Sergio, entrelaçando a sua mão com a minha. 
- Vou tentar. 
- Ao menos que seja pelo menino Ana...sei que é difícil de te acalmares totalmente, mas olha o bebé. 
- Desculpa Sergio...
- Pelo que? 
- Por querer que fique aqui. 
- Eu compreendo não te preocupes - ele levou a minha mão até ele e beijou-a. 
Voltou a pousá-la na minha perna e até chegarmos a casa do Xabi entreti-me com o que pude para não stressar. 

Com o check-in feito e com o último aviso a soar no aeroporto, eu, a Miranda e o Gonçalo dirigimo-nos para a nossa porta de embarque. Peguei no telemóvel e mandei uma mensagem ao Sergio. 

És uma das minhas forças...a outra está comigo e é parte de ti. Assim que chegar aviso.
Te amo mi vida!
Era meia noite quando aterramos no aeroporto do Porto. Os meus avós viviam na cidade invicta com uma tia, irmã da minha avó. 
Apesar de ser tarde, fomos para casa da tia Bela. Ela tinha insistido, uma vez que tinha espaço para nós lá em casa.
Toquei à campainha quando estávamos à porta de casa da minha tia. Poucos segundos depois ela abriu a porta. Estava bonita, mas tinha um ar cansado.
- Ana... - ela estava emocionada, mas chocou quando olhou para o meu irmão - eu não acredito...
- Podemos? - perguntei. 
- C-claro. 
Entrámos os três e fomos com a minha tia até à sala.
- Como é que está a avó?
- Está com febre...e chama por ti. Mas...Gonçalo?
- Eu trouxe-o porque sei que os avós não o vão maltratar.
- Também sei que não...só não estava à espera de o ver aqui. 
- A avó está acordada?
- Penso que sim. 
- Posso ir vê-la?
- Claro. Última porta ao fundo do corredor. 
- Até já - levantei-me e fui até ao quarto. 
Entrei. Estava um silêncio acolhedor...só se ouvia o respirar da minha avó. Fechei a porta devagar pensando que ela estava a dormir. 
- Bela... - falou ela, como estava virada para o lado contrário à porta não sabia que era eu.
Dei a volta à cama e, quando os seus olhos se cruzaram com os meus, ela tentou levantar-se. 
- Deixe-se estar avó - apressei-me a ficar ao lado dela. 
- Ana...
- Eu estou aqui avó...como é que se sente?
- Ana...desculpa nunca ter ido ter contigo. 
- Não pense nisso agora. O que é que sente?
- Nada...
- A tia Bela disse que estava com febre. 
- Deve ser uma constipação qualquer. 
- Devia ir ao médico.
- Também tu?
- É a verdade...quando se está assim o melhor é ir ao médico.
- Pode ser que amanhã me apeteça...
- A avó não deixa de ser teimosa pois não?
- Já é defeito de fabrico querida - gargalhamos as duas.
- O avô? - perguntei.
- Tu não sabes?
- Eu não sei o que?
- Eu não acredito que a tua tia não te tenha dito nada...o teu avô morreu...há quase um ano. 
- Vó...eu sinto muito - como é que me podia ter omitido isto? Quer dizer...não é que fosse sofrer muito porque com o meu avô é que não tinha relação nenhuma, mas porra! Eu sou da família...sendo que se devem esquecer mesmo que existo. 
- Já passou querida...ele está com o Senhor e eu vou para junto deles. 
- Isso é que não vai. A senhora tem de ficar connosco, tem de conhecer o seu neto e os seus bisnetos.
- Do que é que falas?
- Eu já sei do Gonçalo. O irmão do meu pai contou-me. 
- Eu não sei do que estás a falar.
- Sabe muito bem. Sabe que o Gonçalo é o filho que os meus pais tiveram quando se conheceram e sabe perfeitamente que nunca quis saber dele para nada - ela olhava o teto - ele está na sala...posso chamá-lo? - olhando para mim, a minha avó soltou uma lágrima e acenou com a cabeça que sim. 
Fui até à sala, chamando o Gonçalo. Fui com ele pelo corredor e, antes de entrarmos, falei:
- Ela pode ter umas saídas ao lado...mas ela é mesmo teimosa. 
- Vamos a isso.
Entrámos os dois no quarto e ela estava sentada na cama, encostada à cabeceira da mesma. 
- Gonçalo... - ela chamou-o e chorava.
- Vou deixar-vos a sós. 
Sai do quarto e fechei a porta, deixando-os a falar os dois. 
Fui até à sala onde estava a Miranda e a tia Bela. Sentei-me ao lado da Miro sabendo exactamente o que tinha de perguntar:
- Porque é que nunca me disse que o meu avô tinha morrido?
- O que é que isso ia adiantar?
- Desculpe?
- É verdade! Nunca quiseste saber deles. 
- E eles quiseram saber de mim?
- Uma coisa não tem a ver com a outra. Na altura eras um peso e foi assim que se decidiu por as coisas. 
- Como?

Miranda:
A tia da Ana...não podia ter sido mais crua nas palavras que usou. A Ana riu-se. Ela sabia não ficar afectada com estas pessoas. Com pessoas da família dela que não queriam saber dela para nada.
- Ainda bem que não ficaram comigo. Tive a oportunidade de ter outra família. Uma que me ama e não é como vocês.
- Eu nem te sou quase nada. A tua mãe é que era minha sobrinha. Por mim...estás à vontade. Com licença - eu nunca gostei desta mulher, verdade seja dita. 
- É preciso ter uma lata! - a Ana levantou-se e começou a andar de um lado para o outro.
-Vamos lá a acalmar, sim? - fui ter com ela e agarrei-lhe a barriga - isso não faz bem ao menino. 
- Eu sei que não...mas porra, granda cabra! 
- Isso...deita cá para fora. 
- Tenho de te contar uma coisa. 
- Diz. 
- Posso vir a ter um bebé em casa dentro de três semanas. 
- Como assim?
- A filha da Pilar?
- A filha de quem? 
- Sim...os pais dela querem mete-la para a adopção e eu quero que tenham uma hipótese antes de ser definitivo.
- As tuas hormonas só te estão a deixar ficar ainda melhor pessoa - era impressionante a forma como a Ana agia. Ela é uma pessoa linda. 
Ficámos as duas a falar, até que fomos ao quarto da avó dela ver se eles ainda continuavam a falar. 
Para grande surpresa nossa, estavam os dois a dormir. A avó deles aconchegada no Gonçalo. 
Eu e a Ana fomos deitarmo-nos também.

Ana (dia seguinte):
Depois de tomarmos o pequeno-almoço, eu, o Gonçalo e a Miranda, levámos a minha avó ao hospital. Ela lá cedeu. 
Os médicos fizeram-lhe todos os exames necessários e detectaram que ela estava desidratada e com o principio de uma pneumonia. 
Ficou internada para receber o tratamento necessário. Estávamos todos com ela no quarto. 
- E agora estou aqui no hospital toda desajeitada - reclamou ela.
- Como assim D. Palmira? - perguntou-lhe a Miranda. 
- Estou com o cabelo todo ranhoso, nem tenho as unhas pintadas...estou uma lástima. 
- Então, mas elas podem pintar-lhe as unhas - disse o Gonçalo.
- Tens aí o verniz? - perguntei-lhe.
- Tenho...sabes, eu costumo andar sempre com um frasco de verniz atrás... - a minha avó soltou uma gargalhada adorável.
- Vocês são tão iguais aos vossos pais...desculpem tudo o que vos fiz passar. 
- Preocupe-se em por boa para conhecer o seu bisneto - disse-lhe o Gonçalo. 
- Os meus bisnetos... - ela pegou na mão do Gonçalo e levou a outra mão disponível à minha barriga - não vieste com o pai do bebé?
- Não...ele ficou em Madrid...a avó sabe quem ele é?
- Sei. Tenho visto as notícias. 
- Eu preferi que ele ficasse por lá...não sabia o que ia encontrar aqui. 
- Agora tem de ir a Espanha conhece-lo - disse a Miranda. 
- Tenho pois. Mas...não há por aí um frasquinho de verniz...eu ficava muito melhor - a gargalhada no quarto foi geral e eu e a Miranda começamos a procurar nas malas. Eu não tinha nenhum.
- Tenho um! - exclamou a Miro - mas é vermelho...talvez não goste.
- Gosto muito! 
- Então vamos a isso! - a Miranda sentou-se ao lado da minha avó e começou a pintar-lhe as unhas. O Gonçalo só se conseguia rir...e acabamos por transformar o quarto num espaço de pintar as unhas. A Miranda pintou as da minha avó e as minhas, que também não estavam pintadas.  

Foi só um susto...agora vais ficar boa e vais conhecer os teus bisnetos #avó

domingo, 2 de junho de 2013

30 - "Eu quero fama! Quero ser o centro de tudo e de todos!"

- Pela primeira vez na história do programa, temos connosco um jogador do Real Madrid connosco, no activo. Connosco: Sergio Ramos! - o apresentador anunciou a entrado do Sergio, que, como sempre estava sorridente. Cumprimentou o apresentador e sentaram-se os dois - antes de começar-mos é muito importante agradecer ao Sergio por aqui estar e ao Real Madrid por nos ter cedido um dos seus jogadores - o publico bateu palmas e o Sergio agradeceu - primeira grande pergunta: como...está...tudo? - o apresentador fez a pergunta de forma pausada.
- Tudo...está...muito...bem - o Sergio respondeu da mesma maneira o que fez com que ele e o apresentador soltassem uma gargalhada, bem como o público. Eu aproveitei e tirei uma foto:

Já te estamos a ver papá! @SergioRamos
- É a verdade?
- Sim. Pode ter sido uma época complicada para o Real, mas a níveis pessoais nem foi a pior época que fiz. Acho que funcionámos bem como equipa e o que nos faltou foi mesmo os resultados mais positivos. Sinto que evolui. A braçadeira de capitão exige mais responsabilidades e mais concentração durante o jogo, por isso acho que me tornei uma pessoa mais ponderada ao longo da época.
- Isso reflecte-se na vida pessoal?
- Bem...eu sou uma pessoa mais pacata em casa. Gosto de estar no meu canto, a ouvir boa música e aproveitar as pequenas coisas que a vida me tem a dar. Mas pode reflectir-se um pouco, sim...há coisas com as quais tenho de lidar que têm de ser levadas com calma.
- Tornou-se público à duas semanas que vai ser pai... Parabéns. 
- Obrigado - o público bateu palmas. O Sergio continuava a olhar para o apresentador, mas vi na face dele o orgulho que tinha em ouvir aquilo.


- Como foi quando recebeu essa notícia?
- Foi um momento que recordarei eternamente. A Ana andava extremamente mal disposta, com os sintomas de uma gravidez, mas quando fez o teste deu negativo...continuou mais uns tempos assim, até que a levei ao hospital e descobrimos. 
- Está de quanto tempo?
- 16 semanas. 
- Também foi muito público o que se passou entre vocês. Como é que está a vossa relação?
- Tivemos os nossos baixos mas agora estamos num alto que se vai prolongar até ao nascimento do nosso filho. E, a partir é viver uma vida a três. Dia-a-dia ver o desenvolvimento da nossa família. Aprendemos a viver um dia de cada vez e a aproveitá-lo ao máximo. É isso que fazemos e que iremos continuar a fazer. 
- Já sabem o sexo do bebé?
- Ainda só a família mais chegada é que sabe...mas penso que a Ana não terá problema em que se saiba. É um menino.
- Um reforço para o Real Madrid, portanto...
- É óbvio que o deixarei fazer da vida dele o que quiser, mas terá sempre uma bola ao pé dele...mas já começou a demonstrar isso na barriga da mãe - estou completamente derretida com as respostas do Sergio. A falar do nosso filho, a cara dele transforma-se. Ele transforma-se. Ele ama crianças...vi isso pela primeira vez quando esteve com a sobrinha, mas agora, que tem o bebé dele a caminho...está a demonstrar ser o pai que sempre pensei que pudesse vir a ser. 
O resto da entrevista levou outro rumo. Falaram da mudança de visual dele, dos hábitos rotineiros do Sergio, da sobrinha Daniela, do momento caricato do penalti que foi à lua e ainda de outro momento: a queda da taça do Rei. O Sergio esteve sempre sorridente, super à vontade e deixou-me super orgulhosa.




17:30h
Passei o dia quase todo só com o bebé. O Sergio, depois da entrevista ficou por lá nos estúdios para fazer uma aparência no fim. Ouvi o barulho das chaves na sala. Peguei na minha taça de iogurte com bolachas e fui até à sala. Era o Sergio. 
- Amor... - ele veio na minha direcção e beijou-me. 


- Foi tão bonita a entrevista. 
- Gostaste? - perguntou ele, sempre duvidoso do que tinha feito. 
- É mais que óbvio que gostei. 
- Toma! - ele entregou-me o peluche da formiga e sentámo-nos os dois no sofá - importaste-te que tivesse dito que era um menino?
- Não amor. Porque haveria de me importar?
- Estás tão calminha...
- Como é que querias que tivesse?
- Não sei. Mas estás mesmo muito calma. 
- Estou a precisar de miminho...só isso.
- Miminho?
- É o que dá ter o suporte de mimos longe durante horas. 
- Onde é que esse foi?
- Foi falar do bebé e dele para a televisão.
- E volta?
- Parece que sim...mas está a demorar em dar mimo a quem precisa - ele puxou-me para ele, deu-me um beijo e acariciou-me a barriga - sabias que...é complicado ficar longe de ti?
- É?
- Muito! O menino não pára de mexer, está sempre irrequieto, eu fico com um humor que ninguém aguenta e depois quando chegas é isto.
- Esta parte é a melhor, não?
- Sem dúvida. 
Ficamos por ali na sala a receber miminho do pai enquanto ele ia recebendo algumas chamadas e mensagens a felicitá-lo pela entrevista, bem como pela gravidez. 
- Este telemóvel hoje não pára! Daqui a nada mando-o contra a parede! - reclamou ele, quando começou a dar sinal de chamada outra vez. 
- Se não quiseres não atendes, mas se te estão a telefonar é bom sinal. 
- Talvez...não tenho este número na lista de contactos. 
- Nem conheces o número? 
- Não. 
- Mas atende, pode ser alguém que conheças. 
- Estou? - disse ele depois de atender a chamada - quem fala?
Vi a expressão do Sergio mudar, levantou-se e ficou simplesmente a olhar para mim. 

Sergio:
- Estou? Quem fala?
"- Hola Sergio." - a...P-Pilar? Levantei-me...não queria que a Ana se apercebesse, mas era impossível. Ela olhou logo para mim. Neste momento não era do que estávamos a precisar. Ela e o bebé precisam de um ambiente tranquilo...não de uma psicopata atrás.
- Que é que queres?
"- Um pedido de desculpas."
- Hã?
"- Sim. Sofri a maior das vergonhas por tua causa. E daquela rapariguinha."
- Não metas a Ana no meio disto tudo. Sabes perfeitamente que a única que arranjou problemas aqui foste tu - a Ana levantou-se, vindo ter comigo. 
"- Essa pode estar descansada que não a irei incomodar...directamente. Estava a referir-me à Miranda...esta rapariga que tenho à minha frente, com os dois filhos do Xabi."
- Pilar...o que é que estás a fazer!? 
"- Nada. Encontrei-os por acaso aqui no parque. Mas não stresses. Se me prometeres um pedido de desculpas público eu garanto-te que não farei mal a ninguém."
- Porque?
"- Porque o que?"
- Porque é que estás a fazer isto?
"- Ainda não percebeste? Eu quero fama! Quero ser o centro de tudo e de todos! E quero-o a todo o custo!"
- Tu não estás bem...

Ana: 
Não era da Pilar que mais precisava agora...e a cara com que o Sergio estava assustou-me muito. Ele dava-lhe conversa, mas pegou no meu telemóvel, escrevendo algo nele para depois me entregar. 

"Telefona à Miranda e pergunta-lhe onde é que ela está!"

Afastei-me um pouco dele e telefonei à Miro. Depois de três bips ela atendeu. 
"- Hola guapa!"
- Hola cariño. Como estás?
"- Está tudo bem e vocês? Derreteram com aquela entrevista?"
- É óbvio né? Olha amor...onde é que estás?
"- Estou em casa com o Xabi e os meninos porque?"
- Por nada. Se estivesses aqui perto ia ter contigo. 
"- Não...mas passa-se alguma coisa?"
- Não, está tudo bem.
"- Ainda bem."

Sergio:
A Ana falou com a Miranda, enquanto que eu continuei a dar conversa à Pilar. Ela dizia coisas sem nexo nenhum. Ora falava de uma coisa, ora partia para outra. 
Quando a Ana terminou a chamada, veio ter comigo e mostrou-me o telemóvel. 

"A Miranda está em casa com o Xabi e os meninos."

- Ela está louca... - falei, para a Ana. No mesmo minuto ouvi do outro lado alguém chama pela Pilar. 
Ela começou aos gritos, gritos de desespero, mas ao mesmo tempo de loucura. 
"- Estou sim? Quem fala?" - uma voz de senhora ouviu-se do outro lado. Uma voz mais velha. 
- Pode explicar-me o que se passa?
"- A menina Pilar deve ter conseguido arranjar o telefone. Daqui fala do Centro Psiquiátrico de Malloca."
- Centro Psiquiátrico?
"- Sim...mas quem fala?"
- Sergio Ramos. 
"- Sei bem quem é. Eu peço desculpa em nome do Centro, mas não tivemos como controlar a menina. Ela está muito perturbada depois da sua entrevista."
- Ela está internada à quanto tempo?
"- Há cerca de três semanas. Os pais da meninas vieram traze-la."
- E...como está o bebé dela?
"- Está a crescer, mas temos muito medo. A medicação que a Pilar está a fazer é mais fraca por causa da filha dela. Só daqui a três semanas, quando a menina nascer é que podemos começar com o tratamento mais forte."
- Ela vai ter a criança?
"- Vai sim menino. Mas os pais dela já nos disseram que vão dar a criança para a adopção. Não conseguem ficar com ela e preferem lidar com a filha do que com a filha e a neta."
- Adopção?
"- Sim menino. Olhe, se pretender mais alguma informação ligue mais tarde ou então venha até nós. Agora temos de ir cuidar da Pilar. Passe bem e muitas felicidades para si e para a sua família."
- Muito obrigado. 

Ana:
Não estava a perceber quase nada da conversa, mas sabia que o Sergio estava bastante perturbado com o que ia ouvindo. 
Ele desligou a chamada, sentando-se no sofá. Eu sentei-me ao lado dele e abracei-lo. 


- Que é que se passa Sergio? 
- É a Pilar...
- O que é que ela quer?
- Nada...ela está internada. 
- Internada?
- Sim. Ela está com algum problema psíquico. Provavelmente já estava quando fez o que fez. 
- Vais ver que ela vai ficar bem amor...não fiques assim. 
- Eu não estou assim por ela. Por mim está tudo bem desde que não venha para cima de nós. 
- Então...que se passa?
- Daqui a três semanas vai nascer a bebé dela. 
- Ela foi com a gravidez em frente?
- Foi. Os médicos estão preocupados com ela porque a medicação é fraca por causa da bebé. 
- É normal...grávida não pode ter aqueles tratamentos fortes...mas vais ver que a bebé nasce bem e que os pais dela a vão ajudar muito. 
- Não. Quer dizer...sim. Os pais dela vão ajudá-la a ela, Pilar. Mas vão dar a bebé para a adopção. 
- Vão?!
- Sim...por um lado entendo-os, mas é uma bebé. 
- A quem lhe vão tirar uma família...
- Vai crescer sabe-se lá onde, com sabe-se lá quem. Pode ter uma família, mas olha se não tiver...
- Vai ficar a viver num orfanato. Como...eu - poderia perguntar-me porque é que fazem isto a uma criança, mas tenho de ver pela perspectiva de que a filha do casal também não está bem e será sempre ela que lhes irá dar algum problema. Mas...aquela criança. Crescer num ambiente tão desagradável como um orfanato. Não que a pudessem tratar mal, mas...o mais importante é ter um ambiente que seja familiar, uma figura feminina que seja mãe, um masculino que seja o pai...não num sitio onde, por mais pessoas e crianças que tenhas a teu lado, te sentirás sempre sozinha. 
- Sei que entendes o que quero dizer...mas não poderemos fazer nada. Eles querem-no fazer. 
- E...Sergio...e se falássemos com os pais da Pilar? Podíamos perfeitamente tomar conta da meninas até eles recuperarem a Pilar. 
- O que Ana?
- Sim...vamos ter com eles e falamos como adultos racionais que somos. Explico-lhes que podemos muito bem tomar contar da menina e quando se sentirem prontos para a receber nós entregamo-la. 
- E se eles não quiserem?
- Não sei Sergio...o que não há por aí são casais que não podem ter filhos e que querem uma criança com eles. Mas...eu acho que os primeiros dias de vida daquela criança não podem ser passados num orfanato ou uma instituição.
- Depois de tudo o que aconteceu não sei...
- Eu também não sei. Sei que também sou mãe e que amo o meu bebé mais que tudo nesta vida. E sei que, apesar do que nos aconteça a nós, ele vai ter um sitio para onde ir quando nascer. E a menina da Pilar...não sabe quem é o pai e terá a mãe num estado em que não a vai puder ajudar. Se os pais da Pilar quiserem...nós podemos ficar com ela. 
- Tu és...tão perfeita. 
- Sou mãe...e estou a senti-lo cada vez mais. O nosso filho pode ainda não ter nascido, mas é na minha barriga que ele está, é com ele que falo quando estou sozinha...eu quero ajudar essa menina. 
- Não estava nada à espera disso...
- Não as queres ajudar?
- Quero...
- Então vamos ajudar. Tens alguma maneira de contactar com os pais dela?
- Sim...penso que tenho o número de telefone deles. 
- Então vamos ligar. Se quiseres falo eu.
- Obrigada Ana - ele agarrou na minha mão e deu-me um beijo. 
Podemos ter alguns problemas com as nossas próprias famílias, ou mesmo connosco...mas neste momento aquela pobre criança indefesa não me sai da cabeça. Não é para uma instituição que ela tem de ir, por muito boa que seja.