sexta-feira, 31 de outubro de 2014

54 – “És cada vez mais corajosa.”



- A sério…?
- Sim. Vocês importam-se que eu volte para aqui? – Ana contava a Miranda e Xabi tudo o que se tinha passado em casa de Mario.
- Isso nem é pergunta que se faça! Voltas para aqui e ponto final – muito à vontade, Xabi respondeu-lhe – e…o que é que vais fazer agora?
- Aproveitar as minhas férias até ao inicio do ano. E depois é dedicar-me à minha carreira e tentar esquece-los.
- Achas que o consegues fazer?
- Não sei, Miranda…mas não quero pensar neles neste momento. Daqui a dois dias é a passagem de ano, depois começo a trabalhar e só quero descansar, recuperar baterias e dedicar-me ao jornal.
- Qualquer coisa que precises tens aqui dois chatos para ti, sabes disso?
- Sei Xabi e muito obrigada por tudo o que fazem por mim – nisto são interrompidos pelo som do telemóvel de Ana. Olhou para o visor e o nome Sergio apareceu juntamente com uma imagem dos dois – é o Sergio…
- Atende.
- Será que ele ficou chateado?
- Só saberás se atenderes, Ana…
- Têm razão… - Ana levantou-se, indo até ao jardim. Atendeu a chamada e ouviu a voz de Sergio.
- És cada vez mais corajosa.
- Sergio…
- Não faço ideia de como o conseguiste fazer, mas foi a melhor coisa que poderia ter acontecido nos últimos dias de 2013.
- Não digas isso…isto não muda nada, Sergio. Eu preciso de uns tempos sozinha, sem te ver…peço-te que entendas isso.
- Precisas de pensar…eu compreendo, mas foi tão bom ler aquilo.
- Gostaste?
- Senti-me nas nuvens com aquilo.
- Já outros expulsaram-me de casa…
- É compreensível que não tenha sido fácil para ele. Como é que vais fazer agora?
- Voltei para casa do Xabi…mas Sergio, por favor vamos fazer os possíveis para nos mantermos afastados. Eu preciso mesmo de entender o que se passa na minha cabeça.
- Como queiras…mas eu vou aí a casa. Para ver a Esperanza.
- Claro. Já sabes alguma coisa do tratamento da Pilar?
- Se continuar como está, no fim de Janeiro sai da clínica e volta para Madrid.
- E aí…temos de lhe entregar a menina…
- É…vais aguentar?
- Claro. Eu consigo. Eu já estou preparada para isso…e depois tenho aqui a Ane e o Jon, depois virá o bebé deles e a nossa Dani.
- Ela vai adorar saber que acabaste com o Mario, como ficou radiante ao saber que eu a Mia acabamos.
- Não me pressiones, sim?
- Tens razão, desculpa. Bem, aqui alguém tem de ir trabalhar. Ultimo treino do ano. Ficas bem?
- Sim. Eu fico bem. Bom treino, Sergio.
- Obrigado, Ana Ana desligou a chamada, entrando em casa.
Xabi já tinha ido para o treino e, naquela hora, Ana e Miranda aproveitaram para irem buscar as coisas (poucas) de Ana a casa de Mario. Tudo o que era seu estava dividido pela casa de Xabi e o closet em casa de Sergio. Assim, era fácil conseguirem, as duas, trazerem tudo de uma vez.

O fim do mês de Janeiro chegou. E, com ele, era chegada a altura de entregar Esperanza a Pilar, que já havia recebido alta da clínica psiquiátrica. Foi extremamente difícil para Ana deixar de ter aquela menina todos os dias consigo, foi difícil acordar a meio da noite e não ter o choro dela a despertá-la já que era horas do biberão. Foram sete meses com aquela menina, foi a mãe dela, foram dias, horas e minutos que dedicou àquela criança. Mas agora não a tinha. Ela regressou aos braços da sua mãe.
Em Fevereiro ainda eram várias as vezes que se viam…todos os dias Ana ia a casa de Pilar visitá-las. Mas, com o trabalho, começava a ser difícil. E em Março as visitas eram só aos fins-de-semana, não conseguia estar com ela sem ser ao sábado e domingo. Claro que tudo era aproveitado ao máximo e parecia que Esperanza não a esquecia.

- Sabes que eu não o vejo desde o dia em que entregamos a Esperanza à Pilar…já passaram dois meses, achas que é fácil não estar nervosa quando lhe estamos a preparar uma festa surpresa? – Ana e Miranda estavam as duas na sala de estar a colocar alguma comida em cima da mesa.
Sergio fazia anos hoje e Xabi, em conjunto com os seus colegas de equipa, Miranda e Ana, estavam a organizar-lhe uma festa surpresa. Ana estava nervosa. De não o ver há algum tempo, de não saber o que fazer quando o voltasse a ver…
- Não, não é fácil. E isso só demonstra que estás apaixonada por ele.
- E estou…isso não é novidade para ninguém. Sinto-me uma autêntica adolescente!
- Tem calma. Nós já acabamos por aqui…vai tomar um banho, trocar de roupa e desce que daqui a pouco começam a chegar todos.
- Tens a certeza que não precisas de ajuda?
- Tenho…vai lá.
Ana subiu até ao seu quarto e tomou um banho relaxante. A sorte que tinha, naquela noite, é que tinha escolhido a roupa com ajuda de Miranda. Caso contrário, iria demorar imenso tempo com isso.
Depois de estar pronta, olhou-se ao espelho. Aquilo que tinha vestido era a sua cara, sentia-se bem mesmo que nervosa por ir estar no mesmo espaço que Sergio.




Voltou ao andar debaixo, encontrando já na sala Miranda, Xabi, Ane, Jon, Iker e Sara. Não iria vir muito mais convidados. Tinham decidido fazer algo intimo já que é assim que Sergio gosta. Do plantel do Real Madrid iriam contar com a presença de Iker (que já lá estava), Marcelo e Isco acrescentando a família de Sergio.

Pouco a pouco todos encheram a casa, até ao momento em que Xabi se ausentou para ir buscar Sergio a casa deste.
- O tio vai gostar tanto desta surpresa – Daniela sentava-se ao lado de Ana, colocando as suas mãos em cima da mão esquerda de Ana, a mão do anel.
- Esperamos que sim…
- Estás nervosa?
- Um bocadinho…nota-se?
- Estás menos faladora…
- Só quero que tudo corra bem…é isso.
- Vai correr…e o tio Sergio vai adorar esta surpresa.
- Ele nunca mais chega… - Ana olhava, mais uma vez para a porta, esperando que esta se abrisse. Sabia que era em vão já que, quando estivessem a chegar, Xabi ligaria a Miranda.
- Deve estar transito.
- É capaz…
- Eles estão a chegar! – a voz de Miranda fez-se ouvir e todos se alinharam junto uns dos outros. Daniela pegou no bolo que seria para cantar os parabéns ao tio, Ana colocou-se atrás dela e viram a porta abrir.
Primeiro entrou Xabi, seguido de Sergio. Assim que viu todos ali, sorriu deixando escapar um Eu sabia! Todos se riram e começaram a cantar os parabéns. Daniela foi ter com o tio, entregando-lhe o bolo. Sergio pegou nele, dando dois beijos à sobrinha. Olhou para todos, lendo-se nos lábios dele Gracias.
Depois de lhe cantarem os parabéns, todos o felicitaram e a festa prosseguiu. Sergio tentava escapar a algumas pessoas, com a intenção de chegar a Ana. Demorou ainda a faze-lo já que todos lhe queria dizer algo.
- Também fizeste parte do comité de organização da festa?
- Fiz… - Sergio tomou a iniciativa e abraçou-a Feliz cumple, Sergio.
- Gracias. os dois olharam-se, brindando um com o outro com os copos de champanhe que tinham em sua posse – como é que está tudo a correr?
- Está tudo bem, Sergio…sou feliz, agora.
- Tens falado com a Pilar?
- Sim…todos os dias. Tu não?
- Falo. Não todos os dias mas dia sim, dia não – a voz de Sergio suava calma e Ana sentia a sua barriga contorcer-se com o nervosismo – estás tão…bonita, Ana – eu estou a tentar não cair redonda no chão por causa dos nervos e ele diz isto…!
- Obrigada…tu também estás muito bonito, Sergio.
- A Esperanza ia gostar de nos ver juntos…
- A Esperanza está cada vez mais esperta…ela sabe o que é certo ou não.
- Saiu ao tio, nesse caso.
- Convencido! – os dois riram-se e Ana acabou por se aproximar dele – a ti desejo-te mesmo tudo de bom, que vivas feliz e que, um dia, voltemos a ser o que éramos – Ana deu um pequeno beijo na bochecha de Sergio, indo ter com Miranda.
Agarrou-se à amiga, que falava com Paqui, olhando para Sergio. Ele também a olhava e isso não passou despercebido a nenhuma das duas.
- Iria jurar que há fogo entre vocês… - começou Paqui.
- Eles são fogo, Paqui! Mesmo longe têm mais química que muitos casados por aí.
- Não sei como é que eles ainda estão separados.
- Vocês juntaram-se para falarem de mim e do Sergio como se não estivesse aqui? – Perguntou, divertida.
- Ao menos estiveste bem próxima dele, sem te vomitares – disse Miranda fazendo com que as três se rissem.
Com Paqui, Ana sentia-se à vontade para ser ele. A mãe de Sergio sabia exactamente como era a sua personalidade e não valeria a pena esconder nada.

- Eu…?
- Sim, tu. És jovem, não tens filhos, és uma excelente jornalista que nós temos – Ana falava com o director do jornal sobre uma nova proposta de trabalho.
- Não estava à espera de tal proposta…
- Ainda tens um tempo para te organizares, mas Ana Moreira será uma das jornalistas do Marca para o Mundial de 2014.
- Muito obrigada pela confiança que depositam em mim…
- Fazes o teu trabalho de uma forma excepcional. Só queremos que te sintas bem connosco.
- Sinto-me muito bem e realizada em termos profissionais – a conversa com o director continuou por alguns minutos.
Quando terminou a conversa, Ana contou a novidade aos que lhe são próximos: Miranda e Xabi, os seus tios e Pilar. Dentro de um mês iria rumar para o Brasil como jornalista destacada para o Mundial de futebol. A melhor coisa que me poderia acontecer.

sexta-feira, 3 de outubro de 2014

53 – “Tinhas assim tanta certeza que eu iria voltar aqui?”

Ana e Sergio mantinham-se deitados na cama. Olhavam o teto permanecendo de mãos dadas.
- Isto foi...
- Tu prometeste que não ias dizer que era um erro, Ana!
- Que mania que tu tens de não me deixar acabar de falar... - Ana virou-se de barriga para baixo, deixando a sua cabeça sobre o peito de Sergio - eu ia dizer que isto foi a melhor tarde que passei nos últimos dois meses - Sergio sorriu...ele sabia que o que havia entre os dois não poderia ter acabado de um dia para o outro. Deu um beijo na cabeça de Ana, envolvendo-a nos seus braços.
- Vais adormecer ou sair por aquela porta?
- Se eu sair já corro o risco de chegar a casa e dizerem que cheiro a homem, se adormecer vou querer ficar aqui mais tempo - Ana olhou para Sergio a sorrir - e se...fôssemos tomar um banho daqueles nossos? - Ana fazia pequenos círculos no peito de Sergio tentando convencê-lo.
- Acho que pode ser, sim senhora - Sergio beijou-a e os dois foram até à casa de banho.
Entre eles não havia qualquer tipo de constrangimento, já se conheciam melhor do que ninguém e Ana sentia falta de estar assim: a ser a Ana despreocupada, louca, selvagem e sem vergonha de expor o seu corpo a um homem.
Sergio encheu a banheira, enquanto Ana o agarrava e lhe beijava as costas. Depois de a banheira estar cheia, com bastante espuma, Sergio entrou primeiro e só depois é que entrou Ana, ficando envolvida pelos braços de Sergio.
- Há quanto tempo não usava esta banheira... - confessou Sergio, levando as suas mãos até às coxas de Ana.
- Não me digas que a Mia nunca teve direito a um banho destes...
- Nesta banheira só tu e eu podemos ter destes banhos.
- Tinhas assim tanta certeza que eu iria voltar aqui? - Ana virou-se ao contrário, ficando a olhar para Sergio.
- Tinha. Quando estive em casa do Xabi, naquela noite da lesão do Mario, eu percebi que ainda iria haver algo mais da nossa história aos nossos netos.
- Mas...Sergio...isto não significa que eu vá acabar com o Mario.
- Ei...eu sei.
- Sabes?
- Sim...mas quero ter-te assim mais tardes como esta. Não há volta a dar. Tu és minha e eu sou teu. Caso contrário terias saído pela porta de entrada quando decidi investir em ti.
- És tão meu como eu sou tua. Mas o melhor mesmo é não criamos muita proximidade antes que comecem a falar a imprensa.
- Sim, tens razão - Sergio levou as suas mãos às nádegas de Ana que sentiu, por baixo dela, Sergio ficar excitado.
- Amiguinho, vais brincar com a mãozinha - Ana beijou Sergio, saindo da banheira. Voltou até ao quarto, vestiu-se e, quando estava pronta, tinha Sergio completamente nu à sua frente - vou andando - Ana aproximou-se dele, passando com a sua mão no peito dele - havemos de repetir isto - deu-lhe um beijo, saindo dali.


Chegou a casa na mesma altura que Mario estava a chegar. Só espero que ele não note algo de diferente em mim - era a única coisa que Ana conseguia pensar.
Os dois saíram dos carros a sorrir e Mario retirou Esperanza da cadeirinha do banco traseiro.
- Não esperava ver-te em casa tão cedo... - Mario aproximou-se de Ana, beijando-a...e Ana voltou a sentir-se amada apenas com aquele beijo.
- Acabei mais cedo o trabalho...e como amanhã não trabalho deixaram-me sair mais cedo.
- Então isso significa que já escreveste a tua última coluna...
- Sim. Sai amanhã a última. Mario... - os três entraram em casam fechando a porta. Mario deixou Esperanza no pequeno cantinho onde ela costuma estar, olhando para Ana - eu prometi-te que a última coluna seria sobre ti e para ti mas...surgiu outra ideia e se calhar não é bem aquilo que estavas à espera...
- Como assim?
- Prefiro que saibas amanhã, quando te ler o que escrevi, pode ser?
- Claro...mas quase que aposto que o Sergio está envolvido nessa coluna... - Ana percebeu que Mario disse aquilo com certeza na voz e com frieza na voz.
Ana sabia que, ao publicar aquela coluna, estaria a por em causa a sua relação com Mario mas tinha a certeza que o queria fazer. Além do mais tinha tido o apoio da sua chefe e recebera largos elogios.



Duas pessoas do mesmo mundo, duas pessoas com uma carreira profissional exímia. Dois seres humanos com corações completos, dois corações seguros, dois corações que me apaixonaram.
Um com 27 anos, outro com 26. Um nascido em Sevilha, outro nascido em Alcobendas. Um é jogador do Real Madrid à oito anos, outro actua pelo Atlético de Madrid à três. Profissionais excelentes, representam ambos a seleção nacional espanhola. Um conta com 121 jogos pela principal seleção de futebol, outro apenas com dois mas um futuro promissor à sua espera.
Um é defesa central, o outro médio defensivo. Ambos usam o número quatro na camisola que envergam nos seus clubes. Ambos gostam de futebol, cinema e música. Ambos são especiais para estarem a ser falados e, talvez, o leitor já tenha reparado que esta coluna está a ser diferente daquelas que tem lido…considere isto a minha exposição, a minha declaração de amor por eles os dois.
É sabido do meu envolvimento com um…e mais recentemente com o outro. Mas, o que muitos não sabem, é que eu amo os dois. O que muitos não sabem é que vivo em conflito comigo mesma, tentando perceber com qual deles quero ficar, o que muitos não sabem…é que me arrependo de me ter entregue a alguém tão cedo depois da separação.
Expor a vida pessoal é algo que não queria fazer mas, o desafio foi proposto e eu aceitei-o. Vocês os dois…que deverão estar a ler, perdoem-me se não gostarem do que estou a fazer, mas isto…é a minha posição em relação aos dois.
Não sei com qual de vocês quero estar. Sinto-me bem com ambos, sinto-me feliz e realizada. Por isso, estar apenas com um seria estar a enganar-me a mim própria. Não penses que te usei para esquecer a separação…não o fiz. Todas as vezes que disse que te amava foram verdadeiras, aceitar o teu pedido de namoro foi verdadeiro…mas, e perdoa-me por só conseguir dizer isso assim, é ele o meu verdadeiro amor.
Um chama-se Sergio e o outro Mario.
Perdoem-me por tudo.
A vossa Ana.


- Isto é a gozar comigo? - perguntou Mario completamente atordoado.
Ana sabia que aquilo era uma bomba que iria estourar, sabia que não o deveria ter feito mas era necessário para que avançasse com a sua vida.
- Não...não é Mario. Têm sido tempos maravilhosos os que vivo contigo, mas não dá para esquecer os que vivi e...vivo com o Sergio.
- Ainda vives coisas com ele?
- Sim...temos a Esperanza e ontem...ontem nós envolvemo-nos. Desculpa.
- Eu não estou a acreditar nisto...
- Desculpa, Mario.
- Não há pedido de desculpa que seja suficiente. Eu quero-te fora desta casa ainda hoje!