segunda-feira, 2 de novembro de 2015

63: “Ana, o teu filho…”

Ana sentia-se bastante dorida mas eram dores diferentes daquelas que sentia em casa. Sentia, mesmo com os olhos cerrados, que não estava em casa. Cheirava-lhe a éter...tinha conseguido sobreviver, estava viva mas estava num hospital, com dores e tinha medo de abrir os seus olhos. 
- Sentiu alguma alteração nela? – uma voz muito delicada, de senhora, fez-se ouvir. Ana ainda tentou abrir os olhos, perceber quem era mas, simplesmente, teve medo de o fazer. Escolheu ficar mais alguns segundos naquele escuro, com todas as perguntas sobre o que tinha acontecido na cabeça...preferiu não saber o que tinha acontecido – qualquer coisa chame-me – ouviu novamente a voz daquela senhora e, logo depois, uma porta fechar-se. 
Alguém lhe agarrou a mão direita, sentiu os lábios daquela pessoa junto da sua pele e sabia que não era Sergio. 
- Loca? Mario...pela forma como a tratava e pela voz, Ana percebeu que era Mario que ali estava – porque é que não acordas, porquê? Não podes ficar a dormir tanto tempo...
- Dormir é tão bom... – com a voz a sair-lhe mais baixo do que o habitual e a fazer pausas entre as palavras, Ana respondeu a Mario. 
- Loca? Ana, oh Ana! – sentiu um beijo de Mario na testa e, depois, ele passar-lhe com a mão pela cara. Devagar e com muito medo, Ana abriu os olhos encarando Mario – finalmente! Já devias ter acordado à mais tempo. 
- Quanto tempo... – sentiu uma picada forte no peito, não conseguindo continuar a pergunta. Voltou a fechar os olhos e a dor parecia começar a acalmar. 
- Estás bem? Eu já chamei a enfermeira.
- Sim... – voltou a abrir os olhos, reparando que Mario ainda não tinha saído do seu sítio – o que aconteceu? – e porque é que tu estás aqui...?
- Entraste em trabalho de parto em casa, sozinha. Chamaste a ambulância e acabaste por desmaiar.
- Eu lembro-me disso...
- E do resto? – Ana acenou negativamente com a cabeça e Mario acabou por se sentar na cama, continuando a agarrar-lhe a mão – a meio do caminho para o hospital acordaste e pediste que ligassem para os teus tios. Eles não atenderam e pediste que me ligassem... – Ana sorriu, acabando por fechar os olhos. Não se lembrava de nada desde que tinha desmaiado mas o que Mario lhe contava era-lhe familiar – cheguei aqui pouco tempo depois de tu teres chegado e... – Mario não conseguiu terminar a descrição de tudo o que tinha acontecido, já que a enfermeira entrou naquele momento no quarto. 
- Boa noite, menina Ana – era a mesma voz que tinha ouvido à pouco – como é que se sente?
- Tenho dores...
- O que é que lhe dói? – a enfermeira chegou perto de Ana, levando a sua mão à testa da rapariga. 
- O peito e um pouco as costas. 
- Não lhe dói a barriga? – Ana acenou negativamente com a cabeça e, por três breves mas longos segundos, o olhar da enfermeira estava preso na sua cabeça. Ana queria perguntar o que é que tinha acontecido. Queria saber se o seu filho estava bem. Se tinha nascido, se estava dentro de si ou...se tinha voltado a acontecer o mesmo com Santiago – eu vou chamar o seu cardiologista para a vir ver e, entretanto vou buscar algo que lhe irá fazer bem a todas essas dores. 
Ana fechou os olhos e, só quando a enfermeira saiu do quarto é que os voltou a abrir. Olhou para Mario, agarrando-lhe a mão. 
- Tenho tanto medo de perguntar o que é que aconteceu...
- A enfermeira vai dar-te todas as respostas. 
- O Sergio já sabe?
- Já. Eu liguei-lhe depois do jogo dele ter terminado e contei-lhe tudo o que aconteceu. Dentro de umas duas horas ele já cá deve estar. 
- Mario...podes ajudar-me?
- O que precisas?
- Não sei bem...acho que, se ficasse sentada seria melhor. 
- Vale Mario saiu da cama, pegando no controlador da mesma. Carregou no botão para que a parte de cima da cama subisse e Ana pudesse ficar mais sentada.
- Gracias. 
- Estás tão calma...
- Eu estou cheia de medo, Mario. 
- Não é preciso – Mario beijou-lhe a testa, sorrindo. Ana olhou para a sua barriga. Estava mais pequena, muito mais pequena...e, naquele momento, começou a chorar. Naquele momento soube que a sua barriga estava vazia, que o seu bebé já não habitava nela e abraçou Mario – ei, ei...que se passa?
- O meu bebé...eu não tenho o meu bebé, Mario! – o seu choro intensificou-se e uma raiva começou a crescer dentro dela. E, novamente, aquelas perguntas surgiam-lhe na cabeça. Como é que não consegues ser mãe? Porque é que os teus bebés não nascem? Ana gritou em desespero, deu um murro na barriga de Mario e sentiu-se a morrer por dentro. 
- Calma, por favor tem calma. Ana o teu filho... – Ana olhou-o, deixando as suas lágrimas à mostra e todo o seu sofrimento naquele momento. 
- Não me digas que ele está em paz. Por favor, não o digas! Ele estaria bem e em paz comigo! Porquê, Mario, porquê?! – o choro de um bebé fez-se ouvir assim que a enfermeira abriu a porta. 
Os olhos de Ana, naquele momento, abriram-se imenso e todo o seu corpo relaxou. Deixou de sentir as dores no peito, as dores nas costas e voltou a estar um pouco no seu mundo. Continuou a chorar imenso, as lágrimas caiam-lhe pela cara mas um sorriso apareceu-lhe nos lábios.
- Acho que o seu menino está impaciente por a conhecer... – a enfermeira chegou perto de Ana, entregando-lhe o bebé para os braços. 
Ao sentir o seu filho nos braços, era quase como se tivesse levado um choque eletrizante em todo o seu corpo. Aquele bebé, o seu filho, estava nos seus braços a chorar a alto e bom som. Passou com o seu dedo pelo braço do filho, pela bochecha e sentiu a força daquele bebé quando este lhe apertou o mesmo dedo.
- Olá, Vicente...
- Muito bem, agora já poderemos dar nome ao bebé mais agitado que nasceu esta noite – disse a enfermeira, visivelmente feliz.
- Eu pensei que...que tu não estivesses vivo, meu amor – sussurrou Ana, deixando as lágrimas tomarem conta de si outra vez. Encostou a cabeça à cama, fechando os olhos. E chorou, chegando mesmo a soluçar mas sempre com um sorriso nos lábios. 
- Ana... – Mario aproximou-se dela, passando com a sua mão pela cara de Ana – está tudo bem, loca... – Ana olhou-o, rindo-se. 
- Desculpem... – olhou para Vicente, agarrando na sua pequena mão – ele é tão lindo. 
- E muito saudável – Ana olhou para a enfermeira que lhe sorria – a Ana entrou em insuficiência cardíaca e tivemos de optar pela cesariana. Acabou por ter duas paragens cardíacas e por isso esteve tanto tempo a dormir. Mas está tudo bem consigo e com o seu filho. 
- Obrigada. 
- Vou deixar-vos um pouco a sós. Mas tente descansar, Ana. Há aí muita emoção para o seu coração – a enfermeira saiu do quarto e Ana voltou a prender o seu olhar no filho. 
- Já estavas a sofrer por antecipação... – comentou Mario, olhando para Ana. 
- E a dar-te porrada sem razão. Desculpa.
- Não tem mal, é compreensível. Eu devia ter dito logo que o Vicente estava bem. 
- A minha vida está cheia de momentos em que um segundo muda tudo...mas este é sem dúvida o melhor de todos. Acho que, nem eu mesma, consigo definir tudo o que sinto com este bebé nos meus braços. 
- Sente-o apenas e saboreia bem cada momento destes – Ana olhou-o, direccionando uma das suas mãos para Mario que, de imediato, segurou-a. 
- Obrigada por estares aqui...e por teres vindo quando te chamei. 
- Foi uma honra enorme fazer parte do dia do nascimento do Vicente. 
- Obrigada. 
- De nada – Mario levantou-se, dando-lhe um beijo na testa – olha, alguém estava com sono – os dois olhavam para Vicente que tinha adormecido nos braços de Ana. 
- Onde é que o ponho agora?
- Ali – Mario dirigiu-se à cama de bebé que estava um pouco afastada, aproximando-a de Ana que, depois de beijar a testa de Vicente, colocou-o dentro da cama aconchegando-o nos lençóis. 
- Obrigada, Mario. 
- Não precisas de me agradecer nada. 
- Que horas são? – Ana olhou-o, mantendo a sua mão dentro da cama, em contacto com Vicente. 
- Quase seis da manhã. 
- Ele nasceu ontem ou hoje?
- Hoje. Era perto da uma da manhã quando ele nasceu.
- Devias descansar, Mario – Ana percebia que ele estava cansado, cheio de sono – aposto que ainda não dormiste nada. 
- Por acaso não. Estive sempre a andar entre o teu quarto e o berçário. Mas eu estou bem, a sério, e espero que o Sergio chegue para ir para casa.
E assim foi. Enquanto Sergio não chegou aquele hospital, Mario manteve-se ao lado de Ana. Falaram, riram-se e também choraram. 
- O Sergio está a chegar – Mario levantou-se do cadeirão, indo até à porta do quarto. Abriu-a, espreitando para o corredor. Ana pôde vê-lo acenar...provavelmente para Sergio – calma, calma – Mario riu-se que nem um perdido depois de Sergio correr por aquele corredor com uma ansiedade enorme. 
- Eles estão aí? – Ana fechou os olhos ao ouvir a voz de Sergio. Sorriu e, quando voltou a abrir os olhos, já Sergio estava a caminhar em direção deles – oh meu Deus, gracias! – Sergio apressou-se a chegar perto da sua noiva e do seu filho – como é que estás? – deu um curto beijo nos lábios de Ana, olhando para Vicente – e tu, campeon
- Está tudo bem, Sergio. 
- Eu tive tanto medo que te acontecesse alguma coisa – Sergio encostou a sua testa com a de Ana, passando a sua mão pela cara dela – eu sabia que o Vicente estava bem...mas tu ainda não teres acordado deixou-me cheio de medo. 
- Está tudo bem...estamos os dois vivos, os dois bem. 
- Bom, meninos, eu vou indo sim? – Mario vestiu o seu casaco e Sergio, muito depressa, aproximou-se dele. 
- Calma, Mario obrigado por teres estado com eles enquanto eu não cheguei. Isso significa muito para mim e, eu ainda não falei com a Ana sobre isto – Sergio olhou para Ana, voltando depois a olhar para Mario – eu quero muito que sejas o padrinho do Vicente.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

62: “(…) ele fará sempre parte da nossa vida”

Sergio olhava fixamente para Ana. Mantinha-se, no entanto, calmo e sereno. Quase como se não tivesse ouvido o que Ana lhe acabara de dizer. 
- Podes...dizer qualquer coisa? 
- Que queres que eu diga?
- Oh Sergio, essa conversa não por favor. Eu acabei de te dizer que quero adiar o nosso casamento e tu estás a olhar-me à minutos! 
- Pronto, vá acalma-te que eu não quero que o bebé nasça antes de tempo. Senta – Sergio puxou a cadeira para que Ana se sentasse e ela assim o fez. Ele agarrou-lhe a mão esquerda, olhando para ela – Se é o que queres...vamos deixar o casamento em stand-by. Tu precisas de descansar, precisas de te manter calma e tranquila e eu já percebi que organizar tudo é difícil. 
- Não...não ficas chateado, magoado? 
- Claro que não. Tanto tu como eu, neste momento, queremos o bem do nosso filho. Colocaria tudo para trás só para que vocês estejam bem e em segurança. 
- Obrigada, Sergio, a sério – Ana abraçou-o, beijando-o de seguida – estava com tanto medo que fosses ficar a pensar outras coisas...
- Tenho de me preocupar com isso?
- Não, nunca. 
- Então estamos de acordo. Telefonamos a todas as pessoas envolvidas e pedimos que entendam a nossa situação. Talvez deixem ficar tudo guardado e já definido para quando quisermos. 
- Podemos, até, tentar marcar já para outra data...
- Por mim tudo bem – Sergio levou as suas mãos à cara de Ana, beijando-a – mas...que me dizes se nos fossemos deitar agora?
- Isso seria muito bom! – os dois riram-se e foram até ao quarto. A noite já ia longa e teriam dois dias muito agitados á sua espera. Não fosse esta uma época natalícia que seria vivida em família. 
- Estás muito cansada? – perguntava Sergio depois de se deitarem.
- Eu nunca estou cansada, Sergio. Eu tenho passado os meus dias inteiros aqui deitada...ou lá em baixo no sofá, ou a fazer comer, ou a comer! Eu não faço mais nada...
- Realmente, isso deve ser muito mau – Ana virou-se para Sergio, olhando-o séria – que foi?
- Nada, estou apenas a olhar para ti e a pensar que tens alguma na manga! 
- Não tenho não! – Sergio levou a sua mão até às costas de Ana, deslizando-a por todo o corpo de Ana. 
- Vês como tens alguma na manga!
- É difícil não querer quando tenho uma mulher como tu na cama. 
- Mesmo com quinze quilos a mais? É que eu não paro de engordar não sei se reparas...
- Não ligo muito a isso, sabes? Eu só consigo ver a tua barriga e o quão bonita estás. 
- Isso, isso. Estraga-me com mimos que eu adoro – os dois beijaram-se e, tentando descontrair e aliviar todas aquelas dores que sentia naquele dia, Ana entregou-se por completo a Sergio. Como já não o faziam à algum tempo.




- Tio! Finalmente! – Ana e Sergio chegavam a casa dos pais de Sergio. Seria ali que iriam passar a noite da consoada. Daniela vinha a correr na direcção deles, seguida por Paqui. 
Ana adorava ver a adoração que Daniela tinha pelo tio. Quando os dois estavam juntos era demasiado difícil os separarem. Paqui dirigiu-se logo a Ana, abraçando-a. 
- Minha querida, como estás? – Paqui olhou-a, passando com as suas mãos pela barriga de Ana – Cada dia mais bonita. 
- Obrigada...
- Está tudo bem?
- Sim, sim. Começo a ficar com umas dores estranhas ao fim da noite...mas passa depois de dormir. 
- Já falaste com a médica?
- Sim. E está tudo bem com o bebé mas é muito provável que nasça antes de tempo. 
- A sério?
- Sim. Já começava a ficar na posição certa e a querer sair. Mas ainda são sete meses...pretendemos levar a gravidez por mais semanas. Tentar chegar aos oito. 
- Tudo vai ficar bem, minha querida. O importante é que venha saudável para junto de nós. 
- Isso virá – as duas sorriram e depressa foram interrompidas por Daniela.
- Olá tia! 
- Olá minha querida – Ana tentou baixar-se mas depressa se apercebeu que não o conseguiria fazer. Todos se aperceberam das dificuldades dela e depressa foi surpreendida por um abraço de Daniela. 
Dirigiram-se à sala onde já estavam os irmãos de Sergio e os cunhados, bem como o seu pai. Paqui e Sergio mantiveram-se afastados, com a mãe do rapaz a puxá-lo para si. 
- Está mesmo tudo bem com a Ana? 
- Eu sei que não parece, mas está. Ela anda é muito cansada mesmo fazendo poucas coisas. Eu tenho medo que...seja alguma coisa relacionada com o coração dela. 
- Mas os médicos deveriam ver isso, não? 
- Sim. E já viram e está tudo bem mas, mãe, eu tenho medo – Sergio olhou-a – a mãe sabe que ela teve dois grandes problemas no coração e...e se ela não aguentar o parto? 
- Meu filho – Paqui agarrou as mãos de Sergio – a tua futura esposa é uma mulher incrível, cheia de garra e determinação. Nada a consegue deitar abaixo e ela vai conseguir aguentar tudo. A medecina, hoje em dia, está cada vez mais evoluída e, se não for parto natural ela tem a hipótese de fazer uma cesariana e correr menos riscos, talvez. Ela é forte, Sergio e o nosso bebé irá nascer forte e saudável. 
- Já decidimos os nomes. 
- Têm mais que um?
- Mae...a Ana não sabe que é menino...
- Ah pois é, tens razão! Como é que se chamará o meu neto?
- Vicente. É um nome português e, tanto ela como eu, gostamos muito do significado. É...aquele que vence. O nosso filho é uma vitória dele mesmo, não é verdade?
- É sim, meu anjo – Paqui deu um beijo a Sergio, olhando-o – eu fico cada vez mais feliz por vocês. Se fosse menina...qual seria?
- Emma. 
- Já poderão ficar com esse nome para o próximo...
- Gostava de ter mais netos, D. Paqui? 
- Sabes bem que sim, Sergio! 
- Vamos com calma – Sergio olhou para Ana, sorrindo – primeiro nasce o Vicente e depois logo se verá.
Os dois sorriram, vendo Ana e Daniela a partilharem um abraço carinhoso. As duas estavam sentadas no sofá, lado a lado.
- Ficaste melhor? – perguntava Daniela.
- Ligeiramente. Os teus abraços são milagrosos! Obrigada. 
- De nada. Só não quero que tenhas dores. O bebé dá muitos pontapés, não dá?
- Alguns. Sobretudo quando tem muita fome! 
- Como é que sabes que ele está com fome se não o vês?
- Porque eu também fico cheia de fome – as duas riram-se e Daniela levou as suas mãos à barriga de Ana. 
- Está quase a nascer, não é? 
- Ainda falta um bocadinho...
- Ana? – Daniela olhou para a tia, sorrindo-lhe – tu estás muito mais bonita. Assim com a barriga. 
- Oh querida, obrigada. É bom ouvir essas palavras! 
- O tio não te diz isso?
- Às vezes diz. Mas, sabes, quando nós estamos grávidas muitas coisas mudam, então é difícil acreditarmos que estamos mesmo mais bonitas. 
- Mas tu estás – Daniela deu-lhe um beijo na bochecha, indo ter com a mãe. 
Depressa o seu lugar foi ocupado. Por Sergio. 
- Como é que estás?
- Olha, muito bem. A Daniela acabou de me fazer sentir a mulher mais bonita de todas. A miúda tem com cada saída! 
- Aprendeu com o tio! 
- Convencido...estive a pensar numa coisa. 
- Quando tu pensas é demasiado perigoso! 
- Cala-te lá. Ela podia ir passar uns dias connosco quando o bebé nascer. Não digo logo nos primeiros dias, mas depois. Acho que ela se iria sentir bem...a fazer parte da vida do primo. 
- Acho que ela iria adorar isso mesmo! Essa cabeça quando pensa...
- Só tem ideias perfeitas, eu sei – os dois riram-se e acabaram por partilhar mais alguns momentos com a família. Era Natal, uma época que só assim faria sentido.




- Sergio...onde é que vamos? 
- Fazemos três anos juntos, é uma data importante e eu tenho uma prenda para ti.
- Que não pode ser dada em casa? É que eu estou toda inchada! 
- Prometo que não iremos demorar – Sergio conduzia à alguns minutos, até que, finalmente para Ana, parou em frente de um portão – queres fazer as honras? – Sergio retirou do seu bolso um comando, direccionando-o para Ana. 
- Como assim? 
- É a tua prenda...a nossa prenda de namoro – Sergio colocou o comando em cima da mão de Ana que, olhando estupefacta para ele, abriu o portão. 
- Tu...tu compraste uma casa? 
- Ainda não. Está guardada para nós e já toda mobilada como eu idealizei. Não sei se será bem o que queres por isso é que ainda não seja totalmente nossa. 
- Uma casa...isto é demasiado – Ana olhou para a sua frente, ficando completamente deslumbrada com o que via. 
Uma casa muito moderna, com imenso espaço na parte da frente para colocar os carros e, ainda, um pequeno terraço com mesas e cadeiras.



- É...enorme, Sergio. 
- Precisamos de uma casa com espaço suficiente para tudo. Daqui para a frente as nossas vidas vão mudar – os dois saíram do carro e Ana pôde sentir o ar puro que se respirava por ali – precisamos de criar novas memórias, novas lembranças com o nosso bebé – Sergio aproximou-se de Ana, levando as suas mãos à barriga dela – ele é o mais importante e eu...de certa forma, sinto que quando fossemos fazer o quarto dele, onde tínhamos o do Santiago, não iria ser muito saudável para nenhum de nós. 
- Vejo que pensaste em tudo, então. 
- É como te digo...eu quero dar um novo começo a tudo. 
- Por mim...por mim tudo bem, eu já estou a adorar o que vejo mas tenho uma condição – Sergio arqueou a sobrancelha – eu tenho de contribuir financeiramente para tudo isto. Tenho as minhas poupanças de lado e eu quero que as aceites. 
- Não, não. Eu não posso fazer isso. 
- Podes e vais fazê-lo. Eu dou-te o meu dinheiro como forma de pagar isto tudo. É pouco...eu sei, mas ajudará. 
- Eu aceito-o. Mas também vou pôr uma condição. Esse dinheiro ficará guardado para o nosso filho. 
- Tudo bem – os dois sorriram e trocaram um beijo quente e apaixonado. 
- Vá, vamos ver tudo. Mas com calma, que temos tempo. O que não gostares podemos alterar. 
- Eu confio no teu bom gosto. 
Assim que entraram em casa, Ana sentiu-se logo muito bem. Era clara, com janelas enormes que davam uma claridade à casa como nunca esperava. Estava a adorar o que via, tanto da sala de convívio, da salinha onde tinham a televisão, o espaço para os jantares em família e de poderem ter um espaço na cozinha onde façam as refeições quando são menos em casa.







Seguiu-se o quarto e a casa de banho do casal. E Ana sentiu-se especial naquele momento. Sergio já o tinha decorado todo à sua maneira mas que, de certa forma, era a maneira de Ana ver as coisas. Todas as molduras tinhas fotografias deles, do inicio da sua relação, de Ana grávida e das férias que tinham passado no México.
Ana surpreendeu-se ao ver uma fotografia sua de quando estava grávida de Santiago. Era algo que nunca esperou ver ali, naquele novo espaço.




Segurou a moldura nas suas mãos, sentido Sergio rodear o seu corpo com os seus braços. 
- Por mais que queiramos deixar as coisas para trás...ele fará sempre parte da nossa vida. Se quiseres podemos tirar daqui a fotografia mas...eu acho-a tão bonita. 
- Ela fica, Sergio. Ela fica – voltou a colocá-la no sitio, olhando para Sergio – eu estou a adorar todos os pormenores da nossa casa, Sergio. Obrigada por tudo isto e por me fazeres sentir a mulher mais feliz do mundo. 
- De nada, meu amor. E ainda bem que estás a gostar. Porque há mais! 
- Mais? 
- Claro. Ainda tens de ver o jardim e...a minha surpresa. 
- Hum, vamos a isso, então.




- Eu sei que não queres saber o sexo do bebé, que vamos mantê-lo em segredo até nascer...mas – pararam em frente de uma porta e Ana ficou assustada por breves instantes – por detrás desta porta, há algo que precisas de ver. 
- Sergio eu não quero saber o sexo do bebé. 
- Não irás saber, eu prometo. Abre – Sergio deu-lhe espaço para que abrisse a porta e, assim que o fez, Ana entrou num mundo só dela deixando várias lágrimas caírem-lhe pela cara.



- Sergio... – aproximou-se do berço do bebé, olhando à sua volta – é tão bonito. Supera tudo o que eu alguma vez imaginei... – olhou de novo para o berço, sorrindo – escolheste o berço que eu queria... – olhou para Sergio que lhe sorriu. 
- Tinha de haver coisas escolhidas por ti, não é? 
- O nosso filho vai ser muito feliz aqui, Sergio – Ana agarrou-lhe a mão, sentindo em seguida uma forte picada na barriga. 
- O que se passa? – Sergio levou as suas mãos à barriga de Ana, ajudando-a a sentar-se no cadeirão – estás bem? 
- Foi...foi só uma dor. 
- Ana já andas com essas dores desde ontem. 
- Não te preocupes, Sergio. Está tudo bem...eu amanhã vou à medica e logo veremos como será. 
- Eu vou pedir à minha mãe que fique contigo esta noite. Eu não te posso deixar sozinha. 
- Sergio, a tua mãe foi para o norte. Eu fico bem, a sério. Qualquer coisa também posso ligar a alguém. 
- Que alguém? 
- Tenho...ora tenho a Sara. Eu ligo à Sara caso aconteça alguma coisa. 
- Vou avisar o Iker, então, para avisar a Sara. 
- Tem calma. Isto são apenas dores normais...de quem tem uma barriga enorme e um bebé super agitado dentro da barriga. 
- Tenho medo... 
- Ei, ei – Ana levantou-se, levando as suas mãos ao pescoço de Sergio – eu não quero que tenhas medo. Logo agora que estamos prestes a meio dos oito meses. Está quase Sergio...isto é normal. 
- Certo. Fico mais descansado se dermos só uma vista de olhos pelo jardim e se fossemos já para casa. 
- Ai não vamos ficar aqui? – Ana olhou à sua volta sorrindo. 
- Ainda não. Precisam de acabar uns detalhes com os outros quartos. Dentro de uma semana podemos mudar-nos. 
- Boa. Vamos, então, ver o jardim e depois vamos para casa. 
E assim fizeram. Viram o deslumbrante e tranquilo jardim onde Ana se imaginou a brincar com o seu bebé. Sabia que Sergio tinha pensado em tudo com imenso pormenor de forma a que se sentissem em casa assim que fizessem a mudança.




Regressaram a casa e Ana não conseguia não estar com medo. Afinal, aquelas dores fortes na barriga começavam a não ser assim tão normais quanto isso. Não quis assustar Sergio que ia naquela noite para estágio já que tinha jogo no dia seguinte.
- Em que pensas tu? – perguntou-lhe, depois de chegar à sala.
- Nada. Estava à tua espera...quero dar-te uma coisa antes de ires. Eu confesso...sou uma namorada horrível e não consegui comprar nenhuma prenda. Mas! – Ana entregou-lhe o envelope que tinha na mão – acho que isto será uma boa prenda, com bastante significado. Espero que entendas o porque.
Sergio agarrou no envelope vendo que era uma das cartas que a mãe de Ana lhe havia deixado. No envelope estava escrito: “Para o homem da tua vida”.
- Ana...
- Eu ainda não a li...e não sei se é suposto eu ler. Mas é tua e só faz sentido eu entregar-te a ti –
Ana aproximou-se de Sergio, agarrando a cara dele com as suas mãos – obrigada por seres quem és e estares a ser o melhor noivo, namorado e amante do mundo – beijou-o, afastando-se em seguida dele.
Sergio abriu o envelope, começando a ler a carta.



Foste tu que a conquistaste...e aposto que não foi fácil. Ela já te terá contado toda a sua história, tudo o que ela viveu sem nós. Nós não sabemos como é que foram estes anos da Ana, não sabemos quantos passaram até ela te dar esta carta. Mas, se o fez, acredita que ela quer ficar contigo o resto da vida dela. 
A Ana sempre foi uma criança feliz, nos lábios trazia sempre um sorriso e naquele coração nunca existiu maldade. Nem para os bichinhos, ela nunca nos deixou matar uma mosca, ou uma melga. Dava-lhes liberdade. Tal e qual como nós lhe damos a ela. 
Não sei em que ano estarão quando estiveres a ler esta carta. Não sei que idade terás, que idade ela terá ou como te chamas. Mas sei, eu sei mesmo, que deves ser um ser maravilhoso para ela te entregar isto. Sei que, se calhar, não entendes a nossa escolha, assim como ela não a deverá entender. Mas, se a amas de verdade, se sentes por ela um amor único e intenso, sabes o que é sacrificarmo-nos por amor. Foi isso que eu fiz. O Alfredo, o meu marido, não está em condições de colaborar com as próximas cartas que vamos escrever. Mas sei que ele sentirá o mesmo que eu. Sou a Teresa, a mãe da Ana. 
Temos uma lista interminável de pedidos para te fazer. E começo com um muito sério: que os cumpras a todos! Ela merece ser feliz, sentir-se amada, realizada e protegida por alguém. Por ti. Vamos por pontos: 

1) Não a deixes sozinha por muitos dias. A Ana sofre imenso com a distância, sofre com saudades. É o que eu digo, ela tem tanto amor naquele coração, tanto para dar, que não aguentará muitos dias sem ti. Se, a tua vida for complicada e que tenhas de andar a ausentar-te, garante que a deixas confiante na vossa relação e que, quando voltares para junto dela, a abraças como se todo o teu mundo estivesse concentrado na minha filha. 
2) Cozinha para ela. Aposto que ela será boa nesse aspecto, que te impedirá de fazer muitas coisas mas, talvez, porque não te quer sobrecarregar, porque gosta de se ocupar dessas tarefas. Mas, na minha opinião, é algo que tu também deves fazer. Surpreende-a com jantares românticos, com pequenos-almoços na cama ou um lanche cheio de calorias acompanhado de um filme. 
3) Olha para ela todos os dias como no primeiro dia. Aposto que o vosso primeiro dia juntos será inesquecível. Alguma coisa vos fez ficar a olhar um para o outro. Lembraste desse momento? Do momento em que a olhaste pela primeira vez? Olha assim para ela todos os dias. 
4) Tem, para ela, devoção. Porque eu sei que ela terá para ti. A Ana irá amar-te com todos os seus sentimentos. Mesmo que ela, algum dia, te diga que te odeia, que és insuportável...ela estará a amar-te. Porque não há mal em dizermos isso uns aos outros. A vida de casal é complicada, a vida de casal é difícil. Custa. Mas nós amamos quando dizemos essas coisas. Só nós sabemos que, amar, é com todos os sentimentos mesmo os maus. 
5) Acho que não me vou esticar muito mais...só um último pedido. Fá-la feliz. Faz da minha filha a mulher mais realizada do mundo, a mais feliz de todas e a que tem o sorriso mais bonito nos lábios. Ela merece. 


Ela escolheu-te. Por algum motivo terá sido, talvez o amor. Talvez por seres especial. Acredito que tenha sido uma escolha difícil, acredito que, antes de ti, ela possa ter sofrido, se possa ter divertido com mais rapazes. Mas, a dada altura, chegaste tu. O homem da vida dela. Porque, caso contrário, ela não te tinha confiado esta carta. 
Protege a minha menina. 
Ama-a. 
Não olhes para o teu umbigo sem olhares para o dela também. Se ela não mudou...ela olhará para o teu primeiro antes de olhar para o dela. 
Já pensam em filhos? Casamento? Quem me dera puder assistir a tudo isso...a todos esses acontecimentos da vida da minha filha. Ela tem tudo para ter um futuro lindo para ela. Neste momento sabes o que ela está a fazer? Brinca com os seus nenucos como se fossem os seus filhos. Já a ouvi tantas vezes intitular-se de mãe deles...e tem jeito para tomar conta de bebés! Não te livras de ser pai, rapazolas. 
Cuida dela. Por nós. E obrigada por teres lido esta carta. Obrigada por a apoiares neste momento. Um dia havemos de nos encontrar todos. Eu acredito. 

Sejam muito felizes. 

Teresa e Alfredo. 


Sergio leu aquela carta envolto no silêncio que aquela casa tinha. E, quando a terminou, só conseguiu beijar Ana e garantir-lhe que a ama. Ana não precisou de mais nada...viu-o ir embora à pressa porque já estava atrasado mas ficou com a sensação de que ele ali estava junto dela. 
A noite começou a tornar-se um pesadelo para Ana. As dores tinham aumentado de intensidade, sentia o bebé demasiado agitado num segundo e, no seguinte, parava por completo. Ana lembrou-se que, quando perdeu Santiago, nos minutos antes de apagar por completo se sentiu assim. 
Sentia-se tonta, desamparada mesmo que estivesse sossegada na cama. Olhava à sua volta e sentia-se sozinha. Aquilo não era normal, nada daquilo estava a ser normal. Decidiu jogar pelo seguro e ligar para o número de emergência. Levantou-se da cama, sentindo uma forte pressão na bexiga. Quase como se precisa-se de fazer imediatamente xixi. Mas contrariou aquela vontade e desceu até à sala. Com calma e sempre a fazer pausas, conseguiu chegar lá no momento em que tocaram à campainha. Ana abriu a porta mas, depois, ficou tudo como quando perdeu Santiago. 
Escuro e vazio.

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

61: “Já só faltam quatro meses”

- Onde é que vais? – perguntava Ana a Sergio. 
- Ah, olha quem aqui está! – Sergio, que se preparava para sair de casa, deu meia volta e foi ter com Ana ao sofá – não deverias estar no teu repouso absoluto na nossa cama? 
- A médica disse que bastava uma semana e depois podia começar, aos poucos, a retomar a minha vida. Eu sei que te assustou aquela perda de sangue toda, a mim também. Mas são cinco meses, esta barriga não pára de crescer e eu não consigo ficar tanto tempo na cama – à medida que ia falando, Ana mexia na cara de Sergio. 
- Estás quentinha? – Sergio aconchegou Ana com a manta que esta tinha a tapá-la. 
- Estou – o rapaz levou a sua mão esquerda à barriga de Ana, sentindo logo um forte pontapé – a Pilar vai passar aí com a Esperanza. E onde é que vais? 
- Tenho uns assuntos para tratar no Real. Por causa do contrato. 
- Hum. Vai lá trabalhar, então, Sr. Ramos – Sergio despediu-se de Ana com um beijo apaixonado, saindo de casa. Cruzou-se com Pilar e Esperanza quando se preparava para sair do portão de casa. 
A campainha tocou e, com calma, Ana levantou-se para ir abrir a porta. 
- Olha quem são elas! – Esperanza agarrou-se às pernas de Ana, olhando para ela. 
- Bebé! – Esperanza levou as suas mãos à barriga de Ana, dando-lhe imensos beijos sobre a camisola. 
- Vamos entrar que está frio, Esperanza – disse Pilar, fazendo com que a menina corresse até ao sofá. Cumprimentou Ana, acariciando-lhe a barriga – está cada vez maior! 
- E parece que não pára mesmo de crescer...
- Oh, mas está tão bonita! – as duas riram-se e foram até ao sofá, também. Esperanza já estava a olhar para a televisão (era impressionante como já agarrava no comando e mudava para o canal dos desenhos animados).
- Como é que estão? – perguntou Ana. 
- Está tudo bem. Ela anda toda contente na escolinha, já se ambientou e eu já ando com um trabalho em vista. 
- A sério? Isso é ótimo, Pilar!
- Sim. Vou aproveitar o meu curso de esteticista...
- Isso é ótimo mesmo. É uma coisa que está em expansão por toda a Espanha. 
- Obrigada. 
- Não me tens de agradecer nada, querida. 
- Então e vocês? – Pilar levou as suas mãos à barriga de Ana – como é que este bebé se anda a portar?
- Irrequieto, pesado e ando super enjoada de manhã...
- Então agora é que tens enjoos?
- As minhas gravidezes não são muito normais – as duas riram-se e Ana, olhando para o chão onde estava Esperanza, percebeu que a menina tinha adormecido – sempre gostou de dormir no chão, é impressionante. 
- Ela adormece imensas vezes assim! 
- Está cada vez maior...
- Quem diria que esta piolha já corre de um lado para o outro! 
- É tão linda – Ana não resistiu e fotografou-a, partilhando nas redes sociais.

A gorda mais linda da madrinha. Te amo, bochechas boas


- Mantêm-se os planos do casamento? – perguntou Pilar. 
- Sim. Nós queremos casar...mas, sinceramente, não me sinto com energia de preparar o casamento. 
- Grávida, com uma dieta de sopas e descanso...organizar um casamento não é a melhor combinação, não. 
- Ainda tenho de falar com o Sergio. Depende do que aconteça daqui para a frente. 
- Onde é que foi esse parvo? 
- Ao Real. Tratar de qualquer coisa do contrato, mas ele anda tão estranho. 
- Ele já é estranho – as duas riram-se, olhando uma para a outra – se calhar anda a preparar-te uma surpresa. 
- Ele não consegue. Eu descubro sempre! 
- Olha que ele pode surpreender. 
- Duvido. A sério, o Sergio não consegue manter surpresas durante muito tempo. 




- Eu não quero saber o sexo do bebé... – Sergio, que conduzia em direcção do consultório médico, olhou para Ana – eu prefiro não saber, Sergio. Por favor. 
- Mas...eu posso saber? 
- Claro! 
- Porque é que não queres saber? 
- Acho que prefiro jogar pelo seguro e não saber o que comprar, que nome escolher...prefiro só saber no dia em que nascer. 
- Mi amor – Sergio agarrou a mão de Ana, beijando-a – vai correr tudo bem! 
- Sim, vai. Mas eu prefiro assim, Sergio. 
- E eu respeito isso. 
- E estás proibido de me dar pistas! 
- Combinado. 
- Tu não vais aguentar...eu já sei como és. 
- Vais ver que te surpreendes! – depressa chegaram ao consultório da médica e, depois de algumas perguntas e conversa, passaram à ecografia. 
- É hoje que sabemos o sexo do bebé? – perguntou Sergio. 
- Se ele deixar...mas eu acredito que sim. 
- Eu não quero saber – disse Ana – diz só ao Sergio, por favor, Marta – a médica estranhou aquele pedido, olhando para os dois – diz só ao Sergio, eu prefiro assim. 
- Muito bem. Eu guardo as imagens num envelope e escrevo o sexo do bebé só para o Sergio. 
- Obrigada, Marta – a médica foi a única que viu as imagens em tempo real – está tudo bem? 
- Está sim senhora. Continua saudável como no primeiro dia, a crescer com as dimensões certas e tens todos os valores das ultimas analises com valores estáveis – Marta olhou-a – descansa, relaxa, que está tudo no caminho certo. 
- Obrigada, Marta. 
- Podes limpar a barriga que eu vou buscar as imagens para vos dar – Marta ausentou-se e, depois de limpar a sua barriga, Ana sentiu a mão de Sergio chocar contra a sua barriga. Tinha a mão quente, contrastando com a sua barriga fria. Claro que não deixou escapar aquele momento...eram poucas as fotografias que tinha da sua barriga. 
- Está a correr tudo bem, mi amor. 
- Já só faltam quatro meses – levou as suas mãos à cara de Sergio, beijando-o. 
- Está quase! Vai passar tão depressa que nem vamos dar por isso. 
- Mas vamos manter a calma. 
- Foi bom não teres começado a trabalhar. 
- Tinha de fazer escolhas e, neste momento, eu prefiro ter uma gravidez calma como estamos a ter. 
- Dentro dos possíveis... 
- Sim. Isso é verdade. 
- Ana... 
- Diz? 
- Posso convidar a tua avó para jantar lá em casa? 
- Tu? 
- Sim...vocês precisam de estar juntas. E eu posso dizer que tu não sabes de nada e ser surpresa. 
- Tudo bem – Ana reparou que Sergio ficou surpreendido com aquela resposta – eu já percebi que queres que a minha avó faça parte da minha gravidez e do nascimento do nosso filho. E eu também quero isso. 
- Vou tratar disso, então – Sergio beijou-a e, depois de estarem despachados do médico, foram até casa. Ana aproveitou para publicar a imagem de à pouco nas redes sociais.

Estamos ansiosos à tua espera, bebé #QuatroMesesMais


- Não estejas tão nervosa, por favor – Sergio agarrava as mãos de Ana, olhando-a sério – isso faz mal ao bebé. 
- Sergio mas... 
- A tua avó demonstrou estar bastante tranquila e à vontade com o jantar. Não tardará em chegar e...vocês vão entender-se. 
- Espero que sim – a campainha tocou, sobressaltando Ana. Olhou para Sergio que lhe deu um curto beijo nos lábios. 
- Eu vou abrir – Sergio levantou-se do sofá, indo abrir a porta – buenas noches, Palmira. – a avó de Ana sorriu-lhe, cumprimentando-o com dois beijos. 
Entrou em casa, olhando séria para a neta mas, ao mesmo tempo, com uma ternura que Ana desconhecia. 
- Olá – disse, aproximando-se de Ana que, naquele momento, se levantou para cumprimentar a avó. 
- Obrigada por ter vindo – deu-lhe dois beijos sendo surpreendida por um abraço terna daquela avó que julgava ter perdido. 
- És minha neta, eu vim para Madrid para estar perto de ti e é isso que vou fazer – Palmira olhou-a – a avó promete que, nos últimos anos que me faltarem nesta vida, estarei sempre a teu lado – Ana olhou à sua volta já não vendo Sergio naquela sala. 
- Sente-se – Ana afastou-se da avó e as duas sentaram-se naquele sofá. 
- Estás tão bonita – Palmira levou as suas mãos à barriga de Ana, causando um certo desconforto na neta – já sabes o sexo do bebé? 
- O Sergio sabe...eu prefiro não saber. 
- Preferes não saber? 
- Sim...como sabe, já sofri dois abortos e tudo isso ainda mexe imenso comigo. Na verdade, eu queria muito saber para já ir começando a preparar tudo...mas eu não quero. Prefiro que assim seja. 
- Se eu perguntar ao Sergio...será que ele me diz? 
- Tenho quase a certeza que sim. 
- Ana... – Palmira agarrou as mãos da neta olhando-a séria – eu sei que nem sempre fui uma avó como tu precisarias. Ou melhor, eu nunca o fui. Mas, e se tu o permitires, eu quero recuperar o tempo que perdi da tua vida. Quero imenso fazer parte da tua vida neste momento importante, quero estar a teu lado nos primeiros dias de vida do meu bisneto ou bisneta. Eu peço-te perdão por tudo o que aconteceu...por não ter sido a avó que precisavas. 
- Tenho sonhado consigo nas ultimas noites – Ana levou a sua mão direita ao rosto enrugado mas bonito da sua avó – nesses sonhos, eu volto a ser aquela menina feliz em criança, volto a ter uma energia que neste momento não tenho...e tenho-a a si a brincar comigo. Esses tempos já não podem ser recuperados, não podem ser revividos...vamos ter de construir novos. E melhores do que aqueles que não existiram... 
- Promete-me uma coisa, querida. 
- Diga – Palmira levou as suas mãos ao seu pescoço, retirando um dos seus colares. Um fio de ouro muito fino com um anjo como pendente. 
- É o teu anjo d’aguarda – Palmira agarrou a mão de Ana, deixando o fio na sua palma da mão – é o anjo do mês em que nasceste e eu comprei-o para te oferecer. Nunca o fiz...mais um erro que cometi ao longo da minha vida mas, por favor, promete que o irás guardar a partir de agora. Tenho-o na minha posse à 24 anos. Exatamente aqueles que tu hoje tens. Acredito que, mesmo longe de ti, te tenha vindo a proteger e, hoje, passo-o para ti. Para que tenhas mais perto a proteção – Ana olhou para o colar, emocionando-se. 
- Obrigada, avó – Ana pegou no colar, colocando-o ao pescoço – acredite que significa muito para mim. 




- Sergio eu preciso de falar contigo – Ana chegava à cozinha, onde Sergio tomava o seu pequeno-almoço. Era véspera de natal e, naquela manha, Ana estava com algumas dores fortes na barriga. 
- Primeiro deixa-me tirar-te uma foto para desejar bom natal aos nossos seguidores – Ana riu-se e Sergio fotografou-a acabando por partilhar a imagem nas redes sociais.

Feliz Navidad a todos!


- Agora sim, dime – Ana sentou-se à frente de Sergio, agarrando as suas mãos. 
- Sabes que te amo, não sabes? 
- Sou capaz de saber um pouco. 
- E que quero muito casar contigo? 
- Sim... 
- Sergio, ando a sentir-me demasiado cansada, hoje voltaram as dores na barriga... 
- Ana! Porque é que não disseste antes!? 
- Não, não. Está tudo bem, não precisamos de ir para o médico. Está tudo controlado, a sério – Ana levou as suas mãos à face de Sergio tranquilizando-o – o que eu quero dizer é...eu acho que... 
- Ana, vá, fala de uma vez. 
- Acho que deveríamos adiar o casamento. Eu não consigo, neste momento, planear tudo o que falta a pouco tempo do casamento. 
Faltavam duas semanas para a data prevista. Já tinham decidido o local, quem queriam convidar e como tudo iria ser naquele dia tão especial. Ana viu o semblante de Sergio mudar por completo...e sentiu-se demasiado nervosa naquele momento.

terça-feira, 28 de julho de 2015

60: “Como assim vão partir de Madrid?”

- Tens a certeza que estamos na morada certa?
- Tenho Sergio...conheço Lisboa como conheço as palmas das minhas mãos.
- Não sei se confio em ti –
Ana olhou-o, revirando os olhos. Sergio sabia que ela não levava aquelas brincadeiras pelo melhor, sobretudo quando estava de mau humor – mas, isto está muito sossegado e abandonado.
- Tens razão...mas nós estamos no sitio certo –
Ana dirigiu-se à porta que estava na sua frente, tocando à campainha.
Esperaram pouco para ver a porta abrir-se. Uma senhora, na casa dos sessenta e poucos anos, abria-lhes a porta. Pela descrição que Miranda tinha feito, era Manuela.
- Boa tarde – muito baixo, Manuela cumprimentou-os olhando, à vez, para eles.
- Boa tarde – os dois, em uníssono cumprimentaram a senhora.
- Eu sou a Ana – avançando na direção de Manuela, Ana sentiu-se a ficar nervosa – nós viemos buscá-la.
- O meu marido...ele deve estar a chegar da rua –
os dois conseguiram ver o pânico instalar-se no rosto de Manuela. Perceberam, ali, que aquela senhora viveria um autêntico pesadelo naquela casa.
- A senhora tem tudo pronto? – num português muito estranho, foi Sergio quem fez a pergunta.
- Sim, sim...
- Vamos, então, buscar as suas coisas –
Manuela abriu-lhes a porta, deixando-os entrar. Contrariamente ao que pensou, no interior daquela casa o cenário era calmo, parecendo quase uma casa feliz onde se respirava um cheiro intenso a rosas misturado com baunilha.
- Eu vou lá dentro buscar as malas.
- Quer ajuda? –
perguntou-lhe Ana.
- Não, deixa estar. Vocês já me estão a ajudar imenso. É pouca coisa, são só duas malas...a Miranda disse que devíamos partir de Madrid – os dois olharam-se, enquanto a senhora foi até ao seu quarto.
- Como assim vão partir de Madrid? – perguntou Ana, colocando-se à frente de Sergio.
- Não faço ideia...nas noticias tem surgido que o Xabi vai para o Bayern.
- E eles não nos diziam nada? A Miranda não me dizia nada?

- Se calhar estão à espera do momento certo. Se for verdade...
- É estranho, Sergio. Muito estranho. Se a D. Manuela já fala de se mudarem de Madrid...
- Tem calma, quando lá chegarmos logo saberemos o que se passa.

Sergio abraçou-a, esperando pela chegada de D. Manuela.
- Eu não sei como vos agradecer – começando a sair de casa, D. Manuela parecia bastante emocionada.
- Nós só aqui estamos porque a Miranda nos pediu...somos apenas os intermediários entre vocês.
- Oh minha querida –
Manuela agarrou-se ao braço de Ana, olhando-a fixamente – é preciso serem muito boas pessoas para estarem a fazer algo assim. E eu ficarei eternamente grata por, aos 64 anos, me estarem a dar uma segunda oportunidade para viver.
- Estamos a dar-lha porque merece. Porque, mesmo por pouco tempo, conseguiu ser a única a ser uma mãe para a Miranda.

Manuela abraçou Ana, deixando-se ficar a olhar para a sua casa.
- Eu vou ter saudades da minha casa...
- Acredite, D. Manuela –
Sergio colocou a sua mão em cima do ombro de Manuela, fazendo-a olhar para ele – a senhora precisa de ser feliz.
Manuela, mesmo deixando as lágrimas escaparem-lhe pela cara, conseguiu sorrir. Os olhos de Manuela ganhavam um brilho, um brilho de esperança e confiança.
- Boa tarde – todos se assustaram com aquela voz grave e rouca de homem que surgiu atrás dele – posso saber o que se passa?
- Hugo... –
Ana sentiu que Manuela começou a tremer que nem varas verdes e, também ela, começou a sentir o seu coração palpitar como se estivesse a querer sair-lhe pela boca. Olhou para Sergio, que demonstrava estar calmo e tranquilo. Quase como se o marido de Manuela não estivesse, agora, à frente deles.
- Quem são eles?
- Eu sou prima da Manuela –
Ana, muito rapidamente respondeu àquela pergunta – nós estávamos de passagem e lembrei-me de parar para a visitar.
- Não me lembro de te ver...
- A última vez que cá vim eu era muito pequena.
- Estou a ver –
Hugo olhava para Manuela com uma intensidade tal que deixou Ana desconfortável e com um frio estranho na barriga – já se estavam a despedir?
- Sim, sim –
Manuela virou costas a Hugo, olhando para os dois – gostei muito da vossa visita – Ana abanou a cabeça, abrindo a porta do carro.
- Entre Manuela – ao dizer aquilo, viu os olhos de Manuela abrirem-se de tal forma que pareciam querer sair da sua orbita – nós não a vamos deixar aqui.
- O que é que estão a dizer? –
Hugo apercebeu-se da situação, falando mais alto do que à pouco.
Manuela e Ana entraram no carro, para os bancos traseiro, ficando Sergio frente a frente com Hugo.
- Eu posso não falar muito bem o português – Ana riu-se, a situação não era a melhor para se rir, mas tinha-o feito – mas, se o senhor tem coraje para bater numa muler, você também tem coraje para bater num homem. Pero, não o vais fazer. Vai ficar aí e nós, vamos embora. No tente ir atrás, no mesmo.
Hugo deixou-se ficar estático naquele sítio. Olhava para Manuela de forma intensa, assustada até e com grande vontade de fazer alguma coisa. Mas, até saírem dali, Hugo não se movimentou e, quando o fez, foi para entrar em casa.
- Não sabia que conseguias ser assustador àquele ponto Sergio – já a caminho do aeroporto, Ana tinha iniciado a conversa naquele carro.
- Eu também não...mas saiu assim.
- E um portunhol muito engraçado –
disse Manuela, fazendo-os rir – eu estava a ver a minha vida andar para trás, por momentos.
- Nós não íamos deixar que isso acontecesse –
Ana agarrou a mão de Manuela – por mais que ele pudesse fazer alguma coisa, ameaçar-nos nós iríamos traze-la connosco.
- Muito obrigada, meus anjos –
Manuela agarrou a mão de Ana, beijando-a. Ficou a olhar para ela, de certa forma enternecida – estás de quantas semanas?
- Toma! Eu disse-te que já se começava a notar! –
atirou Sergio, batendo com a mão no volante. Manuela estranhou aquela reacção dele e Ana acabou por se rir.
- Nós temos uma longa história para contar em relação a isto. Resumidamente: estou de vinte semanas, ainda não sabemos se é menino ou menina, e, normalmente a minha barriga só se começa a notar a partir das 22 semanas.
- Mas olha que já se nota, Ana. Têm mais filhos?
- Não –
Ana pode ver que Manuela ficou confusa – eu é que já sofri dois abortos e o ultimo já com sete meses de gravidez.
- Oh minha querida...eu, eu sinto muito.
- Já passou...
- Deus vais recompensar-vos. As coisas boas acontecem a quem pratica o bem...e vocês são merecedores das bênçãos que Ele tem para vos dar.

- Obrigada, D. Manuela.
Quando chegaram ao aeroporto, bastou apenas fazerem o chek-in e rumarem a Madrid. A viagem seria rápida e, se não houvesse turbulência, tranquila.



- Se calhar era melhor não tocarmos à campainha... – comentou Ana, chegando ao portão de casa de Xabi – a Maya pode estar a dormir.
- Liga para o Xabi –
Sergio entregou-lhe o telemóvel e Ana fê-lo. Depois de conversar com ele, o portão abriu-se e puderam ver Miranda com Maya nos seus braços e Xabi já no exterior da casa.
Ana viu, estampado no rosto da melhor amiga, felicidade. Miranda estava mais feliz, estava relaxada e com um brilho resplandecente. Assim que Sergio parou o carro, todos saíram do mesmo.
- Eu nem acredito que já chegaram... – comentou Miranda, olhando para Manuela.
- Ah pois, isto é sempre para a frente – atirou Sergio – não te esqueças que tens de nos dar a Maya por um dia. Foi o combinado!
- Fica descansado, Sergito –
Miranda riu-se e acabou por entregar Maya nos braços de Ana – obrigada, por tudo, Ana.
- Não precisas de me agradecer nada, Miro. Mas temos muito que falar...
- Eu sei. E, perdoa-me por ainda não o ter feito.
- Vai –
Ana saiu da frente de Miranda, dando-lhe passagem para ir ter com Manuela – aproveita para descobrires uma mãe. Ainda vão a tempo disso.
Miranda sorriu-lhe, olhando para Manuela. Ana encostou-se a Sergio, olhando para Maya. A menina, de olho muito aberto, mantinha-se atenta e segurava o dedo indicador de Ana.
- Eles vão embora, Sergio.
- Como sabes?
- Eu conheço a Miranda...se ela ainda não falou comigo sobre isso foi porque ainda não teve coragem de o fazer. E, agora, pediu-me desculpa –
Ana olhou para Sergio, encostando a sua cabeça ao peito dele – devem ser os últimos dias deles por cá.
Sergio rodeou o corpo de Ana com os seus braços, olhando para Miranda e Manuela. As duas abraçavam-se e viam Manuela com um sorriso nos lábios. Viam-na abraçar Miranda como se todo o seu mundo estivesse concentrado nela.
- Sabes, Miranda – Manuela acabou por se afastar dela, olhando-a. Levou as suas mãos à cara da jovem e recente mãe, limpando-lhe as lágrimas que caiam pela sua cara – todos estes anos que passaram foram uma tortura para mim. Eu não sei o que é ser feliz desde aqueles meses que passaste na minha casa. Sempre te quis na minha vida, sempre quis cuidar de ti...e sempre soube que nunca havias tido mais ninguém que te quis adotar. Podes tu já ter 24 anos e eu 64 mas eu quero que saibas, que nunca me esqueci de ti. E que, neste momento e se o aceitares, eu poderei ser quem tu precisas que seja na tua vida. Posso vir tarde...
- Mas vem na melhor altura, Manuela –
Miranda interrompeu-a, dando-lhe um beijo na bochecha – chegou na altura certa, na altura para me ajudar a criar a minha filha, para me ajudar a ser mãe.
Ana emocionava-se com aquelas palavras delas. Alias, ninguém ficava indiferente ao que presenciavam. Tanto uma como outra tinha ficado marcadas por aqueles meses de Miranda em casa de Manuela. Tinham sido felizes naqueles meses e, agora, tinham uma nova oportunidade para o serem também.



Ana, Miranda, Manuela, Maya e Ane aproveitavam a bela tarde do dia seguinte em Fuencarral. Perto de Madrid, um sítio magnífico para poderem aproveitar o ar puro e fugir da cidade.
Miranda tinha deixado Manuela avançar com o carrinho de Maya e Ane para puder conversar com Ana.
- Ana, eu ainda não tinha dito nada porque não é certo...nós andamos a falar sobre isso mesmo antes de a Maya nascer, estamos a ponderar tudo.
- Miranda, é uma oportunidade única. É certo que vão para um sitio com uma língua complicada mas vocês adaptam-se bem. a liga alemã poderá não ser aquela coisa muito disputada, já sabemos que o Xabi será campeão – as duas riram-se e Ana acabou por parar olhando para Miranda – mas vocês estão prontos para aceitar. Eu vejo isso.
- Eu não sei...tenho medo de deixar o que estávamos a construir aqui.
- Vão continuar a construir lá, Miro. Não poderás ter medo. Tens um homem maravilhoso a teu lado, a Manuela que é uma senhora impecável, uma filha linda como a Maya e...calma, a Ane o Jon?
- Provavelmente vêem connosco.
- A sério?
- Sim. Já falamos com a Nagore, ela está reticente mas concorda com a ida deles connosco. Quer trocar a custódia deles. Em vez de ser o Xabi a estar com eles de quinze em quinze dias, é ela. Mas vai a Munique por causa da escola dos meninos.
- Miranda –
agarrando nas mãos da amiga, Ana sorriu – vocês têm tudo planeado, vão ser mais do felizes eu tenho a certeza disso. E eu só posso ficar feliz por ti e pedir-te uma coisa! Só uma.
- O quê?
- Que venhas cá na altura do Natal, em Janeiro e quando nascer o bebé.
- É claro que venho! Estarei cá sempre que precisares de mim...Janeiro porquê?
- Eu e o Sergio estamos a pensar marcar o casamento para essa altura.

- A sério? Podes ter a certeza que venho no natal e fico cá até essa altura para te ajudar com tudo!
As duas abraçaram-se, sendo interrompidas pelo choro de Maya. Estava na hora de comer. Fizeram uma pausa naquela caminhada e Ana, vendo que Ane e Manuela se tinham sentado à sombra para, também elas comerem, deixou-se ficar quieta e observar a extensão de água que tinha na sua frente.
Pouco depois, viu Miranda à sua frente, a fazer o mesmo com Maya no seu colo. Saberia que iria ter saudades da sua melhor amiga, da sua melhor companheira de vida...mas sabia que era altura de Miranda ser feliz como ainda não tinha sido.



- Ana, o que é que estás a fazer? – perguntava Sergio, vendo Ana muito concentrada no seu telemóvel.
- Uma declaração de amor.
- A mim?
- Não, seu convencido. À minha Miranda. Eu já estou cheia de saudades dela e só foram embora à uma hora!
- Isso é normal, meu amor –
Sergio deitou-se no sofá, deixando a sua cabeça sobre as pernas de Ana – olha, a tua avó?
- O que é que tem? –
Ana estranhou, e muito, aquela pergunta.
- Desde que lhe foste entregar as cartas...ela nunca mais falou contigo, pois não?
- Eu também não lhe liguei, Sergio. Deixa-me lá acabar isto.
 
Ana concentrou-se no telemóvel, terminando a publicação que fazia no seu instagram.

A vida uniu-nos de forma a nunca mais nos separarmos. Passamos tantos anos juntas naquele orfanato, tantos anos juntas a vivermos juntas e a partilhar todos os segredos e confidencias uma com a outra.
Tenho, em ti, a irmã que nunca um pai me deu. A melhor amiga de todos os tempos e a maior chata! Sempre me deste na cabeça pelas escolhas que fazia, sempre me olhaste com preocupação quando essas escolhas davam para o torto.
Cuidas de mim como uma irmã cuida da outra. Cuidas de mim como nunca ninguém cuidou. Podes ser mais nova que eu, uns mesinhos apenas, mas tenho em ti a irmã mais velha que nunca tive. Podemos ter a mesma idade, mas és a mais velha. És quem me protege.
Sei que faço o mesmo contigo. Não somos do mesmo sangue, mas aquilo que partilhamos uma com a outra, vale mais do que qualquer ligação de sangue. Nesta nova fase da tua vida, a de seres mãe da sobrinha mais linda que tenho, a de seres mulher e companheira do melhor namorado que podia ter, eu desejo-te o melhor. Mais do que desejo para mim. É aquilo que mereces.
Sê feliz meu amor. Estarei sempre à tua espera.
Amo-te, Miranda. Minha irmã.


- Estás mesmo lamechas!
- Oh, não comeces.
- Está muito bonito o texto, Ana.
- Obrigada –
Ana mexeu-lhe no cabelo, olhando fixamente para Sergio – achas que deveria falar com a minha avó?
- Não sei...mas vocês deixaram as coisas muito más entre vocês. E ela está cá em Madrid porque veio por ti...

Ana sabia que Sergio tinha razão...e sabia que teria de fazer qualquer coisa. Havia dias que olhava para as cartas que o seu tio lhe tinha entregue, sem nunca as conseguir ler. Pensava na sua avó...e naquilo que tinha ficado por dizer. 
 
 
 
 
Olá meninas!
Pois é, finalmente um capítulo! Não é que o tenha andado a escrever...porque já estava escrito à uns belos dias. Mas, sabem, às vezes dá preguiça de publicar, metem-se outras coisas para fazer e esqueço-me completamente de o fazer. Peço desculpa por isso.
Fico à espera dos vossos comentários!
Beijinhos.
Ana Patrícia.