sexta-feira, 28 de março de 2014

47 - "O Mario ainda não pôs cá dentro nenhuma semente!"

- Estavas à espera desta visita? - Mario perguntou, quando Ana parou o carro.
- Não... - Ana tinha sido apanhada completamente desprevenida. Não esperava ver Pilar até que o seu tratamento acabasse mas, ao mesmo tempo, estava contente por a ver ali. E ela, Pilar, estava um pouco mais feliz do que a tinha visto no dia em que a tinha ido visitar a Málaga.
Ana saiu do carro indo ajudar Mario com as muletas. Depois de ele estar fora do carro o seu pensamento virou-se para Pilar. Caminhou na direcção dela, que estava acompanhada pelos pais.
- Buenas noches! - Antonella saudou Ana, abraçando-a.
- Buenas noches... Não estava à espera de vos ver por aqui.
- Os médicos deram-me três dias em sociedade... - Pilar respondeu à dúvida de Ana e foi ter com ela, abraçando-a também.
- Isso é muito bom!
- É...estar lá fechada já começa a chatear.
- E...como é que estás?
- Quase a 100% - Ana aproveitou para cumprimentar Paco e receber Mario junto dela.
- Isso quer dizer que o tratamento está a dar efeito...
- Sim. E é tão bom poder sair de lá. É sinal que me estão a dar confiança e acreditam que já posso sair mais vezes.
- Irás sair muitas mais vezes. E ainda vais passar o Natal em casa.
- Era o que eu mais queria... - Ana e todos os presentes conseguiam ver o brilho que aqueles olhos, que nem são verdes, nem são azuis, transmitiam. Aqueles olhos brilhavam com esperança, com a esperança de mais tarde ou mais cedo sair definitivamente do centro.
- Bom...apresento-vos o Mario, o meu...namorado. Mas talvez seja melhor entrarmos que está frio, no?
- Sim, sim... - Ana passou à frente de todos e, enquanto cumprimentaram Mario, ela abriu a porta. Todos entraram e encaminharam-se até à sala. A Miranda, o Xabi e os meninos ainda não tinham chegado...o mais provável era que tivessem ido jantar.
Mario sentou-se no sofá ao lado de Ana que o "obrigou" a colocar o pé em cima da mesa de centro. Para que, assim, a sua perna permanecesse direita.
- Vão ficar, então, três dias? - perguntou Ana.
- Sim...a ideia era estar com vocês...com a minha filha - respondeu Pilar. Antonella olhava atentamente para Ana e um sorriso estava formado nos seus lábios. Ela via que Ana estava feliz e isso, por si só, já a deixava muito mais feliz.
- Nós acabamos de chegar do hospital...a menina foi com o Sergio, mas eu vou ligar-lhe para ele vir cá deixá-la. Assim estás com ela e até a podem levar para passarem a noite.
- Isso seria óptimo, Ana.
- Eu vou só ligar ao Sergio, então - Ana ausentou-se da sala, deixando os quatro para trás.
- É muito grave a lesão, rapaz? - perguntou Paco.
- Ao inicio pensava-se que sim, mas os ligamentos não se romperam...dois meses de paragem.
- Vais ver que passam num ápice - Paco tentou animá-lo e Mario agradeceu. Antonella decidiu entrar por outra via da conversa...à qual Mario se sentiu à vontade para falar.
Enquanto isso, Ana falava com Sergio.
"- Sim, está tudo bem. Ela já comeu e ia adormece-la. E vocês, como estão?"
- Está tudo bem...não chegou a romper os ligamentos.
"- Isso reduz o tempo de paragem."
- Sim...dois meses, se Deus quiser. Sergio, eu estava a ligar porque a Pilar está aqui com os pais.
"- A sério? Mas...ela está bem?"
- Sim...acho que só a vi assim no dia em que a Esperanza nasceu...ela está feliz e pronta para seguir uma vida normal, pelo que parece.
"- Que bom..."
- Eu queria pedir-te uma coisa...
"- Queres que leve a Esperanza..."
- Sim...é só para elas estarem juntas. Aproveitarem o tempo para serem...mãe e filha.
"- Claro! Eu vou, então, para aí. Estás onde?"
- Em casa...do Xabi.
"- Vale! 15 minutos e estou aí com a pequena."
- Obrigada, Sergio.
"- De nada."
Ana voltou à sala, apanhando a parte final de um discurso de Mario.
-... faze-la feliz é só o que quero.
- A Ana merece isso, Mario. De verdade - comentou Pilar.

- Uma pessoa sai por dois minutos e vocês começam a falar de mim? - Ana sentou-se ao lado de Mario, agarrando a mão dele, entrelaçando-a com a sua.


- Temos de assegurar que a tua felicidade está garantida...porque a mereces de verdade, Ana. Por tudo o que tens vivido, pelo que viveste e pelo que fizeste por quem te quis mal - Pilar respondeu directamente para Ana, olhando-a nos olhos - eu quero pedir-te desculpa...mas desculpa mesmo por tudo o que aconteceu entre nós.
- Pilar...já passou. A sério que já...da minha parte está tudo bem. O mais importante agora é que tu recuperes a 200% e que consigas retomar a tua vida, com a tua filha, os teus pais...e que não te esqueças de mim. Eu quero ficar nas vossas vidas.
- Claro que não nos vamos esquecer de ti...tens sido uma mãe para a minha filha. Não há obrigados que cheguem para te agradecer.
- Cura-te e sê feliz. É um obrigada suficiente.
- Irei fazer tudo para não te desiludir...tenho uma pergunta para ti.
- Diz.
- Aceitas ser a madrinha da Esperanza? Tens sido a mãe dela...se me acontecer alguma coisa sei que é contigo que ela deve ficar.
- Terei o maior orgulho em sê-lo - Ana levantou-se e foi até ao sofá onde Pilar estava, sentou-se ao lado dela e abraçou-a.
- Obrigada...por tudo, mesmo.
- Obrigada eu por teres colocado aquela menina nos meus braços - as duas olharam-se e as lágrimas estavam lá...mas eram de felicidade - ela está cada dia mais parecida contigo.
- A sério?
- Sim! É tão linda ela...é a bebé mais simpática que alguma vez conheci. Tem-se dado tão bem com o Mario, com os filhos do Xabi...é a princesa da casa.
- Mal posso esperar por vê-la...
- O Sergio deve estar a chegar - Pilar apenas tinha visto a filha três vezes, sem contar com o dia do parto. As visitas foram feitas de livre e espontânea vontade de Ana, mas os médicos acabaram por achar melhor que não se tornasse um hábito, já que Pilar regredia muito o seu estado cada vez que via a menina.
Os 15 minutos de Sergio transformaram-se em 25. Pontualidade não era, mesmo, o seu forte. Assim que o toque da campainha soou, Ana apressou-se em ir abri-la. Sabia que seriam eles, não faria sentido que fossem outras pessoas, não estava à espera de mais ninguém.
Ao abrir a porta confirmou as suas suspeitas. Sergio estava lá, com a babycoque pela mão esquerda.
- Entra - Ana deu passagem a Sergio e, depois de fechar a porta, os dois encaminharam-se para a sala - chegaram! - Disse Ana, animada.
- Buenas noches - Sergio colocou a babycoque em cima do sofá e cumprimentou todos, incluindo Mario.
- Ela adormeceu? - Ana perguntou, chegando perto de Esperanza. Retirou a pequena manta que cobria a babycoque reparando que Esperanza estava acordada e a mexer no brinquedo que estava preso na lateral – Olá minha bonequinha – Ana desprendeu Esperanza, pegando nela ao colo. Deu-lhe um pequeno beijo na testa e começou a mexer-lhe nas bochechas – sabes…a tua mamã está cá – Ana caminhou na direcção de Pilar, voltou a dar um beijo na testa da menina e entregou-a para os seus braços.
Pilar permanecia sentada, com a menina nos seus braços, e as lágrimas escorriam-lhe pelas bochechas. Qualquer um, ali presente, se tinha emocionado. E, apesar de a mãe já ter visto o seu rebento, são poucas as oportunidades que tinham juntas.
Ana olhou para Mario, que permanecia sentado em frente de Pilar, e, também ele, estava emocionado. Olhou para Sergio, que olhava para ela, e os dois sorriram. Ana fez-lhe sinal que se sentasse e ela sentou-se do lado de Mario, encostando a sua cabeça no ombro dele.
- É possível a menina reconhece-la como a mãe? – Perguntou Mario, reparando no mesmo que Ana reparava: Esperanza estava a interagir com a mão de Pilar, a fazer os barulhinhos dela, como que querendo dizer algo.
- Tenho quase a certeza que sim…elas estão tão felizes. As duas – Ana deixou escapar mais umas lágrimas, que não passaram despercebidas ao olhar atento de Mario.
- E…como é que estás tu a aguentar isto?
- Bem. Eu sei que a menina, mais tarde ou mais cedo, vai ter de ir embora. Eu tenho essa noção, mas…é minha, em certa parte. Mas, saber que estou a cuidar dela, a dar-lhe o amor que lhe dou…e, com isso, a dar um lar, é a melhor coisa.
- Tenho tanto orgulho em ti, minha bebé – Mario colou os seus lábios na testa de Ana, que rodeou, mesmo que sentada, a cintura de Mario.
- Ana… - Pilar deixara de olhar para a filha e concentrou-se em Ana – eu nunca terei mesmo palavras para te agradecer. Vê-la assim, saudável, feliz, perto de mim…é tudo graças a ti. E ao Sergio – Pilar olhava agora para Sergio – obrigada, mesmo depois de tudo o que te fiz, por estares a cuidar também da minha filha.
- Não tens que agradecer. Toda a iniciativa foi da Ana, é certo, mas eu apoiei e sempre cuidei da menina como se fosse nossa filha – Sergio e Ana olharam-se e, na cabeça de ambos, as coisas estavam bem claras: eles estavam feitos para serem um do outro. Mas, neste momento, apenas como amigos. Ou quase isso.
- Eu já perguntei à Ana…mas agora chegou a vez de te perguntar a ti: aceitas ser o padrinho da menina?
- É claro que sim!
- Assim sei que, se me acontecer alguma coisa, ela tem as melhores pessoas junto dela. Os avós, os padrinhos, o Mario, a Miranda, o Xabi…eu serei eternamente grata a todos vós.
- Pilar… - Ana levantou-se e ajoelhou-se em frente de Pilar – tudo o que fiz foi porque pensei no que eu passei…no que é crescer num sítio onde ninguém nos dá colinho como uma mãe dá. Por isso, eu só agi como uma mãe…sempre estive pronta para o ser…ultimamente mais do que o normal.
- Considera a Esperanza como uma filha…tens sido a mãe dela.
- Não…a mãe dela és tu. Eu sou uma tia babada, louquita que vai com ela às discotecas quando for grande – a gargalhada foi geral, mas Ana estava desfeita em lágrimas.
- Não chores… - disse Antonella, que estava ao lado da filha, colocando a sua mão em cima da de Ana.
- Eu sou muito lamechas, Nella…muito mesmo! E depois tenho hormonas descontroladas é o que dá – todos os olhos naquela sala estava a olhar para Ana. O silêncio era total e apenas se ouviam os barulhos vindos de Esperanza.
- Tens alguma coisa para contar? – Perguntou Pilar, tentar satisfazer a curiosidade de todos.
- Não! Ai não! Eu não estou grávida, sou muito fértil mas grávida não. O Mario ainda não pôs cá dentro nenhuma semente! – Mais uma vez todos se riram, incluindo Sergio.

Enquanto Ana preparava o saco de Esperanza no seu quarto com Pilar e os pais dela, Sergio e Mario ficaram pela sala. Os dois. Sozinhos.
Inicialmente ficaram ambos bastante constrangidos. Mexiam nos telemóveis e olhavam em redor, mas Mario acabou por iniciar uma conversa entre os dois.
- Gostava que soubesses que tudo farei para que a Ana não se magoe nestes tempos…
- E, porque é que me estás a dizer isso? – Sergio estava surpreendido, olhou para Mario cruzando as pernas e encostou-se no sofá.
- Porque sei que gostas dela, que ela gosta de ti. Sei que te preocupas com o bem-estar dela…porque tu a amas, tal como eu amo.
- Mario, eu estou com outra pessoa também, eu não estou com a Ana. Tu é que estás, não me tens de dar satisfações.
- Apenas quis que assim fosse…porque, apesar de eu agora estar com ela, eu sei que ela não te esqueceu ainda. Eu sei que ela ainda sente algo por ti. Caso contrário já me teria dito que me ama – aquela era uma das faltas que Mario sentia na sua relação com Ana. A falta daquelas três palavras, daquelas sete palavras, daquela expressão que significaria o que Ana sente por ele. Mas, ao mesmo tempo, Mario sabe que é cedo para isso. Podem estar juntos à mais de dois meses, mas é tudo muito recente.
- A Ana não diz isso com facilidade…são precisos factos para que ela diga. Tens de lhe dar tempo…mas acredita que ela te ama, mais do que talvez tu pensas.
- Como é que podes ter tanta certeza?
- Na maneira como ela te olha, na maneira como ela te toca, na felicidade que ela tem naquele rosto, naqueles olhos. Tu fazes a Ana mais feliz do que eu alguma vez a vi. E ela merece isso. Ela estava mesmo preocupada que estivesses com uma lesão grave.
Mario estava surpreendido por estar a ter tal conversa com Sergio. Ambos sabiam que tinham uma ligação à mesma pessoa, quase a mesma relação de afecto.
- Tenho quase a certeza que ela contigo era tão ou mais feliz.
- É diferente, Mario. Eu não vou negar: eu amo-a. Muito mesmo. Mas neste momento somos amigos, temos uma afilhada a cuidar…mas cada um seguiu com a sua vida. E estamos felizes com essa vida.
- Como é que estás tão na boa?
- Porque quero o melhor para ela, o melhor para mim. E nós os dois juntos, depois da morte do Santiago…não éramos o melhor um para o outro. E…mais cedo do que penses ela vai dizer-te o que esperas ouvir.
- Obrigado…
- Não tens nada que agradecer…até foi bom termos esta conversa – Sergio esticou a sua mão na direcção de Mario, que a apertou. Os dois acabaram por se sentir mais descansados, já que tinham conversado sobre este assunto.
Nesse momento surge, de repente, Ana na sala. Vinha com pressa, mas ao ver os dois a trocarem um aperto de mão, parou, congelou e apenas olhou para aquele retrato. Mario e Sergio olhavam para ela e largaram a mão um do outro.
- Podem continuar…por mim, estejam à vontade, mas não pensem que se juntam os dois contra mim! – Ana cruzou os braços ficando a olhar para eles.
- Estivemos só a resolver umas coisas… - disse Sergio.
- E isso só me faz gostar ainda mais de vocês. Mas Sergio, nada de roubares namorados alheios! – Os dois riram-se e Ana quebrou, finalmente, o ar de durona com uma gargalhada – Estás com dores, Mario?
- Não…está tudo bem.
- Pronto…mas se precisares de alguma coisa chama-me.
- Eu também estou aqui, sabes? – Perguntou Sergio, apontando para ele.
- Tu…sim pronto. Eles também estão quase. Vou lá acima então.

Ana fechava a porta de casa, depois de se ter despedido de Pilar, os seus pais e Esperanza. A menina iria passar estes três dias com eles. Ana não podia mentir, era estranho ver Esperanza a ir embora…mas era para o seu bem, para estar com a sua mãe. E os seus avós.
Voltou à sala, onde permaneciam Mario e Sergio, agora sentados em sofás diferentes. Ana sentou-se ao lado de Mario voltando a repetir um gesto que já lhes era tão normal: entrelaçarem as suas mãos uma na outra.
- Custou, não custou? – Perguntou Mario.
- Um bocadito…mas já passa.
- Tia galinha – atirou Sergio.
- Cala-te! – Ana atirou-lhe com uma das almofadas que tinha do seu lado e Sergio preparou-se para fazer o mesmo – Nem penses! A Miranda está a chegar e se isto está uma confusão quem ouve sou eu.
- Eles foram jantar fora? – Perguntou Sergio, pousando a almofada.
- Acho que sim, o Mario é que falou com ela. Agora liga sempre para ele…diz que eu ando sempre com as mãos ocupadas – uma outra saída própria de Ana Filipa Moreira. Sergio tinha uma expressão de quem se iria desmanchar a rir e, quando Mario riu que nem um tonto, Sergio acabou por o fazer também – seus badalhocos! Eu tenho mãos ocupadas a mexer no computador, na comida, na bebé! Nada disso que vocês estão a pensar!
- É…diz que não – Mario não resistiu e acabou por dizer aquilo que lhe passou pela cabeça. Óbvio que os três se riram, ao mesmo tempo que ouviram a porta a abrir.
Repararam que estavam muito calados. Não se ouviam os meninos a falar, nem Miranda e Xabi. Quando o casal chegou à sala foi perceptível o porquê: Ane e Jon estavam a dormir. Jon vinha ao colo de Xabi e Ane ao colo de Miranda.
Xabi apenas fez sinal que os iam colocar aos quartos e os três aguardaram pela chegada deles à sala.

Ana e Mario decidiram ir dormir a casa de Mario. Visto que amanhã é dia de trabalho para Ana, estar em casa de Mario significaria que podia dormir mais meia hora, uma vez que as instalações do jornal serem mais perto.
O dia tinha sido extremamente longo, tanto um como o outro estavam demasiado cansados. Ana decidiu ir preparar uma espécie de ceia para levar para o quarto e, assim, aconchegar o estômago. Preparava umas torradas e café com leite. Estava frio e só lhe apetecia coisas quentes. Fazia a dobrar porque sabia que Mario lhe ia acabar por “roubar” aquilo que tinha preparado.
Ana sentia-se extremamente bem e feliz consigo própria. E isso notava-se, era óbvio a qualquer pessoa que a conhecesse. Enquanto preparava tudo e, pensando que Mario tinha ido para o quarto, cantava: Alicia Keys – Girl On Fire. Há imenso tempo que não cantava…o que gostava. Eram músicas para adormecer Esperanza, em espanhol, e pouco mais. Só à pouco tempo é que essa vontade de cantar tinha voltado.
Mario, estava a preparar-se para ir para o quarto (por sorte vivia numa casa que não tinha escadas) quando ouviu Ana a cantar. Já a tinha ouvido cantar, as tais músicas infantis e sempre muito baixinho. Mas hoje, hoje Ana cantava como se os pulmões estivessem com um novo ar.
Mario foi até à cozinha e encostou-se à ombreira da porta. Ficou simplesmente a mirá-la. A ouvi-la.

Looks like a girl, but she's a flame (Parece uma rapariga, mas ela é uma chama)
So bright, she can burn your eyes (Tão brilhante, ela pode queimar os teus olhos)
Better look the other way (É melhor olhares para outro lado)
You can try, but you'll never forget her name (Podes tentar, mas nunca esquecerás o seu nome)
She's on top of the world (Ela está no topo do mundo)
Hottest of the hottest girls say (A mais sexys das raparigas sexys, dizendo)

Oh, we got our feet on the ground (Oh, nós temos os nossos pés no chão)
And we're burning it down (E estamos a queimar tudo)
Oh, got our head in the clouds (Oh, temos as nossas cabeças nas núvens)
And we're not coming down (E nós não vamos descer)

This girl is on fire (Esta rapariga está em chamas)
This girl is on fire (Esta rapariga está em chamas)
She's walking on fire (Ela caminha sobre o fogo)
This girl is on fire (Esta rapariga está em chamas)

Ana estava a cantar tão despreocupada sentindo-se, de novo, a Ana. Aquela que cantava a toda a hora e segundo. Pegou no prato das torradas para o ir colocar no tabuleiro quando repara em Mario.
- Que susto! – Ana levou a sua mão ao peito e sentiu que ele iria sair do seu peito. Pousou as torradas no tabuleiro e olhou para Mario – estás aí à muito tempo?
- À tempo suficiente para ouvir-te cantar tão bem.
- Que exagero!
- Olha…nem comento.
- Mas podias…
- Tu cantas super bem e acho que foi por isso que fizeste aquele dueto com o rapaz português.
- Como é que sabes disso?
- Eras noticia, sim? E eu acompanhava isso. Apenas por curiosidade.
- Muito me contar… - Ana estava surpreendida, afinal Mario seguia as noticias da imprensa cor-de-rosa e sabia detalhes da sua vida que ela pensava que ele não sabia. Ana pegou nas duas canecas de leite e colocou-as também no tabuleiro, pegando-o de seguida – vá, anda lá que estás aí em pé à imenso tempo.
- Não é assim tanto…
- Anda lá, vá – Ana fez sinal com a cabeça para que Mario passasse à sua frente e os dois foram até ao quarto.
Quando lá chegaram, Ana pousou o tabuleiro em cima da cama e ajudou Mario a sentar-se. Ele, sozinho, despiu-se e acabou por se deitar (já era hábito dele dormir apenas de boxers, mesmo no inverno). Ana vestiu o seu pijama (que era apenas uns calções e uma camisola de manga comprida) e ajoelhou-se em cima da cama, ao lado de Mario e do tabuleiro. Mario já comia uma das torradas enquanto Ana simplesmente olhava para ele.
- Tenho alguma coisa na cara? – perguntou ele.
- Não…
- Então porque é que estás a olhar para mim à quase dois minutos?
- Não posso?
- Podes…eu não disse isso.
- Eu sei…Mario?
- Diz.
- Importaste-te que eu te apresentasse à Pilar e aos pais como meu namorado?
- Não…surpreendeste-me, foi bom, mas eu ainda não fiz o pedido.
- E é preciso fazer?
- É…apenas estou à espera de…uma coisa.
- Acho que sei o que é. Acho que os últimos tempos tu me passaste a conhecer melhor que outras pessoas. Já deves saber que eu tenho certas dificuldades a dizer o que sinto às pessoas…sabes que nunca te disse o que sinto por ti…quer dizer eu disse. Mas não com aquelas palavras. As palavras certas, as palavras que tu mereces, as palavras que eu sinto, as palavras que têm de sair.
- Ana…tu não tens de dizer nada.
- Tenho…e se calhar não é o que estás à espera, mas eu tenho uma coisa a dizer-te.


Olá meninas! Sei que o capítulo está um pouco extenso, mas têm surgido ideias para esta fic que dão nisto. Sinto que a história está a ganhar uma nova vida e a entrar numa nova fase. E essa fase reflecte-se no quão bem eu me sinto ao escrever esta história. 
Espero que tenham gostado e que deixem os vossos comentários, quer sejam bons ou maus (porque sei que está grande o capitulo e pode ter perdido o interesse pelo meio).
Beijinhos. 
Ana Patrícia. 

terça-feira, 4 de março de 2014

46 - "Diz-me tu, como é que achas que eu posso fazer a Ana feliz?"

Ana sentiu-se a quebrar por dentro. Já sabia que iria ser difícil que Ane aceitasse que Mario estivesse ali como seu amigo, quanto mais se Ane pensasse que ele fosse o "substituto" de Sergio. Percebeu que iria ser complicado que a menina se desse minimamente bem com Mario...mas, para a harmonia daquela casa, era necessário que se dessem bem. 
Enquanto que ela pensava no que iria dizer a Ane, Mario agiu de impulso. Foi até junto de Ana e Ane, baixando-se de forma a ficar do tamanho da filha mais nova de Xabi. 
- Olá Ane...eu sou o Mario - ele esticou-lhe a mão e a menina acabou por a apertar - olha...se não quiseres gostar de mim, não faz mal. É normal, não podemos gostar todos uns dos outros. Mas olha - ele colocou as suas mãos na cintura da menina, puxando-a para ele - eu gosto muito da Ana, vou tratar dela, fazer-lhe bem...fazê-la feliz. E gostava muito de puder brincar contigo, conhecer-te...porque és uma menina muito bonita - o jeito de Mario com crianças fez Ana perder-se nas palavras que proferiu. A ternura com que as dizia para Ane era a perfeita para o momento, se Ana fosse a menina teria ficado completamente encantada com Mario. Mas Ane é diferente...Ane tem um feitio especial
Jon, que se mantinha atrás de Mario a ouvir tudo o que ele dizia, sorriu e olhou para Ana que olhava para ele. Jon tinha uma mentalidade muito madura para a sua idade. Talvez por causa do divórcio dos pais, talvez isso o tenha feito crescer. Mas Ana percebia que aquele menino compreendia verdadeiramente o que se estava a passar.
- Como é que eu sei que a vás fazer feliz? - perguntou Ane, um pouco a medo. Afinal estava a falar com um desconhecido e ficava sempre timida. 
- Diz-me tu, como é que achas que eu posso fazer a Ana feliz? 
- Tens de ser melor que todos os namorados da tia. Dar más bejitos, más festitas, más fulores, más chicolates, brincar comigo, com o meu mano, com a Esperancia. E não fazer a tia chorar. Consegues? 
- Acho que sim...
- Eu posso gostar de ti...mas não agora, está bem?
- Vale! 
- Mario, podemos ir jogar à bola? - perguntou Jon, interrompendo aquele momento. 
- Jon...se calhar o Mario está cansado - "De que Ana Filipa? Ele esteve sempre deitadinho do teu lado enquanto tu dormias...não deve estar assim muito cansado."
- Não, não há cansaço nenhum - Mario levantou-se, olhando para Jon - tens alguma bola?
- Tenho muitas, aquelas todas que o pai trás para casa. 
- Boa, vamos jogar então - Mario virou-se para Ana, aproximou-se dela, colocando uma das suas mãos na anca dela - quando for para fazer o jantar chama que eu ajudo-te, minha doentinha - não se preocupou de ter dois pequenos a olharem para eles e simplesmente fez os seus lábios juntarem-se aos de Ana, num beijo saboroso. 
Tanto Jon, como Ane ficaram surpreendidos. Só tinham visto Ana a beijar Sergio uma ou duas vezes, viam sempre mais os abraços e as festinhas, mas os beijos não...e Mario tinha acabado de o fazer de livre vontade, deixando os meninos um pouco envergonhados. 
Jon foi com Mario até ao jardim enquanto Ana ficou com as meninas na sala. Esperanza dormia na sua alcofa, enquanto Ane a observava com aquela ternura tão característica das vezes que o fazia. 
- Tu gostas mais do Mario, tia? - Ane, que até agora parecia que já tinha esquecido o assunto, sentou-se do lado de Ana esperando por uma resposta. 
- Gosto mais do Mario do que...quem?
- Do que o tio.
- São gostares diferentes, pequenina.
- Mas vocês são namorados?
- Ainda não...estamos os dois juntos, é isso. 
- Mas dão bejitos como a Miranda e o meu papá dão. 
- Isso é porque gostamos muito um do outro, quase como a Miro gosta do teu papá. 
- E tu esqueceste o tio?
- Não...
- Então como podes estar com outro? - Ane estava visivelmente confusa, Ana percebera isso, mas estava a responder com a verdade a todas as perguntas que ela lhe fazia. 
- Ane...são coisas complicadas. Coisas que só quando fores grande é que vais compreender. Mas, o que eu te posso dizer, é que o Mario me está a fazer muito feliz nestes dias. Entendes?
- Sim...acho que sim. Ele vai papar connosco?
- Vai. 
- Está bem...posso ir brincar com eles lá fora?
- Claro que podes! - Ane levantou-se do sofá, indo até às traseira de casa onde estavam Jon e Mario a jogar à bola. 
Jon começou a barafustar porque não iria conseguir jogar como deve ser. Porque a sua irmã não sabia jogar à bola como os rapazes fazem. Ana via-os através da grande porta de vidro que dava acesso ao jardim, queria ir para ao pé deles, mas com a constipação não poderia arriscar. Contudo, levantou-se do sofá indo até essa porta. Assim veria melhor o que eles estavam a fazer. 
O sol começava a por-se, o céu estava todo limpo, sem qualquer nuvem e Ana percebia que a temperatura era agradável: os meninos corriam felizes, todos transpirados, Mario corria atrás dele como se já se dessem todos muito bem. Ana sorriu sozinha...aquela cena toda deixava-a feliz. 
Acabou por bater no vidro e todos olharam para ela. Fez-lhes sinal para entrarem e eles assim o fizeram. Primeiro os meninos e depois Mario. 
- Agora vão todos para a máquina de lavar roupa tomar banho - disse, animada, Ana e todos se começaram a rir. 
- Tia, não podemos tomar bano na máquina - respondeu-lhe a pequena Ane, agarrando a mão de Mario - vamos, eu digo onde tu podes tomar bano - enquanto Ane levou Mario consigo até ao andar de cima, Ana pegou em Esperanza ao colo, indo também até ao piso superior. Estavam todos à porta da casa de banho comum, dizendo a Mario para tomar banho ali. 
- Que se está aqui a passar? - perguntou Ana, fazendo com que todos olhassem para ela. 
- O Mario vai tomar bano - respondeu a Ane.
- Hum...mas esperem lá, temos de arranjar aqui uma solução. 
- Que solução, tia? - perguntou Jon.
- Vocês os dois também precisam de tomar banho...e eu tenho a Esperanza que precisa de comer. 
- Posso sugerir a solução? - inquiriu Mario. 
- Chuta.
- Eu tomo um duche rápido, enquanto a Ane e o Jon fazem bagunça na casa de banho. Metes eles de molho tipo bacalhau, cheio de espuma e ficas a olhar para eles. Depois eu trato do banho deles e tu da menina - Mario falava sempre com os olhos postos em Ana, assim como ela mantinha os seus presos nos dele. Era maravilhoso ter alguém que, mesmo que se conhecessem à pouco tempo, a surpreendia a cada palavra que dizia. E o seu à vontade com os meninos...fascinou Ana. 
- Acho que vou passar a pedir os teus conselhos sempre que precisar de tomar conta deles - Ana aproximou-se dele e beijou-o, mesmo tendo Esperanza nos seus braços e Ane e Jon ao lado de Mario. 
- Sempre às ordens, princesa. 
- Obrigada. 
- Vá, eu vou tomar duche e tu trata de mete-los de molho antes que as roupas sequem nos corpos deles. 
- Sim, senhor. Ouviram meninos? Vamos lá!
- Onde é que tomamos banho, tia? - perguntou Jon. 
- Na casa de banho do quarto da tia, pode ser?
- Sim! - os dois fizeram uma festa, já que a banheira do quarto de Ana era "das grandes" como eles diziam. Os meninos foram a correr para o quarto de Ana, que os seguiu. 
Quando lá chegaram, enquanto Ana preparava a água quentinha e a espuma de banho, os meninos tiraram toda a roupa que tinham vestida. Os minutos que se seguiram foram de loucura. Os dois irmão dentro de uma banheira cheia de água, era brincadeira total. 
- Ana!? - Mario chamava por ela, não sabia onde é que eles estavam.
- Portem-se bem que eu vou só buscar o Mario - Ana saiu da casa de banho, posteriormente do seu quarto, e encontrou Mario no corredor apenas com uma toalha enrolada à cintura - ei! - ele olhou para Ana, caminhando na sua direcção - achas bem andares nessas figuras? - Mario aproximou-se ainda mais de Ana, beijando-lhe a testa.
- Já não tens febre...é bom sinal. Mas, eu andar assim, até parece que tu te importas. 
- Olha...eu não me importo, mas tens três menores cá em casa. Se eu puxar essa toalha o que é que acontece? - Ana colocou a sua mão por cima da toalha e Mario riu-se. 
- Experimenta lá - Ana puxou a toalha e comprovou que Mario...não estava como ela pensava. Bem pelo contrário, por baixo daquela toalha estava já os calções que ele trazia vestido - o que tu querias sei eu - Mario deu-lhe um beijo, mordendo-lhe o lábio inferior - eles estão no teu quarto?
- Sim. Obrigada pelo que estás a fazer, Mario. 
- Nada a agradecer, princesa - Mario voltou a beijá-la e foi até à casa de banho ter com Ane e Jon, enquanto isso Ana foi até à cozinha preparar o biberão de Esperanza.

- Finalmente sós! - Ana, sentava-se ao lado de Mario depositando a sua cabeça em cima do ombro dele. Tinha estado a adormecer Esperanza e a ajeitar as camas dos filhos de Xabi. Como tinha previsto, são nove e meia e estão a dormir. Tinham andado a gastar imensa energia durante o dia, estavam cansados, é o normal. E amanhã é dia de escola, têm de se deitar mais cedo. 
- Já estão todos a dormir? 
- Já. A Esperanza hoje demorou a adormecer...agitas-te os miúdos todos. 
- Se fosse só os miúdos... - Ana riu com aquela saída de Mario tão descontraída e aproveitou para se sentar sobre as pernas dele, beijando-o. As mãos de Mario ficaram sobre as nádegas de Ana e os dois aproveitaram aquele momento para, apenas, trocarem uns beijos mais quentes do que aqueles que até agora tinham dado. 
- Dormes cá? - perguntou Ana olhando para Mario. 
- Não sei se devo...depois o Xabi chega e amanhã de manhã é esquisito. 
- Esquisito porque? 
- Olha...porque o Xabi pode não gostar de mim. 
- Mario, o Xabi é das melhores pessoas deste mundo. É mais que óbvio que ele vai gostar de ti...e ele não é meu pai, seu tolo! 
- Se fosse teu pai era bem pior! Quando esse dia chegar tenho de me preparar muito bem. 
- Não o tens de fazer. 
- Não me vais apresentar aos teus pais caso a nossa coisa se dê? 
- A nossa coisa já se está a dar sim? - Ana deu um beijo curto a Mario, colocando as suas mãos sobre o peito dele - os meus pais morreram quando eu tinha quatro anos, Mario. 
- Não fazia ideia...desculpa - Mario roçou com o seu nariz no de Ana, puxando-a mais para si - desculpa, princesa. 
- Não tem mal...não sabias. 
- Eles devem ser os pais mais orgulhosos do mundo. 
- Não sei disso, Mario...
- Sei eu...tu perdeste dois filhos, lutaste por realizar todos os teus objectivos desde que o Santiago morreu. Tu voltaste ao teu corpo, ao teu trabalho. Vê-se no teu corpo, nos teus olhos que és feliz. Eles só podem estar orgulhosos pela mulher que és. 
- Eles iam adorar conhecer-te...
- E eu adoraria conhece-los também. 
- Poderás conhecer a minha avó, uns tios e o meu irmão. É a única família de sangue que tenho em Madrid. 
- Terei todo o gosto de os conhecer. 
- Mas não para já...é uma relação complicada. 
- Então? - como Ana esperava, Mario estava interessado em conhecer a vida dela. 
Ana contou-lhe tudo, o acidente que envolveu a morte dos pais, o seu tempo no orfanato, como conheceu Miranda e como descobriu a sua família em Madrid. Mario ouvia-a atentamente e sempre que parecia que Ana precisava de um carinho, passava com a sua mão no rosto dela. 
- Sem dúvida que és a mulher mais completa que eu um dia conheci - não estaria à espera de ouvir aquilo da boca de Mario..mas a verdade é que aquela frase fez com que Ana corasse, fez com que o seu coração disparasse. Fez com que a sua alma se unisse à de Mario. 
- E tu és, sem dúvida alguma, o homem mais completo que eu tenho o prazer de conhecer. No meu sonho de hoje...eu disse ao Sergio que a minha vida só fazia sentido em Madrid...e eu estava certa. A minha vida faz sentido aqui...com a minha Miranda, o Xabi, os meninos. Descobrir que a minha família é daqui, que está cá...ajuda, porque quero tentar estar o máximo de tempo com eles...e depois existes tu e o Sergio. Eu não te vou mentir...ele é parte de mim, aquela parte que está completamente baralhada...mas que depois vieste tu para deixar de estar baralhada, porque tu me fazes feliz, me dás aquilo que ele não conseguia dar: felicidade. Os últimos tempos ao lado do Sergio...eu não era feliz e tu mudas-te isso na minha vida. Fazes-me bem, eu quero estar contigo, passar o meu tempo livre contigo e, quem sabe, daqui a uns tempos chamar-te de namorado - Ana era sincera e frontal com Mario. Teria de lhe dizer tudo o que lhe passava pela cabeça, todos os sentimentos, tudo aquilo que sentia por ele teria de ser dito. 
- Ana, eu prometo que te irei realizar enquanto mulher todos os dias. À algum tempo que não estava com ninguém, que não estava com uma mulher a sério...e a vida é tão curta para não ser vivida. Quero estar ao teu lado de manhã, ao fim da tarde e antes de adormeceres...gostava que isso se concretizasse. Que fosses minha, sem que houvesse mais ninguém. Mas eu agora, neste momento, quero viver o nosso presente...enquanto eu e tu, enquanto um nós que não tem rótulo - Ana derretia quando Mario lhe falava assim...porque Mario não tirava os olhos de cima dela, os dois mantinham o olhar preso um no outro, como se de imáns se tratasse. Tinham combinado que iriam descansar, que iriam ver o jogo do Real Madrid, mas isso não aconteceu...porque os beijos que se seguiram a esta troca de palavras, os levou, de novo, a serem um do outro. 

Rotina: hábito de fazer uma coisa sempre do mesmo modo, mecanicamente; repetição monótona das mesmas coisas; apego ao uso geral, sem interesse pelo progresso. 
Definição de rotina que não se aplica ao caso de Ana e Mario. Eles tinham uma rotina diária à ja dois meses que estão juntos. Estão juntos à dois meses, enquanto algo. Não se intitulam de namorados, talvez porque ainda não falaram sobre um pedido ou algo género. Apenas estão juntos, amam-se à maneira deles, dedicam-se um ao outro com todo o carinho que têm para dar e são felizes. 
Quando Ana está a trabalhar, Mario está nos treinos. Quando querem estar juntos ou o fazem em casa de Xabi ou então em casa de Mario. Têm sempre Esperanza com eles, a menina que está a crescer a olhos vistos e com todo o amor que quem a rodeia lhe pode dar. Não se podem queixar, estão juntos, felizes e é só isso que querem. 
Ana continuava a estagiar no jornal Marca. Já a tinham informado que seria assim até ao final do ano e que, em Janeiro, passaria a ser jornalista deles. Fazia pequenos textos para o site do jornal, bem como formações para pudesse ter mais competências. 
Domingo, segundo dia de folga, dia de derbi em Madrid. O Atlético joga em casa do Real, num jogo que não se prevê nada facil. Ana estava animada, ultimamente ia a todos os jogos do Atlético e estava cada vez mais fascinada com o clube. Por ser um dia de inverno e com as temperaturas cada vez mais baixas, só saiu de casa com Miranda, Jon, Ane e Esperanza muito perto da hora do jogo.
Ficaram no camarote destinado a Miranda e, até ao ínicio da partida, divertiram-se pelas fotografias e as gargalhadas. Ana aproveitou para demonstrar o seu amor por Mario e o Atlético no seu twitter.

Vamos mi amor! Hoy y siempre con vos!
- Tens noção de que esta foto vai gerar polémica, não tens? - perguntou Miranda, depois de, as duas, se sentarem lado a lado. 
- Porque Miro?
- Porque? Porque com o Sergio nunca meteste nenhuma foto com a camisola dele. 
- Miranda...é diferente. São tempos diferentes. Com o Sergio tinha de ser tudo muito escondido...com o Mario não. Ele não se importa de estar em público comigo numa esplanada, nem eu me importo de estar com ele na praia. 
- Quando é que passam a namorados? 
- Não sei...mas não sentimos que seja necessário...porque acabamos por sê-lo, apenas não o dizemos. 
- Tens noção do quão lindos vocês são? 
- Somos?
- São. Ana, o Mario faz-te a mulher com o sorriso mais lindo do mundo, faz de ti a minha Ana que eu sempre conheci, um furacão com um coração daqueles que nem cabe no mundo.
- Oh, eu também te amo sua tonta - Ana abraçou a sua amiga e as duas ficaram atentas aos meninos. Jon e Ane brincavam um com o outro, enquanto que Esperanza permanecia no babycoque. 
O jogo começou à hora prevista e sentia-se a tensão no ar. Entre as claques, entre os jogadores, entre treinadores, entre Ana e Miranda. Porque Miranda torcia para que o Real marcasse e Ana que o Atlético o fizesse. E sentia-se a tensão entre os dois números 4 em campo: Mario e Sergio. Cumprimentaram-se de uma forma seca, em campo poderia ser perceptível que ambos tentaram cometer uma falta um ao outro...e Ana não pode achar tudo aquilo demasiado bom. 
À meia hora de jogo, quando o ritmo daquela partida aumentou, Mario tentou a sua sorte em marcar um golo. A bola saiu ligeiramente ao lado do poste direito da baliza e ele, em fracções de segundos, se sentou na relva pedindo a entrada da equipa médica em campo. 
- O que é que lhe aconteceu? - Ana levantou-se tentando perceber o que se passava com Mario. Miranda levantou-se também, ficando do lado da amiga. 
- Está a queixar-se do joelho - nos minutos seguintes perceberam que era algo grave. Mario teve de ser substituído e foi para os balneários. 
- Dás um olhinho pela menina? Eu vou lá abaixo ter com ele. 
- Claro, claro. Vai lá - Ana pegou na sua mala e correu até ao balneário da equipa adversária. Inicialmente não a queriam deixar entrar, mas depois de Mario perceber que ela estava ali e de pedirem para a deixarem entrar, ela entrou. 
- Se não me deixassem entrar eu fazia aqui um escândalo! - estava demasiado agressiva, mas assim que viu Mario completamente lavado em lágrimas acalmou-se sentando-se ao lado dele, já que ele estava sentado no banco do balneário - então bebé? - Ana passou com as suas mãos na face de Mario.
- Provavelmente rompi os ligamentos do joelho - "Eish...uma paragem de quase seis meses...oh que carajo!" Ana percebeu a gravidade daquela lesão. 
- Mas tens de fazer testes...para perceber se é ou não?
- Sim...estiveram só a imobilizar o joelho e vamos para o hospital.
- Vou buscar a menina e vamos contigo. Mario, tudo va a ficar bien, mi amor. 
- No lo sé, no lo sé - era visível o estado de desanimo de Mario. Ana não hesitou e beijou-o mesmo que estivessem ali membros da equipa médica e seguranças do Atlético. 
Foi buscar Esperanza ao camarote, explicou as coisas a Miranda e voltou ao local dos balneários para perceber se Mario já tinha ido para o hospital. O segurança informou-a que ele já tinha sido levado e ela preparou-se para abandonar o estádio, sendo que ainda ouviu Sergio a chamar por ela. Parou, olhando para trás e vendo que ele lhe fazia sinal que esperasse. 
Quando chegou perto dela, ficou ainda alguns segundos sem falar, mas acabou por fazê-lo:
- Como é que está o Mario?
- Provavelmente rompeu os ligamentos do joelho...
- Eish...manda-lhe as melhoras.
- Obrigada. 
- Queres que fique com a menina?
- Estás no intervalo do jogo, Sergio...
- Peço que a levem até à Miranda e depois fico com ela esta noite. O Mario precisa de ti. 
- Obrigada - Ana passou a babycoque a Sergio, dando-lhe um beijo na bochecha. Saiu disparada do estádio indo até ao hospital para onde Mario estava a ser levado. 

Estava à uma hora na sala de espera e, finalmente, via Mario a vir na sua direcção com muletas a acompanharem-no. Apressou-se a ir ter com ele, colocou as suas mãos por dentro do casaco dele beijando-o. 
- Então? - perguntou como que ansiando a resposta de Mario. 
- Não os rompi, não preciso da operação. Desloquei o osso do joelho. 
- Quanto tempo?
- Dois meses.
- Como é que te sentes?
- Cheio de fome! Daqui a quatro semanas tiro o gesso, faço a minha recuperação e volta tudo ao normal. 
- Tens a certeza que é isso mesmo que sentes?
- Tenho Ana - Marco deu-lhe um beijo e sorriu-lhe. 
- Então vamos jantar!
- Como ficou o jogo? 
- Empatamos 2-2. 
- Nada mau...
- Vá, anda cá, vamos tranquilizar os teus fãs - Ana tirou uma fotografia com o seu telemóvel colocando-a no seu twitter.

Tranquilizem-se que o príncipe está bem. Dois meses para a recuperação e está como novo. Besotes!
Os dois riram-se e foram até casa. Ana conduziu e, depois de Mario perguntar por Esperanza, disse-lhe que Sergio tinha ficado com a menina. Ao chegarem a casa encontraram quem menos esperavam.