- A sério…?
- Sim. Vocês importam-se que eu
volte para aqui? – Ana contava a Miranda e Xabi tudo
o que se tinha passado em casa de Mario.
- Isso nem é pergunta que se
faça! Voltas para aqui e ponto final – muito à
vontade, Xabi respondeu-lhe – e…o que é
que vais fazer agora?
- Aproveitar as minhas férias até
ao inicio do ano. E depois é dedicar-me à minha carreira e tentar esquece-los.
- Achas que o consegues fazer?
- Não sei, Miranda…mas não quero
pensar neles neste momento. Daqui a dois dias é a passagem de ano, depois começo
a trabalhar e só quero descansar, recuperar baterias e dedicar-me ao jornal.
- Qualquer coisa que precises
tens aqui dois chatos para ti, sabes disso?
- Sei Xabi e muito obrigada por
tudo o que fazem por mim – nisto são interrompidos pelo som
do telemóvel de Ana. Olhou para o visor e o nome Sergio apareceu juntamente com uma imagem dos dois – é o Sergio…
- Atende.
- Será que ele ficou chateado?
- Só saberás se atenderes, Ana…
- Têm razão… - Ana
levantou-se, indo até ao jardim. Atendeu a chamada e ouviu a voz de Sergio.
- És cada vez mais corajosa.
- Sergio…
- Não faço ideia de como o conseguiste fazer, mas foi a melhor coisa que
poderia ter acontecido nos últimos dias de 2013.
- Não digas isso…isto não muda
nada, Sergio. Eu preciso de uns tempos sozinha, sem te ver…peço-te que entendas
isso.
- Precisas de pensar…eu compreendo, mas foi tão bom ler aquilo.
- Gostaste?
- Senti-me nas nuvens com aquilo.
- Já outros expulsaram-me de
casa…
- É compreensível que não tenha sido fácil para ele. Como é que vais
fazer agora?
- Voltei para casa do Xabi…mas
Sergio, por favor vamos fazer os possíveis para nos mantermos afastados. Eu
preciso mesmo de entender o que se passa na minha cabeça.
- Como queiras…mas eu vou aí a casa. Para ver a Esperanza.
- Claro. Já
sabes alguma coisa do tratamento da Pilar?
- Se continuar como está, no fim de Janeiro sai da clínica e volta para
Madrid.
- E aí…temos de lhe entregar a
menina…
- É…vais aguentar?
- Claro. Eu consigo. Eu já estou
preparada para isso…e depois tenho aqui a Ane e o Jon, depois virá o bebé deles
e a nossa Dani.
- Ela vai adorar saber que acabaste com o Mario, como ficou radiante ao
saber que eu a Mia acabamos.
- Não me pressiones, sim?
- Tens razão, desculpa. Bem, aqui alguém tem de ir trabalhar. Ultimo
treino do ano. Ficas bem?
- Sim. Eu fico bem. Bom treino,
Sergio.
- Obrigado, Ana – Ana desligou a
chamada, entrando em casa.
Xabi
já tinha ido para o treino e, naquela hora, Ana e Miranda aproveitaram para
irem buscar as coisas (poucas) de Ana a casa de Mario. Tudo o que era seu
estava dividido pela casa de Xabi e o closet em casa de Sergio. Assim, era
fácil conseguirem, as duas, trazerem tudo de uma vez.
O
fim do mês de Janeiro chegou. E, com ele, era chegada a altura de entregar
Esperanza a Pilar, que já havia recebido alta da clínica psiquiátrica. Foi
extremamente difícil para Ana deixar de ter aquela menina todos os dias
consigo, foi difícil acordar a meio da noite e não ter o choro dela a
despertá-la já que era horas do biberão. Foram sete meses com aquela menina,
foi a mãe dela, foram dias, horas e minutos que dedicou àquela criança. Mas
agora não a tinha. Ela regressou aos braços da sua mãe.
Em
Fevereiro ainda eram várias as vezes que se viam…todos os dias Ana ia a casa de
Pilar visitá-las. Mas, com o trabalho, começava a ser difícil. E em Março as
visitas eram só aos fins-de-semana, não conseguia estar com ela sem ser ao
sábado e domingo. Claro que tudo era aproveitado ao máximo e parecia que
Esperanza não a esquecia.
- Sabes que eu não o vejo desde o
dia em que entregamos a Esperanza à Pilar…já passaram dois meses, achas que é
fácil não estar nervosa quando lhe estamos a preparar uma festa surpresa? – Ana
e Miranda estavam as duas na sala de estar a colocar alguma comida em cima da
mesa.
Sergio
fazia anos hoje e Xabi, em conjunto com os seus colegas de equipa, Miranda e
Ana, estavam a organizar-lhe uma festa surpresa. Ana estava nervosa. De não o
ver há algum tempo, de não saber o que fazer quando o voltasse a ver…
- Não, não é fácil. E isso só
demonstra que estás apaixonada por ele.
- E estou…isso não é novidade
para ninguém. Sinto-me uma autêntica adolescente!
- Tem calma. Nós já acabamos por
aqui…vai tomar um banho, trocar de roupa e desce que daqui a pouco começam a
chegar todos.
- Tens a certeza que não precisas
de ajuda?
- Tenho…vai lá.
Ana
subiu até ao seu quarto e tomou um banho relaxante. A sorte que tinha, naquela
noite, é que tinha escolhido a roupa com ajuda de Miranda. Caso contrário, iria
demorar imenso tempo com isso.
Depois de estar pronta, olhou-se ao espelho.
Aquilo que tinha vestido era a sua cara, sentia-se bem mesmo que nervosa por ir
estar no mesmo espaço que Sergio.
Voltou
ao andar debaixo, encontrando já na sala Miranda, Xabi, Ane, Jon, Iker e Sara.
Não iria vir muito mais convidados. Tinham decidido fazer algo intimo já que é
assim que Sergio gosta. Do plantel do Real Madrid iriam contar com a presença
de Iker (que já lá estava), Marcelo e Isco acrescentando a família de Sergio.
Pouco
a pouco todos encheram a casa, até ao momento em que Xabi se ausentou para ir
buscar Sergio a casa deste.
- O tio vai gostar tanto desta
surpresa – Daniela sentava-se ao lado de Ana,
colocando as suas mãos em cima da mão esquerda de Ana, a mão do anel.
- Esperamos que sim…
- Estás nervosa?
- Um bocadinho…nota-se?
- Estás menos faladora…
- Só quero que tudo corra bem…é
isso.
- Vai correr…e o tio Sergio vai
adorar esta surpresa.
- Ele nunca mais chega… - Ana
olhava, mais uma vez para a porta, esperando que esta se abrisse. Sabia que era
em vão já que, quando estivessem a chegar, Xabi ligaria a Miranda.
- Deve estar transito.
- É capaz…
- Eles estão a chegar! – a
voz de Miranda fez-se ouvir e todos se alinharam junto uns dos outros. Daniela
pegou no bolo que seria para cantar os parabéns ao tio, Ana colocou-se atrás
dela e viram a porta abrir.
Primeiro
entrou Xabi, seguido de Sergio. Assim que viu todos ali, sorriu deixando
escapar um Eu sabia! Todos se riram e
começaram a cantar os parabéns. Daniela foi ter com o tio, entregando-lhe o
bolo. Sergio pegou nele, dando dois beijos à sobrinha. Olhou para todos,
lendo-se nos lábios dele Gracias.
Depois
de lhe cantarem os parabéns, todos o felicitaram e a festa prosseguiu. Sergio
tentava escapar a algumas pessoas, com a intenção de chegar a Ana. Demorou
ainda a faze-lo já que todos lhe queria dizer algo.
- Também fizeste parte do comité
de organização da festa?
- Fiz… - Sergio
tomou a iniciativa e abraçou-a – Feliz cumple, Sergio.
- Gracias. – os dois olharam-se, brindando um
com o outro com os copos de champanhe que tinham em sua posse – como é que está tudo a correr?
- Está tudo bem, Sergio…sou
feliz, agora.
- Tens falado com a Pilar?
- Sim…todos os dias. Tu não?
- Falo. Não todos os dias mas dia
sim, dia não – a voz de Sergio suava calma e Ana
sentia a sua barriga contorcer-se com o nervosismo – estás tão…bonita, Ana – eu
estou a tentar não cair redonda no chão por causa dos nervos e ele diz isto…!
- Obrigada…tu também estás muito
bonito, Sergio.
- A Esperanza ia gostar de nos
ver juntos…
- A Esperanza está cada vez mais
esperta…ela sabe o que é certo ou não.
- Saiu ao tio, nesse caso.
- Convencido! – os
dois riram-se e Ana acabou por se aproximar dele – a ti desejo-te mesmo tudo de bom, que vivas feliz e que, um dia,
voltemos a ser o que éramos – Ana deu um pequeno beijo na bochecha de
Sergio, indo ter com Miranda.
Agarrou-se
à amiga, que falava com Paqui, olhando para Sergio. Ele também a olhava e isso
não passou despercebido a nenhuma das duas.
- Iria jurar que há fogo entre
vocês… - começou Paqui.
- Eles são fogo, Paqui! Mesmo
longe têm mais química que muitos casados por aí.
- Não sei como é que eles ainda
estão separados.
- Vocês juntaram-se para falarem
de mim e do Sergio como se não estivesse aqui? – Perguntou,
divertida.
- Ao menos estiveste bem próxima
dele, sem te vomitares – disse Miranda fazendo com que as
três se rissem.
Com
Paqui, Ana sentia-se à vontade para ser ele. A mãe de Sergio sabia exactamente
como era a sua personalidade e não valeria a pena esconder nada.
- Eu…?
- Sim, tu. És jovem, não tens
filhos, és uma excelente jornalista que nós temos – Ana
falava com o director do jornal sobre uma nova proposta de trabalho.
- Não estava à espera de tal
proposta…
- Ainda tens um tempo para te
organizares, mas Ana Moreira será uma das jornalistas do Marca para o Mundial
de 2014.
- Muito obrigada pela confiança
que depositam em mim…
- Fazes o teu trabalho de uma
forma excepcional. Só queremos que te sintas bem connosco.
- Sinto-me muito bem e realizada
em termos profissionais – a conversa com o director
continuou por alguns minutos.
Quando
terminou a conversa, Ana contou a novidade aos que lhe são próximos: Miranda e
Xabi, os seus tios e Pilar. Dentro de um mês iria rumar para o Brasil como
jornalista destacada para o Mundial de futebol. A melhor coisa que me poderia acontecer.