sábado, 10 de janeiro de 2015

57 – “é a tua filha que vai nascer, Miranda.”

- Boa tarde, estamos à procura de Miranda Garcia…ela deu entrada neste hospital hoje de manhã – Sergio falava com calma com a senhora da recepção, mesmo que viesse ofegante. Ana segurava-lhe a mão e os seus olhos procuravam uma cara familiar.
- Deixe-me ver…
- Está ali o Xabi! – Exclamou Ana largando, de imediato, Sergio. Correu até Xabi, enquanto Sergio pedia desculpa à senhora e lhe agradecia – Como é que ela está? Já nasceu?
- Ei, ei…acalma-te se faz favor. São ordens da Miranda…ela disse para eu te dizer para acalmares esse coração.
- Quando me disseres se ela está bem, sou capaz de me acalmar!
- Estás um pouco mal-humorada, não? – Xabi e Miranda já sabiam que Ana estava grávida, foram os únicos a saber da notícia depois de Sergio – Acalma-te, relaxa que está tudo bem. A Miranda está cansada, está com algumas dores mas ainda não está na hora da Maya nascer.
- Já deram um nome à minha sobrinha e não me diziam nada?! Eu estou feita convosco…vá onde é que ela está?
- A médica está com ela e pediram-me para sair. Estão só a mudar um pouco a Miranda de posição –
num passo mais calmo, Sergio junta-se a eles cumprimentando Xabi com um abraço – ela está um bocado mal-humorada, não?
- Adormeceu no avião e acordou assim –
Sergio colocou-se ao lado de Ana, passando o seu braço por cima dos ombros dela.
- Sim…falem à vontade sobre mim e façam de conta que eu não estou aqui – tanto Xabi como Sergio se riram, fazendo com que Ana não voltasse a falar.
Depois de estarem algum tempo por ali, acabaram por subir até ao primeiro piso do hospital, onde se encontrava Miranda. Xabi ia na frente, sendo ele a abrir a porta do quarto. Espreitou, reparando que Miranda já estava sozinha.
- Trouxe reforços… - assim que falou, abriu um pouco mais da porta e os três entraram.
- O que é que vocês estão aqui a fazer!? – Miranda tinha sido apanhada de surpresa. Ana não lhe tinha dito nada sobre a ida de ambos para o hospital.
- Achas mesmo que não ia estar presente no dia em que a minha sobrinha nasce? – Ana entregou a sua mala a Sergio, aproximando-se de Miranda. Era visível que ela estava mais cansada do que nunca, que estava estoirada…mas Ana também conseguia ver, através dos seus olhos, o quão entusiasmada estava Miranda. Desde sempre que soube que era um dos seus objectivos de vida da amiga e estava prestes a tornar-se mais real.
- Oh…eu estraguei-vos as férias…
- Tu não digas uma coisa dessa, Miranda Garcia! Quando o Xabi nos ligou estávamos no aeroporto de Paris. Mudamos o percurso das férias…agora faz sentido estarmos aqui a aguardar pela princesa.
- A médica veio cá à pouco…ainda está demorado.
- Não te preocupes…temos todo o tempo do mundo –
Ana puxou uma cadeira para perto de Miranda, sentando-se. As duas riram-se e acabaram por ver que os rapazes fizeram o mesmo. Eles acabaram por se sentar no sofá ao fundo da cama de Miranda ficando a olhá-la com alguma atenção – Estás com dores?
- Mais ou menos…quando vem uma contracção é horrível.
- Estão de quanto em quanto tempo?
- Não dá para regular. Vêm muito separadas…mas de manhã estavam de cinco em cinco minutos, daí termos vindo para o hospital.
- Mas nasce hoje, certo?

- Sim…tudo indica que sim. Estou com quatro centímetros de dilatação…
- Esses pormenores eram escusados, Miranda –
disse Sergio fazendo uma cara estranha.
- Vê-se mesmo que nunca foi pai, que não assistiu ao nascimento da sobrinha e que se questiona como é que vocês conseguem ter filhos… - comentou Xabi, fazendo com que Sergio olhasse para ele.
- Olha, lá porque já vais no terceiro…isso não te dá direito de te sentires superior…
- Na prática…também já vais no terceiro, Sergio –
Ana acabou por brincar com a situação já que se começava a sentir mais bem-disposta.
- Tens toda a razão… - depois de ver um sorriso nos lábios de Ana, Sergio voltou a olhar para Xabi – Ela só te enterra, já reparas-te? Eu também já vou no terceiro…
- E mesmo assim continuas com perguntas do tipo: “Como é que elas conseguem que o bebé saia?” sim…porque já me perguntaste isso, não negues! –
Todos se riram, à excepção de Sergio.
- Como é que estás? – Miranda acabou por agarrar a mão de Ana, fazendo a pergunta que ansiava fazer desde que ela tinha entrado naquele quarto.
- Estou bem, Miranda…estou feliz.
Os quatro ficaram naquele quarto de hospital durante largar horas. Miranda não tinha pais, como se sabe, mas sentia-se completa ao ter aquelas pessoas junto a ela, eram a sua verdadeira família. A médica fazia-lhes visitas constantes, assim como enfermeiras que regulavam todos os sinais vitais de Miranda.
- Vocês, também, podiam ter ido comer para outro lado, não? – Perguntava Miranda depois de ver Sergio e Xabi trazerem comida para eles e Ana.
- Não te vamos deixar sozinha, minha flor – Ana pegou no que tinha pedido a Sergio para comer, encostando-se à cadeira. Naquele momento, Miranda começa a contorcer-se com dores…era a segunda contracção no espaço de sete minutos.
- Estão a começar a ser mais juntas umas das outras… - comentou Xabi, aproximando-se dela.
Ana limitava-se a ficar paralisada ao olhar para eles: cada vez que Miranda tinha uma contracção, era Xabi quem a ia reconfortar, tentar aliviar as dores dizendo-lhe o quanto a amava e o quanto desejava ter a filha de ambos nos braços. E, por mais dores que tivesse, Miranda sentia-se a pessoa mais sortuda do mundo.
De todos os casais que já encontrou na sua vida, para Ana, aquele é especial, único e perfeito. São um casal que é romântico a todos os momentos do dia, mesmo quando discutem estão a sorrir e terminam a discussão com um beijo e promessas eternas de amor. Ana tem a certeza que Miranda encontrou o homem da sua vida, o primeiro homem que ela alguma vez amou de verdade e o único que amará. Ana sente que será para sempre a relação deles.
Ana fez sinal a Sergio para saírem…estavam ali à imenso tempo e queria dar-lhes um certo espaço. Ao saírem, Ana teve a certeza que, nem Miranda nem Xabi, deram conta da ausência. Caminharam até ao fundo do corredor, sentando-se num banco que ali estava.
- Estás bem? – Perguntou Sergio, colocando a sua mão em cima da perna de Ana.
- Estou…sinto que está quase.
- Consegues sentir essas coisas?
- Não Sergio –
Ana acabou por se rir, encostando-se no banco – mas…as contracções estão fortes e são mais juntas.
- Dói muito?
- Sergio…
- Pois…foi uma pergunta muito parva.
- Mas deve doer…muito. É, de toda a gravidez, o que me dá mais medo. Mas, por outro lado, deve ser uma experiência incrível, deve pôr-nos os sentimentos à flor da pele e as hormonas devem ficar ainda mais descontroladas.
- Ui…vou ter de me preparar muito bem para esse momento.

- Vais querer assistir? – Ana virou um pouco o seu tronco…sem se aperceberem já estavam a falar do momento do parto da gravidez de Ana.
- Acho que sim…deve ser uma coisa boa para os pais, não?
- Deve…para aqueles que não desmaiam. E, com o tipo de pergunta que fazes em relação a como é que os bebés saem de nós…parece-me que vás desmaiar.
- Tens-me assim em tão má consideração?
- Só estou a constatar factos, bebé –
Ana gargalhou, acabando por encostar a sua cabeça ao ombro de Sergio – estou tão feliz por eles.
- E eles ainda mais felizes estão –
Sergio rodeou o corpo de Ana com um dos seus braços e deixaram-se ficar algum tempo naquela posição.
No entanto, foram surpreendidos pela corrida de Xabi até eles.
- A dilatação está completa…vamos para a sala de partos! A Maya vai nascer! – Tanto Ana como Sergio se levantaram, sendo apanhados de surpresa. Xabi abraçou os dois, esboçando um sorriso que quase não conseguiriam descrever: era um sorriso babado, de um futuro pai prestes a conhecer a mais nova princesa da sua vida; era um sorriso verdadeiro e sincero, carregado de amor; e era um sorriso de alívio, sabia que dentro de momentos, se tudo corresse bem, Miranda não iria estar com as dores das contracções e do pré-parto…viriam as dores depois, mas tudo iria compensar ao ter Maya nos seus braços.
- Vais assistir? – Perguntou-lhe Ana…mesmo sabendo a resposta.
- Vou…mas a Miranda quer estar contigo antes de entrar para a sala de partos. Eu tenho de me ir preparar…vai ter com ela – Xabi virou-lhe costas indo ter com a enfermeira que se encontrava ao fundo do corredor. Ana e Sergio caminharam até ao quarto, onde encontraram uma Miranda muito tranquila.
- O Xabi já se foi arranjar? – Perguntou ela.
- Foi… - Ana aproximou-se de Miranda, dando-lhe um curto beijo na testa – está quase, quase, mamacita.
- Tenho medo…e se eu não conseguir? E se acontecer alguma coisa? Se eu não conseguir trazer ao mundo este bebé? Eu tenho tanto medo, Ana… –
Ana percebeu que, naquele momento, Miranda queria estar com ela para fazer todas aquelas perguntas que lhe estavam a atormentar.
- Vamos lá ver… - Sergio surpreendeu as duas, colocando-se ao lado de Ana, pronto para falar abertamente com Miranda – és a gaja mais poderosa que eu já vi. Vá, a Ana também consegue ser…mas tu és mais que ela. Quando fizeste frente à Pilar…lembras-te desse dia? – Por momentos, naquele quarto, todos viajaram no tempo até aquele dia.


LEMBRANÇAS ON

- Vocês podem explicar-me o que estão a fazer!? Nós não podemos fazer isto! Ela vai atrás da Ana.
- Não, não vai! Ela vai ficar bem avisada! Podes ter a certeza que ela não brinca comigo...eu passei anos ao lado da Ana. Aprendi o significado da palavra irmã com ela...e eu juro-te, depois de hoje, aquela filha da mãe vai arrepender-se de ter nascido.
- Miranda...
- Sergio! Chega! Vocês têm de ser felizes um ao lado do outro! A Ana esteve a sofrer este tempo todo. O coração dela voltou a fraquejar...e...porra! Vocês perderam um filho! -
A Miranda estava descontrolada...mas tudo o que ela disse...a Ana sofreu por causa de uma...pessoa sem escrúpulos nenhuns - Sergio - disse ela, colocando-se à minha frente - achas que a Pilar ainda demora?


- Quero que conheças uma pessoa... - a Miranda, entrou na sala...não estava assim combinado...mas era a melhor maneira de apresenta-las.
- Quem é esta rapariga, Sergio?
- Sou alguém que tu não vais gostar de conhecer -
dito isto, a Miranda, encosta a Pilar à parede...sinceramente...adorei vê-lo - eu não estou aqui para te conhecer formalmente...muito menos ser tua amiguinha. Tu destruíste a vida de duas pessoas que se amam. Destruíste a minha irmã...que por tua causa teve a pior semana da vida dela a pensar que o homem que ama a tinha trocado por um monte de... - a Miranda controlou-se...no seu vocabulário...mas por mim, poderia ter continuado - tu queres fama, não é? Nós vamos dar-ta...mas ficas avisada. De hoje em diante...o teu futuro será com esse bebé que tens na barriga e com o pai dele...quer o encontres ou não. Vais deixar a Ana em paz...vais deixa-los aos dois em paz. Caso contrário...tu não sabes os sarilhos que vais ter...eu juro-te, se lhes fazes alguma coisa eu acabo com a tua vida. Não adianta ires a tribunal como fizeste com a Ana...porque eu tenho testemunhas a meu favor. Agora... - adorei ouvir a Miranda falar...ela estava tranquila, mas tinha uma raiva à Pilar...ela estava a acabar com aquilo que eu não tinha coragem de acabar, por amar demasiado uma pessoa que não merecia ser magoada por erros de outra. A Miranda pegou na Pilar pelo braço e começou a sair de casa...a minha mãe agarrou-se a mim.


(Miranda)
- Como é que está a Ana? - Perguntou-me o Sergio quando estávamos já sentados na sua sala.
- Estava a ficar melhor...bateu super fundo Sergio...
- O coração dela voltou a quebrar... -
a Paqui falou e o Sergio, imediatamente, começou a chorar. Nunca um homem chorar me fez tanta impressão...juro que não! Ele...ele chorava com tudo o que tinha...era doloroso vê-lo naquele sofrimento.
- Como...como? Eu...não estive ao pé dela! - O Sergio explodiu...rebentou mesmo...levantou-se do sofá e começou a andar de um lado para o outro. Já que tinha posto um fim à Pilar...vamos lá acabar com isto também.
- Ei! - coloquei-me de frente para ele e dei-lhe uma chapada.
- Miranda! - a Paqui...provavelmente não estava à espera que eu o fizesse...mas o gajo estava a entrar em paranóia.
- Desculpe Paqui...mas ele tinha de acordar - voltei a olhar para o Sergio - tu tens de ter calma...sim? Estás todo stressado, em vão.



LEMBRANÇAS OFF



- Eu dei-te uma valente chapada nesse dia… - disse Miranda, acabando por se rir.
- Ah pois deste, sim. Naquele dia eu vi uma Miranda que raramente se vê. Viraste uma fera, uma leoa a tentar proteger a sua cria – tanto Miranda como Sergio olharam para Ana, que se sentiu um pouco envergonhada. Manteve-se calada…queria ver até onde Sergio ia com o seu discurso – e vais ser essa Miranda quando entrares na sala de partos. Vais entrar determinada, com coragem e, sobretudo, com instinto de mãe. Vais trazer ao mundo essa bebé porque não a podes ter eternamente só para ti – Sergio riu-se sozinho, já que Ana e Miranda choravam – vocês duas são lamechas como o raio… - Sergio agarrou na mão de Ana, que segurava a mão de Miranda – Deve ser normal teres medo, é algo que te está a acontecer pela primeira vez…é desconhecido e, por norma, o ser humano tem medo do desconhecido. Mas não tenhas…é a tua filha que vai nascer, Miranda.
Miranda queria dizer algo, um “obrigada Sergio” que não seria suficiente, um “gosto muito de vocês” que não seria o suficiente para perceberem o quão grata estava por os ter na sua vida, ou um “sejam felizes” mostrando que estava mais do que feliz por eles estarem, de novo, juntos. Miranda não conseguiu expressar-se e apenas agarrou com força as mãos deles.


Algumas horas depois…


- Já passaram duas horas, Ana… - Sergio estava impaciente e começava a deixar Ana nervosa e com vontade de o encostar à parede, só para ele deixar de andar de um lado para o outro.
- Isto não é como nos filmes…fazes duas vezes força e nasce. Muitas vezes levam-nas para a sala de partos e nem começam logo a fazer o parto. Estás mais nervoso que eu, Sergio, joder.
- Como é que estás aí, sentada, e tão calma?
- Talvez porque…sei que isto é algo que demora –
Sergio sentou-se ao lado de Ana, pondo as mãos em cima das pernas – relaxa Sergio…quando o nosso filho nascer…se estiveres assim não te quero ao pé de mim, aviso já.
- Porquê?
- Olha…vais deixar-me ainda mais nervosa, ansiosa e eu não preciso disso.
- Rejeitas o pai do teu filho no dia em que ele nasça? –
Sergio estava visivelmente chocado com aquilo.
- Meu amor… - Ana levou as mãos até à face de Sergio, aproximando-se dele – rejeitava sim, Sergio.
- Ao fim de dois anos…conheço a verdadeira Ana: és egoísta.

- Acabaste de me chamar egoísta Sergio Ramos García? – Tanto um como o outro permaneciam bem perto um do outro e Ana percebia que ele não o dizia por maldade.
- Sim. Porque ao me rejeitares nesse dia, estás a querer o nosso filho só para ti!
- Então…temos de combinar uma coisa.
- Até tenho medo…diz lá.
- Eu não sou egoísta nesse dia…e tu não és stressado, boa?
- Vou pensar no teu caso –
Sergio riu-se, juntando os seus lábios com os de Ana. Juntou, ainda mais, o seu corpo com o dela levando as suas mãos até à, pequena, barriga dela – estou ansioso para que comece a crescer, Ana.
- Acredita que não és o único…
- Sabes…que me enches de felicidade? Que me dás amor em todos os segundos do dia, em todas as palavras que dizes…

- Acho que estás a ter um problema grave, Sergio.
- Eu estou a ser romântico!
- Sim, sim…claro que estás, meu amor –
Ana sentia-se bem e aproveitava todos os momentos que conseguia para brincar com Sergio. Gostava de ver, na cara dele, aquela expressão de indignação, misturada com aquele lado terno de Sergio. Percebia, logo, que não o conseguia chatear na totalidade, mas deixava-o um pouco irritado ao quebrar o momento.
Ana encostou a sua cabeça no ombro de Sergio, passando as suas pernas para o colo dele. Parecia estar numa posição desconfortável, mas sentia-se bem assim perto dele.
- Estás cansada, não estás?
- Não te podes esquecer que fizemos uma viagem do México para Paris e, depois, ainda voámos de Paris para Madrid…
- Tens de descansar.
- Só depois da Maya nascer e de me garantir que ela e a Miranda estão bem.
- Ai, ai tia galinha –
Sergio aconchegou-a nos seus braços e esperaram para saber das novidades.



O relógio marcava as 23h45 quando viram Xabi ao fundo do corredor. Não esperaram que ele chegasse perto deles, já que caminharam à velocidade da luz ao seu encontro.
- Já nasceu? Está tudo bem com a Miranda? E a menina? – Ana disparava perguntas em todas as direcções, tentando saber como é que elas estavam.
- Tem 2 quilos, 950 gramas e 49 centímetros. É a bebé mais bonita que está neste hospital e a Miranda está mais feliz do que nunca – dentro de si, Ana sentiu uma explosão de felicidade enorme, começou a chorar abraçando Xabi. Muito baixinho disse “Parabéns” a Xabi, estando envolvida nas lágrimas.
Depois de Ana, foi Sergio quem o abraçou e felicitou.
- A Miranda ainda não está no quarto…ela perdeu um bocadinho a mais de sangue – começou Xabi, reparando na cara de preocupação de Ana – relaxa…está tudo bem. Dentro de dez, quinze minutos deve ir para lá. Mas a enfermeira disse que, se eu quisesse a menina pode ir já para o quarto…querem conhecer a Maya?
- Isso não é pergunta que se faça Xabi Alonso…é obvio que queremos conhecer a nossa Maya –
assim que falou, os três começaram a caminhar em direcção do quarto onde Miranda iria ficar. Ao lá chegarem, encontraram uma enfermeira a aconchegar Maya no seu pequeno berço.
- Senhor Alonso…fique à vontade com a sua filha. Dentro em breve a sua companheira estará junto a vocês.
- Muito obrigado, senhora enfermeira –
depois de recolher alguns objectos, a enfermeira saiu do quarto fazendo com que Ana se aproximasse do berço.
Xabi tinha razão…era a bebé mais linda de todo o hospital, mesmo que não tivesse visto o único bebé naquele dia. Maya conseguia ser parecida com os dois, conseguiu recolher o melhor dos dois: os olhos de Xabi, o nariz de Miranda e o sorriso…Ana não conseguiu decifrar com qual dos dois se assemelhava.
- Olá bebé… - Ana passou com o seu dedo indicador sobre a mão de Maya, deixando escapar umas teimosas lágrimas – os teus pais estão tão felizes…ainda não vi a tua mamã, mas deve estar com certeza. A passar-se por estar longe de ti, aposto – Ana falava em sussurro para a bebé que dormia sossegada. Sergio e Xabi olhavam para as duas, mantendo o silêncio – ela é tão bonita, Xabi – Ana sorriu, olhando para o pai da pequena Maya.
- Podes pegar nela…
- Posso?
- Claro que podes. É tua sobrinha, Ana –
cada vez que Xabi se referia a Ana como irmã de Miranda, deixava-a com o coração acelerado, com a pele arrepiada e com um carinho enorme por ele – A Miranda já te teria dado a Maya para os braços.
Ana sorriu, voltando a olhar para a bebé. Colocou a sua mala em cima do pequeno sofá, esticando os braços na direcção da menina.
- Não a deixes cair, amor – Sergio falou, fazendo com que ele e Xabi se acabassem por rir. Ana encolheu os ombros, focando-se naquele pedaço da sua Miranda.
Acolheu-a nos seus braços como de uma peça frágil se, se tratasse. Na verdade, acabava por ser: era um bebé frágil, pequeno e com um cheirinho bom de bebé. Aconchegou Maya nos braços, passando com o seu dedo pelo pequeno nariz da menina.
- É tão bonita, meu Deus…estou apaixonada.
- Ui que a Miranda tem de ter cuidado com a tia babada –
Sergio voltou a comentar, fazendo com que Ana acabasse por se rir. Xabi aproximou-se da filha, beijando-lhe a cabeça. Sergio aproximou-se, também, mexendo no pé da menina. Ana olhou para ele sorrindo – é mesmo uma bebé muito bonita, Xabi – desta vez Sergio olhou para Xabi percebendo que ele estava a olhar para a filha com um ar completamente apaixonado. - Vá, toma…eu partilho a sobrinha linda com o pai babado – Ana também percebeu que Xabi estava completamente hipnotizado pela filha por isso, entregou-a para os braços dele. Xabi acabou por permanecer em silêncio, embalando Maya.
Passaram dez minutos a falar sobre Miranda e como tinha decorrido o parto. Foram interrompidos pela enfermeira que pediu a Ana e Sergio que saíssem já que iriam dar entrada a Miranda. Os dois saíram e aproveitaram para ir comprar uma garrafa de água para Miranda e outra para Xabi, a pedido dele.
Voltaram ao quarto e, antes de abrir a porta, Ana deu dois suaves toques na mesma. Abriu a porta devagar, vendo a sua Miranda com a pequena Maya nos braços.
- Olá… - Ana estava rendida a todo aquele ambiente, a todo o amor que sentia que emanava daquelas três pessoas. Entrou, aproximando-se de Miranda, enquanto Sergio fechara a porta e se aproximou de Xabi – como é que estás? – Perguntou, depois de beijar a testa de Miranda.
- Cansada…mas completamente apaixonada pela minha filha.
- Oh, mamacita, está toda babada –
Ana riu-se, depois de falar.
- Estou é toda cansada…
- Isso deve ser nada em relação ao amor, minha flor –
Ana afastou-se um pouco e Miranda acabou por encostar a cabeça na almofada, mantendo-se a olhar para Ana – acho que está na hora de eu e o Sergio irmos dormir para nossa casa e deixar-vos aqui a descansar.
- Podem ficar…a sério –
Miranda falou, agarrando na mão de Ana.
- Mas nós vamos. Também estou um bocadinho cansada…foi um dia muito longo. Mas amanhã de manhã estamos cá…
- Tenho uma coisa a pedir-vos… -
começou Xabi – a Nagore está com imenso trabalho e não pode vir e ficar com os meninos…ela pode deixá-los em tua casa, Sergio?
- Claro que pode, nós trazemos os dois pequenitos –
respondeu Sergio animado.
- Bom, então nós vamos indo, sim? – Ana despediu-se de Miranda, deu um curto beijo na testa de Maya e acabou por se ir despedir de Xabi. Sergio fez o mesmo e os dois rumaram até casa.



- Já viste a foto e o texto que a Miranda partilhou nas redes sociais? – Sergio, que estava deitado na sua cama, falou alto o suficiente para que Ana o ouvisse, já que estava na casa de banho.
A rapariga não lhe respondeu, acabando por chegar ao quarto alguns segundos depois.
- Sabes que eu não sou surda, não sabes?
- Sei, sei meu amor –
Sergio deu algumas palmadas na cama, piscando o olho a Ana – anda cá – Ana estava de volta àquele quarto e àquela casa passado algum tempo…mas era como se nunca tivesse saído de lá. Aproximou-se do fundo da cama, colocou-se em cima do colchão de joelhos gatinhando até Sergio. Assim que estava suficientemente perto dele, colocou a sua mão no peito despido de Sergio (em pleno Agosto, Madrid estava mais quente do que nunca) dando-lhe um pequeno beijo nos lábios. Deitou-se ao lado dele, retirando-lhe o telemóvel das mãos para ver o que Miranda tinha partilhado:




16 de Agosto. O dia em que me torno a mulher mais feliz do Mundo.
Nunca soube o que é ter isto: uma família. Sempre vivi à deriva, apenas com uma irmã (que nem de sangue é). Custa…acreditem que custa não partilhar este dia com os meus pais, ou com avós…mas partilho-o com as melhores pessoas que conheci na vida.
A ti, Xabi, te agradeço por seres o homem que és. Um pai carinhoso, respeitável e dedicado. Um homem que me ama, que cuida de mim e de quem eu quero cuidar eternamente. Eres mi vida. A ti, minha Ana, agradeço-te por seres a irmã de todos os dias, de todas as horas. Por seres a tia da minha filha e por me dares a confiança de que, caso me aconteça algo, irás cuidar deles dois como se fossem do teu sangue. A ti, Sergio, obrigada por toda a coragem que me deste antes do parte e por todas as gargalhadas. És um bom rapaz.
Hoje, tornei-me a mulher mais feliz. Por tua causa, minha querida filha.
Amo-te, Maya. A mãe irá sempre amar-te.


- Eles vão ser tão felizes, Sergio – Ana entregou-lhe o telemóvel, encostando a cabeça na sua almofada.
- É tão bom ter-te de volta a esta casa.
- Por acaso já tinha saudades desta cama.
- Só da cama?
- Já andamos a tratar das saudades um do outro à alguns dias –
Ana olhou para Sergio, dando-lhe um curto beijo nos lábios – tenho algumas coisas para fazer nos próximos dias.
- Sem ser chatear a Miranda?
- Até parece que eu chateio muito. Mas, agora a sério, eu estou de volta aqui, certo?
- Sim, todos os minutos do dia e da noite.
- Então tenho de ir buscar as minhas coisas a casa do Xabi, quero ir falar com o meu tio…já não os vejo à tanto tempo! E ainda quero falar com o Mario.
- Parecem-me excelentes planos.
- Achas mesmo?
- Acho. Em relação aos dois primeiros posso ajudar-te, quanto ao último já não posso fazer muita coisa.
- O último tem de ser tratado por mim, sozinha –
Ana levou as suas mãos à cara de Sergio, aproximando-se dele – mas não tenhas ciúmes, Sergio.
- Eu não tenho. Prometo –
Sergio riu-se, acabando por beijar Ana.
Ambos estavam demasiado cansados para continuarem acordados e, depois de combinarem com Nagore como iriam fazer em relação a Ane e Jon, adormeceram nos braços um do outro.


- Já podíamos estar ao pé da Miranda… - comentava Ana, começando a não gostar daquela demora de Nagore. Já passava meia hora da que tinham combinado e nada de aparecer.
- Deve ter apanhado trânsito no caminho. Começa a relaxar, por favor – Sergio colocou-se à frente de Ana, levando as suas mãos ao pescoço dela. Sergio ficou alguns segundos a olhar para ela tentando arranjar as palavras certas para o que lhe queria dizer. Mas não foi capaz. O som da campainha despertou-os e Ana precipitou-se na direcção da porta.
- Desculpa o atraso, Ana. Apanhamos um bocadinho de trânsito e ainda parámos numa estação de serviço para eles irem à casa de banho – assim que Ana abriu a porta, Nagore explicou logo a causa daquele atraso da parte dela.
- Não tem problema – assegurou Sergio e Ana sorriu para a ex-mulher de Xabi.
- Ana! – bem estava a estranhar este sossego… Ana não tinha visto os meninos, já que eles tinham ficado na relva a brincar. Ane foi a que acabou por chamar por Ana, ao mesmo tempo que foi ter com ela. Quando Ane chegou perto de Ana, ela pegou-a ao colo, dando-lhe um beijo repenicado na bochecha.
- Bonequinha. Estás boa?
- Sim. Ana, és tu que me vais levar a conhecer a mana?
- Sou sim. O pai e a Miranda estão no hospital com a mana e nós vamos ter com eles.
- Olá! –
Jon apareceu junto de Ana, que se baixou para dar um beijo ao menino.
- Mais uma vez eu peço desculpa pelo atraso e por não puder ir com eles. Estou mesmo cheia de trabalho, mas vou tentar passar lá no hospital mais logo.
- Está tudo tranquilo, Nagore. Vai descansada que os meninos ficam em boas mãos e dentro de pouco tempo já estão com o Xabi.

- Obrigada – Nagore despediu-se de todos com dois beijinhos, indo até ao seu carro, saindo da propriedade de Sergio.
- Quando é que vamos conhecer a Maya? – Perguntou Jon, depois de entrar em casa.
- Vamos só deixar aqui as vossas coisas – Sergio colocou as duas malas que Nagore tinha deixado em cima da sofá, olhando para Jon – e acho que podemos ir!
- A sério? A sério que podemos ir já? –
Ane, que ainda estava ao colo de Ana, estava super entusiasmada e com um sorriso enormes e ternurento. Tanto Ana como Sergio, percebiam que os dois estavam ansiosos por conhecer a irmã e isso só conseguia tranquilizar ambos. Poderia ser complicado para Xabi e Miranda se Jon e Ane não estivessem tão contentes por ir ter outra irmã – Eu quero muito conhecer a nossa mana.
- Ela é quieta? Ou chora muito? – Perguntou Jon curioso.
- Nós só estivemos com a Maya ontem, depois de ela nascer, e era muito sossegadinha. Mas vamos, vocês estão ansioso para ir conhecer a vossa irmã e nós para a revermos.
- Sim! –
Tanto Ane como Jon ficaram ainda mais excitados por irem, finalmente, para o hospital ver a pequena irmã.
Saíram de casa e, depois de uns curtos quinze minutos, chegaram ao hospital onde se encontrava Miranda. Jon e Ane iam os dois de mão dada, sendo que Jon dava a mão a Sergio e Ane a Ana. Caminhavam pelos corredores do hospital com sorrisos nos lábios e ansiosos por ver a pequena Maya. Os meninos riam-se constantemente e davam pequenos pulos. Notava-se que estavam verdadeiramente felizes.
- Chegamos. Eu vou só espreitar se eles estão cá, sim? – Ana soltou a mão de Ane, indo até à porta. Deu dois toques suaves na mesma ouvindo, do outro lado, licença para entrar. Abriu a porta, espreitando para dentro do quarto. Miranda estava deitada, tinha Xabi sentado na cadeira a seu lado e a pequena Maya estava no seu berço – Bom dia.
- Bom dia – Miranda e Xabi, com sorrisos contagiosos nos lábios, cumprimentaram Ana em uníssono.
- Chegámos todos…podemos entrar?
- Claro, entrem –
Ana olhou para os meninos e, dando a mão a Ane, entraram todos no quarto.
Tanto Jon como Ane ficaram reticentes em relação ao que fazer. Sabiam que não podiam fazer barulho por causa da bebé e foram os dois ter com Xabi que pegou em Ane ao colo, sentando-a na cama onde Miranda estava deitada e ajudou Jon a sentar-se na perna dele.
- Porque é que tens esses fios, Miranda? – Perguntou Ane ao reparar que Miranda estava a soro.
- Estes fios ajudam-me a não ter dores, pequenita.
- Dói-te o que? –
Desta vez foi Jon que perguntou, aproximando-se da cama.
- A barriga…e as pernas – Miranda olhou para Xabi, não era só aquilo que lhe doía mas não iria estar a dizer o resto aos meninos – mas não se preocupem, está tudo bem.
- Porque é que ainda tens barriga grande se a mana já nasceu?
- Ane, as barrigas demoram a ficar pequeninas outra vez –
esclareceu Xabi, levando um dos seus dedos à bochecha da filha – e que tal conhecerem a Maya?
- Onde é que ela está? –
Ane ainda não tinha reparado que Maya estava no berço ao lado de Miranda.
- Está ali… - Jon apontou para o berço, fazendo com que Ane olhasse para lá.
- Ana, podes ajudar-me? – Perguntou Miranda, despertando Ana de todo aquele cenário.
- Sim…que precisas, minha flor?
- A Maya nos meus braços…assim aproveitas e pegas nela outra vez. Eu bem vi esses olhos colados nela desde que cá chegaste.
- Sim, sou apaixonada pela tua filha –
todos se riram e Ana acabou por ir ao berço de Maya, pegando na menina ao colo – olá coisinha boa da tia – Ana deu um pequeno beijo na testa de Maya, aproximando-se da cama de Miranda – acho que te roubo a menina. Já sabes, sempre que quiseres a nossa casa estará aberta para ela. E para a Ane e o Jon, claro – Ana passou a menina para os braços de Miranda e, logo de seguida, Ane e Jon aproximaram-se dela.
- Ela é tão bonita – Jon foi o primeiro a manifestar-se, para surpresa de todos. Ele era mais tímido do que a Ane e não esperavam aquilo da parte dele.
- O pai diz que ela é parecida contigo quando nasceste, Jon.
- A sério?
- Sim. Menos no nariz, que é igual ao da Ane.
- Pai, depois podemos ver as fotos de bebés? –
Perguntou Jon, olhando para o pai.
- Claro que podemos – Xabi deu um beijo na testa do filho, abraçando-o. Mas todos estavam a estranhar o silêncio de Ane. Não era normal naquela menina ficar tanto tempo calada – Ane…estás tão calada, filha.
- Eu…eu não sei o que dizer.
- Podes dizer o que quiseres, pequenina –
Miranda, que estava mais perto de Ane, agarrou na mão da menina fazendo com que ela olhasse para si.
- Eu queria muito ter uma mana. E a Maya é muito bonita e é minha mana. Eu vou poder ajudar?
- Claro que sim. E eu vou querer muito a tua ajuda, quando estiveres lá em casa.
- Eu não posso morar com vocês?

- E deixas a mãe sozinha? – Perguntou Xabi.
- Não podemos morar todos juntos…mas, eu vou querer ir mais vezes a vossa casa para ver a mana.
- Claro que vais e nós também vamos mais vezes à vossa.
- Porque é que ela não abre os olhos todos? Ela vai ficar sempre a dormir? –
a partir daquele momento já era a Ane que todos conheciam. Sempre a fazer perguntas e a querer ajudar a fazer tudo à irmã.
Quando Miranda se ausentou para ir tomar um duche com a ajuda da auxiliar médica, Ana aproveitou para pegar na menina ao colo, estando com Ane e Jon do seu lado e Sergio sentando à frente deles numa cadeira.
- Sabem uma coisa? – Questionou Sergio.
- Não – tanto Ane como Jon abanavam negativamente com a cabeça, olhando para Sergio.
- A Ana e eu também vamos ter um bebé – Ane olhou, com a boca aberta, para Ana para confirmar que era verdade.
- Vais ter um bebé? Na tua barriga?
- Sim…já lá está dentro, Ane.
- É menino? –
Perguntou Jon.
- Ainda não sabemos, é muito pequenino.
- Vocês querem muito ter um bebé, não é? –
Ane olhou para Sergio depois de fazer a pergunta, esperando que ele lhe respondesse.
- Queremos. Queremos mesmo muito – Sergio respondeu-lhe fazendo com que Ana sorrisse.
Ane e Jon gargalharam baixinho, olhando para a irmã. Ana também olhava a pequena Maya com extremo cuidado e imensas coisas lhe passavam pela cabeça. Já podia ter um filho seu, nos braços, que teria de proteger com todo o cuidado, já podia ter sentido o que é ter um filho e o que é ser mãe. Ao olhar para a pequena Maya, Ana perdeu-se em previsões do que poderia ser o seu presente se Santiago tivesse nascido. Derramou uma lágrima, que não passou despercebida a Sergio e a Xabi.
- Querem ir comer um gelado? – Perguntou Xabi.
- Sim! – os dois levantaram-se e Xabi fez o mesmo, olhando para Ana.
- Importam-se de ficar um bocadinho com a Maya?
- Claro que não. E a Miranda está ali caso seja preciso algo. Vai descansado –
Ana olhou para Xabi, sorrindo – e eles precisam de te sentir o mesmo com eles.
Xabi sorriu, depositando um beijo na testa de Ana. Saiu do quarto, de mão dada com cada um dos filhos e Sergio aproveitou para se sentar ao lado de Ana.
- Essa cabeça já anda a pensar em quê?
- Nada… -
Ana mexia na pequena mão de Maya, fazendo pequenos círculos na sua pele tão suave e quentinha. Estava rendida àquele pequeno ser, aquela pequena vida que tinha nos seus braços.
- Ana…eu já notei que, desde que a Maya nasceu, andas mais pensativa.
- Só penso que…quero muito ser mãe. Ter uma coisinha destas só minha, aliás só nossa. Ser um bebé nosso e ser mãe dele. Já pensei tanto…no Santiago –
Ana não conseguia encarar Sergio, deixou, por isso, a sua cabeça cair sobre o ombro dele.
- Se o Santiago tivesse nascido…já éramos pais. Mas, Ana, estás grávida. E é a melhor gravidez que tens, melhor até que a do Santiago. Eu acho-a ainda mais especial que a primeira, mais intensa e mais vivida por nós. Se tudo correr bem, daqui a 32 semanas vais ter o nosso bebé nos braços e pegar nele ainda com mais amor do que pega a Maya – Sergio juntou a sua mão à de Ana, que segurava a menina – pensa no que está a ser o teu presente e não naquilo que poderia ser. E pensa no nosso futuro, com o nosso filho – Ana sorria, era impressionante a mudança em Sergio. Sentia-o mais maduro e confiante num futuro a dois, sentia-o mais seu e mais deles. Sentia que fazia todo o sentido terem estado separados porque sente que agora nunca mais se separarão.
- Tenho a certeza que serás o melhor pai que os nossos filhos irão ter – Ana olhou para ele, dando-lhe um curto beijo – obrigada, Sergio.
- Não me tens de agradecer de nada, sua maluca.
- Estavas tão bem sem me insultar… -
Ana riu-se voltando a olhar para Maya – Já percebeste que o teu tio é um parvo para a tia, não é pequenina? Pois é, o tio Sergio é muito parvo para a tia Ana.
- Não é nada, Maya. O tio Sergio é super querido para a tia Ana. Ela está a mentir. Achas bem dizeres mentiras à menina? –
Os dois riram-se e foram surpreendidos pela entrada de Miranda no quarto. Já não vinha com a auxiliar e, por isso, Sergio precipitou-se até ela para a ajudar a chegar à cama.





- Não te importas mesmo? – Ana estava com Sergio no corredor do hospital. Agarrava-o pela cintura deliciando-se com o perfume dele.
- Desde que voltes…
- Claro que volto. Eu ia lá noutro dia, mas assim já fica tudo resolvido.
- Vai descansada e, se quiseres, depois posso ir buscar-te. Escusas de voltar aqui e andar de um lado para o outro.
- Depois vemos isso. Ainda queria estar mais um bocadinho com elas…
- Tia babada –
Sergio levou as suas mãos ao pescoço de Ana, beijando-a.
Depois de se despedir dele, estava na hora de ir ter com Mario. Tinha mesmo de falar com ele para ficar com a sua consciência tranquila e tudo resolvido entre ambos. A casa dele não ficava longe, apanhou um táxi e em quinze minutos já estava à porta de casa. Tocou à campainha e, depois de a porta pequena do portão se abrir, entrou. Mario estava no jardim, com Roco que, assim que viu Ana, correu na sua direcção.
- Roco! – Ana baixou-se até ao cão, pegando nele ao colo – que gordinho que estás. Si, si, também tinha saudades tuas – o cão lambia-lhe as mãos e os pulsos, abanando a pequena cauda e a latir. Colocou-o no chão e, até chegar perto de Mario, Roco andava sempre em volta dos pés de Ana. Tinham concordado que ele ficaria com Mario já que tinha sido ele a adoptá-lo – Olá, Mario… - Ana juntou as suas mãos, uma na outra, sem saber ao certo o que fazer.
- Olá Ana – Mário aproximou-se dela, cumprimentando-a com dois beijos na bochecha – queres entrar…ficar por aqui?
- Podemos ficar por aqui –
os dois acabaram por se sentar na relva e Ana ia mandando a bola para longe para que Roco a fosse buscar. Tinha estado pouquíssimo tempo com ele, mas o cão reconheceu-a naquele dia – Como é que estás? – Ana olhou para Mario ficando encantada com a beleza dele. Não poderia negar que ele era um homem muito atraente e que os seus olhos eram doces e ternos.
- Está tudo bem, Ana. E contigo?
- Também…
- Já sei que és tia…parabéns à Miranda e ao Xabi.
- Obrigada. Mario…eu quis vir aqui porque ficaram muitas coisas por dizer entre nós –
Ana virou, ligeiramente, o seu corpo na direcção de Mario agarrando na mão dele – foste uma pessoa muito especial, num momento muito delicado da minha vida. Fizeste-me sentir bem, devolveste-me a vontade de sonhar e de acreditar nos meus sonhos. Eu amei-te nesse tempo e continuarei a amar pela importância que tiveste na minha vida. E, até, naquela que poderás vir a ter – Ana sorriu-lhe recebendo, de volta, um sorriso também – eu sei que deveria ter optado por falar contigo antes de publicar a coluna, devia-te isso. Mas deixei-me levar pelos impulsos…sabes que eu vivo de impulsos, às vezes. Eu sei que é difícil…mas quero que me perdoes. Eu magoei-te, sei disso, mas peço o teu perdão.
- Ei… -
Mario levou a sua mão até à cara de Ana, acariciando a pele dela – eu não te vou mentir, é claro que custou que acabasses com as esperanças que tinha para a nossa relação, para o nosso futuro. Mas tu ensinaste-me o que é amar alguém e respeitar essa pessoa. Eu fiz isso contigo e tu também o fizeste.
- Não…
- Fizeste, Ana. Mesmo quando te envolveste com o Sergio tu disseste-o, não o escondeste de mim. Claro que eu queria ficar contigo, já te imaginava do meu lado todos os dias e num futuro bonito. Mas eu sei que o que te une ao Sergio é mais forte, mais intenso e único. Eu não preciso de perdoar uma pessoa que me deu muito. Não tenho nada para te perdoar. Sempre foste uma pessoa espectacular comigo e só te posso agradecer o tempo maravilhoso que tive o prazer de ter do teu lado.
- Oh Mario –
Ana não resistiu e abraçou-o, apertando-o bem contra si – obrigada…por tudo, mas mesmo tudo o que vivemos juntos.
- E eu agradeço-te a ti, por tudo também –
os dois olharam-se sorrindo um para o outro – tenho uma coisa para ti.
- Tens?
- Sim. Espera um pouco –
Mario levantou-se, indo até ao interior da casa. Enquanto ele não regressou, Ana ia brincando com Roco na relva – Toma – assustou-se um pouco com a chegada de Mario. Ele estava sentado ao lado dela com uma pequena caixa na mão – Espero que gostes.
Ana não lhe conseguiu dizer nada. Ficou estática a olhar para a caixa, até que pegou nela. Abriu-a e encontrou aquilo que não esperava. Uma chucha…de bebé. Voltou a olhar para Mario que lhe sorria.
- Mario…
- Falei com o Sergio à uns dias e ele disse-me. Serás uma excelente mãe, muito galinha! Mas muitos parabéns, pequena –
Mario tocou com o dedo indicador no nariz de Ana que só o conseguiu abraçar.
- Obrigada Mario, mesmo.



Os dias passaram e, tanto Miranda como Maya já se encontravam em casa junto de Xabi. A adaptação tinha sido fácil e a menina era dos bebés mais tranquilos que alguma vez tinham visto. Ana ainda não tinha regressado ao trabalho, já que andavam a fazer reestruturações na equipa do jornal.
Assim, Ana aproveitou mais um dos seus dias de férias para visitar o seu tio Ricardo, a tia Elsa e o pequeno Sérgio que está prestes a completar dois anos de vida.
- Devia vir visitar-vos mais vezes…mas com o trabalho e tudo o que aconteceu ficou complicado.
- Oh querida, nós sabemos que não é nada fácil conciliar tudo –
tranquilizou Elsa.
- Mãe, tenho fome – Sérgio estava a brincar um pouco mais afastado e acabou por se manifestar.
- A mãe vai fazer o lanche para todos.
- Tia, eu não quero dar trabalho…
- Não dás trabalho nenhum, querida.
- Obrigada –
Elsa pegou em Sérgio ao colo, indo com o menino até à cozinha deixando Ana na sala com o tio.
- Tens falado com a tua avó?
- Não…à meses que não falamos. Ela só vê o Gonçalo, neste momento.
- Imagino que isso te faça alguma confusão.
- Já fez mais, tio. A avó sempre teve aquele feitio muito peculiar…
- Tens toda a razão –
os dois riram-se e Ricardo retomou a conversa – Ana, nas últimas semanas eu lembrei-me de uma coisa.
- O quê, tio?
- À uns anos atrás, os teus pais deixaram-me umas cartas. Para ti. Eu não sabia onde as tinha guardado, com a mudança de casa e depois de tudo com o nosso primeiro filho…eu não sabia mesmo onde estavam. Mas eu encontrei-as.
- Tio…
- Ana, há algo que precisas de saber.
- O tio está a deixar-me ansiosa.
- Os teus pais não morreram num acidente. Eu sei que te lembras daquele dia, que te lembras do incêndio. Mas não foi um acidente.

- O tio não estava lá…e não sabe – as imagens daquele dia continuavam gravadas na memória de Ana. Nada as conseguia apagar, nada a conseguia fazer esquecer o que tinha acontecido naquele trágico dia.
- Sei querida…os teus pais queriam dar-te uma vida melhor, queriam que tivesses um lar e conforto. Eu sei que não o tiveste e a culpa é minha. Eu e a Elsa devíamos ter ido buscar-te, mas sabes porque é que não o fizemos – Ana via o seu tio com alguma dificuldade a falar – os teus pais estavam a passar alguns problemas…o teu pai precisava de uns tratamentos caros. Ele estava muito doente, Ana.
- Tio…o que é que está a querer dizer?
- Eu sei que é difícil entenderes…mas eles escolheram morrer. Não era para ser daquela forma, no incêndio e assistires a tudo. Eles tinham tudo planeado, iríamos dizer-te que eles iam numa viagem longa. Mas eles quiseram terminar com tudo antes…
- Não tio…não. Não pode ser… -
Ricardo aproximou-se de Ana, segurando-lhe nas mãos. Tinha a sobrinha a chorar compulsivamente, a tremer e temia o pior – como é que eles poderiam fazer uma escolha dessas!? Como? – naquela momento e aos 25 anos de idade, Ana não conseguia encaixar nada na sua cabeça com o que o tio lhe acabara de contar. Nenhuma palavra que lhe saiu da boca fazia sentido na cabeça dela. Algo não está certo.
- Eu sei que te custa acreditar, que podes pensar que eles não pensaram em ti mas deixa-me explicar-te tudo como deve ser – Ricardo permaneceu agarrado às mãos de Ana, olhando-a. Percebeu que ela estava a tentar acalmar-se, respirando fundo várias vezes – queres que o faça agora…ou precisas de um tempo?
- Prefiro que seja agora. Isto não está a fazer sentido nenhum…
- Eu sei que não –
o tio baixou a cabeça por alguns segundos, voltando a olhar para a sobrinha – quando fizeste três anos, o teu pai descobriu que tinha um problema nos intestinos. Ele ia precisar de tratamentos muito dispendiosos e não seriam realizados em Portugal. Passou um ano sem fazer esses exames e, em conjunto com a tua mãe e o resto da família, decidiram que iriam desaparecer. Ana, ao inicio eles iam mesmo fazer os tratamentos, o teu pai quis curar-se…mas começaram a perceber que não te poderiam deixar tudo o que queriam – para Ricardo era difícil falar naquele momento. A sobrinha estava destroçada e não sabia bem o que lhe passava pela cabeça – fomos todos apanhados de surpresa no dia do incêndio. Não era suposto ter acontecido daquela forma, eles não te iam deixar assim tão depressa. E, também, diziam que não irias compreender a decisão deles mas, por causa disso, deixaram-te inúmeras cartas. Escritas ao longo do ano que o teu pai esteve doente. Com elas…pensamos que serás capaz de atar certas pontas que devem estar soltas nessa cabeça, neste momento.
- Isto…é surreal – Ana levantou-se, caminhando até à janela da sala. Conseguia ver imensos prédios à volta da casa dos tios, via crianças a brincarem no jardim ali perto, muitas delas com os seus pais – eu não consigo acreditar que eles tenham escolhido morrer. Que eles preferiram deixar-me do que…viverem comigo. Porque é que os dois tinham de tomar essa decisão? A mãe estava bem…mesmo que o pai tivesse escolhido isso, a mãe não precisava de ter ido.
- Querida…o tio adorava responder a essas perguntas mas, na verdade, eu não sei a resposta. Só eles te poderão responder…com as cartas.
- Eu não sei se as conseguirei ler… -
Ana encarou o tio, percebendo que ele estava transtornado, também, com tudo aquilo.
- Vem comigo – Ricardo foi ter com Ana, dando-lhe a mão. Caminharam pelo corredor, até que chegaram ao escritório do tio de Ana. Entraram e Ricardo dirigiu-se à secretária, pegando num grande maço de envelopes. Eram imensos e estavam todos juntos, com um elástico a mantê-los juntos – Não deves estar sozinha quando leres a primeira, mas eu não sou a pessoa que tu queres do teu lado. Vou telefonar ao Sergio – Ana ficou surpreendida pela pergunta que o tio lhe fazia mas, ao mesmo tempo, conseguiu relaxar um pouco. Percebeu, assim, que mesmo que não estivessem juntos muitas vezes o tio conhecia-a, entendia-a e sabia o que ela precisava.
Ana não conseguiu dizer nada, observando apenas o tio a pousar as cartas em cima da secretária e a iniciar uma chamada para Sergio. Não foram precisos muitos minutos para ele chegar aquela casa e, depois de Ricardo lhe abrir a porta, Sergio foi ter com Ana à secretária. Ela estava sentada, em frente da secretária olhando para o molho de cartas que tinha na sua frente.
- Mi amor… - Sergio aproximou-se da secretária, encostando-se à mesma ao lado de Ana que, de imediato, encostou a sua cabeça à barriga de Sergio – Que pasa? – Sergio percebera que ela estava a chorar, levou as suas mãos à cabeça dela, beijando-a.
- Tudo isto…a minha vida…tem sido uma mentira – Ana olhou-o e, por mais que as lágrimas lhe escorressem pela cara, conseguiu acalmar-se com a presença dele naquele espaço. Explicou-lhe, tudo tal e qual como o tio lhe tinha explicado e percebeu que Sergio estava chocado com tudo o que Ana lhe dizia – E agora tenho aquilo… - Ana apontou para as cartas, sentindo-se incapaz de as ler.
- É tudo tão…estranho e inacreditável.
- O que é que eu faço, Sergio? –
Ana colocou a sua cabeça sobre as pernas de Sergio (que se tinha sentado em cima da secretária), sentindo as mãos dele percorrerem as suas costas.
- Sei que te deve custar, e muito, mas talvez devas ler a primeira carta. Deve ser a resposta a todas as tuas perguntas.
- Eu não sei se consigo ler…eu não me sinto bem.
- Ei, olha para mim –
Ana levantou a cabeça, olhando para Sergio que levou as suas mãos até à cara de Ana – eu estou aqui, muito perto de ti. Vai custar e doer um bocado, eu sei…mas eu estou aqui. E venha o que vier depois, sabes que me tens aqui e para sempre.
- Acho que me dói o coração.
- Mas…como das outras vezes?
- Não. Dói porque…naquelas cartas estão palavras dos meus pais, eu soube coisas que me custa a acreditar que sejam verdade. Sergio…dói porque eles não podiam ter feito isto –
Ana cerrou os olhos, deixando as lágrimas escorrerem-lhe pela cara. Já não era só as suas bochechas que tinham lágrimas, as mãos de Sergio começavam a ficar molhadas e ele sem saber o que dizer.
- Não sei o que te dizer, meu amor – Sergio encostou os seus lábios à testa de Ana que rodeou o corpo dele com os seus braços.
- Não vás embora…fica mesmo aqui.
- Eu fico… -
Ana abriu os olhos, soltando Sergio. Aproximou os seus lábios dos dele, dando-lhe um pequeno beijo. Voltou a olhar para as cartas, pegando nelas pela primeira vez.
Retirou o elástico que as prendia, espalhando-as pela mesa. Podia ler-se várias coisas nos envelopes, a primeira dizia “Para quando perguntares o porquê da nossa decisão”. Nas outras lia-se várias coisas, como por exemplo: “Para quando precisares de sair à noite a primeira vez”, “Para quando tiveres o primeiro formigueiro na barriga”, “Para quando tiveres o primeiro namorado”, “Para quando estiveres a sentir-se sozinha”, “Para o dia do teu casamento” ou, ainda, “Para quando nascer o nosso primeiro neto”. Tanto Ana como Sergio estavam perplexos com aquelas cartas.
- Eles…planearam tudo – disse Ana, quebrando o silêncio. Pegou na primeira carta, um envelope verde com uma letra muito bonita ao centro. Olhou para Sergio, como que ganhando coragem para a ler. Abriu-a e começou a ler.


Ratinha, nossa querida Ana. Não sei que idade terás quando estiveres a ler isto, mas serás sempre a nossa Ratinha pequenina. Bom, é a nossa primeira carta e a mais importante de todas que te iremos escrever.
Sabemos que não vais entender nada do que fizemos, que não vais aceitar a nossa escolha e não nos perdoarás, achamos nós. É a mãe que escreve, sabes que a letra do pai não se percebe muito bem, mas ele está aqui do meu lado. É em nome dos dois esta carta.
O pai está muito doente, precisa de fazer um tratamento muito caro e nós não podemos pagar esse tratamento. Porque é que escolhemos deixar-te? Para te dar felicidade, Ana.



- Sergio…eu não consigo ler mais – Ana pousou a carta nas pernas de Sergio, olhando-o.
- Queres que leia?
- Importas-te?
- Não…já sabes que vai demorar mais um bocadinho –
Sergio conseguiu fazer com que Ana se risse um pouco. Pegou na carta e continuou a ler.



Não deves entender como é que desaparecermos da tua vida é dar-te felicidade…mas nós explicamos: ia ser difícil manter a vida que tínhamos sem o teu pai por perto. Sabes que o pai nos dá aquela estabilidade boa, o quentinho e os mimos todos os dias. Somos umas verdadeiras princesas para ele. ia ser difícil para a mãe continuar a viver sem o pai…
Acredita que não foi uma decisão fácil de se tomar, estamos a abdicar de ti…e custa-me tanto, Ana. És minha filha, és sangue do meu sangue e só de pensar que não te irei acompanhar na vida, dá-me um nó na garganta. Eu sei que estarás a ler isto com raiva do que fizemos, eu conheço-te. Mas…foi para o teu bem. O tio Ricardo e a tia Elsa cuidam de ti como se fosses filha deles, eu sei disso. Irás sentir que és, realmente, filha deles e não nossa. Não me julgues por não continuar do teu lado, foste a melhor coisa que a vida me deu, foste a melhor prenda que Deus me deu na minha existência. Mas o teu pai…é a pessoa que eu mais amo neste mundo. E eu não consigo viver sem ele.
Ou então julga-me. Estás no teu direito…eu escolhi deixar-te sem mãe. Mas, Ana, nós amamos-te mais do que tudo nesta vida e é para a tua felicidade que estamos a fazer isto.
Acho que o tio só te irá dar isto quando já fores mais crescida…e neste momento estás tu, ali, a brincar com as tuas bonecas e a pentear-lhe os cabelos. És tão bonita, filha. Quando cresceres, serás uma mulher única, verdadeira e honesta. Serás uma guerreira e uma lutadora porque já o és, minha querida filha.
Pega na carta que diz “Para o teu futuro” e abre-a, por favor.



Sergio parou de ler e Ana procurou a tal carta no meio de tantas outras. Depois de a encontrar, abriu-a percebendo que se tratava do testamento dos pais.
- Continua – pediu a Sergio.



Como vês é o nosso testamento para ti. E, sim, Ana…nós tínhamos dinheiro para pagar os tratamentos do pai. Mas estaríamos a usar o dinheiro que te pertence. Ao longo destes anos desde que nasceste, temos guardado algum dinheiro para que o uses no teu futuro. Irás aplicá-lo onde bem quiseres, desde que te faça feliz.
Perdoas-nos?
Beijinhos, Ratinha.


A mãe e o pai.




Sergio olhava para Ana e ela para ele. As lágrimas secaram e as palavras pareciam não existir para aquele momento.
- Eles…eu não consigo entender isto, Sergio. Eles tinham o dinheiro, eles podiam ter escolhido viver! Eles podiam ter escolhido viver comigo, dar-me um pai e uma mãe, estar ao meu lado em todos os momentos da minha vida, em vez de terem escrito estas cartas ridículas! Eles…eles abandonaram-me! – Sergio via Ana numa pilha de nervos, a andar de um lado para o outro no escritório – Como é que eles foram capazes de fazer isto? Como, joder! 
- Ana calma, olha o… - Sergio, no momento em que ia dizer olha o bebé vê Ana apoiar-se à cadeira, levando a mão ao peito, sentia o seu coração a parar…a cada segundo que passava o seu coração ficava mais fraco. Algo que não era normal dado o seu estado acelerado.
Olá meninas!
Pois bem...dois anos. Esta história completa hoje dois anos. E são dois anos com 57 capítlos, 356 comentários e mais de 17.600 visualizações. Eu só vos posso agradecer por tudo, por todo o carinho que demonstram por esta histórias, pelos comentários e pelas dicas.
Tenho noção que, ultimamente, possa andar uma roda viva esta história. São muitas coisas a acontecer mas eu escrevo com o que me vai na cabeça. E eu sou confusa.
PARABÉNS VEO!
   
O ano passado prometi que iam existir várias coisas a acontecer na história...e este ano vou prometer exactamente o mesmo:
- Bebés;
- Bebés;
- Casamentos;
- Casamentos;
- Doidas varridas;
- Drama!
 
Conto com vocês desse lado para mais capítulos, mais emoções na Veo?

MUITO OBRIGADA

Ana Patrícia

8 comentários:

  1. Olá

    Adoreii *_* Parabéns á Veo e a ti que és uma maravilhosa escritora :)


    Beijinhos

    A.M

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  2. Olá!!!
    Desculpa só ler e comentar agora, esse capítulo foi lindo, a começar pelo nascimento da querida Maya, o Sérgio me impressionou, as coisas que disse para a Miranda foram... Não tenho palavras para definir e depois nem se fala, sinceramente nunca o imaginei dizendo essas coisa, mas aconteceu e foi lindo. A conversa da Ana com o Mário nem se fala, quero ele para mim, um homem compreensivo, que gosta de agradar a mulher é raro ( mas ainda bem que tenho o meu U.U) A reação das crianças, mas principalmente do John me deixou boquiaberta. E essas cartas agora nem se fala, como assim eles preferiram morrer e ainda por cima num incêndio? quero o próximo para saber o que tem nas outras cartas e se a Ana vai ficar bem
    Beijinhos!!!
    Lari Lima :D

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  3. E parabéns pelos dois anos da Veo, desejo todo sucesso do mundo para você e que você continue fazer o que faz de melhor, escrever para essa fic, que eu não sou besta ;) .
    Mais uma vez parabéns!!!

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  4. Fantástico...

    Quero mais... Tou super curiosa para ver o próximo...

    Continua... Cada vez tá melhor...

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  5. Holla :)
    Eu já tinha lido no dia em que a fic celebrou um ano, mas só hoje é que tive tempo para comentar :)
    Primeiro que tudo...parabéns á Veo e espero estar daqui a um ano a celebrar mais um aniversario ;)
    Amei o nascimento da Maya *.*
    Agora sobre a parte final do capitulo...bem!...nunca pensei que os pais da Ana foram capazes de se matarem :O
    Tadita da Ana :/
    Espero que ela recupere :/
    Próximo besito

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  6. Olá!

    Por onde começar? Nem sei bem, esta fic gerou-me um misto tão, mas tão grande de emoções que nem tu podes imaginar, eu já disse várias vezes que sou uma sensível do pior, chorei tanto mas tanto a ler isto, juro que houveram dias que sentia o meu coração apertado. És tão boa naquilo que fazes, eu juro que isto é tão delicioso, amo embrenhar-me assim nas histórias, és maravilhosa e obrigada, muito obrigada por isto!

    A história em si, chocou-me, chocou-me mesmo o facto de ela ter estado num orfanato, e de ter conseguido ser o que é, impressiona-me a força da Ana, e ao mesmo tempo da Miranda. A maneira do Sérgio querer o número, que piada, realmente é mesmo à Ramos, ahah. Eu não vou estar aqui a falar de tudo porque senão fica um testamento horrivel que nem irás ter paciência de ler e nem precisas, só quero que saibas as partes que mais me chocaram.

    O Mario, bateu tanto aqui no fundo do meu coração,..nem uma ponta de ciume do Sérgio? e a Mia? Nada de nada da parte da Ana?! Estava tudo assim tão bem?! Foi por isso que parei por uns tempos se não já a tinha devorado toda, fiquei seriamente confusa e não queria de todo a Ana com o Mário e partiu-me o coração, já me estava a habituar à nova realidade quando tudo desmorona de novo, eles acabam porque ela o ama a ELE, o Sérgio. Irradiei felicidade, e ela estar grávida de novo faz-me ter esperança neles de vez! A Miranda e o Xabi, são perfeitos, a Maya é linda linda, vai ser tão amada naquela família. Ah e quase me esquecia, a Pilar e a Esperanza, jasus, que turbilhão de sentimentos!

    Este capítulo chorei de felicidade e de tristeza, pura tristeza, como é que os pais se mataram?! Não há bem nenhum que isso possa fazer a um filho, espero que o Sérgio esteja sempre com ela, será que ela não pode ter gravidezes sossegadas?! Espero que não aconteça mais nada de mal, amo-os, muito mesmo!

    Mais uma vez, obrigada por isto, sabe-me tão bem ler coisas tuas! Espero o próximo muito muito rápido, muitos, muitos beijinhos.

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  7. Ola : )
    Adorei como sempre! Bem que revelações que aqui fizeste :O Não estava mesmo nada à espera!
    Estou curiosa para ler o proximo ;)
    Beijinhos
    Ritááá

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  8. Olá!
    Bem...estou tão à toa com este capítulo! Uau!
    O início foi lindoooo! Consegui imaginar na perfeição a felicidade que iam naquele quarto de hospital quando a Maya nasceu! Que momento mais lindo, Que família mais feliz!!
    Depois aquele momento com o Mário também foi bonito! Eu a pensar que ele ainda ia estar chateado/magoado e que ia reagir mal à visita da Ana mas não, foi um querido!
    Agora esta parte final...meu deus! Ainda nao consigo acreditar! Como é que eles se mataram?? Os pais é para estarem ao lado dos filhos! O que interessa, o que eles deixaram?? O amor deles ou mesmo só da mãe era mais importante!! (Estou como ela, em estado de nervos!!) E agora o que é que lhe aconteceu? Espero que seja só um susto!
    Bem, só mais uma coisa...estes dois capítulos que li de seguida, serviram para ter ainda mais a certeza de uma coisa: o lugar da Ana é mesmo ao lado do Sérgio!! Com o Mario só amizade! Agora não tenho duvidas!
    Próximo!!!
    Beijinho,
    Sofia

    P.S.: Como é que eu estive tanto tempo sem ler as tuas fics? Foi um crime. Isto é tão bomm, que tanto tempo sem ler...foi mesmo um crime! Parabéns à Veo pelos dois anos! E principalmente, parabéns a ti!

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