- É muito
parecido contigo, querida – disse Palmira, visivelmente emocionada naquele
momento.
Ana tinha a
sua avó e o seu irmão a visitá-la, em sua casa, e haviam imensas coisas a
acontecer na sua cabeça. Se, por um lado, se sentia feliz por os ter ali a
conhecer um pedaço da sua vida, por outro não sabia o que aquilo significava.
Não estava habituada a ter a sua família de sangue tão próxima, não estava
acostumada a tê-los no seu dia-a-dia e sempre considerou não precisar deles.
Na verdade,
Ana sabia que isso não era verdade. Cada vez mais tem sentido a necessidade de
os ter por perto, de os conhecer melhor e criar, de vez, laços com a sua
família biológica.
- A avó não
diga isso muitas vezes...o Sergio começa a ficar com ciúmes – todos se riram e
Palmira olhou a neta.
- Vocês vão
ser muito felizes, querida. É de louvar tudo o que tens conquistado à tua
maneira...depois de tudo.
- Escolhi
viver assim, avó. Estou a caminho dos 25 anos e acho que não trocaria nada do
que tenho. Sou feliz assim...
- Isso
nota-se – Gonçalo, que se mantinha mais calado, manifestou-se fazendo com que
Ana o olhasse – nota-se mesmo, Ana. Tu foste habituada a estar com os pais, tu
sentiste o que era o amor deles e, mesmo perdendo-os e tudo o que se sucedeu
depois – Gonçalo fez uma pequena pausa acabando por fazer com que, tanto Ana
como Palmira se emocionassem – tu escolheste o caminho mais difícil para o
sucesso. Podias ter-te tornado uma marginal mas não o fizeste...e isso é algo
que me deixa orgulhoso de ti, enquanto teu irmão mais velho. Podemos não ter
essa relação perfeita de irmãos...mas eu garanto-te que tenho muito orgulho em
ti.
Ana não
esperava aquelas palavras de Gonçalo. Esperava que elas um dia surgissem, que
um dia fossem capazes de dizer tais coisas um ao outro. Nunca pensou que
chegassem tão depressa. Sentiu-se incapaz de dizer qualquer coisa ao irmão.
Agradeceu-lhe...mas não conseguiu retribuir nada.
- Dani ajudas
a tia?
- Claro,
claro! – Daniela levantou-se do sofá, indo com Ana em direção do quarto de
Vicente.
Como
combinado, a sobrinha de ambos tinha ido passar uns dias a casa de Ana e
Sergio. Queriam dar a possibilidade a Daniela para se puder aproximar do primo,
para se sentir próxima deles lá em casa ao ajudar. Não poderia ter sido melhor
ideia. Para além de Ana não estar tanto tempo sozinha com Vicente quando Sergio
estava nos treinos e nos jogos, Daniela trouxe uma boa disposição constante
aquela casa.
- Porque é
que lhe dás banho de manhã? Eu só tomava à noite...pelo menos foi o que disse a
minha mãe.
- O Vicente,
se lhe der banho à noite, fica muito agitado e não consegue adormecer tão
depressa. Deve pensar que o estamos a preparar para o dia. A pediatra aconselhou
a mudarmos os banhos para de manhã e tem resultado.
- A sério?
Então é por isso que ele dorme a noite toda?
- Podemos
dizer que sim.
- Ana, ele
não precisou de ir mais ao médico por coisas graves, pois não?
- Não
querida. Só vai mesmo para a pediatra ver se ele está a crescer bem.
- Eu fiquei
muito assustada sabes? – Ana sabia que, quando conversava com Daniela, havia
sempre perguntas. E os seus pensamentos profundos – ele era tão pequenino e
teve de ficar tantos dias no médico. Eu fiquei assustada por causa do que
aconteceu com os teus outros bebés.
- Eu também
tive medo, pequenita – Ana olhou-a, reparando que Daniela olhava super atenta
para Vicente enquanto ela lhe dava banho – mas o Vicente é um bebé forte. Podes
passar-me o gel de banho, por favor?
- Sim –
Daniela olhou para a cesta dos produtos de Vicente, retirando de lá o gel de
banho – queres que ponha onde?
- Um
bocadinho na tua mão – Daniela, muito espantada, olhou para Ana – queres ser tu
a passar o gel pelo corpinho dele?
- Posso?
- Claro.
- Ai,
obrigada – antes de fazer o que Ana lhe pediu, Daniela ainda a abraçou – eu
estou a adorar estar aqui com vocês.
- E nós a
adorar termos-te cá, princesa – Ana deu-lhe um pequeno beijo na cabeça e
Daniela ajudou-a com a tarefa de dar banho a Vicente – vamos precisar de uma
toalha e a tia não tem aqui nenhuma – constatou Ana.
- E onde é
que está?
- Se calhar
no quarto da tia...podes lá ir ver, por favor?
- Sim, eu vou
– saindo disparada do quarto de Vicente, Ana acabou por pôr Vicente em cima do
trocador de fraldas.
- Como é que
isto vai? – sobressaltou-se com a voz de Sergio, acabando por sorrir –
desculpa, não te queria assustar – Sergio foi ter com Ana, rodeando a cintura
da noiva com os seus braços – que sorriso lindo é esse?
- Não tenho
motivos para não sorrir, Sergio. Está tudo a correr tão bem, eu sou tão feliz!
- Somos dois,
rainha minha – aproveitou para depositar um beijo no pescoço de Ana, agarrando
a mão de Vicente – então...estás assim tão apaixonada por ele que petrificaste?
- Não – Ana
riu-se, agarrando a mão de Sergio – a Dani foi buscar uma toalha ao nosso
quarto. Não tinha aqui nenhuma.
- Ela está a
gostar de estar cá, não está?
- Está a
adorar! Ela própria acabou de me dizer.
- Fico feliz
por dar essa felicidade à minha sobrinha.
- Oh tio!
Assim a Ana não consegue despachar o Vicente! – os dois foram surpreendidos
pela entrada de Daniela no quarto que, depressa entregou a toalha a Ana – vá,
larga-a.
- Olha, olha.
Estás muito mandona, minha menina! – enquanto Ana limpava Vicente e o preparava
para se vestir, Sergio aproveitou para pegar em Daniela ao colo e andar com ela
como se de um saco de batatas se tratasse, pelo quarto e até pelo corredor.
Aqueles
momentos, todos aqueles segundos e todos os minutos que passavam juntos eram
especiais.
- Como é que
tu não estás nervosa? – perguntava Miranda.
- Não sei –
respondeu Ana, sorrindo – acho que estou anestesiada.
- Nota-se!
Estás toda sorridente, tranquila...nada normal de quem vai casar amanhã! Até eu
estou mais nervosa.
- Mas tu és a
madrinha...as madrinhas estão sempre mais nervosas – Ana riu-se, olhando para o
cenário que tinha na sua frente – está bonito, não está?
- Está lindo,
Ana – tinham acabado de organizar todas as mesas para a recepção dos
convidados.
Ana e Sergio tinham escolhido casar em Sevilha. Não só
por ser a terra natal de Sergio mas por se terem apaixonado pelo sitio que
escolheram para o casamento. E, no mês de Julho, o tempo só contribuía ainda
mais para que aquele fosse o sitio para o acontecimento.
- Só estou
preocupada com uma coisa...
- O quê? – as
duas começaram a dirigir-se para o quarto que tinham naquela quinta
maravilhosa.
- Saber se as
cadeiras chegam todas a tempo!
- Mas aquelas
que estão lá fora não chegam?
- Eu não sei,
Miranda...eu não as contei todas, mas eles dizem que faltam.
- Relaxa que
todos os convidados vão ter um sítio onde sentar o rabinho!
As duas
riram-se à gargalhada, abrindo a porta do quarto. Iam dormir juntas, Ana não
dispensava passar aquela noite com a sua madrinha de casamento. Assim como não
dispensava a presença de Vicente no seu quarto. O menino já dormia há algum
tempo e os seus cinco meses tornavam-no cada vez mais irresistível.
- Vê lá se
queres um babete!
- Sim, sim,
sou completamente apaixonada pelo meu filho!
- Deixa lá
que eu também ando assim pela minha Maya.
- Como é que
a deixaste ir dormir com o pai?
- O Xabi
precisa de companhia...ele vai sentir a minha falta – as duas riram-se,
acabando por se deitarem – eu estou muito feliz por ti, Ana.
- Obrigada,
meu amor – Ana não resistiu e abraçou-se a Miranda, deixando a sua cabeça sobre
o peito da amiga – tinha saudades de dormir contigo.
- Oh minha
bonequinha – Miranda apertou-a, dando-lhe um beijo na testa – vamos dormir que
já só temos seis horas de sono pela frente.
- Antes de
nos acordarem e começar a loucura dos cabelos, maquilhagem e vestidos.
As duas
riram-se, acabando por adormecer muito depressa. O cansaço dos últimos dias
começava a ser sentido.
- Então, está
tudo como querias? – a voz de Gonçalo sobressaltou Ana que supervisionava o
local onde iria decorrer a cerimónia.
- Está. Ainda
mais bonito para dizer a verdade... – olhou para o irmão reparando que ele já
estava pronto – e tu também estás muito bonito.
- Não é todos
os dias que a irmã mais nova casa... – Ana abraçou-o, sentido as mãos de
Gonçalo apertarem-na contra si – parabéns, miúda.
- Obrigada,
Gonçalo – olhou-o – sabes que eu só comecei a ser boa com palavras e
sentimentos depois de conhecer o Sergio. Em tempos, acho que o convite que te
fiz em levares-me ao altar seria o suficiente para eu te dizer que gosto muito
de ti – Ana levou uma das suas mãos à cara do irmão sorrindo – mas hoje...hoje
eu sei que preciso mesmo de te dizer que gosto imenso de ti. E agradecer-te por
todos os esforços que fizemos ao longo destes cinco meses para hoje termos uma
relação de irmãos.
- Não
precisas de me agradecer. Ambos sentimos que nos faltava isso e foi de ambas as
partes. Reconstruímos a nossa relação e eu acho que foi o mais importante. E
quero agradecer-te novamente por me dares a honra de te levar ao altar,
juntamente com a Miranda.
- Essa
parte... ela não sabe.
- Como assim
não sabe?
- Eu ainda
não lhe consegui dizer, Gonçalo. Achas que...podes fazer com que ela não entre
juntamente com as damas de honor e se junte e a ti?
- Fica
descansada que vou tratar disso – Gonçalo deu um beijo na testa da irmã,
voltando a olhá-la – precisas de mais alguma coisa?
- Não, não.
Vou ficar por aqui mais um bocadinho para, depois, voltar ao quarto e à
confusão toda da roupa.
- Boa sorte
com isso, mana!
- Obrigada – os dois riram-se e Gonçalo dirigiu-se ao
interior da quinta. Ana contemplou a vista que tinha à sua frente por mais
algum tempo até que se dirigiu ao seu quarto para se preparar.
- Afinal não
sou a única ainda em robe! – disse Ana, chegando ao seu quarto. Miranda ainda
estava de robe, assim como as suas damas de honor: Paqui, Miriam e Daniela.
Sim, Ana tinha escolhido a família de Sergio para suas damas de honor. Sendo
que Miriam era, ainda, a madrinha de casamento de Sergio.
- Estávamos
todas à tua espera – começou por dizer Paqui.
- Não
queríamos que perdesses a oportunidade de nos veres nas nossas sexys lingeries
– disse Miranda, fazendo com que todas se rissem à gargalhada. Aproveitou o
momento para dar um abraço apertado à amiga.
Depois, sim,
o jogo da maquilhagem, cabelos e vestidos começou.
- Como é que
andarão as coisas pelo hotel dos rapazes? – perguntou Miram.
- De certeza
que o tio está a dormir – respondeu Daniela, fazendo-as rir – não se riam,
olhem que é capaz de ser bem verdade! – a menina parecia bastante confiante com
o que dizia. Era ela quem olhava por Vicente, já que estava mais perto dele –
também vai ser o batizado dele, não é?
- É sim, Dani
– respondeu-lhe Ana.
- Por falar
nisso – começou Paqui, fazendo com que Ana olhasse para ela – o padrinho do
menino já chegou.
- A sério? E
trouxe a sua acompanhante? – Ana referia-se à namorada de Mario.
- Trouxe.
- Ah boa! Ele
conseguiu convence-la!
- Queres que
o vá chamar?
- Não se
importa, Paqui?
- Claro que
não, querida – depois de dar um beijo na testa de Ana, Paqui dirigiu-se ao
quarto onde estava a família de Ana, alguns familiares seus e Mario com a
namorada – padrinho do meu neto? – Mario, de imediato, olhou para Paqui
sorrindo – a mãe da criança chama-te. E à tua companheira também.
Mario
entrelaçou a sua mão à da namorada, encaminhando-se a Paqui.
- Bom dia,
Paqui. Quero apresentar-lhe a Sara, a minha namorada. Sara é a mãe do Sergio.
- Muito gosto
– as duas cumprimentaram-se com dois beijos, Mario também cumprimentou Paqui e
os três seguiram em direção do quarto de Ana.
- Vejam só se
não é o meu parceiro de baptismo que chegou! – dizia, animada, Miranda – estás
tão nervoso quanto eu?
- Tu és capaz
de estar mais. Afinal não és só madrinha do Vicente! – Mario cumprimentou-a,
assim como Sara. O rapaz aproveitou, ainda, para apresentar a namorada a todas
as presentes que não a conheciam e, antes de se dirigir a Ana que estava na
casa de banho, pegou em Vicente ao colo – olá noiva jeitosa!
- Mario! –
Ana não conseguia, nunca, esconder a felicidade ao ter Mario por perto. Por
todo o passado que têm, Ana irá sempre considerá-lo um dos seus melhores amigos
– estás tão bonito! – os dois olhavam-se através do espelho, já que Ana acabava
de se maquilhar.
- Já
tu...isso não está estranho?
- Olha, isto
ainda está em construção, sim?
- Mas vou ter
direito a um beijo ou não?
- Não sei se
mereces!
- Já viste
como é que a tua mãe trata o padrinho? – Ana viu-o olhar para Vicente e o
menino a rir-se – ah pois! Ela é má para mim!
- Sim, sim.
Não te queixes muito – virou-se para Mario que, ao vê-la de robe aberto tapou
de imediato os olhos com uma das suas mãos – oh Mario... – Ana riu-se, acabando
por fechar o robe já que, por baixo, apenas trazia a lingerie – não é nada que
nunca tenhas visto!
- Tudo bem,
mas agora és uma mulher quase casada, eu vou ser padrinho do teu filho e estou
muito apaixonado pela minha namorada. Já estás composta?
- Já, já – os
dois riram-se e Mario olhou-a – és tão parvo – Ana aproveitou para o abraçar,
dando-lhe um beijo demorado na bochecha – obrigada por tudo, Mario.
- Eu não faço
nada de especial.
- Podes crer
que fazes e fizeste. Foste, em tempos, um homem maravilhoso comigo e...eu peço
desculpa por te ter colocado no meio de tudo. Por ter...começado uma relação
contigo quando a minha com o Sergio estava tão instável.
- Ei, shiu,
vá – Mario puxou-a para junto dele, dando-lhe um beijo na testa – por mais que
tenham sido tempos maravilhosos a teu lado, eu sempre soube que era com o
Sergio que irias acabar por ficar. Era mais que óbvio que a vossa relação iria
voltar ao que era – Ana afastou-se de Mario, olhando-o – mas foi ótimo estar
contigo e puder fazer parte da tua vida agora.
- E do meu
pequenino.
- Que é o meu
pequenino! Não te livras de o deixares vir passar, pelo menos, um fim de semana
comigo quando ele for mais crescido.
- Todos os
quantos vocês quiserem – Mario voltou a beijar-lhe a testa, olhando-a de
seguida – a Sara?
- Está ali no
quarto.
- Vamos lá
para dentro, então. Ela não tem ciúmes, pois não? Acho que nunca falamos sobre
isto...
- A Sara sabe
de tudo o que aconteceu entre nós. No inicio tinha um bocadinho – Mario riu-se,
olhando-se ao espelho – mas ela sabe que eu vejo-te, agora, como uma irmã e a
ela como a futura senhora Suaréz.
- Eu fico
muito feliz por vocês, Mario.
- E eu por
vocês, Ana.
- Mas porque
é que ele ainda não chegou? – perguntava Ana a Paqui, já que Sergio ainda não
tinha chegado.
- Não sei,
não sei. Estamos fartos de lhe ligar e não nos atende – esclareceu Paqui.
- Fica
descansada que ele não desistiu de casar contigo – disse Miranda, rindo-se. Ana
não se conseguia rir com a situação, estava nervosa. Começava a questionar
tudo... o telemóvel de Paqui tocou e, por momentos, Ana assustou-se ao ver o
nome de Sergio aparecer no ecrã.
Afastou-se,
ficando por momentos sozinha. Olhava o seu boquet, olhava a relva e os arbustos
que por ali se encontravam. Reparava que o fotografo ia captando cada um dos
seus convidados e se começava a dirigir para aquela zona.
- Apanharam trânsito,
mas já cá estão – avisou Paqui, fazendo com que Ana sorrisse de imediato – o
noivo chegou! – gritou, visivelmente aliviada.
- Estou aqui,
madre! – Ana sobressaltou-se com a voz de Sergio. Estava por detrás do arbusto
onde ela estava – onde é que anda a minha noiva?
- Eu estou
aqui, Sergio – acabou Ana por dizer, rindo-se – vai lá para o teu sitio...
- Queres
assim tanto casar comigo?
- Claro que
quero! Tu não me consegues ver pois não?
- Não, fica
descansada. Não demores - Ana sorriu, virando-se para Paqui e Miranda.
- Podemos ir
– afirmou – estou bem?
- Estás
linda, minha querida – disse Paqui, abraçando Ana.
- Melhor não
poderias estar – Miranda aproximou-se de Ana, olhando-a – vou ter de te dar o
braço?
- O Gonçalo
já te disse?
- Já. Porque
é que não o fizeste tu?
- Oh, eu não
sabia como o fazer...
- Tonta – Miranda deu-lhe um beijo na testa e, depois
de algumas fotografias, começaram a dirigir-se para o local onde se iniciava a
passadeira de pétalas de rosa branca para que Ana caminhasse sobre elas até ao
altar.
Ana jamais
irá esquecer o dia do seu casamento. O momento em que os seus olhos viram
Sergio, o momento em que as suas mãos se juntaram as dele para nunca mais se
separarem naquele dia, o momento em que viu o seu filho sereno no colo do
padrinho...tudo aquilo parecia um verdadeiro conto de fadas.
Emocionaram-se,
riram-se até ao momento em que começaram a sentir-se nervosos. Sentiram-se
nervosos no momento em que tinham de dizer sim um ao outro. Não se tratava de
ser difícil de o dizer, mas sim pela responsabilidade que esse sim traz. Para
ambos, assumirem esse sim é para a vida. Ambos o disseram, olhando intensamente
um para o outro. Jurando que seria eterno.
Seguiu-se a
cerimónia do baptizado de Vicente. Um momento todo ele muito emotivo. Ana não
conseguia esquecer todos os maus momentos que tinha passado para ter conseguido
aquele bebé, não conseguia deixar para trás o seu passado num dia como o de
hoje e as lágrimas eram a prova disso.
- Estás bem?
– perguntou-lhe Sergio, baixinho, agarrando-lhe a mão.
- Sabes... –
Ana olhou-o – é difícil esquecer tudo o que já passamos, os dois bebés que eu
perdi antes de termos o nosso filho...hoje é daqueles dias que nos lembramos
disso tudo, não é?
- É. Mas é um
dia feliz...
- Um dia
muito feliz, Sergio – Ana levou a sua mão à cara do, agora, marido dando-lhe um
curto beijo nos lábios.
- Nós
gostaríamos de deixar algumas palavras – começou por dizer Miranda, capturando
a atenção de Ana e Sergio, assim como de todos os que ali estavam – posso
começar eu? – perguntou a jovem a Mario que prontamente lhe acenou que sim com
a cabeça – bom, como a maioria dos presentes sabem eu conheço a Ana desde quase
sempre. Posso dizer que a conheço desde que as nossas vidas recomeçaram.
Passamos por muita coisa juntas, tanto boas como más. E eu sei que quero ficar
com ela para muitos mais momentos desses. Tenho a honra de ser a sua madrinha
de casamento e a madrinha do filho dela...não, não queiram estar no meu lugar
porque ela é muito exigente para quem exerça este papel – todos se riram e
Miranda olhou para a amiga – obrigada por seres uma irmã espetacular, por todas
as vezes que me abriste os olhos e por todos os sorrisos que partilhamos. Tudo
farei para te proteger a ti, sempre o fiz mas, agora, irei fazer de tudo para
proteger o meu afilhado. Obrigada Ana.
- Então e eu?
– perguntou muito rápido Sergio.
- Oh, sim.
Obrigada Sergio por teres contribuído para tudo o que ela é hoje, sobretudo por
a fazer feliz. Mas não fiques convencido! – Miranda riu-se, olhando para Mario
que tinha Vicente nos seus braços – agora é a tua vez.
- Bom, eu vou
ser breve...temos de ir comer, não é? E o Vicente está a ficar com fome – Mario
olhou para Ana e Sergio – quem diria que eu viria a estar no vosso casamento e
a ser padrinho do vosso filho...isto é a prova que a vida dá imensas voltas,
que tudo pode mudar mas quando uma amizade é verdadeira...essa amizade
mantém-se. Vocês sabem que gosto imenso de vocês, que tenho um carinho muito
especial pela Ana e que a vejo como minha irmã. Espero que sejam muito felizes,
junto do meu primeiro afilhado de sempre, mas que lhe façam um irmão. E que
depois os deixem lá ir a casa e isso...pode ser? – tanto Ana como Sergio
assentiram que sim com a cabeça – obrigado. E é isto, sejam felizes e prometo
que irei cumprir com todas as minhas funções de padrinho.
Partilharam, ainda, alguns minutos naquele sitio
cumprimentando cada um dos convidados e, só depois, se dirigiram ao local onde
iriam decorrer as refeições e as danças. Ana e Sergio foram, ainda, tirar
algumas fotografias os dois, aproveitando o momento para estarem mais sozinhos
e namorarem um bocadinho naquele que era o dia deles.
- Será que
posso ter a vossa atenção por uns minutos? – começou por pedir Sergio, fazendo
com que todos o olhassem. Ana não sabia o que ele tinha programado para este
momento...algo que a deixava ansiosa – primeiro, gostava de agradecer a vossa
presença. É muito bom puder partilhar este momento não só com as nossas
famílias, como com os nossos amigos – Sergio elevou o copo de champanhe que
tinha na mão e todos os convidados fizeram-no também – em segundo, quero
agradecer-te a ti Ana – Sergio olhou-a, deixando-a um pouco envergonhada –
obrigado por fazeres de mim o homem mais feliz do mundo, por estares a meu lado
mesmo depois de tudo o que já se passou entre nós – Sergio deu-lhe um beijo na
testa, retirando do bolso interior do seu casaco um envelope. Ana
conhecia-o...fazia parte dos envelopes que os seus pais lhe tinham deixado –
por último, quero partilhar uma carta com todos vocês – Sergio abriu o
envelope, começando a ler.
Não sei qual o momento do dia em que escolheste ler
esta carta.
Não sei se é de manhã quando estás mais nervosa,
ansiosa, aflita até. Não sei se é a meio da tarde, depois da cerimónia ou à
noite. Não sei, Ana.
Mas sei o que te quero dizer. Que leias esta carta
com o teu, agora, marido. Está ao teu lado? Boa, leiam os dois.
Chegaram a uma nova fase das vossas vidas. À fase
onde, muitos casais, entram na rotina, entram na loucura de se deixarem
influenciar pelo efeito casamento. Aquele efeito que acaba com as relações.
Vocês não poderão ser assim. Escolheram casar por alguma razão. Escolheram ser
um do outro. Porque se amam. Já entregaste a carta dedicada ao homem da tua
vida ao teu marido, Ana? Já o deves ter feito...e hoje são marido e mulher.
Irás deixar de usar o nosso apelido no fim do nome
para usares o dele, para seres completamente dele. Irás deixar de ser uma
Moreira para seres dele. E eu não poderia ficar mais feliz por ti. O pai
também...mesmo que seja difícil para ele expressar-se nesta fase. Anda mais
esquecido, não sei o que se passa com ele...
Não te preocupes, esquece. O que importa é o teu
dia. O vosso primeiro dia enquanto marido e mulher. Qual é a sensação? Já
passou o friozinho na barriga dos nervos? Já o viste chorar? Ele chorou...eu
sei, assim que te viu andar na direção dele, chorou. E, sabes porque? Porque te
ama e ansiava por este dia desde o primeiro em que se conheceram.
Na vida, podem ter tido diversos amores, diversas
relações. Mas nenhuma chegou ao ponto da vossa. Estão casados, planeiam ter um
futuro a dois. Ou a três, quatro...com os vossos filhos. Queríamos estar
presentes neste dia especial para ti, Ana. Acredito que tenha sido difícil
organizares tudo e faltar-te dois lugares na lista de convidados. Faltarem dois
lugares na mesa dos noivos. Espero que os tenhas ocupado. Com aqueles que
consideras serem pessoas especiais para ti. E que não seja apenas no casamento.
Que o faças para a tua vida. Se essas duas pessoas são assim tão especiais para
ti...fica com elas para a vida.
Ao teu marido: está bonita a minha filha, não está?
Mais bonita do que qualquer dia que a tenhas visto, aposto. E ela está assim
para ti. Porque te quer surpreender com as escolhas que faz, porque quer ser a
mulher mais bonita do mundo para ti. És um sortudo que nem te conto...fá-la
feliz. Sejam felizes os dois. Unidos, agora, pelo casamento.
Espero que o dia culmine com um beijo apaixonado.
Com o momento em que se entregam um ao outro a primeira vez como casados e que
sintam que nada mudou. Que continuam a ser exactamente os mesmos, que sejam
para sempre assim. E, amanhã, têm o primeiro dia do resto das vossas vidas.
Lado a lado, construam o vosso amor ou continuem a construi-lo. Será ele que
vos vai manter firmes.
Desejamos as maiores felicidades para vocês.
Façam-se felizes um ao outro.
E viva os noivos!
Um grande beijo, dos teus pais.
Sergio olhou
para Ana que, num misto de choro e sorrisos o olhava.
- Esta carta
pertence, como perceberam, aos pais da Ana. Achei que seria importante tê-los,
desta forma, no nosso casamento. Obrigado – todos os convidados aplaudiram e
Sergio sentou-se ao lado de Ana – espero que...
- Foi muito
bom, Sergio – Ana levou as suas mãos à cara do marido, beijando-o.
O dia esteve sempre envolto num misto de emoções.
Houve sempre uma felicidade enorme estampada no rosto dos dois. Houve dança,
muita dança. Ana sentia-se a mulher mais feliz do mundo. E Sergio, o homem mais
feliz que a acompanhava num mundo só deles. Não poderiam ter terminado o dia do
casamento de ambos da melhor forma sem ser com um fogo de artificio mágico, que
cobria os céus preenchendo-o com cor. Foram muitos os beijos que Ana e Sergio
trocaram, eram os primeiros enquanto marido e mulher.
- Vá, Ana!
Não podemos andar sempre a ligar à Miranda, não é? – perguntou Sergio, olhando
para a mulher que terminava a chamada com a amiga.
- Eu sei, eu
sei...mas eu só precisava de saber se ele estava bem...
- É claro que
está. Tem a madrinha, o Xabi e os meninos...mais mimado não poderá ser. Vamos
aproveitar os nossos sete dias de lua-de-mel, por favor?
- Tens razão,
tens razão. Desculpa.
- Vou buscar
o nosso almoço! E tu livra-te de ligares novamente à Miranda.
- Achas que
eu ligaria duas vezes seguidas? – Ana olhou-se, percebendo que Sergio se ria –
ai tu achas!
- Claro que
acho – antes de se dirigir ao bar da praia, Sergio beijou a mulher –
lua-de-mel, sim?
- Sim! – os
dois riram-se e Sergio ausentou-se.
Ana aproveitou
para fotografa aquela paisagem que tinha na sua frente, fazendo um pacto
consigo mesma e as redes sociais.
Estamos desligados de tudo até
sairmos deste pedaço de paraíso.
|
A partir
daquele momento, Ana iria dedicar-se apenas a ela e Sergio, à lua-de-mel e só
se telefonar de vez em quando para Miranda. Estavam no México, tinham de
aproveitar os sete maravilhosos dias a sós. Os sete dias enquanto casal, um
casal que se casou.
Olá meninas!
Ao fim de 65 capítulos, 384 comentários e mais de 22.800 visualizações do blog eis que chegou o dia que completa três anos de fic! Pois é, a Veo completa hoje o seu terceiro aniversário. Avisei, há uns tempos, que a fic iria entrar nos seus últimos capítulos mesmo que não soubesse quando seria o fim. Isso mantém-se. A Veo irá acabar, mas eu não sei quando.
Prometo que este não é o último e que, pelo menos, até ao 70 eu já tenho capítulos programados (só me falta escrevê-los). A partir de agora sei que a história irá entrar numa nova fase e isso ainda me irá dar alguns capítulos para escrever.
Espero que tenham gostado deste capítulo, fico a aguardar os vossos comentários com as vossas opiniões. E obrigada a quem, ao longo destes três anos, esteve aí desse lado a acompanhar a história e a quem ainda não desistiu dela.
PARABÉNS VEO!
Beijinhos,
Ana Patrícia.
PS: Já repararam no novo fundo? Que acham? Novo ano, novos fundos em todos os blogs. Não só este já está alterado como os das outras fics ;)