sábado, 2 de abril de 2016

67: “Aquela casa será sempre minha”

 Ana, depois de deixar Sergio e Vicente em casa, decidiu ir até casa do seu irmão. Precisava de falar com ele e com a sua avó sobre o que tinha acabado se saber. Por breves instantes, na sua cabeça havia a possibilidade de serem eles a querer comprar a casa…mas também não queria acreditar nisso por ser uma hipótese tão estranha.
- Como assim? Se a casa não está para venda como é que a querem comprar? – perguntava Palmira.
- Não faço ideia – Ana andava de um lado para o outro no meio da sala, estando irritada com tudo aquilo – e o mais estranho é ser alguém de cá! É alguém de Madrid que quer comprar aquele terreno!
- Tem calma, Ana – pediu Gonçalo, fazendo com que a irmã se sentasse no sofá – temos de ir por partes. Tens o contato dessas pessoas, certo?
- Sim…mas acho que não tenho coragem para lhes ligar. O que é que eu vou dizer?
- Tu é que és a jornalista! Devias estar à vontade para essas coisas – Ana riu-se perante a afirmação do irmão, acabando por retirar o telemóvel da mala.
- É isso…eu sou jornalista, não é? – tanto o irmão como a avó acenaram afirmativamente com a cabeça e Ana depressa iniciou uma chamada para o número que Salvador lhe tinha dado. Não demorou muito a que atendessem e colocasse a chamada em alta voz – Juan?
- Sim, quem fala?
- Daqui fala Ana Ramos. Eu sei que é advogado em Madrid…correto?
- Sim, exatamente. Há algo que possa fazer por si?
- Eu sou a proprietária da casa em Portugal que está a tentar comprar para os seus clientes.
- Então estou a falar com a Ana Moreira, agora esposa do senhor Ramos.
- Exatamente – Ana olhou para o irmão – eu gostaria de saber se há alguma possibilidade de nos encontrarmos para esclarecer toda esta situação. A casa não se encontra à venda, nem penso colocá-la à venda…
- Claro que sim. Podemos agendar uma reunião no meu escritório e tratar pessoalmente desse assuno. A proposta que os meus clientes fazem é bastante flexível e estarão dispostos a qualquer tipo de negociação que queria fazer.
- Acho que não me entendeu – Ana levantou-se, caminhando pela sala – a casa não será vendida. Seja qual for a proposta dos seus clientes. Aquela casa será sempre minha, neste momento ao cuidado do Salvador com quem tem falado.
- Podemos então encontrar-nos amanhã? E eu mostro-lhe toda a proposta. Só assim poderá ter a certeza que não vende.
- Eu encontro-me consigo para colocar um fim a isto. Pode enviar-me a morada do seu escritório, por favor?
- Claro.
- Muito obrigada – Ana desligou a chamada, sentando-se de novo – não consigo compreender esta insistência, juro.
- O sítio onde vocês moravam é lindo, Ana – comentou a avó – talvez alguém se tenha identificado com o local e queira um escape de férias.
- Algo que me diz que há mais qualquer coisa por detrás.
- Só amanhã saberás – interveio Gonçalo – queres que vá contigo?
- Acho que não…ou acabo por ir sozinha ou com o Sergio. Mas…achas que me podes fazer um favor?
- Claro, diz.
- Podes falar com o tio Ricardo? Ele ultimamente anda estranho comigo e, se calhar, se falasses tu com ele poderia ser que ele soubesse de alguma coisa…
- Claro. Eu passo lá por casa dele a ver se consigo saber de alguma coisa.
- Obrigada, Gonçalo – Ana ainda ficou algum tempo em casa do irmão, esperando para ver o seu sobrinho acordado. O menino, com os seus dois anos e meio, estava a dormir uma sesta enquanto ali estava.


- Só sei que amanhã me vou encontrar com o tal advogado e ver o que é que ele tem para dizer. Mas é tudo muito estranho, Sergio – Ana sentava-se no sofá, com o seu pequeno Vicente nos braços. Tinha adormecido e Ana simplesmente não o conseguia largar – como é que é possível já terem passado seis meses desde que ele nasceu? – perguntou, olhando para Sergio.
- Acho que só nos apercebemos que o tempo passa mesmo muito depressa ao termos uma coisinha assim – Sergio aproximou-se dos dois, dando um beijo na cabeça do filho – chegaram hoje as fotografias que mandámos fazer.
- A sério? Até que enfim! – Sergio e Ana tinham mandado revelar três fotografias especiais do seu dia de casamento. Queriam colocá-las na casa, em molduras maiores.
- Queres ir ver onde as pôr?
- Sim, claro! – os dois levantaram-se – vou só pôr o Vicente no berço.
- E eu vou buscar as molduras – Sergio beijou-a e assim o fizeram.
Depois de deixar o filho bem aconchegado no berço, Ana desceu novamente as escadas, encontrando Sergio na sala, com três molduras grandes ao pé de si.
- Ai…estão com o tamanho certo! – disse, visivelmente entusiasmada, Ana aproximando-se do marido – já as viste?
- Não. Claro que não. Queria fazê-lo contigo.
- Obrigada – Sergio agarrou apenas numa.
- Começamos por esta?
- Sim – os dois começaram a retirar o papel que as cobria, sorrindo de imediato ao ver aquela fotografia.


Era a moldura mais pequena, mas mesmo assim com tamanho suficiente para colocar na parede. Sergio olhou para Ana, passando o seu braço por cima dos ombros da mulher.
- Está tão bonita… - confessou Ana, rodeando a cintura de Sergio com os braços – achas que ficará bem onde?
- Onde tu a quiseres colocar. Mas no teu futuro escritório seria uma boa opção… - Ana olhou-o, estranhando aquela sugestão – quando começares a trabalhar, temos de te arranjar um espaço para que possas estar à tua vontade, sem interrupções. Temos aquela salinha ao lado do meu escritório – que, por agora, era apenas a salinha onde estavam todos os troféus do Sergio – eu coloco os troféus no escritório e ficas com aquele espaço para ti.
- A sério?
- Claro!
- Obrigada – os dois trocaram um prolongado beijo, retomando à questão das fotografias – agora aquela – disse, apontando para a maior – tenho a certeza que será a que vai para o nosso quarto!
- Assim não vale! Tu sabes os tamanhos das molduras de certeza – Ana riu-se, pegando na moldura.
Depressa retiraram o papel que a cobria e Ana tinha acertado. Era mesmo aquela que iria para o quarto deles.


- Está super bonita – comentou Ana – foi um dia tão lindo, Sergio – Ana começava a emocionar-se ao ver aquela fotografia. Já o mesmo tinha acontecido quando andaram a escolher aquelas que queriam ampliar para colocar na sua casa – obrigada por tudo – olhou o marido, vendo-o sorrir – estou feita uma lamechas! – disse, limpando as lágrimas que lhe caiam pela cara.
- Eu gosto disso – Sergio aproximou-se dela, abraçando-a – e foi, sem dúvida, um dia lindo que ninguém poderá tirar das nossas memórias.
Foram logo colocar aquela fotografia onde tinha planeado que ficasse. Em frente da cama do seu quarto, bem no centro da parede. Abriram a outra apenas para a ver já que a iam colocar por cima do sofá mas ainda não tinham tudo preparado para o fazer.




- Ana? – chamou Sergio, enquanto a rapariga se começava a espreguiçar – Buenos dias!
- Buenos dias – saudou o marido, rodeando o pescoço de Sergio com os seus braços.
- Tenho de ir para o treino…
- Hum, hum.
- E o Vicente acordou há pouco – Ana olhou-o, meio confusa – acho que dormiste profundamente que não o ouviste chorar. Já lhe dei o leite.
- Oh, obrigada, meu amor – os dois trocaram um beijo e Sergio acabou por se levantar.
- Vou buscá-lo para aqui – Sergio saiu do quarto, voltando pouco tempo depois com Vicente nos seus braços – está a parecer-me que vão ter uma manhã de ronha.
- Não pode ser…tenho de ir ao advogado.
- Desculpa não puder ir contigo – Sergio entregou Vicente a Ana, que o deixou deitado a seu lado.
- Não tem mal…tens de trabalhar. E eu não vou fazer nada de especial. Tenho de garantir que não é para vender aquela casa.
- Assim que souberes mais alguma coisa diz-me – despediu-se da mulher com um beijo fugaz, quente e prolongado.
Ana aninhou-se na cama, colocando o filho mais perto dela. Vicente tinha tapado a sua cara com a mão e tinha adormecido junto do seu ombro. Ana não resistiu em fotografá-lo, beijando a mão do filho.

Acho que já começou a perceber que o fotografo por tudo e por nada. Te amo, bebé.
Estava, também ela, quase a adormecer quando o seu telemóvel tocou. Era Gonçalo.
- Bom dia – disse, assim que atendeu.
- Bom dia, mana. Que tal estás?
- Bem, bem. Estava quase a adormecer aqui ao pé do Vicente. Mas ainda bem que ligaste porque tenho de me pôr a andar…
- Posso ir contigo?
- Claro mas…
- Eu falei com o tio e há qualquer coisa que não bate certo. A tia também estava lá e pareceu querer-me contar qualquer coisa mas o tio Ricardo, simplesmente não a deixou falar e ficou atrapalhado.
- Eu sabia que havia mais qualquer coisa aqui envolvida…
- Vou buscar-te, sim? Estou aí dentro de 15 minutos.
- Está bem, obrigada Gonçalo – Ana não teve tempo para ficar ali deitada. Deixou o filho sobre a cama, enquanto se vestir sempre atenta aos seus movimentos.
Despachou-se a comer qualquer coisa rápida e, assim que Gonçalo tocou à campainha, saiu de casa com a sua mala e de Vicente. Viu o irmão estacionar o seu carro ao lado do dela, fazendo-lhe sinal que saísse.
- Vamos no meu pode ser? – perguntou, aproximando-se do irmão. Deu-lhe dois beijos, seguidos de um abraço – tenho lá a cadeirinha do Vicente.
- Claro! – Gonçalo fechou o seu carro, indo até ao da irmã. Conduzia ele, enquanto Ana ia nos bancos traseiros junto do filho – sabes alguma coisa sobre esse advogado?
- Não muita coisa…é conhecido aqui por Madrid por se relacionar com grandes nomes de várias áreas.
- E o que é que estás a achar de tudo? – os dois olharam-se pelo espelho e Ana só conseguiu encolher os ombros – tudo se vai resolver, pequenita.

A conversa com o advogado foi bem curta. Juan bem tentou persuadir Ana para que vendesse a casa mas sem qualquer sucesso. Estavam já a caminho de casa, quando esta recebe um telefonema.
- Sim? – disse, depois de atender.
- Buenos dias a voz de uma mulher surgiu do outro lado da linha eu tenho andado a tentar comprar a sua casa em Portugal.
- Eu acabei de falar com o seu advogado… - Gonçalo olhou para a irmã, surpreendido.
- Eu sei. Mas eu preciso que reconsidere a sua decisão. Preciso que me venda aquele espaço.
- Isso está fora de questão! O valor que aquela casa e aquele sitio têm, para mim, são incalculáveis. Eu não lhe vendo nada – Ana não teve outra reação a não ser desligar o telefonema – era a mulher que quer comprar a casa…
- Bem, tanta insistência começa a ser demais.
- É que começa mesmo! – Ana percorreu os seus contatos, ligando de seguida para Pilar – sei de alguém que é capaz de me ajudar – não demorou muito até que Pilar atendesse a chamada.
- Hola neña!
- Olá Pilar! Como estás?
- Bem, muito bem! E tu? E o Vicente?
- Estamos todos bem. E a minha afilhada?
- Cada dia maior! Temos de combinar qualquer coisa! Ela adoraria ver-vos.
- E nós a ela…Pilar, eu telefonei-te por uma razão específica.
- Que se passa?
- Andam a querer comprar a minha casa em Portugal e é alguém cá de Madrid…achas que me podes ajudar? Eu sei que deves ter alguns contatos de quando eras jornalista. Eu já tentei pensar em alguém que eu conhecesse mas ninguém me deve conseguir ajudar.
- Eu vou tentar…tens algum nome?
- Juan Vargas.
- É o meu advogado!
- A sério? Bom…ele tem uns clientes, então, interessados em comprar a minha casa.
- Vou tentar saber de alguma coisa e, quando tiver resultados, aviso.
- Muito obrigada!
Ainda ficaram algum tempo a conversar mas Ana não conseguia esquecer a voz da mulher com quem tinha falado. Era uma voz terna, muito doce e calma. Uma voz determinada naquilo que queria. Mas que Ana não lhe iria dar.


Olá meninas! 
Cá vos trago um capítulo. Demorei mais tempo, não por não ter conseguido escrever antes mas foi mesmo por esperar os vossos comentários. Como eles não chegaram, decidi trazer-vos um outro capítulo na mesma. Espero, contudo, que não tenham desistido da história. 
Beijinhos, 
Ana Patrícia. 

1 comentário:

  1. Holla :)
    Fic em dia...aleluia :P
    Bem que insistência, irra -_-
    Será que essa mulher não é familiar da Ana?...tipo uma tia, alguma prima ou...a mãe dela?...
    Quero capitulo rapido sff :*

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