segunda-feira, 19 de outubro de 2015

62: “(…) ele fará sempre parte da nossa vida”

Sergio olhava fixamente para Ana. Mantinha-se, no entanto, calmo e sereno. Quase como se não tivesse ouvido o que Ana lhe acabara de dizer. 
- Podes...dizer qualquer coisa? 
- Que queres que eu diga?
- Oh Sergio, essa conversa não por favor. Eu acabei de te dizer que quero adiar o nosso casamento e tu estás a olhar-me à minutos! 
- Pronto, vá acalma-te que eu não quero que o bebé nasça antes de tempo. Senta – Sergio puxou a cadeira para que Ana se sentasse e ela assim o fez. Ele agarrou-lhe a mão esquerda, olhando para ela – Se é o que queres...vamos deixar o casamento em stand-by. Tu precisas de descansar, precisas de te manter calma e tranquila e eu já percebi que organizar tudo é difícil. 
- Não...não ficas chateado, magoado? 
- Claro que não. Tanto tu como eu, neste momento, queremos o bem do nosso filho. Colocaria tudo para trás só para que vocês estejam bem e em segurança. 
- Obrigada, Sergio, a sério – Ana abraçou-o, beijando-o de seguida – estava com tanto medo que fosses ficar a pensar outras coisas...
- Tenho de me preocupar com isso?
- Não, nunca. 
- Então estamos de acordo. Telefonamos a todas as pessoas envolvidas e pedimos que entendam a nossa situação. Talvez deixem ficar tudo guardado e já definido para quando quisermos. 
- Podemos, até, tentar marcar já para outra data...
- Por mim tudo bem – Sergio levou as suas mãos à cara de Ana, beijando-a – mas...que me dizes se nos fossemos deitar agora?
- Isso seria muito bom! – os dois riram-se e foram até ao quarto. A noite já ia longa e teriam dois dias muito agitados á sua espera. Não fosse esta uma época natalícia que seria vivida em família. 
- Estás muito cansada? – perguntava Sergio depois de se deitarem.
- Eu nunca estou cansada, Sergio. Eu tenho passado os meus dias inteiros aqui deitada...ou lá em baixo no sofá, ou a fazer comer, ou a comer! Eu não faço mais nada...
- Realmente, isso deve ser muito mau – Ana virou-se para Sergio, olhando-o séria – que foi?
- Nada, estou apenas a olhar para ti e a pensar que tens alguma na manga! 
- Não tenho não! – Sergio levou a sua mão até às costas de Ana, deslizando-a por todo o corpo de Ana. 
- Vês como tens alguma na manga!
- É difícil não querer quando tenho uma mulher como tu na cama. 
- Mesmo com quinze quilos a mais? É que eu não paro de engordar não sei se reparas...
- Não ligo muito a isso, sabes? Eu só consigo ver a tua barriga e o quão bonita estás. 
- Isso, isso. Estraga-me com mimos que eu adoro – os dois beijaram-se e, tentando descontrair e aliviar todas aquelas dores que sentia naquele dia, Ana entregou-se por completo a Sergio. Como já não o faziam à algum tempo.




- Tio! Finalmente! – Ana e Sergio chegavam a casa dos pais de Sergio. Seria ali que iriam passar a noite da consoada. Daniela vinha a correr na direcção deles, seguida por Paqui. 
Ana adorava ver a adoração que Daniela tinha pelo tio. Quando os dois estavam juntos era demasiado difícil os separarem. Paqui dirigiu-se logo a Ana, abraçando-a. 
- Minha querida, como estás? – Paqui olhou-a, passando com as suas mãos pela barriga de Ana – Cada dia mais bonita. 
- Obrigada...
- Está tudo bem?
- Sim, sim. Começo a ficar com umas dores estranhas ao fim da noite...mas passa depois de dormir. 
- Já falaste com a médica?
- Sim. E está tudo bem com o bebé mas é muito provável que nasça antes de tempo. 
- A sério?
- Sim. Já começava a ficar na posição certa e a querer sair. Mas ainda são sete meses...pretendemos levar a gravidez por mais semanas. Tentar chegar aos oito. 
- Tudo vai ficar bem, minha querida. O importante é que venha saudável para junto de nós. 
- Isso virá – as duas sorriram e depressa foram interrompidas por Daniela.
- Olá tia! 
- Olá minha querida – Ana tentou baixar-se mas depressa se apercebeu que não o conseguiria fazer. Todos se aperceberam das dificuldades dela e depressa foi surpreendida por um abraço de Daniela. 
Dirigiram-se à sala onde já estavam os irmãos de Sergio e os cunhados, bem como o seu pai. Paqui e Sergio mantiveram-se afastados, com a mãe do rapaz a puxá-lo para si. 
- Está mesmo tudo bem com a Ana? 
- Eu sei que não parece, mas está. Ela anda é muito cansada mesmo fazendo poucas coisas. Eu tenho medo que...seja alguma coisa relacionada com o coração dela. 
- Mas os médicos deveriam ver isso, não? 
- Sim. E já viram e está tudo bem mas, mãe, eu tenho medo – Sergio olhou-a – a mãe sabe que ela teve dois grandes problemas no coração e...e se ela não aguentar o parto? 
- Meu filho – Paqui agarrou as mãos de Sergio – a tua futura esposa é uma mulher incrível, cheia de garra e determinação. Nada a consegue deitar abaixo e ela vai conseguir aguentar tudo. A medecina, hoje em dia, está cada vez mais evoluída e, se não for parto natural ela tem a hipótese de fazer uma cesariana e correr menos riscos, talvez. Ela é forte, Sergio e o nosso bebé irá nascer forte e saudável. 
- Já decidimos os nomes. 
- Têm mais que um?
- Mae...a Ana não sabe que é menino...
- Ah pois é, tens razão! Como é que se chamará o meu neto?
- Vicente. É um nome português e, tanto ela como eu, gostamos muito do significado. É...aquele que vence. O nosso filho é uma vitória dele mesmo, não é verdade?
- É sim, meu anjo – Paqui deu um beijo a Sergio, olhando-o – eu fico cada vez mais feliz por vocês. Se fosse menina...qual seria?
- Emma. 
- Já poderão ficar com esse nome para o próximo...
- Gostava de ter mais netos, D. Paqui? 
- Sabes bem que sim, Sergio! 
- Vamos com calma – Sergio olhou para Ana, sorrindo – primeiro nasce o Vicente e depois logo se verá.
Os dois sorriram, vendo Ana e Daniela a partilharem um abraço carinhoso. As duas estavam sentadas no sofá, lado a lado.
- Ficaste melhor? – perguntava Daniela.
- Ligeiramente. Os teus abraços são milagrosos! Obrigada. 
- De nada. Só não quero que tenhas dores. O bebé dá muitos pontapés, não dá?
- Alguns. Sobretudo quando tem muita fome! 
- Como é que sabes que ele está com fome se não o vês?
- Porque eu também fico cheia de fome – as duas riram-se e Daniela levou as suas mãos à barriga de Ana. 
- Está quase a nascer, não é? 
- Ainda falta um bocadinho...
- Ana? – Daniela olhou para a tia, sorrindo-lhe – tu estás muito mais bonita. Assim com a barriga. 
- Oh querida, obrigada. É bom ouvir essas palavras! 
- O tio não te diz isso?
- Às vezes diz. Mas, sabes, quando nós estamos grávidas muitas coisas mudam, então é difícil acreditarmos que estamos mesmo mais bonitas. 
- Mas tu estás – Daniela deu-lhe um beijo na bochecha, indo ter com a mãe. 
Depressa o seu lugar foi ocupado. Por Sergio. 
- Como é que estás?
- Olha, muito bem. A Daniela acabou de me fazer sentir a mulher mais bonita de todas. A miúda tem com cada saída! 
- Aprendeu com o tio! 
- Convencido...estive a pensar numa coisa. 
- Quando tu pensas é demasiado perigoso! 
- Cala-te lá. Ela podia ir passar uns dias connosco quando o bebé nascer. Não digo logo nos primeiros dias, mas depois. Acho que ela se iria sentir bem...a fazer parte da vida do primo. 
- Acho que ela iria adorar isso mesmo! Essa cabeça quando pensa...
- Só tem ideias perfeitas, eu sei – os dois riram-se e acabaram por partilhar mais alguns momentos com a família. Era Natal, uma época que só assim faria sentido.




- Sergio...onde é que vamos? 
- Fazemos três anos juntos, é uma data importante e eu tenho uma prenda para ti.
- Que não pode ser dada em casa? É que eu estou toda inchada! 
- Prometo que não iremos demorar – Sergio conduzia à alguns minutos, até que, finalmente para Ana, parou em frente de um portão – queres fazer as honras? – Sergio retirou do seu bolso um comando, direccionando-o para Ana. 
- Como assim? 
- É a tua prenda...a nossa prenda de namoro – Sergio colocou o comando em cima da mão de Ana que, olhando estupefacta para ele, abriu o portão. 
- Tu...tu compraste uma casa? 
- Ainda não. Está guardada para nós e já toda mobilada como eu idealizei. Não sei se será bem o que queres por isso é que ainda não seja totalmente nossa. 
- Uma casa...isto é demasiado – Ana olhou para a sua frente, ficando completamente deslumbrada com o que via. 
Uma casa muito moderna, com imenso espaço na parte da frente para colocar os carros e, ainda, um pequeno terraço com mesas e cadeiras.



- É...enorme, Sergio. 
- Precisamos de uma casa com espaço suficiente para tudo. Daqui para a frente as nossas vidas vão mudar – os dois saíram do carro e Ana pôde sentir o ar puro que se respirava por ali – precisamos de criar novas memórias, novas lembranças com o nosso bebé – Sergio aproximou-se de Ana, levando as suas mãos à barriga dela – ele é o mais importante e eu...de certa forma, sinto que quando fossemos fazer o quarto dele, onde tínhamos o do Santiago, não iria ser muito saudável para nenhum de nós. 
- Vejo que pensaste em tudo, então. 
- É como te digo...eu quero dar um novo começo a tudo. 
- Por mim...por mim tudo bem, eu já estou a adorar o que vejo mas tenho uma condição – Sergio arqueou a sobrancelha – eu tenho de contribuir financeiramente para tudo isto. Tenho as minhas poupanças de lado e eu quero que as aceites. 
- Não, não. Eu não posso fazer isso. 
- Podes e vais fazê-lo. Eu dou-te o meu dinheiro como forma de pagar isto tudo. É pouco...eu sei, mas ajudará. 
- Eu aceito-o. Mas também vou pôr uma condição. Esse dinheiro ficará guardado para o nosso filho. 
- Tudo bem – os dois sorriram e trocaram um beijo quente e apaixonado. 
- Vá, vamos ver tudo. Mas com calma, que temos tempo. O que não gostares podemos alterar. 
- Eu confio no teu bom gosto. 
Assim que entraram em casa, Ana sentiu-se logo muito bem. Era clara, com janelas enormes que davam uma claridade à casa como nunca esperava. Estava a adorar o que via, tanto da sala de convívio, da salinha onde tinham a televisão, o espaço para os jantares em família e de poderem ter um espaço na cozinha onde façam as refeições quando são menos em casa.







Seguiu-se o quarto e a casa de banho do casal. E Ana sentiu-se especial naquele momento. Sergio já o tinha decorado todo à sua maneira mas que, de certa forma, era a maneira de Ana ver as coisas. Todas as molduras tinhas fotografias deles, do inicio da sua relação, de Ana grávida e das férias que tinham passado no México.
Ana surpreendeu-se ao ver uma fotografia sua de quando estava grávida de Santiago. Era algo que nunca esperou ver ali, naquele novo espaço.




Segurou a moldura nas suas mãos, sentido Sergio rodear o seu corpo com os seus braços. 
- Por mais que queiramos deixar as coisas para trás...ele fará sempre parte da nossa vida. Se quiseres podemos tirar daqui a fotografia mas...eu acho-a tão bonita. 
- Ela fica, Sergio. Ela fica – voltou a colocá-la no sitio, olhando para Sergio – eu estou a adorar todos os pormenores da nossa casa, Sergio. Obrigada por tudo isto e por me fazeres sentir a mulher mais feliz do mundo. 
- De nada, meu amor. E ainda bem que estás a gostar. Porque há mais! 
- Mais? 
- Claro. Ainda tens de ver o jardim e...a minha surpresa. 
- Hum, vamos a isso, então.




- Eu sei que não queres saber o sexo do bebé, que vamos mantê-lo em segredo até nascer...mas – pararam em frente de uma porta e Ana ficou assustada por breves instantes – por detrás desta porta, há algo que precisas de ver. 
- Sergio eu não quero saber o sexo do bebé. 
- Não irás saber, eu prometo. Abre – Sergio deu-lhe espaço para que abrisse a porta e, assim que o fez, Ana entrou num mundo só dela deixando várias lágrimas caírem-lhe pela cara.



- Sergio... – aproximou-se do berço do bebé, olhando à sua volta – é tão bonito. Supera tudo o que eu alguma vez imaginei... – olhou de novo para o berço, sorrindo – escolheste o berço que eu queria... – olhou para Sergio que lhe sorriu. 
- Tinha de haver coisas escolhidas por ti, não é? 
- O nosso filho vai ser muito feliz aqui, Sergio – Ana agarrou-lhe a mão, sentindo em seguida uma forte picada na barriga. 
- O que se passa? – Sergio levou as suas mãos à barriga de Ana, ajudando-a a sentar-se no cadeirão – estás bem? 
- Foi...foi só uma dor. 
- Ana já andas com essas dores desde ontem. 
- Não te preocupes, Sergio. Está tudo bem...eu amanhã vou à medica e logo veremos como será. 
- Eu vou pedir à minha mãe que fique contigo esta noite. Eu não te posso deixar sozinha. 
- Sergio, a tua mãe foi para o norte. Eu fico bem, a sério. Qualquer coisa também posso ligar a alguém. 
- Que alguém? 
- Tenho...ora tenho a Sara. Eu ligo à Sara caso aconteça alguma coisa. 
- Vou avisar o Iker, então, para avisar a Sara. 
- Tem calma. Isto são apenas dores normais...de quem tem uma barriga enorme e um bebé super agitado dentro da barriga. 
- Tenho medo... 
- Ei, ei – Ana levantou-se, levando as suas mãos ao pescoço de Sergio – eu não quero que tenhas medo. Logo agora que estamos prestes a meio dos oito meses. Está quase Sergio...isto é normal. 
- Certo. Fico mais descansado se dermos só uma vista de olhos pelo jardim e se fossemos já para casa. 
- Ai não vamos ficar aqui? – Ana olhou à sua volta sorrindo. 
- Ainda não. Precisam de acabar uns detalhes com os outros quartos. Dentro de uma semana podemos mudar-nos. 
- Boa. Vamos, então, ver o jardim e depois vamos para casa. 
E assim fizeram. Viram o deslumbrante e tranquilo jardim onde Ana se imaginou a brincar com o seu bebé. Sabia que Sergio tinha pensado em tudo com imenso pormenor de forma a que se sentissem em casa assim que fizessem a mudança.




Regressaram a casa e Ana não conseguia não estar com medo. Afinal, aquelas dores fortes na barriga começavam a não ser assim tão normais quanto isso. Não quis assustar Sergio que ia naquela noite para estágio já que tinha jogo no dia seguinte.
- Em que pensas tu? – perguntou-lhe, depois de chegar à sala.
- Nada. Estava à tua espera...quero dar-te uma coisa antes de ires. Eu confesso...sou uma namorada horrível e não consegui comprar nenhuma prenda. Mas! – Ana entregou-lhe o envelope que tinha na mão – acho que isto será uma boa prenda, com bastante significado. Espero que entendas o porque.
Sergio agarrou no envelope vendo que era uma das cartas que a mãe de Ana lhe havia deixado. No envelope estava escrito: “Para o homem da tua vida”.
- Ana...
- Eu ainda não a li...e não sei se é suposto eu ler. Mas é tua e só faz sentido eu entregar-te a ti –
Ana aproximou-se de Sergio, agarrando a cara dele com as suas mãos – obrigada por seres quem és e estares a ser o melhor noivo, namorado e amante do mundo – beijou-o, afastando-se em seguida dele.
Sergio abriu o envelope, começando a ler a carta.



Foste tu que a conquistaste...e aposto que não foi fácil. Ela já te terá contado toda a sua história, tudo o que ela viveu sem nós. Nós não sabemos como é que foram estes anos da Ana, não sabemos quantos passaram até ela te dar esta carta. Mas, se o fez, acredita que ela quer ficar contigo o resto da vida dela. 
A Ana sempre foi uma criança feliz, nos lábios trazia sempre um sorriso e naquele coração nunca existiu maldade. Nem para os bichinhos, ela nunca nos deixou matar uma mosca, ou uma melga. Dava-lhes liberdade. Tal e qual como nós lhe damos a ela. 
Não sei em que ano estarão quando estiveres a ler esta carta. Não sei que idade terás, que idade ela terá ou como te chamas. Mas sei, eu sei mesmo, que deves ser um ser maravilhoso para ela te entregar isto. Sei que, se calhar, não entendes a nossa escolha, assim como ela não a deverá entender. Mas, se a amas de verdade, se sentes por ela um amor único e intenso, sabes o que é sacrificarmo-nos por amor. Foi isso que eu fiz. O Alfredo, o meu marido, não está em condições de colaborar com as próximas cartas que vamos escrever. Mas sei que ele sentirá o mesmo que eu. Sou a Teresa, a mãe da Ana. 
Temos uma lista interminável de pedidos para te fazer. E começo com um muito sério: que os cumpras a todos! Ela merece ser feliz, sentir-se amada, realizada e protegida por alguém. Por ti. Vamos por pontos: 

1) Não a deixes sozinha por muitos dias. A Ana sofre imenso com a distância, sofre com saudades. É o que eu digo, ela tem tanto amor naquele coração, tanto para dar, que não aguentará muitos dias sem ti. Se, a tua vida for complicada e que tenhas de andar a ausentar-te, garante que a deixas confiante na vossa relação e que, quando voltares para junto dela, a abraças como se todo o teu mundo estivesse concentrado na minha filha. 
2) Cozinha para ela. Aposto que ela será boa nesse aspecto, que te impedirá de fazer muitas coisas mas, talvez, porque não te quer sobrecarregar, porque gosta de se ocupar dessas tarefas. Mas, na minha opinião, é algo que tu também deves fazer. Surpreende-a com jantares românticos, com pequenos-almoços na cama ou um lanche cheio de calorias acompanhado de um filme. 
3) Olha para ela todos os dias como no primeiro dia. Aposto que o vosso primeiro dia juntos será inesquecível. Alguma coisa vos fez ficar a olhar um para o outro. Lembraste desse momento? Do momento em que a olhaste pela primeira vez? Olha assim para ela todos os dias. 
4) Tem, para ela, devoção. Porque eu sei que ela terá para ti. A Ana irá amar-te com todos os seus sentimentos. Mesmo que ela, algum dia, te diga que te odeia, que és insuportável...ela estará a amar-te. Porque não há mal em dizermos isso uns aos outros. A vida de casal é complicada, a vida de casal é difícil. Custa. Mas nós amamos quando dizemos essas coisas. Só nós sabemos que, amar, é com todos os sentimentos mesmo os maus. 
5) Acho que não me vou esticar muito mais...só um último pedido. Fá-la feliz. Faz da minha filha a mulher mais realizada do mundo, a mais feliz de todas e a que tem o sorriso mais bonito nos lábios. Ela merece. 


Ela escolheu-te. Por algum motivo terá sido, talvez o amor. Talvez por seres especial. Acredito que tenha sido uma escolha difícil, acredito que, antes de ti, ela possa ter sofrido, se possa ter divertido com mais rapazes. Mas, a dada altura, chegaste tu. O homem da vida dela. Porque, caso contrário, ela não te tinha confiado esta carta. 
Protege a minha menina. 
Ama-a. 
Não olhes para o teu umbigo sem olhares para o dela também. Se ela não mudou...ela olhará para o teu primeiro antes de olhar para o dela. 
Já pensam em filhos? Casamento? Quem me dera puder assistir a tudo isso...a todos esses acontecimentos da vida da minha filha. Ela tem tudo para ter um futuro lindo para ela. Neste momento sabes o que ela está a fazer? Brinca com os seus nenucos como se fossem os seus filhos. Já a ouvi tantas vezes intitular-se de mãe deles...e tem jeito para tomar conta de bebés! Não te livras de ser pai, rapazolas. 
Cuida dela. Por nós. E obrigada por teres lido esta carta. Obrigada por a apoiares neste momento. Um dia havemos de nos encontrar todos. Eu acredito. 

Sejam muito felizes. 

Teresa e Alfredo. 


Sergio leu aquela carta envolto no silêncio que aquela casa tinha. E, quando a terminou, só conseguiu beijar Ana e garantir-lhe que a ama. Ana não precisou de mais nada...viu-o ir embora à pressa porque já estava atrasado mas ficou com a sensação de que ele ali estava junto dela. 
A noite começou a tornar-se um pesadelo para Ana. As dores tinham aumentado de intensidade, sentia o bebé demasiado agitado num segundo e, no seguinte, parava por completo. Ana lembrou-se que, quando perdeu Santiago, nos minutos antes de apagar por completo se sentiu assim. 
Sentia-se tonta, desamparada mesmo que estivesse sossegada na cama. Olhava à sua volta e sentia-se sozinha. Aquilo não era normal, nada daquilo estava a ser normal. Decidiu jogar pelo seguro e ligar para o número de emergência. Levantou-se da cama, sentindo uma forte pressão na bexiga. Quase como se precisa-se de fazer imediatamente xixi. Mas contrariou aquela vontade e desceu até à sala. Com calma e sempre a fazer pausas, conseguiu chegar lá no momento em que tocaram à campainha. Ana abriu a porta mas, depois, ficou tudo como quando perdeu Santiago. 
Escuro e vazio.

2 comentários:

  1. Gostei muito.

    A Ana não pode perder o bebé ... Quero o próximo!


    Beijinhos


    Catarina

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  2. Holaa :)
    Já tinha lido este capitulo e como sabes assustei-me bué com o final...mas como já tinha lido o próximo capitulo, mas como ainda não o tinha comentado, vou já faze-lo
    bjs

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