12 - "...é disso que vamos em busca? (...)"

(Ana)

Depois de uma festa da marca de roupa até às tantas, começar a manhã às 6h não era nada simpático. Foi uma manhã de andar de um lado para o outro, entre trocas de roupas, pousar para as objectivas com o Marco, o meu companheiro de hoje. Era uma campanha simples, seriamos o género de um casal, o que foi difícil de conseguir inicialmente, e estaríamos a passear pela cidade. As fotografias seriam para ser utilizadas nas lojas da H&M, não só em Portugal, mas também em vários pontos de referência mundial onde a marca se encontrava disponibilizada.

Quando eram 16h foi quando terminamos as fotografias e voltei para casa, com a Miranda, que me tinha vindo apoiar. Depois de comer uma peça de fruta, meti-me num banho de emersão que prolonguei durante algum tempo...não fosse aquele dia ter dado cabo do meu corpo. 

(Quatro dias depois)

Tinha chegado o fim de semana...o fim de semana em que o Real Madrid jogava. O dia em que o Sergio jogava, depois do último jogo de castigo. Levantei-me e o dia estava a começar a ser...bonito. Estava solinho lá fora, apesar do frio! Sim, sentia frio.

Tomei um duche e vesti-me.

 

Fui até à cozinha e sentei-me à mesa a tomar o meu pequeno-almoço. Passado algum tempo apareceu a Miranda, toda ela já arranjada e também se sentou, à minha frente, para começar a tomar o seu pequeno almoço.

-Bom dia! - disse-lhe.

-Bom dia! Planos para hoje? É sábado, eu estou de folga e temos de ir aproveitar que andas mais...bem disposta.

-Estou bem disposta graças a ti.

-Ya! Eu sou o teu raio de sol. Vivo... - ela sabia que os meus raios de sol, eram os meus pais.

-Obrigada por tudo Miranda.

-Não me agradeças...sabes que só quero que sejas feliz. Mas...e planos!?

-Não sei se queres...mas pensei que pudéssemos ir a Granada.

-Espanha?

-Sim.

-Não é em Madrid que o Sergio mora?

-É...mas podíamos ir até ao sul...ele joga hoje.

-Ah! Tu queres levar-me ao jogo do Real Madrid...

-Apanhaste-me.

-Mas sim, porque não?

-Eu estava a pensar em irmos a seguir ao almoço, víamos o jogo e depois íamos sair e voltavamos amanhã.

-Mas olha que eu não tenho assim muito dinheiro.

-Isso não é problema, felizmente. Se fiz estas sessões fotográficas e recebi algum dinheiro com isso é para ser aplicado em felicidade.

-Ah e é disso que vamos em busca? De felicidade?

-Sim. Vamos divertirmo-nos.

-Por mim tudo óptimo.

-Vou comprar os bilhetes de avião. Vai fazer a tua mala. Roupa para a saída e para amanhã.

-Com certeza chefinha!

Enquanto que a Miranda foi fazer a sua malinha, eu comprei os bilhetes de avião.

(5 horas depois)

Chegadas a Granada, instaladas num hotel e com o friozinho que se fazia sentir, a vontade de sair para a rua era pouca. Mas...a vontade de ir ver o Sergio, era mais que muita.

Eu e a Miranda, depois de nos instalarmos, arranjamo-nos para irmos sair. Saíamos agora do hotel e só voltaríamos depois de curtir a noite espanhola.

Conjunto de Ana

Conjunto de Miranda

Talvez fossemos sentir algum frio nas pernas...mas nada que o movimento da noite não ajudasse depois a aquecer.

Fomos até ao estádio Nuevo Los Cármenes, o estádio do Granada e comprámos dois bilhetes para o jogo desta noite. Enquanto não eram 22h, hora do jogo, andamos a passear. Não fizemos compras, porque depois não as poderíamos levar para o estádio, mas ficamos apaixonadas por algumas coisas que vimos. Compramos, sim, dois cachecóis do Real...se era para apoiar, era para apoiar.

Depois de jantarmos, perto do Estádio, dirigimo-nos para o mesmo e entramos, indo para os nosso lugares, junto dos adeptos do Granada, não havia espaço perto dos Madrilistas. 

Fui reconhecida por algumas pessoas, o que já era normal, mas mesmo assim, estranho. Ainda demorou para que os jogadores subissem ao relvado para fazerem o aquecimento e a minha ânsia só crescia ainda mais.

Cerca de 45 minutos antes do inicio do jogo...lá estavam eles a subir ao relvado para o habitual aquecimento. O Real Madrid estava a aquecer mesmo à nossa frente o que me possibilitou olhar bem para o Sergio. Como sempre...sorria. Nunca mais tínhamos falado, o que era...estranhamente, bom. Deixou-me com saudades, mas deu para me distrair dele e, de certa forma, esquecer o que ele me pediu para esquecer. Se estou menos magoada? Um bocadinho, mas mesmo assim nada do que se passou foi esquecido.

-Olha lá...o Sergio ainda é melhor assim! - atirou a Miranda, metendo-se comigo.

-Assim como?

-Ao vivo! Ou vais dizer que não?

-Não...acho que foi o mesmo que pensei quando o entrevistei... - confessei-lhe.

Ficamos as duas a conversar, enquanto que as equipas aqueciam.

Não queria que ele me visse...não agora. Estava a contar ir ter com ele às garagens, falar um pouco e mostrar-lhe o que ninguém ainda tinha visto. O resultado da sessão fotográfica. Queria que ele fosse o primeiro a ver...tentar, ao menos, fazê lo sentir...especial. Sim, porque amanha as fotos eram lançadas para as lojas a nível mundial...e, eu queria fazê-lo assim, por ele...por nós.

Às 22h em ponto o jogo começou e começou bem. O Real atacava, mas não conseguir finalizar da melhor maneira. Era a primeira vez que, também eu, via o Real Madrid a jogar ao vivo...ver ali o “nosso” Ronaldo ao vivo era outra coisa...se bem que não foi o melhor jogo para se ver. O Real perdeu, com um golo do Ronaldo na própria baliza. O seu primeiro auto-golo. Quando o jogo terminou eles estavam desanimados, assim como a claque madrilista.

Eu e a Miranda saímos do estádio, dirigindo-nos para a garagem. Conseguimos entrar, o senhor segurança, devia estar muito bem disposto que acreditou na nossa mentirinha.

Não haviam carros dos jogadores, pelo menos o Audi R8 do Sergio não estava ali. Claro, Ana! Eles vieram com o autocarro da equipa! Colocamo-nos junto do autocarro, lógico que haviam ali alguns seguranças, mas foram eles mais ninguém estava ali.

Passaram cerca de 45 minutos e começaram a sair alguns dos jogadores do Real. Entre eles vimos o Ozil, o Benzema, o Marcelo e Diego Lopez, o novo guarda redes.

Quando parecia que mais ninguém iria sair...é nesse momento em que sai o Sergio. Ele passou por nós, meteu a mala na bagagem do autocarro e preparou-se para entrar, quando foi impedido pelo Ozil.

-Acho que tens um autografo para dar – foi o que consegui ouvir do Ozil.

O Sergio, ainda meio dentro do autocarro olhou para trás e foi então que os nossos olhos chocaram um no outro. Tudo à volta deveria ter congelado, porque só o via a ele vir na minha direcção, enquanto que eu também ia na direcção dele.

Contudo, quando chegamos ao pé um do outro...senti...senti aquela coisa de o agarrar, abraçar e ficar agarradinha a ele, mas ficamos...ligeiramente distantes um do outro e sem nenhum reacção de ambas as partes. Quer dizer...ele estava a sorrir e eu...devia estar a corar, com o calor que tinha.

-Estás aqui... - falou ele. Aquela voz, aquele espanhol sevilhano, aquele seu salero enquanto falava...estremeci com aquelas duas palavras, senti os meus joelhos a cederem, mas mantive-me em pé.

-Vim ver o jogo...dançar... - não sei, mas não disse a frase completa...as palavras não saiam como deve ser.

-Dançar?

-Vim com a Miranda...a minha melhor amiga. Viemos aproveitar o fim de semana.

-Fizeram bem. Estás aqui... - ele voltou a afirmar que eu...estava ali.

-Vim também para te mostrar uma coisa...quero que sejas o primeiro a ver. Quer dizer, a Miranda acompanhou tudo, mas fora ela.

-As fotos?

-Sim...amanhã saem para as lojas, mas eu queria que visses...hoje.

-Nem sei o que te diga...obrigado. É muito especial – sim! Tu és especial ó parvo! Achavas mesmo que não te iria mostrar primeiro a ti? - pensei para comigo mesma.

-Queres ver?

-Claro! - retirei da minha mala o envelope onde estavam as quatro fotos que eu mais gostava. Eram aquelas que eu lhe queria mostrar. Eram as minhas preferidas, eram aquelas que eu mais tinha gostado de fotografar.

-Não estão como as outras... - fiz uma pausa e ele olhou-me – mas penso que...dá para superar o que passou e são as minhas preferidas – entreguei-lhas para as mãos e vi que os seus olhos...brilhavam. Ele passou mais que uma vez por cada foto e os seus olhos brilhavam como duas estrelas cintilantes.

(Sergio)

Se há coisa que estes dias não têm sido...é fácil. Não foram fáceis pelo facto de não falar com a Ana. Ela tinha-me pedido que não o fizesse e eu queria respeitar o seu pedido, ainda para mais, estando nós a atravessar o momento que estamos a passar.

O jogo desta noite, também ele não tinha corrido bem, mas nada que no próximo não se possa resolver, só que...os nosso adeptos sentem cada derrota como nós a sentimos, ou ainda pior.

Quando me preparava para entrar no autocarro o Ozil impediu-me, apontando para alguém a quem tinha de dar um autografo. Esse alguém era a Ana...a minha Ana.

Fui ter com ela para tentar perceber o que ela...fazia ali. Fez-me sentir especial, no momento em que me informou que queria que eu fosse o primeiro a ver o resultado da sessão fotográfica. Ela queria que eu...logo eu, que tinha tido a pior atitude do mundo com ela.

Quando me entregou as fotos para a mão, acho que o meu mundo ficou mais iluminado. Ela estava perfeita, linda, maravilhosa, cheia de luz...esta magnifica. Senti-me orgulhoso na minha pequena. Ela é perfeita e mesmo estando com um rapaz ao lado, acho que me esqueci dele e só me foquei nela.

-São as tuas preferidas?

-Sim.

-Estão magnificas...estás magnifica.

-Obrigada – olhamo-nos e só me deu vontade de a abraçar...mas ao mesmo tempo não sabia se ela estava pronta para isso.

(Ana)

-Tenho muito orgulho em ti – disse ele, olhando-me fixamente.

-Obrigada Sergio. É muito bom ouvir isso...de ti.

O Sergio aproximou-se e deu-me um beijo na testa...como é que ele conseguia...perceber que tinha de ir com calma, mesmo sem lhe ter dito nada?

-Podes dar-me um abraço... - disse baixinho, tão baixinho que até duvidei que ele tivesse ouvido, mas ouviu...e abraçou-me.

O seu corpo...estava como sempre o tinha tocado. Aquele abraço...era puro e sincero. Ambos tínhamos saudades um do outro. Eu sabia que sim...da minha parte, de certeza, da dele...aposto que também. Demorou algum tempo para que nos despegássemos, sabia bem estar nos braços dele...assim, sabendo que o ia deixar de ver por mais uns dias. Iria voltar a Lisboa, não era, de todo, minha ideia voltar, para já, a Madrid.

-Quero que fiques com elas...até um dia – confessei quando nos voltamos a olhar.

-Claro que fico.

-Eu vou indo...vou com a Miranda.

-Quando voltas a Madrid?

-Não sei Sergio...dá-me mais uns dias, preciso mesmo de estar na minha terra, sabe bem estar lá. Dá para por tudo em ordem e pensar bem no rumo a seguir.

-Tem o tempo que precisares. Posso...ir telefonando?

-Sim.

-Fica sabendo que preciso de ti...e muito.

-Eu preciso de ir...está a ficar tarde e assim não aproveitamos...obrigada pelo teu apoio.

-Obrigado eu por ser...especial.

Dei-lhe mais um abraço...que teimou em não terminar. Eu queria ficar nos braços dele, mas precisava, ainda, de estar longe. Precisava de tempo para mim, para mim e para os meus amigos da Ericeira.

-Adeus Sergio.

-Adeus...ratinha – chamou-me...ratinha!? Porque? Era exactamente o que os meus pais me chamavam...por eu ser pequena e magrinha, mas andar sempre cheia de fome...porque é que ele me chamou...ratinha?

Fui ter com a Miranda, que olhava para o Sergio a entrar no autocarro. Cheguei perto dela, dei-lhe o braço e começamos a caminhar.

-Vocês são o casal perfeito quando estão assim – comentou ela.

-Ele chamou-me...ratinha, Miranda – disse-lhe.

-Ratinha? Ratinha porque? Ele sabe que os teus...

-Não! - olhamos uma para a outra...mais uma, mais uma vez ele tinha ido ao meu passado, sem se aperceber, tinha conseguido mexer comigo, lembrar-me do meu pai, que tinha o seu nome.

Tentei esquecer aquilo, mesmo quando dançava, livremente, na pista de dança de uma discoteca qualquer, mas nada me saia da cabeça. Deixava-me feliz, que ele me achasse uma ratinha. Era como se ele conhecesse os meus pais...de outra vida.

Dancei...imenso, com a Miranda. Aproveitamos cada melodia que passava no set do DJ residente e aproveitamos ao máximo aquela noite.