(Sergio)
-Ela
não atende – entreguei o
telemóvel ao Iker e...foi então que tudo se desmurenou. Ela estava
a ignorar a minha chamada. Estava magoada comigo, mas também eu
estava magoado com ela.
-Mas,
desligou a chamada? - perguntou
o Iker.
-Não...está
impedido.
-Então
ela está a falar com alguém espera mais um pouco.
(Ana)
Felizmente,
a chamada não era do Sergio. Era um agente espanhol a tentar
convencer-me a ser agenciada por ele, a fim de me conseguir arranjar
mais trabalhos fotográficos.
“-Tem
mesmo a certeza que não aceita a proposta?”
-Sim,
tenho a certeza – disse pela
última vez, certa do que estava a dizer.
“-De
qualquer maneira tem o meu número de telefone, pode contactar se
mudar de ideias.”
-Com
certeza.
“-Boa
tarde.”
-Igualmente.
Desligamos
a chamada e a Miró olhou, seriamente, para mim.
-Não
era o Sergio... - afirmou ela.
-Não.
Um agente...a querer contratar-me e arranjar-me mais trabalhos.
-E...recusaste?
-Claro.
-Claro,
porque?
-Achas
que vou continuar com aquilo que acabou o que eu tinha de melhor
agora?
-Acho...pelo
menos sais-te da sessão feliz.
-Mas
ele vai continuar a pensar que o...usei.
-Alguma
vez te interessou o que os outros pensam?
-Não...mas
é o Sergio. Ele é diferente Miró.
-Sim.
Eu já tinha percebido que é...mas também tens de te lembrar que
tens de seguir em frente. Devias falar com ele.
-Para
que? Para ele me voltar a dizer o mesmo?
-Não...ele
pode ter falado sem pensar.
-Não.
Ele pensa no que diz, antes de dizer.
-Oh!
Eu acho que devias dar-lhe uma oportunidade.
-E
eu acho que preciso de esperar um tempo.
-E
eu vou ter de ir trabalhar.
-Vais
para o café?
-Sim,
tenho o turno até ao fecho.
-Amanha
apareço por lá.
-Porque
é que não vais hoje?
-Porque...preciso
de ficar sozinha, ok?
-Tá.
Eu vou indo – ela levantou-se
da mesa, passou por mim, dando-me um beijo na testa, e saiu de casa.
Fiquei
a olhar para aquelas quatro paredes...e estava sem vontade nenhuma de
ficar ali fechada, presa com os meus pensamentos.
Fui
até ao meu quarto, onde já estavam as minhas malas, e troquei de
roupa, por algo mais confortável. Poderíamos estar numa época de
temperaturas mais baixas, mas neste sitio, a minha indomentária era
praticamente sempre a mesma, simples e fresca. Sentia sempre que era
verão e mesmo que estivesse frio eu não o sentia.
Sai
de casa e comecei a caminhar pelo bosque. Fui até ao local da minha
antiga casa. Não tinha quase memórias nenhumas daquele sitio,
apenas o meu terceiro aniversário, um Natal, o dia em que fizemos o
nosso símbolo e...o acidente. O dia em que perdi os meus dois pais.
De
tudo o que havia da casa a única coisa que se conseguir permanecer
intacta foi uma das vigas que tínhamos no nosso terraço. A mais
importante de todas. Fui até lá...custava chegar ao sitio, estava
tudo meio que abandonado e haviam imensas ervas a tapar o caminho,
mas mesmo assim cheguei lá...e o nosso símbolo permanecia intacto.
Duplo
infinito.
«Em
1991...
-Mamã
eu gosto muito de ti – a
pequena Ana, com os seus 3 anos, era uma menina bastante afectiva e
demonstrava-o sempre. Para a mãe e para o pai.
-E
a mãe ama-te muito, ratinha.
-Eu
não sou um rato!
-És
a minha ratinha sim!
-E
a minha! - o seu pai, um senhor
muito trabalhador para dar o máximo que podia à sua filha, chegava
neste preciso momento a casa.
-Papá!
- a pequena Ana foi a correr
ter com o seu pai, que a rodopiou no ar – eu gosto muito
de ti papá!
-E
eu amo-te muito ratinha! - os
dois roçaram os narizes um no outro, e o pai de Ana colocou-a no
chão.
-Eu
gosto de vocês assim – a
pequena abriu os braços, esticando-os o mais que conseguia.
-Acho
que a mãe e o pai gostam mais de ti – disse-lhe
a sua mãe.
-Os
vossos braços são maiores!
-Mas
o que a mãe está a querer dizer é que nós gostamos muito mais de
ti.
-De
que tamanho?
-O
Infinito – respondeu-lhe a
mãe.
-Vezes
o infinito – acrescentou o
pai.
-E
isso é mais que o meu?
-Sim,
princesa.
-Como
é que é o infinito mamã?
-O
infinito é o céu, princesa, mas têm um símbolo.
-Podes
fazer? - a menina pegou num dos
seus lápis de cor e numa folha.
A
mãe desenhou-se o símbolo do infinito, ao qual o pai acrescentou o
dele.
-Eu
e a mamã Maria amamos-te infinito vezes...
-Infinito
– acrescentou Maria, a mãe
de Ana.
-E
eu amo muito também a mamã Maria e o papá Sergio. »
Ao
me lembrar daquele dia...foi como se voltasse a me lembrar do momento
em que desenhamos na viga o nosso símbolo. Infinito vezes infinito.
Sentei-me
encostada à viga a chorar. Tinha falta de uns pais. Dos meus
papás...sobretudo neste momento. A minha mãe, Maria, era a que mais
me “dava nas orelhas”, não que eu me portasse muito mal, talvez
um pouco, mas o meu pai sempre foi o que me dava tudo às escondidas
da mãe.
O
meu pai...Sergio. O único homem que eu idolatro, o meu anjo que
brilha mais que qualquer outro, o único homem que amei até
hoje...até conhecer o meu Sergio. Sempre me disseram que não
existem coincidências, e a prova disso é isto. O meu pai tinha o
nome de Sergio, o nome do único homem, que amo, amei, ou vou
amar...além do meu pai.
Não
sei se foi isso que me fez estar à vontade, demais, com ele...mas
sentia-o parecido com o meu pai...não só no nome, mas em
personalidade. São idênticos, cada um com os seus pequenos
defeitos, mas cada um perfeito.
“-Foi
para isto que tens andado comigo?”
Aquela
pergunta voltou a entrar na minha cabeça...tudo aquilo voltou. As
lágrimas, que me escorriam pela cara desde que me lembrei dos meus
pais, voltou a intensificar-se. Porque é que doía tanto...estar sem
ele? Tê-lo a duvidar...de mim, como eu nunca duvidaria dele?
«I
came here tonight to get shit out of my mind
I'm gonna take what I find (Oh oh, yeah)»
I'm gonna take what I find (Oh oh, yeah)»
Oh
não! Não, não, não! Este toque não! Retirei o meu telemóvel do
bolso...era o Sergio.Comecei a tremer, a chorar ainda mais...e fiquei
completamente desesperada. Eu queria falar com ele...ou pelo menos
ouvir a sua voz...necessitava disso, até de saber o porque da sua
pergunta.
Olhei
para o céu...que estava cinzento... típico deste inverno.
-O
que é que eu faço, papás? Eu preciso tanto de vocês! - fechei
os olhos, continuando com as lágrimas a escorrerem-me pela cara. Foi
então que o sol abriu. Ficou sol. Abri os meus olhos, continuando a
olhar para o céu. O telemóvel deixara de tocar.
-Isso
que dizer que eu tenho de falar com ele? - voltei
a falar para o céu...e...
«I
came here tonight to get shit out of my mind
I'm gonna take what I find (Oh oh, yeah)»
I'm gonna take what I find (Oh oh, yeah)»
Olhei
para o telemóvel.
Pressionei o verde e levei o objecto que me permitiria ouvir o Sergio, ao
ouvido.
Nenhum
de nós falava...
“-Ana?”
- por momentos pensei que ele
não estivesse do outro lado...mas estava...e chamou pelo meu nome. A
sua voz...aquela voz, espanhola, que me derretia toda, causou uma
sensação estranha dentro de mim...saudade? Dor? Mágoa? Tudo...era
uma mistura de tudo...simplesmente era um turbilhão de sensações.
Eu chorava...soluçava e nada conseguia dizer.
“-Se
calhar não foi a melhor forma de te receber...a tua...não
informação do que ias fazer, apanhou-me desprevenido e não sabia o
que pensar, nem o que dizer. Eu queria falar contigo, pessoalmente.
Devo-te isso.”
Inspirei
fundo e levantei-me, pousando a minha mão sobre o símbolo dos meus
pais, ganhado forças e respiração para lhe responder.
-Pensei
que estava a fazer uma surpresa...mas fui eu a apanhada – falei
por entre soluços, mas percebeu-se o que disse.
“-Não
chores...não pelo que disse. Não deves sofrer com as coisas que
digo da boca para fora.”
-Disseste...e
agora custa imenso a esquecer.
“-Peço-te...por
tudo, que venhas para Madrid. Ser modelo fotográfico foi o que te
fez sentir ainda mais mulher do que és, eu apoio, mas não me
ocultas isso. Eu preciso de saber, preciso de te acompanhar. Sei que
é difícil ou impossível de acreditares em mim, mas é verdade.”
-Eu
preciso de tempo...estou na minha terra. Com os meus pais, os meus
amigos. Não posso ir.
“-Eu
quero mesmo resolver as coisas.”
-Eu
também, mas ainda é muito cedo. Uns dias...mas...não telefones.
“-Como
queiras.”
-Falamos
depois...Sergio.
“-Fica
bem Ana.”
Desliguei
aquela chamada e voltei para casa. Deitei-me na minha cama e
adormeci. Estava a precisar de me desligar de tudo aquilo.
Na
tarde do dia seguinte:
Acordei
demasiado cedo de manha, mas isso só me deu para aproveitar o dia
para ir correr.
Depois
de almoço fiquei em casa com a Miranda, até que fomos, as duas, até
ao café onde ela trabalha. Quando estávamos a chegar...vi o
Salvador. O único rapaz que um dia quis ter uma coisa mais séria
comigo. Foi um dos que mais me apoio deu depois de sair do orfanato.
-Olha
se não é a nossa Ana! - ele
levantou-se e veio abraçar-me.
Demos
um super e apertadinho abraço e juntamo-nos na mesa dele.
-Decidiste
voltar à terrinha?
-Estava
a precisar...
-Pois...agora
que és conhecida na rua, deve andar um caos.
-Nem
por isso. É pior em Madrid.
-Trouxeste
o Sergio contigo? Tens de o apresentar à malta.
-Não...houve
aí uns problemas.
-Então?
-Por
causa da sessão fotográfica.
-Ele
não gostou?
-Não
reagiu bem.
Nisto
o telemóvel do Sal, era como o tratávamos, começou a tocar.
-Com
licença.
Ele
levantou-se e foi atender a chamada.
Eu
e a Miranda pedimos algo para lanchar.
-Ana!
- disse o Sal, sentando-se à
minha frente com o telemóvel na mão – não sei se
sabes, mas eu trabalho para uma agência e eles...iam fazer uma
sessão fotográfica para uma marca qualquer de roupa, mas a modelo
feminina não pode. E eles pediram para arranjar uma substituta.
-Não!
Fora de questão.
-Porque
não, Pipa, era fantástico! - disse,
super entusiasmada, a Miró.
-Esqueces-te
do Sergio?
-Não...mas
não gostaste? - amei! Se me
deixassem poderia fazê-lo muitas mais vezes.
Eu
queria fazê lo...era para ajudar o Sal. Mas o Sergio...ele precisava
de saber. Eu tinha de o avisar, antes que ele soubesse por alguém.
Decidi
mandar-lhe uma mensagem:
“Preciso
de ajudar um amigo...com uma sessão fotográfica. É só para que
saibas...não te usei, nunca te usaria. Eu não sou como as outras.”
-Podes
contar comigo – disse para o
Sal, que me deu um beijo na testa e continuou a falar ao telemóvel.
“Sei
perfeitamente disso...és a minha pessoa, eu sei o que tu és. Dá o
teu melhor e deixa-me ser o teu namorado orgulhoso e não...receoso.”
Senti
um certo...alivio, com o apoio do Sergio à minha sessão.
-Quando
é que é? - perguntei ao Sal.
-Amanhã
de manha, mas hoje à noite temos uma festa da marca.
-E
eu preciso de ir?
-Claro.
Assim conheces o rapaz com quem vais fazer as fotografias.
-Rapaz!?
-Sim.
É com um rapaz, mas não te esqueces que é com roupa.
-Ok.
(Sergio)
Ter
falado com a Ana tinha-me deixado mais tranquilo. Precisava de ouvir
a voz dela. De saber como ela estava. E ainda me tinha avisado que
iria fazer mais uma sessão.
Não
tinha duvida nenhuma de que ela poderia ser modelo. Tem capacidade
para isso. Queria sentir-me orgulhoso dela...aliás, sentia-me
orgulhoso dela. Apenas precisava que ela partilhasse comigo. Como o
fez desta vez.
Depois
de ter falado com ela, fui para o treino e quando voltei a casa,
antes de jantar, fui passar pelo twitter e ver se algo de novo se
passava.
Foi
então que vi que a Ana tinha colocado uma fotografia. Seria já da
sessão? Abri...curioso.
“Antes
de nos entregarmos às fotografias...é tempo de conhecer o meu
companheiro de fotos. Obrigada pelo apoio de todos...e do teu...S”
|
Fiquei
contente por ela, estava feliz. Ela é linda, perfeita demais e vai
sair-se muito bem...se bem que...isto de ter um rapaz à mistura...
Olá!
ResponderEliminarComo sempre adorei!
O duplo infinito <3
E ainda bem que eles se acertaram. Agora so espero que nao de para o torto e que a Ana volte rapidamente a Madrid!
Beso
Ana Santos
próximo sff
ResponderEliminarAdorei (;
ResponderEliminarQuero ver como correm as fotos e espero que ela vá a Madrid (;
Quero o próximo...
Beijinhos
Nii'i
ADOREI!!!
ResponderEliminarPróximo por favor!
Bjokinhas
Mariaa
Olá :)
ResponderEliminarFiquei contente por eles estarem "melhor".
Mas espero que desta vez o Sérgio não se passe outra vez, por a sessão ser com um rapaz.
Próximoooo
Bijinhos
Daniela^^
Adorei!
ResponderEliminarQuero o próximo!
Beijinhos
ainda bem que se acertaram, ihih
ResponderEliminaragora quero ver como vai ser o resultado da sessão e o reencontro deles :b
como sempre achei que estava perfeito!!
e tenho que admitir que hoje vim aquilo pelo menos 3 vezes para ver se já tinhas publicado ((:
agora quero o próximo rapidinho, por favor :(((
beijinhos, Débora *
Tão lindo, principalmente a historia dos pais
ResponderEliminarQuero mais...
Beijinhos
Olá!
ResponderEliminarGraças a Deus que eles se resolveram :P!
Isto até dá outro "gostinho" aos teus capítulos lool
Quero mais se faz favor e rápido!!
Beijinhos
Rita