domingo, 10 de fevereiro de 2013

11 - Duplo Infinito

-Sim, tenho a certeza – disse pela última vez, certa do que estava a dizer.

(Sergio)
-Ela não atende – entreguei o telemóvel ao Iker e...foi então que tudo se desmurenou. Ela estava a ignorar a minha chamada. Estava magoada comigo, mas também eu estava magoado com ela.
-Mas, desligou a chamada? - perguntou o Iker.
-Não...está impedido.
-Então ela está a falar com alguém espera mais um pouco.

(Ana)
Felizmente, a chamada não era do Sergio. Era um agente espanhol a tentar convencer-me a ser agenciada por ele, a fim de me conseguir arranjar mais trabalhos fotográficos.
-Tem mesmo a certeza que não aceita a proposta?”
-Sim, tenho a certeza – disse pela última vez, certa do que estava a dizer.
-De qualquer maneira tem o meu número de telefone, pode contactar se mudar de ideias.”
-Com certeza.
-Boa tarde.”
-Igualmente.
Desligamos a chamada e a Miró olhou, seriamente, para mim.
-Não era o Sergio... - afirmou ela.
-Não. Um agente...a querer contratar-me e arranjar-me mais trabalhos.
-E...recusaste?
-Claro.
-Claro, porque?
-Achas que vou continuar com aquilo que acabou o que eu tinha de melhor agora?
-Acho...pelo menos sais-te da sessão feliz.
-Mas ele vai continuar a pensar que o...usei.
-Alguma vez te interessou o que os outros pensam?
-Não...mas é o Sergio. Ele é diferente Miró.
-Sim. Eu já tinha percebido que é...mas também tens de te lembrar que tens de seguir em frente. Devias falar com ele.
-Para que? Para ele me voltar a dizer o mesmo?
-Não...ele pode ter falado sem pensar.
-Não. Ele pensa no que diz, antes de dizer.
-Oh! Eu acho que devias dar-lhe uma oportunidade.
-E eu acho que preciso de esperar um tempo.
-E eu vou ter de ir trabalhar.
-Vais para o café?
-Sim, tenho o turno até ao fecho.
-Amanha apareço por lá.
-Porque é que não vais hoje?
-Porque...preciso de ficar sozinha, ok?
-Tá. Eu vou indo – ela levantou-se da mesa, passou por mim, dando-me um beijo na testa, e saiu de casa.
Fiquei a olhar para aquelas quatro paredes...e estava sem vontade nenhuma de ficar ali fechada, presa com os meus pensamentos.
Fui até ao meu quarto, onde já estavam as minhas malas, e troquei de roupa, por algo mais confortável. Poderíamos estar numa época de temperaturas mais baixas, mas neste sitio, a minha indomentária era praticamente sempre a mesma, simples e fresca. Sentia sempre que era verão e mesmo que estivesse frio eu não o sentia. 


Sai de casa e comecei a caminhar pelo bosque. Fui até ao local da minha antiga casa. Não tinha quase memórias nenhumas daquele sitio, apenas o meu terceiro aniversário, um Natal, o dia em que fizemos o nosso símbolo e...o acidente. O dia em que perdi os meus dois pais.
De tudo o que havia da casa a única coisa que se conseguir permanecer intacta foi uma das vigas que tínhamos no nosso terraço. A mais importante de todas. Fui até lá...custava chegar ao sitio, estava tudo meio que abandonado e haviam imensas ervas a tapar o caminho, mas mesmo assim cheguei lá...e o nosso símbolo permanecia intacto.
Duplo infinito.

«Em 1991...
-Mamã eu gosto muito de ti – a pequena Ana, com os seus 3 anos, era uma menina bastante afectiva e demonstrava-o sempre. Para a mãe e para o pai.
-E a mãe ama-te muito, ratinha.
-Eu não sou um rato!
-És a minha ratinha sim!
-E a minha! - o seu pai, um senhor muito trabalhador para dar o máximo que podia à sua filha, chegava neste preciso momento a casa.
-Papá! - a pequena Ana foi a correr ter com o seu pai, que a rodopiou no ar – eu gosto muito de ti papá!
-E eu amo-te muito ratinha! - os dois roçaram os narizes um no outro, e o pai de Ana colocou-a no chão.
-Eu gosto de vocês assim – a pequena abriu os braços, esticando-os o mais que conseguia.
-Acho que a mãe e o pai gostam mais de ti – disse-lhe a sua mãe.
-Os vossos braços são maiores!
-Mas o que a mãe está a querer dizer é que nós gostamos muito mais de ti.
-De que tamanho?
-O Infinito – respondeu-lhe a mãe.
-Vezes o infinito – acrescentou o pai.
-E isso é mais que o meu?
-Sim, princesa.
-Como é que é o infinito mamã?
-O infinito é o céu, princesa, mas têm um símbolo.
-Podes fazer? - a menina pegou num dos seus lápis de cor e numa folha.
A mãe desenhou-se o símbolo do infinito, ao qual o pai acrescentou o dele.
-Eu e a mamã Maria amamos-te infinito vezes...
-Infinito – acrescentou Maria, a mãe de Ana.
-E eu amo muito também a mamã Maria e o papá Sergio. »
Ao me lembrar daquele dia...foi como se voltasse a me lembrar do momento em que desenhamos na viga o nosso símbolo. Infinito vezes infinito. 


Sentei-me encostada à viga a chorar. Tinha falta de uns pais. Dos meus papás...sobretudo neste momento. A minha mãe, Maria, era a que mais me “dava nas orelhas”, não que eu me portasse muito mal, talvez um pouco, mas o meu pai sempre foi o que me dava tudo às escondidas da mãe.
O meu pai...Sergio. O único homem que eu idolatro, o meu anjo que brilha mais que qualquer outro, o único homem que amei até hoje...até conhecer o meu Sergio. Sempre me disseram que não existem coincidências, e a prova disso é isto. O meu pai tinha o nome de Sergio, o nome do único homem, que amo, amei, ou vou amar...além do meu pai.
Não sei se foi isso que me fez estar à vontade, demais, com ele...mas sentia-o parecido com o meu pai...não só no nome, mas em personalidade. São idênticos, cada um com os seus pequenos defeitos, mas cada um perfeito.

-Foi para isto que tens andado comigo?”

Aquela pergunta voltou a entrar na minha cabeça...tudo aquilo voltou. As lágrimas, que me escorriam pela cara desde que me lembrei dos meus pais, voltou a intensificar-se. Porque é que doía tanto...estar sem ele? Tê-lo a duvidar...de mim, como eu nunca duvidaria dele?

«I came here tonight to get shit out of my mind
I'm gonna take what I find (Oh oh, yeah)»

Oh não! Não, não, não! Este toque não! Retirei o meu telemóvel do bolso...era o Sergio.Comecei a tremer, a chorar ainda mais...e fiquei completamente desesperada. Eu queria falar com ele...ou pelo menos ouvir a sua voz...necessitava disso, até de saber o porque da sua pergunta.
Olhei para o céu...que estava cinzento... típico deste inverno.
-O que é que eu faço, papás? Eu preciso tanto de vocês! - fechei os olhos, continuando com as lágrimas a escorrerem-me pela cara. Foi então que o sol abriu. Ficou sol. Abri os meus olhos, continuando a olhar para o céu. O telemóvel deixara de tocar.
-Isso que dizer que eu tenho de falar com ele? - voltei a falar para o céu...e...

«I came here tonight to get shit out of my mind
I'm gonna take what I find (Oh oh, yeah)»

Olhei para o telemóvel.
Pressionei o verde e levei o objecto que me permitiria ouvir o Sergio, ao ouvido.
Nenhum de nós falava...
-Ana?” - por momentos pensei que ele não estivesse do outro lado...mas estava...e chamou pelo meu nome. A sua voz...aquela voz, espanhola, que me derretia toda, causou uma sensação estranha dentro de mim...saudade? Dor? Mágoa? Tudo...era uma mistura de tudo...simplesmente era um turbilhão de sensações. Eu chorava...soluçava e nada conseguia dizer.
-Se calhar não foi a melhor forma de te receber...a tua...não informação do que ias fazer, apanhou-me desprevenido e não sabia o que pensar, nem o que dizer. Eu queria falar contigo, pessoalmente. Devo-te isso.”
Inspirei fundo e levantei-me, pousando a minha mão sobre o símbolo dos meus pais, ganhado forças e respiração para lhe responder.
-Pensei que estava a fazer uma surpresa...mas fui eu a apanhada – falei por entre soluços, mas percebeu-se o que disse.
-Não chores...não pelo que disse. Não deves sofrer com as coisas que digo da boca para fora.”
-Disseste...e agora custa imenso a esquecer.
-Peço-te...por tudo, que venhas para Madrid. Ser modelo fotográfico foi o que te fez sentir ainda mais mulher do que és, eu apoio, mas não me ocultas isso. Eu preciso de saber, preciso de te acompanhar. Sei que é difícil ou impossível de acreditares em mim, mas é verdade.”
-Eu preciso de tempo...estou na minha terra. Com os meus pais, os meus amigos. Não posso ir.
-Eu quero mesmo resolver as coisas.”
-Eu também, mas ainda é muito cedo. Uns dias...mas...não telefones.
-Como queiras.”
-Falamos depois...Sergio.
-Fica bem Ana.”
Desliguei aquela chamada e voltei para casa. Deitei-me na minha cama e adormeci. Estava a precisar de me desligar de tudo aquilo.

Na tarde do dia seguinte:
Acordei demasiado cedo de manha, mas isso só me deu para aproveitar o dia para ir correr.
Depois de almoço fiquei em casa com a Miranda, até que fomos, as duas, até ao café onde ela trabalha. Quando estávamos a chegar...vi o Salvador. O único rapaz que um dia quis ter uma coisa mais séria comigo. Foi um dos que mais me apoio deu depois de sair do orfanato.
-Olha se não é a nossa Ana! - ele levantou-se e veio abraçar-me.
Demos um super e apertadinho abraço e juntamo-nos na mesa dele.
-Decidiste voltar à terrinha?
-Estava a precisar...
-Pois...agora que és conhecida na rua, deve andar um caos.
-Nem por isso. É pior em Madrid.
-Trouxeste o Sergio contigo? Tens de o apresentar à malta.
-Não...houve aí uns problemas.
-Então?
-Por causa da sessão fotográfica.
-Ele não gostou?
-Não reagiu bem.
Nisto o telemóvel do Sal, era como o tratávamos, começou a tocar.
-Com licença.
Ele levantou-se e foi atender a chamada.
Eu e a Miranda pedimos algo para lanchar.
-Ana! - disse o Sal, sentando-se à minha frente com o telemóvel na mão – não sei se sabes, mas eu trabalho para uma agência e eles...iam fazer uma sessão fotográfica para uma marca qualquer de roupa, mas a modelo feminina não pode. E eles pediram para arranjar uma substituta.
-Não! Fora de questão.
-Porque não, Pipa, era fantástico! - disse, super entusiasmada, a Miró.
-Esqueces-te do Sergio?
-Não...mas não gostaste? - amei! Se me deixassem poderia fazê-lo muitas mais vezes.
Eu queria fazê lo...era para ajudar o Sal. Mas o Sergio...ele precisava de saber. Eu tinha de o avisar, antes que ele soubesse por alguém.
Decidi mandar-lhe uma mensagem:

Preciso de ajudar um amigo...com uma sessão fotográfica. É só para que saibas...não te usei, nunca te usaria. Eu não sou como as outras.”

-Podes contar comigo – disse para o Sal, que me deu um beijo na testa e continuou a falar ao telemóvel.

Sei perfeitamente disso...és a minha pessoa, eu sei o que tu és. Dá o teu melhor e deixa-me ser o teu namorado orgulhoso e não...receoso.”

Senti um certo...alivio, com o apoio do Sergio à minha sessão.
-Quando é que é? - perguntei ao Sal.
-Amanhã de manha, mas hoje à noite temos uma festa da marca.
-E eu preciso de ir?
-Claro. Assim conheces o rapaz com quem vais fazer as fotografias.
-Rapaz!?
-Sim. É com um rapaz, mas não te esqueces que é com roupa.
-Ok.

(Sergio)
Ter falado com a Ana tinha-me deixado mais tranquilo. Precisava de ouvir a voz dela. De saber como ela estava. E ainda me tinha avisado que iria fazer mais uma sessão.
Não tinha duvida nenhuma de que ela poderia ser modelo. Tem capacidade para isso. Queria sentir-me orgulhoso dela...aliás, sentia-me orgulhoso dela. Apenas precisava que ela partilhasse comigo. Como o fez desta vez.
Depois de ter falado com ela, fui para o treino e quando voltei a casa, antes de jantar, fui passar pelo twitter e ver se algo de novo se passava.
Foi então que vi que a Ana tinha colocado uma fotografia. Seria já da sessão? Abri...curioso.

Antes de nos entregarmos às fotografias...é tempo de conhecer o meu companheiro de fotos. Obrigada pelo apoio de todos...e do teu...S”
Fiquei contente por ela, estava feliz. Ela é linda, perfeita demais e vai sair-se muito bem...se bem que...isto de ter um rapaz à mistura...

9 comentários:

  1. Olá!
    Como sempre adorei!
    O duplo infinito <3
    E ainda bem que eles se acertaram. Agora so espero que nao de para o torto e que a Ana volte rapidamente a Madrid!

    Beso
    Ana Santos

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  2. Adorei (;
    Quero ver como correm as fotos e espero que ela vá a Madrid (;
    Quero o próximo...
    Beijinhos

    Nii'i

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  3. ADOREI!!!
    Próximo por favor!
    Bjokinhas
    Mariaa

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  4. Olá :)

    Fiquei contente por eles estarem "melhor".
    Mas espero que desta vez o Sérgio não se passe outra vez, por a sessão ser com um rapaz.

    Próximoooo
    Bijinhos
    Daniela^^

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  5. ainda bem que se acertaram, ihih
    agora quero ver como vai ser o resultado da sessão e o reencontro deles :b
    como sempre achei que estava perfeito!!
    e tenho que admitir que hoje vim aquilo pelo menos 3 vezes para ver se já tinhas publicado ((:
    agora quero o próximo rapidinho, por favor :(((
    beijinhos, Débora *

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  6. Tão lindo, principalmente a historia dos pais
    Quero mais...

    Beijinhos

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  7. Olá!
    Graças a Deus que eles se resolveram :P!
    Isto até dá outro "gostinho" aos teus capítulos lool
    Quero mais se faz favor e rápido!!
    Beijinhos
    Rita

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