domingo, 17 de março de 2013

18 - "...agora, não penses que te livras de nós."

Aquela pergunta da Ana parecia completamente fora de contexto...mas era o que ela queria fazer...ela queria ir ter com o primo, um bebé que tinha nascido à 15 semanas e que era da família dela. 
Seguimos o tio dela, no meu carro, e alguns minutos depois chegamos a uma vivenda um pouco afastada do centro de Madrid. A Ana estava super calada. Estava calma, muito tranquila, mas, ao mesmo tempo, estava triste...eu via isso no seu olhar. Os olhos dela estavam baços, sem o seu brilho permanente...aquele brilho que eu tanto gostava de lhe ver no olhar. 
Saímos do carro, depois de o estacionar ao lado do carro do tio da Ana, e encaminhamo-nos, juntamente com o Ricardo, para o interior da casa. 
- Elsa? - chamou o Ricardo - vamos até à sala.
Seguimos o Ricardo, de mão dada, até à sala e sentamo-nos no sofá lado a lado. 
- A Elsa deve estar lá em cima do com...o...Sergio. 
- Deu o nome do meu pai ao seu filho? - perguntou a Ana, calmamente. O primo dela...tinha o nome do pai da Ana...o meu nome, também. 
- Dei...espero que não te importes.
- É claro que não... - a Ana não se importava...porque, certamente, "via" aquele bebé como família. Ela nunca o tinha conhecido porque ele tinha nascido à pouco tempo e não sabia do que se tinha passado à anos atrás.
Alguns segundos depois aparece uma senhora com um bebé nos braços. Era a tia e o primo da Ana. Tratava-os assim, porque sabia que a Ana também o ia fazer. Ela precisa de uma família, precisa de alguém do sangue dela, ainda para mais, precisa de alguém aqui, em Madrid, para além de mim...e da minha família. 
- Ana... - a senhora parecia ter ficado perturbada, começou a chorar, mas sorriu. 
- Elsa...é a Ana, a filha do meu irmão. 
- Muito prazer - disse a Ana, levantando-se, indo ter com a senhora e cumprimentou-a com dois beijos na face. 

(Ana)
Estar no meio de...pessoas do meu sangue...era como se fosse pequenina outra vez. Era como se estivesse a conhecer tanta gente, como conhecemos no primeiro dia em que chegamos ao mundo. Não me sentia mal...tinha imensas perguntas na cabeça, umas com resposta, outras sem, mas não me atrevia a fazê-las em alta voz.
- É tão bom que estejas aqui... - falou a Elsa, depois de a cumprimentar.
- Tinha de os conhecer...o Ricardo falou em vocês...e...são da família dele - não me peçam para os começar já a tratar por família...eu sei que eles são, mas também sei que nunca o foram. 
- Como é que tens andado?
- Ultimamente melhor. 
- Continuas a ter casa na Ericeira?
- Sim...depois de ter saído do orfanato... construí casa lá, com uma irmã e temos tido sorte. 
- Anda sentar-te ali comigo - voltamos para o sofá...o Sergio e o Ricardo já não estavam presentes...e comecei a sentir-me super desconfortável - quero que saibas que podes contar connosco de hoje em diante. E gostávamos muito de puder contar contigo nas nossas vidas. Principalmente na do Sergio - ela falou no filho e olhou para ele. 
- Sinto muito pelo que aconteceu...com o vosso outro filho. 
- A vida prega partidas para as quais nunca estamos preparados...
- Acho que ambas sabemos bem disso - ela olhou para mim, sorriu-me e voltou a olhar para o filho. Eu também olhei para o bebé...era lindo. Como qualquer bebé. Para mim. Qualquer bebé é lindo à sua maneira. Na sua mais pura inocência são capazes de dar sorrisos a alguém, são capazes de trazer a maior alegria a uma mulher, pelo simples facto de nascerem e pudermos dizer que é o nosso bebé. 
- Queres pegar-lhe? - perguntou a Elsa.. Eu apenas assenti positivamente com a cabeça. A Elsa passou-me o bebé para os braços...e não sei explicar o que é que senti...eu sei que não é meu filho, mas nunca tinha sentido nada do género com um bebé...também nunca tinha tido nenhum assim nos braços e estava completamente sem palavras...e comecei a chorar - estás bem, Ana? - perguntou-me a Elsa. 
- Sim, estou...desculpe. 
- Porque é que me estás a pedir desculpa, querida?
- Não sei...
- Queres ser mãe? - olhei para ela...depois de me perguntar se...queria ser mãe. Sorri-lhe e olhei para o meu primo. 
Queria ser mãe? Claro...qualquer mulher deseja ser mãe...mas no meu caso, ser mãe é uma coisa que só num futuro super longínquo  Porque...primeiro, tenho de pensar no que é que quero fazer da minha vida. Sei que agora vou cantar...mas não será para sempre, nem uma coisa definitiva. Eu não quero andar entre Lisboa e Madrid...se estiver com o Sergio. Segundo: ... o pai. Para se ter um filho é necessário um espermatozóide e um óvulo, esse tenho-o eu, mas a outra metade ainda não deve existir. Estar com o Sergio...não significa ter o homem da minha vida. Eu amo-o, mais do que qualquer coisa, mas quem me garante que é com ele que caso, tenho filho, netos e a velhice?
- Querem almoçar cá? - perguntou o Ricardo entrando na sala...com o meu Sergio.
- Acho melhor ficar para outro dia - respondi - não queremos dar trabalho...
- Não dão trabalho nenhum.
- Obrigada na mesma...mas fica para uma próxima. 
- Vocês é que sabem. 

(Sergio)
Quando a tia da Ana entrou na sala, o Ricardo disse-me para o acompanhar até ao seu escritório. Ficamos a falar os dois sobre o passado da Ana, quando ela era pequenina e eles ainda moravam em Portugal. 
Falamos, também, do presente...o Ricardo fez o papel de pai. É super interessado por tudo o que a Ana tem feito, o que ela sempre quis fazer...a Ana quando era pequenina, queria ser jornalista desportiva, como o era quando a conheci. Nada dos seus planos em pequena passavam pela música. 
O Ricardo ofereceu-nos almoço, mas não o iria aceitar sem que a Ana aceitasse também, por isso fomos até à sala, onde ela estava. 
Entrar na sala foi como entrar num lugar mágico... A Ana estava com o primo nos braços, tinha estado a chorar...mas os seus olhos brilhavam da maneira mais perfeita que alguma vez tinha visto. Ela tinha o cuidado de uma mãe...e eu sentia-me estranho. 
Nunca pensei em ter filhos...não era a coisa mais importante para mim...mas ver a mulher que quero que seja minha para sempre, com um bebé nos braços foi como se...despertasse algo em mim. 
- Querem almoçar cá? - perguntou o Ricardo.
- Acho melhor ficar para outro dia...não queremos dar trabalho... - respondeu a Ana, olhando para mim. 
- Não dão trabalho nenhum.
- Obrigada na mesma...mas fica para uma próxima. 
- Vocês é que sabem - a Ana entregou o primo à tia e veio ter comigo.
- Elsa...apresento-lhe o meu namorado...Sergio, é a minha tia - ela, inconscientemente disse tia, olhou para mim, olhou para a Elsa e para o Ricardo...ela estava confusa. 
- Muito gosto - disse, quebrando o momento, e cumprimentei a tia da Ana. 
- Igualmente.

(Ana)
Inconscientemente chamei a Elsa de tia...não me senti mal ao fazê lo...pelo contrário...e enquanto o Sergio a cumprimentava, fui ter com o...meu tio. 
- Obrigada por ter ido ter comigo ontem à noite.
- Não me tens de agradecer nada...só fiz o que já devia ter feito à imenso tempo - não resisti e abracei-o. 
- Obrigada tio. 
- O teu abraço é a melhor recompensa do mundo - ele olhou para mim e deu-me um beijo na testa - agora, não penses que te livras de nós.
- Ainda bem - voltei a abraça-lo, para, de seguida, o soltar e olhar para a minha tia e o Sergio. Tanto um como o outro tinham um sorriso nos lábios...e a minha tia chorava. Fui abraçá-la também...sentia-me em família  Eles eram do meu sangue e eu só os podia aceitar na minha vida. 
Despedimo-nos deles, prometendo que iríamos lá almoçar ou jantar um dia destes. 
- Como é que te sentes? - perguntou o Sergio, depois de fechar a porta da casa, vindo abraçar-me.


- Incrivelmente bem - virei-me para ele e dei-lhe um beijo - obrigada Sergio...por tudo o que tens feito por mim e que nunca ninguém fez,
- Só para te ver com esse sorriso vale a pena. 
Abracei-o e fomos para casa.
Almoçamos os dois super tranquilos e, depois, o Sergio foi para o treino, enquanto que eu fiquei por casa. 
Estava entretida pelo computador, quando recebo uma sms. Abro-a e era da Miranda: 

"Olá minha flor linda. Espero que por Madrid as coisas estejam bem e que quando voltares a Lisboa não te esqueças da tua irmã. Entretanto eu e o Sal andamos aqui a procurar umas coisas e descobrimos que o teu Sergito é cantor! Se fores ao facebook tens lá um link para veres um video. Beijinhos meu bem."

Cantor?! O Sergio!? 

"Olá minha doidona! Está tudo maravilhoso por Madrid...e quando for aí tenho montes de coisas para te contar. Quando ao Sergio ser cantor...tens a certeza que viste bem? Eu sei que ele canta bem, mas há video disso? Beijinhos linda."

Iniciei sessão no facebook e tinha lá o link que a Miranda tinha dito. 
Abri o link e começou a tocar uma música...super cigana, super espanhola, com um ritmo super bom para dançar.
Fiquei encantada com tudo...com a música, com a letra...e com o Sergio. Porque é que nunca tinha descoberto isto antes?
Passei o resto da tarde a ouvir a musica e decorei-a, o que me facilitou a vida, assim andei pela casa toda, a ouvi-la no sistema de som do Sergio, e a cantá-la: 


- Nadie sabe (Ninguém sabe)
lo que llevo pasado en la vida (o que já passei na vida)
y quien va a creer (e quem vai acreditar)
si esto es verdad o es mentira (se isto é verdade ou é mentira)
con lo joven que era (como jovem que era)
y de la forma que vivía la vida. (e a forma como vivia a vida)

Y ya he cambiado, (E eu já mudei)
y ya dejado to los malos recuerdos. (e já deixei asmás recordações.)
Y nadie me entiende, (E ninguém me entende)
y dime ahora a quién le cuento esto (diz-me agora a quem conto isto)
es que no puedo mas (é que não posso mais)
porque ni yo mismo me comprendo. (porque nem eu mesmo me compreendo)

A letra era...incrivelmente minha.

- Y a quién le voy a contar mis penas (E a quem vou contar as minhas tristezas)
no se lo debo contar a nadie (não o devo contar a ninguém)
tan solo al mar y a las estrellas (apenas ao mar e às estrelas)
que ellos saben contra llevarme. (que eles sabem tomar-me.)

Y a quién le voy a contar mis penas (E a quem vou contar as minhas tristezas)
no se lo debo contar a nadie (não o devo contar a ninguém)
tan solo al mar y a las estrellas (apenas ao mar e às estrelas)
que ellos saben contra llevarme. (que eles sabem tomar-me.)

Senti o forte impacto do Sergio em mim...e a rodear-me com os seus braços na minha cintura, para começar ele, a cantar a sua parte da música...que sentido de oportunidade este rapaz...mas...estaria ele a ouvir-me à muito tempo?

- Siempre he vivido (Sempre viveste)
en el limite de lo prohibido (no limite do proibido)
y si no fuera (e se não fosse)
por los que han estado contigo (pelos que têm estado contigo)
hoy no tendrías rumbo (hoje não terias rumo)
serías como un barco perdido. (serias como um barco perdido.)

Solo quiero explicarle (Só quero explicar)
aquello que todos desconocen (aquilo que todos desconhecem)
de lo que ha sido y era (do que terás sido, e foste)
si va andando dice que vas en coche (se tu andas, dizem que vais fugir)
porque las malas lenguas (porque as más línguas)
sienten coraje de que tú seas noble. (não sentem a coragem de que sejas nobre)

O Sergio sabia o que vinha a seguir na letra, a parte do Canelita (o autor da música)

- Y a quién le voy a contar mis penas (E a quem vou contar as minhas tristezas) - cantei, segura de mim, e com a intensidade necessária.
- no se lo debo contar a nadie (não o devo contar a ninguém) - cantou ele, para de seguida continuarmos os dois a cantar juntos e numa dança...espanhola demais para o meu ritmo...mas completamente apaixonante.
tan solo al mar y a las estrellas (apenas ao mar e às estrelas)
que ellos saben contra llevarme. (que eles sabem tomar-me.)

Y a quién le voy a contar mis penas (E a quem vou contar as minhas tristezas)
no se lo debo contar a nadie (não o devo contar a ninguém)
tan solo al mar y a las estrellas (apenas ao mar e às estrelas)
que ellos saben contra llevarme. (que eles sabem tomar-me.)

Y a quién le voy a contar mis penas (E a quem vou contar as minhas tristezas)
no se lo debo contar a nadie (não o devo contar a ninguém)
tan solo al mar y a las estrellas (apenas ao mar e às estrelas)
que ellos saben contra llevarme. (que eles sabem tomar-me.)

Y a quién le voy a contar mis penas (E a quem vou contar as minhas tristezas)
no se lo debo contar a nadie (não o devo contar a ninguém)
tan solo al mar y a las estrellas (apenas ao mar e às estrelas)
que ellos saben contra llevarme. (que eles sabem tomar-me.)

A música terminou...os nossos corpos caíram no sofá. Estávamos cansados, suados e completamente apaixonados. Estávamos mesmo em sintonia e apaixonados um pelo outro. 
- Como é que descobriste esta música? - perguntou ele. 
- Tenho as minhas fontes informadoras. Porque é que não me disseste que tinhas uma música?
- Porque...sei lá...
- Tanta insegurança menino Sergio?
- É...achas? Não calhou...e além do mais se andas-te a ver a música viste o video...
- Vi sim. E digo-te...o teu cabelinho era lindo.
- Vês...já estás a gozar. 
- Eu gosto...
- Ya. 
- A serio! É certo que ficar muito melhor assim, mas quando tinhas o cabelinho comprido eras igualmente lindo.
- E tu estás bem disposta porque se não estivesses...
- Ai Sergio! Eu estou a falar a serio! - sentei-me em cima dele e dei-lhe um beijo - quando tivermos o nosso filho vais ver que vai ter o cabelinho do pai - disse aquilo da boca para fora...sem ter pensado que o ia dizer. 
O Sergio ficou a olhar para mim e durante alguns segundos não se movimentou. 

7 comentários:

  1. Olá :)
    Fico feliz por a Ana finalmente ter alguém da família presente :D
    E o Sérgio? Desconhecia esta música xD
    Agora acho que o Sérgio ficou um bocado espantado com o que ouviu mas aposto que até ficou derretido ;D

    Beijinhos
    Daniela^^

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  2. Adorei quero o proximo.bjs

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  3. Adorei!!!
    Quero o próximo rapidooooo!!!
    Bjokinhas
    Mariaa

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  4. Fantástico como sempre! :)
    Posta o próximo rápido!!!
    Beijocas
    Margarida*

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  5. Eich nao se acaba nesta parte!
    Que crime!
    Adorei o capitulo! Ainda bem que a Ana encontrou parte dela, das origens dela. Mas sera que cada homem que aparece se chama Sergio? xD
    E o Sergito a cantar? ahahahah Me parto! xD
    Mas realmente esta ultima frase deixou-me para morrer! Quero o proximo!!

    Beso
    Ana Santos

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  6. Adorei, Adorei, Adorei!
    Continua!
    Bjs

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