quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

10 - "Não te percas e não faças nenhuma estupidez."

- Desculpa? - fiquei super espantada com aquela recepção do Sergio. Colocou a revista em cima das minhas pernas e fez a pergunta mais horrorosa e estapafúrdia que poderia existir para o momento. Se ele estava interessado em perguntar algo, a mim bastava-me: “Foste capaz?” ou “Quando é que fizeste?” ou ainda “Não tiveste receio?”. Qualquer uma era melhor que “Foi para isto que tens andado comigo?”. A enorme consideração que tinha por ele, diminuiu no momento em que tais palavras saíram pela sua boca. E não conseguia dizer-lhe mais nada.
- Foi para seres conhecida que te quiseste meter na cama comigo? Eu sempre pensei que fosses melhor que as outras, pensava mesmo que eras a tal, que me poderias mudar e que eu poderia ser, finalmente, feliz.
- E eu sempre pensei que ao menos confiasses em mim, mas já vi que és o anormal que todas dizem que és – saí do carro, peguei na minha mala e voltei a entrar no aeroporto. Ia desnorteada, sem saber o que pensar, fazer e/ou dizer. O meu primeiro instinto foi ir até ao posto de venda de bilhetes e comprar um...de ida, para Lisboa...no próximo avião.
- O seu avião parte daqui a 10 minutos. Deseja efectuar o check-in agora?
- Sim – a senhora fez o check-in e embarquei...de novo. Nova viagem, nova ida para Lisboa e para ficar por lá em definitivo.
A viagem deu para tudo. Chorar, barafustar comigo mesma, com ele, rir com os nervos que tinha, partir o telemóvel de o ter mandado ao chão com alguma, bastante, violência. O desespero de voltar à minha casa, enfiar-me na cama e chorar até mais não era enorme! Desejava que me dessem um comprimido e me metessem a dormir para não estar sempre a pensar nas mesmas palavras...as palavras que ele me disse. Insinuar que...o tinha usado? Se duvidava disso porque é que me deixava ficar no quarto dele todas as noites e dias que precisava?
Cheguei a minha casa...e senti-me sozinha. Pela primeira vez...em duas semanas.
Deitei-me no sofá e desliguei. Desliguei de tudo e a minha cabeça deu um nó e só pensava nele. No que tínhamos passado nestas semanas, em todos os nossos momentos e naquilo que ele tinha feito! Não conseguia...acreditar que ele tinha dito aquilo. E que...me tivesse deixado ir embora. Sempre pensei que me chamasse, ou que tentasse telefonar para falarmos...mas nada.

«We are friends for life
Hold that deep inside
Let this be you're drive
To survive

And you stand high and tall
Make sure you give you're all
And if you have a fall
Know that I'm right here

We'll always be together
Don't you worry
I'll always be by your side
Don't you worry» 

O meu telemóvel tocava, sabia perfeitamente que era...não fosse eu ter toques personalizados para cada pessoa mais importante na minha lista de contactos. Era a Miranda, a minha “irmã”, a pessoa que esteve comigo 14 anos no orfanato e que, fora dele, continua a ser a minha menina linda, apesar de ser um ano mais velha que eu.
A chamada acabou por acabar, mesmo antes que tivesse oportunidade de me levantar e conseguir atender o telemóvel. Sabia que ela iria voltar a insistir...levantei-me e esperei sentada...e, apenas alguns segundos depois, o telefone de casa estava a tocar. Levantei-me e fui atender.
“ -Vais-me dar a desculpa que estavas quase a atender, mas que não chegas-te a tempo? Desde que tens um namorado que te esqueces de mim” - ela, com a sua mania de começar a disparar assim que lhe atendia...nem me deixa dizer: oi.
- Estava deitada e o telemóvel muito longe.
“ -Que voz é essa?”
- É a minha
“ -De quando choras...passou-se alguma coisa?”
- Nada.
“ -Diz-me que é nada. Ouve lá...as fotos estão lindas. Acho que devias continuar com isto” - sem saber, meteu o dedo na ferida e as minhas lágrimas voltaram a escorrer-me pela cara.
- Obrigada.
“ -Ana Filipa Sousa Moreira tu não estás bem e vais explicar-me o que se passa, imediatamente.”
- Preciso de ti Miranda.
“ -Sabes que estou aqui para o que precisares, ou não? Qual é a tua?”
- Sei...mas preciso de estar fisicamente contigo...
“ -Ainda bem! Vim a Lisboa tratar de umas coisa, vou agora para a nossa casinha, queres vir?” - a nossa casinha...quando sai do orfanato, com a Miró, era a alcunha dela, que fomos para a minha terra natal: a Ericeira. Construímos  com ajuda de vizinhos e alguns conhecidos dos meus pais, uma casinha para nós. Com um jardim, no vale onde eu tinha a minha casa antiga. Ficava a poucos metros de distância, havia muito verde à volta e tínhamos a praia como última peça para completar o nosso paraíso.
- Sim...eu vou.
“ -Dá-me 15 minutos e estou aí.”
- Obrigada – desligámos a chamada e esperei que ela viesse ter comigo.
Ela não demorou a chegar e, assim que vi o carro dela a parar ao pé da porta do prédio, desci e fui ter com ela. Abracei-a, e como eu precisava dos seus abraços.
- Que cara é essa? - pois...realmente, não deveria ser a melhor.
- Eu preferia não falar agora sobre isso...
- Como querias, mas vais ter de me dar um sorriso e boa disposição se queres meter-te neste carro.
- Eu prometo tentar...
- Já não é mau. Vamos embora?
- Sim – coloquei as minhas malas no carro da Miró e fizemo-nos à estrada.
Como é a única pessoa que me conhece a 100%, assim que começamos a viagem, que demora cerca de 30 minutos, ligou logo o rádio e...coincidência ou não, a música que passava não poderia ser a melhor que existia para soltar alguma tensão, cantando-a:

«I'm ready for ya
Hit 'em all, switch it up
Put it on, zip it up
Let my perfume, soak into your sweater
Say you'll be here soon, sooner the better
No option for, you saying no
I run this game, just a play a role
Follow my lead, what you waiting for?
Thought it over and decided tonight is your night
Can-an-an you fee-ee-eel my hear-ar-art is beating (2x)

R.I.P, to the girl you used to see
Her days are over, baby she's over
I decided to give you all of me
Baby come closer, baby come closer

Nothing on, i strut around
I do it big, i shut it downI wonder if you'll be able to handle me
Mental pictures, no cameras please
Can-an-an you fee-ee-eel my hear-ar-art is beating (2x)

R.I.P, to the girl you used to see
Her days are over, baby she's over
I decided to give you all of me
Baby come closer, baby come closer(i, i, i'm ready for ya»

A Miranda sabia, perfeitamente, a minha vontade de cantar, de explodir com uma música quando os problemas eram maiores. A nossa viagem foi, toda ela, feita a cantar. Acabava uma, vinha logo outra a seguir e nós, bem...íamos tentando gritar o mais alto possível todas as letras de cada música que sabíamos.
Chegamos à Ericeira...e, uma sensação de...paz invadiu-me. Estava a precisar de estar ali, o barulho dos pássaros, das árvores, do mar...tudo aquilo era perfeito para mim e sabia-me bem.
Assim que saímos do carro, olhei para a Miranda.
- Tu tens de me contar o que se passa.
- Posso só...ir até à praia? Quando voltar eu conto-te tudo.
- Contas?
- Prometo.
- Não te percas e não faças nenhuma estupidez.
- Até já. Deixa as malas no carro que eu depois levo.
- Claro...pensas que eu sou tua mordoma? - ela deitou-me a língua de fora...e conseguiu com que me risse um pouco.
Como uma outra paixão minha sempre foi a fotografia, tirei logo um monte delas, e partilhei uma no twitter, precisava de me desligar de todo aquele mundo e anunciar...o fim do meu passado.

A desilução é enorme, a mágoa nem se fala. De hoje em diante, sou eu e este sítio perfeito”
 Caminhei cerca de 5 minutos, em saltos...os saltos. Assim que cheguei à “minha” praia, deserta como era típico nesta altura do ano, retirei os sapatos e caminhei sobre o areal, frios e húmido e fui até junto da beira da água. Estava gelada, o mar estava revolto e aquele barulho ensurdecedor das ondas a baterem na rocha não poderia ser mais que indicado para me abstrair de tudo.
Sentei-me, colocando os sapatos nas minhas pernas...era impossível não olhar para eles e não me lembrar do...dele.
Como é que ele tinha conseguido ser tão...parvo! Otário! Tudo e mais alguma coisa! Tinha conseguido ser a maior desilusão dos últimos tempos.

Passei grande parte do meu tempo ali...a olhar o mar, a ouvir todo aquele ruído que fazia, e que eu fazia, chorei e gritei como me apeteceu. Era uma das vantagens de ser uma praia quase sem ninguém, mesmo no verão é óptimo vir para aqui.
Só me “lembre” que tinha de ir para casa, quando o meu estômago se lembrou de me avisar que já não comia à algumas horas. Voltei para casa. Assim que entrei percebi que a Miranda nada tinha mudado, continuava exactamente igual. Ela estava na cozinha, a fazer panquecas. Sentei-me de imediato na mesa e esperei pela sua companhia, se havia coisa melhor para se comer e confortar o estômago e a alma, são as panquecas com chocolate da Miró.
- Queres contar-me agora o que se passa?
- Pode ser...
- Começa.
- Sabes...do Sergio.
- Sim.
- Quando te contei dele...estava tudo bem.
- Agora não está?
- Nem deve voltar a estar...sabes o meu historial de relações com rapazes.
- Uma noite, dois dias e deixam a bela rapariga que és.
- Sim...com ele foram preciso uma noite e dois dias para me mudar completamente, mas ao fim de dez noites, onze dias e uma manhã, acabou tudo.
- Mas acabou, como?
- Por causa da produção fotográfica.
- Não lhe tinhas contado?
- Não...e hoje, quando cheguei a Madrid, ele estava à minha espera e a primeira coisa que me disse foi se tinha sido para isso que tinha andado com ele.
- Ele pensa que tu o usaste?
- Exacto.
- Mas ele é um anormal!? Só pode! Ele não deve conhecer a minha Pipa – estava dispostas a ripostar...o Sergio não era assim. Ele era uma pessoa maravilhosa, mas a atitude dele desta manhã é de um anormal. Era um Sergio completamente diferente daquele que eu tinha deixado em Madrid – que é que estás a pensar fazer?
- Procurar um trabalho...e esquecer tudo o que aconteceu.

(Sergio)
Queria ter ido atrás da Ana...queria, mas, ao mesmo tempo, não o conseguia fazer. Ela tinha-me magoado...o que eu pensava ser um possível relacionamento com pernas para andar...não passava de mais uma mentira.
Fiquei ainda ali algum tempo até que me decidi a ir embora. Fui ter com o Iker, a casa dele.
- Já pensaste que podes estar a ser precipitado? - perguntou o Iker, depois de lhe ter contado o que se tinha passado.
- Não. Ela fê-lo.
- Sergio...ela já era conhecida em Portugal...o mais natural é que tenham descoberto que ela namorava contigo e decidiram fazer-lhe a proposta. Tu próprio disseste que ela disse que precisava de se sentir mulher de uma vez.
- Sim...achas que...o que eu lhe disse...
- Eu acho que foste precipitado. Deverias ter-lhe dado uma oportunidade de se explicar. Devias ter ido atrás dela quando saiu do carro.
- E agora? Ela nem atender o telemóvel me vai atender.
- Queres ligar do meu?

(Ana)
O lanche com a Miranda estava a fazer-me bem. Para além de me matar a fome...sabia bem comer e tentar esquecer o Sergio.
Nisto, o meu telemóvel começa a tocar. Era a música de números desconhecidos, uma daquelas que vem com o próprio telemóvel e faz um barulho estranho. Peguei no telemóvel, olhando para o ecrã, constatando que se tratava de um número a ligar de Espanha.
- É um número de Espanha – disse para a Miró.
- Vais atender?

8 comentários:

  1. Adorei!!!!! Próximo rápido!!!! Viciada!!!

    ResponderEliminar
  2. Adorei!!
    O próximo por favor rápido!!

    ResponderEliminar
  3. Ai atende, atende!!!
    Adorei!
    O Sérgio foi um estúpido e por isso acho que se devia esforçar para a Ana o perdoar. :P
    Já estou cheia de vontade de ler o próximo!
    Beijinhos

    ResponderEliminar
  4. Gostei muito (;

    Espero bem que Ela atenda e o Sergio admita que foi um parvo ;b

    Beijinhos

    Nii'i

    ResponderEliminar
  5. Olá!

    OTÁRIO! É um valente otário!
    Ele devia admitir a toda o mundo que é um autêntico parvo, vezes e vezes sem conta, até que a Ana lhe perdoasse!!
    Venha o proximo, porque quero ver onde isto vai dar!!!

    Besito
    Ana Santos

    ResponderEliminar
  6. AMEIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII *-*
    agora quero o próximo rápido para matar esta curiosidade xd
    beijinhos, Débora*

    ResponderEliminar
  7. grande otário este sérgio -.-

    próximo rápido sff ;)

    ResponderEliminar
  8. Olá.
    O Sérgio foi tão ESTÚPIDO!!
    Haja um S. Iker Casillas para lhe pôr algum juízo.
    E Ana ATENDEE !

    Escreve o próximo, rápidinho :')
    Beijinhos
    Daniela^^

    ResponderEliminar